Um dos muitos parentes próximos do terror são os contos de fadas. A influência dessas fábulas morais é indiscutível no gênero que tanto amamos. Podemos dizer, inclusive, que antes do terror se concretizar como gênero forte e com suas próprias regras e elementos no século XIX, os contos de fadas cumpriam esse papel de amedrontar e passar lições para todos aqueles dispostos a ouvir.
Conhecemos as histórias que foram utilizadas como base nos filmes da Disney, e hoje já é comum conhecermos suas versões “macabras”, originais, contadas ao redor da fogueira ou nas cozinhas dos casebres, tentando persuadir os jovens a escolher os caminhos certos, mostrando a todos que todo ato tem uma consequência. Não seria de se estranhar, então, que essas histórias servissem de combustível para muitos pesadelos. E servissem, também, como combustível para alguns filmes.
Este ano, Oz Perkins nos entrega mais uma adaptação de uma das histórias mais assustadoras que os contos de fadas puderam contar: duas crianças sozinhas na floresta encontram uma casa feita de doces habitada por uma bruxa. Isso já é o suficiente para assustar qualquer um, mas Perkins parece querer trazer ainda mais terror a esse plot. Maria e João tem estreia prevista para 20 de fevereiro e já é um dos filmes mais aguardados do ano.
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Muito dessa espera, claro, é por causa das mãos do diretor. Perkins foi responsável por dois filmes competentes e diferentes entre si. Em A Enviada do Mal, lançado em 2015, protagonizado por Emma Roberts e Kiernan Shipka, acompanhamos a história de uma jovem que fica presa em sua escola durante o inverno e precisa lidar com uma estranha força presente no local. Já em O Último Capítulo, lançado em 2016, estrelado por Ruth Wilson, conta a história de uma enfermeira que passa a viver na casa de uma autora de terror aposentada. O filme teve severas críticas, mas independente disso, carrega a identidade do diretor. Ambos os filmes estão disponíveis no catálogo da Netflix.
Em uma conversa proporcionada pela revista Fangoria, Oz Perkins e Sophia Lillis (estrela de Maria e João, presente em It, A Coisa e Objetos Cortantes) conversam sobre como os filmes de terror atingem um momento intenso e psicológico, e muito do trabalho de Perkins se pauta nisso.
Ao olharmos para O Último Capítulo e Enviada do Mal, por exemplo, percebemos a intensidade e entrega das personagens diante dos problemas apresentados a elas. Nessa mesma conversa, Perkins afirma que gosta da construção lenta, dos filmes que são mais “quietos”, e que suas influências estão entre O Bebê de Rosemary e Deixa Ela Entrar (ambos, aliás, baseados em livros).
O jumpscare e o susto pelo susto ficam em segundo plano. O que será, então, que podemos esperar de Maria e João? Com um trailer bastante assustador, aguardamos boas surpresas criadas por Perkins.
Pensando nisso, e em como os filmes de terror e os contos de fadas possuem um material muito semelhante, listamos alguns outros filmes que se utilizam de alguma alegoria desses contos, ou dessas próprias histórias, para criarem uma narrativa bastante assustadora.
Sin-de-rel-la
Sin-de-rel-la, 2006 // Filme sul-coreano dirigido por Bong Man-dae e só levemente inspirado na história de Cinderella, o filme acompanha a jovem filha de um cirurgião que percebe haver uma série de acontecimentos ligados aos seus dias atuais e a sua infância.
November
November, 2017 // Dirigido por Rainer Sarnet, o filme estoniano também não é exatamente derivado de um conto de fadas, mas de vários conceitos que permeiam o folclore da região, além de várias magias e ideias de poções mágicas, seres sobrenaturais e situações fantásticas. É um filme belíssimo, muito por ser preto e branco.
A Companhia dos Lobos
The Company of Wolves, 1984 // Baseado livremente em histórias de Angela Carter (quem deu uma mãozinha no roteiro), A Companhia dos Lobos é um dos grandes filmes que tratam dessa junção de Contos de Fadas e terror. Angela Carter foi uma das grandes autoras que trabalhou com ambos os temas e gêneros de histórias, e A Companhia dos Lobos é fruto desse trabalho. Dirigido por Neil Jordan, o filme conta a história de Rosaleen, que sonha com lobos e lobisomens. O filme evoca uma sensação bastante semelhante com a história da Chapeuzinho Vermelho, das quais Carter é bastante conhecida.
