O Horroróscopo faz uma leitura de personalidades macabras com base no ano de nascimento do cidadão, tal qual o horóscopo chinês. Ao ser dividido em 12 partes, cada qual associada a um animal que, sob determinada leitura, indica a forma que o avaliado se relaciona pessoal e profissionalmente com os demais, o Horroróscopo é um guia aterrorizante e divertido para se conhecer melhor.
Diferente do calendário ocidental, regido pelos ciclos do Sol, o calendário chinês — base do nosso Horroróscopo — é naturalmente mais sombrio, e se pauta pelo movimento lunar, o que faz com que o Ano Novo aconteça sempre entre a segunda quinzena de janeiro e a primeira de fevereiro (e não em 1º de janeiro). A cada Ano Novo é também celebrado o início de um novo zodíaco, representado por um dos 12 animais: Rato, Boi, Tigre, Coelho, Dragão, Serpente, Cavalo, Cabra, Macaco, Galo, Cão e Porco.
A curiosidade humana para aspectos mágicos da vida se estende até o início dos tempos. Buscamos energia e apoio em forças — ou animais, ou deuses, ou elementos naturais — que venham a nos inspirar e preencher com aquilo que nos falta.
Um desejo de autoconhecimento, e de justificativas para nossos aspectos mais macabros, às vezes nos leva a examinar os astros mais atentamente. Alguns se apoiam nas leituras — e previsões — para seguir a vida e tentar compreender as pessoas que nos cercam.
No ocidente, é comum nos guiarmos pelo horóscopo convencional, onde cada mês do ano é regido por um signo zodiacal. Já no horóscopo chinês, cada conjunto de 12 anos é regido por um animal, com todas as suas forças e fraquezas. No macabro Horroróscopo, apresentamos também os carmas.
Mas vamos começar pelo começo…
No horóscopo chinês convencional também existem 12 signos, que estão dispostos na seguinte ordem: Rato, Boi, Tigre, Coelho, Dragão, Serpente, Cavalo, Cabra, Macaco, Galo, Cão e Porco. Cada signo é nomeado como um animal, e cada animal tem suas características singulares.
As nuances sobrenaturais desses animais são dignas de nota e, tal como acontece no horóscopo ocidental, muitas vezes são levadas ao pé da letra pelos regidos. Quando se fala em Ratos, as pessoas pensam em seres perspicazes, engenhosos e versáteis (isso é fofo, mas sejamos sinceros, ninguém confia muito nos Ratos ou morre de amores por eles). Já os Bois são decisivos, honestos, confiáveis e trabalhadores (e teimosos como mulas). E quanto às Serpentes? Perigosas e traiçoeiras (no mínimo). E o que dizer dos Macacos, ou dos Coelhos que aparentemente só servem pra sentir medo? E, mais importante, por que diabos os 12 animais do zodíaco chinês estão nessa sequência?!?
Calma, a gente já explica tudo.
A CORRIDA MALUCA
Reza a lenda que há muito, muito tempo — e bota tempo nisso — não existia um horóscopo na China. Então, uma bela noite, o Imperador de Jade acordou com uma insônia danada e decidiu escolher 12 guardiões para seus portões celestiais. Para cumprir essa demanda, o Imperador enviou Grande Nuvem Cinzenta, um ser imortal, ao mundo dos homens para espalhar a mensagem de que quanto mais cedo um candidato atravessasse o Portão Celestial, melhor seria o posto recebido. Grande Nuvem Cinzenta também disse que o Imperador seria generoso, e que saberia reconhecer a ajuda de todos.
Como era de se esperar, muitos animais se interessaram rapidamente, e cada um fez o que sabia melhor na esperança de chegar à frente.
O Rato e o Boi madrugaram
O Rato botou o relógio para despertar e se levantou de madrugada, assim como o Boi, que tinha muitos quilos extras e o azar de sempre andar devagar — ele tentava compensar o tempo perdido acordando bem cedo. A caminho do Portão do Imperador, o Rato encontrou um rio chamado “Rio Quem é Quem” e teve que parar porque não conseguiria atravessar a rápida correnteza. Depois de esperar muito tempo, roendo e remoendo o que poderia fazer, o Rato notou o Boi prestes a atravessar as águas e pensou que ali estava um bom transporte. O Boi já estava tão cansado, tão melado de suor, que nem se importou com o ser agarrado em sua orelha, e simplesmente continuou. Depois de atravessar o rio, feliz da vida, correu direto ao palácio do Imperador de Jade. De repente, eis que o Rato carona lhe salta do ouvido, diz um “sabe como é, cada um por si” nada convincente e corre até os pés do Imperador. Com a preguiçosa trapaça, o Rato garantiu o primeiro lugar, e o Boi se resignou com o segundo. De acordo com a filosofia do Boi, poderia ter sido pior, bem pior.
O Tigre e o Coelho competiram
O Tigre e o Coelho ficaram em terceiro e quarto. Mesmo sem acordar muito cedo, ambos são rápidos e competitivos. O Tigre foi mais rápido, claro, avançando longas distâncias com suas imensas patas. E, pelo que se sabe, o Coelho se atrasou porque precisou saltar por troncos que flutuavam no rio, como se fossem degraus. Certeza ninguém tem, mas muitos acusaram o Tigre de derrubá-lo na água algumas vezes…
Dragão bonito, Serpente atenta
O Dragão esbelto (essa coisa de dragão ser feio é exclusivamente ocidental) ficou em quinto e foi imediatamente notado pelo Imperador de Jade, que ficou tão impressionado com a beleza do bicho que disse que o filho do Dragão poderia ser o sexto guardião. Mas o filho do Dragão não estava com seu pai naquele dia. Quem estava por lá era a Serpente que, ao ouvir a conversa, avança e diz: “O Dragão é meu pai adotivo, Imperador de Jade”. E assim, a Serpente, que nem participava da preleção, ficou com o sexto lugar.
Cavalo e Cabra: amáveis e modestos
O Cavalo e a Cabra chegaram, tocaram a campainha e foram muito gentis e atenciosos, fazendo questão de colocar o outro à frente com uma insistência quase irritante. Presenciando tamanha educação, o Imperador de Jade os classificou em sétimo e oitavo lugares, e ambos ficaram contentes. Dizem que o Cavalo estava apenas um casco à frente, mas pode ser que a Cabra tenha recuado em um último instante de gentileza.
O Macaco saltitante e feliz
O Macaco chegaria bem atrás se tivesse seguido o caminho convencional, mas todos conhecem os Macacos — sempre mais alto, sempre mais rápido. Pelo que se sabe, ele pulou entre árvores e pedras, jogou cascas de banana para os outros tropeçarem e alcançou o nono lugar, deixando o Galo, o Cão e o Porco para trás.
Galo, Cão e Porco: os três amigos
Conhecendo a natureza dessas criaturas, é provável que o Galo tenha perdido um tempão se embelezando, mas o Cão demorou ainda mais, preocupado com a possibilidade de ter alguém atrás dele e latindo para o nada por horas a fio. O totó só não perdeu mais tempo que o Porco, que resolveu curtir os prazeres da vida enquanto realizava a prova.
Eterna inimizade macabra
Embora Gato e Rato fossem vizinhos, o felino sempre intimidava o colega, que sentia-se pra lá de chateado com o bullying constante — embora, sendo baixinho e frágil, não ousasse dizer nada em voz alta. Um tapinha na cabeça aqui, uma piadinha lá, um queijo roubado acolá… Nessas condições, quem o culparia por nutrir-se de rancor e esperar a melhor maneira de se vingar do Gato malvadão?
Pois bem, como a fada da vingança está sempre com a varinha de condão apontada para a cabeça de alguém, eis que ao ouvir o decreto do Imperador trazido por Grande Nuvem Cinzenta, o Rato imediatamente ri e pensa: “Eis uma oportunidade!”. Na véspera da corrida, Gato e Rato combinaram que seriam os primeiros a acordar. O Gato, que dormia além da conta, incumbiu o Rato de chutar sua porta pela manhã para que os dois pudessem ir juntos à reunião (e ainda pediu que o Rato trouxesse o café da manhã).
Pelas barbas do Imperador de Jade! O que qualquer Rato magoado faria?
O que você faria?
O Rato acordou cedinho e correu para a festa sozinho, deixando o gato desmaiado em sua cama. Quanto ao Gato, o bichano se atrasou feio e não teve a menor chance de ser enquadrado entre os guardiões do Céu. Dizem as más línguas que o Imperador de Jade ficou feliz em colocar o Coelho, bem mais dinâmico, em seu lugar.
Indignado com a traição do seu amigo Rato, o Gato, hoje, avança até em uma sombra se ela se parecer minimamente com um rato. Como forma de recuperar o orgulho perdido, o Gato começou a puxar o saco dos seres humanos, trazendo muitos fregueses para que os negócios prosperassem, eliminando o olho gordo, e principalmente atacando todo Rato que descobria o caminho até a despensa.
Fim da história?
Bem, existe uma versão alternativa, a versão do diretor, que diz que Gato e Rato chegaram a cruzar o rio juntos, na cabeça de Boi, mas o Rato empurrou o Gato para dentro da água (e o Gato sobreviveu, mas sequer o deixaram entrar nos Céus, estropiado como estava). Outra versão diz que o Gato não atravessou porque não sabia nadar, e sequer entrou no tal rio, enquanto o Rato já estava longe, pendurado nos ouvidos do Boi. De qualquer forma, a culpa foi do Rato.