A Viagem de Alice
Něco z Alenky, 1988 // Não exatamente um Conto de Fadas, ok, mas A Viagem de Alice é um filme baseado na história de Lewis Carroll e é absolutamente assustadora. Mesmo que Alice não tenha sido contada ou recuperada por Hans Christian Andersen, Perrault, ou pelos Irmãos Grimm, é uma narrativa bastante fantástica, permeada por morais e noções de civilidade, além de ter dado origem a alguns filmes bastante horripilantes. Em Alice, de 1988, dirigido por Jan Švankmajer, por exemplo, o surrealismo e todas as construções em stop motion transformam a história infantil em um filme assustador.
Sapatos Vermelhos
Bunhongsin, 2005 // Dirigido por Kim Yong-gyun, o filme sul-coreano apresenta Sun-jae, que encontra um par de sapatos em uma estação de metrô, e ao levá-los para casa, passa a ter uma série de pesadelos. Quando uma amiga os pega emprestados, aparece morta no dia seguinte. Acontece que os sapatos acompanham uma terrível maldição, e Sun-jae precisa descobrir como sobreviver.
O Conto dos Contos
Il racconto dei racconti – Tales of Tales, 2016 // Baseado no Pentamerão, livro de Giambattista Basile que reúne uma série de histórias fantásticas italianas do século XVII, o filme foi dirigido por Matteo Garrone, que está trabalhando em uma adaptação de Pinóquio. O Conto dos Contos acompanha três histórias, em três reinos diferentes, com cenas belíssimas e um trabalho de arte impressionante.
Otesánek
Otesánek, 2001 // Um filme de Jan Švankmajer (já mencionado por seu filme A Viagem de Alice) e Eva Švankmajerová, Otesánek é um conto de fada criado por Karel Jaromír Erben, no século XIX, sobre um pedaço de madeira que vive com fome, com elementos semelhantes em Pinóquio e Chapeuzinho Vermelho. Utilizando técnicas de live action e stop motion, Jan e Eva nos contam essa história tcheca.
Reflexo do Demônio
Mirror Mirror, 1990 // Com bastante liberdade criativa, Marina Sargenti dirige esse filme utiliza o conceito do grande espelho mágico presente em Branca de Neve, fazendo com que uma adolescente encontre um espelho que lhe garante algumas magias, sem saber que ele é habitado por forças obscuras.
Floresta Negra
Snow White: A Tale of Terror, 1997 // Dirigido por Michael Cohn, é baseado na história da Branca de Neve e focado na Madrasta Má, contando um pouco de sua (possível) história. O detalhe mais importante aqui é que a Madrasta Má é ninguém mais, ninguém menos que: Sigourney Weaver.
Irmãos Grimm
The Brother’s Grimm, 2005 // Ok, esse não é baseado em um conto de fadas, mas em vários. E melhor: contando uma história meio fictícia, meio de verdade, sobre as viagens dos irmãos Grimm, os dois irmãos alemães que reuniram tantas histórias de contos de fadas que acabaram creditados como autores delas. O filme é divertido e apela mais para a comédia do que para o terror, mas tem cenas boas e assustadores. É dirigido por Terry Gilliam, e tem Matt Damon e Heath Ledger como os dois irmãos.
Barba Azul
Bluebeard, 1944 // Dirigido por Edgar G. Ulmer, esse filme noir conta uma história contemporânea, mas que já conhecemos de muito tempo: um homem contrata mulheres para servirem de modelos, e acaba matando a todas. A velha história de Barba Azul é bastante semelhante. John Carradine, um dos grande atores de terror do século XX, é o ator principal.
A Garota da Capa Vermelha
Red Riding Hood, 2011 // Dirigido por Catherine Hardwicke e baseada na história da Chapeuzinho Vermelho, Valerie é uma jovem que vive em um vilarejo aterrorizado pela figura de um lobisomem. O filme pende muito mais ao fantástico do que ao terror, mas é uma adição interessante para a lista.
A Atração
Córki dancingu, 2015 // Não exatamente inspirada em contos de fadas, como os outros, mas com um pezinho (piada não proposital) em A Pequena Sereia, A Atração é um filme sobre sereias cantoras que saem do oceano para a terra firme, e acabam entrando para o cabaret. O filme é um musical, foi dirigido por Agnieszka Smoczynska, e tem todo um clima meio fantástico.
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