Oito de abril de 1990, um dia comum que mudaria para sempre a TV mundial. E nos tornaríamos eternamente gratos a Mark Frost e David Lynch. Nascia ali uma geração que enxergava no insólito uma forma de abrigo.
Cada um com um olhar próprio observava e compreendia Twin Peaks ao seu modo. Uma década antes de The Sopranos, quase duas antes de Breaking Bad, uma série repleta de camadas, subjetividade e transgressão envolvia a todos. Lynch e Frost entregaram duas temporadas seguidas, um filme, alguns livros e, anos depois, um retorno especial repleto de expectativas em uma nova temporada lançada em 2017.
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A série acompanha os desdobramentos da morte de Laura Palmer, uma garota comum da cidadezinha que dá o nome ao programa. Quando o agente especial do FBI, Dale Cooper, é designado para descobrir o que houve no local, coisas misteriosas e macabras começam a se revelar em sua investigação. Um bebê tronco, personagens repletos de TOC e estranhos espíritos da floresta nos ajudariam a emoldurar uma estranha história sinistra entre pais e filhos. Simbologias transbordavam da tela e se transformavam em conversa de colégio, papo na calçada, discussões entre donas de casa no hortifruti.
Os 30 anos da estreia de Twin Peaks foram muito especiais. Ainda hoje, a trama irreverente e assustadora de David Lynch e Mark Frost encontra fãs ao redor do mundo, além, é claro, dos seguidores fiéis que aguardaram o retorno pouco provável da série, se segurando em nada mais que uma frase dita pela aparição assombrosa de Laura Palmer em seu último episódio, em 1991, quando disse a Cooper que o veria novamente em 25 anos. E 25 anos depois, lá estava ela para nos guiar mais uma vez pelos mistérios de Twin Peaks.
Com tanta subjetividade e horror, não é de se espantar que a Fazenda Macabra também tenha caído em seus encantos. Sendo assim, listamos 15 curiosidades sobre Twin Peaks que somente os que provaram o café e a torta de cereja mais famosos da cidade vão saber.
Inspiração nos filmes noir
Lynch e Frost gostam de plantar pistas para os espectadores. Os críticos rapidamente perceberam que Maddy Ferguson dividia seu primeiro nome com a personagem de Kim Novak no clássico filme Vertigo, que também tem uma garota loira morta e uma sósia de cabelos pretos. Há também um agente de seguros no seriado chamado Walter Neff, nome do personagem de Fred MacMurray em Pacto de Sangue; um veterinário chamado Dr. Lydecker, nome do personagem de Clifton Webb em Laura; um mainá chamado Waldo, que é o primeiro nome de Clifton Webb em Laura; e um agente regional do FBI chamado Gordon Cole, personagem de Bert Moorhouse em Crepúsculo dos Deuses. Se vocês se lembrarem bem, o detetive Gordon Cole foi interpretado pelo próprio Lynch, que cita repetidamente Crepúsculo dos Deuses como um de seus filmes preferidos.
Steven Spielberg quase dirigiu um episódio
Harley Peyton, produtor de Twin Peaks, contou em entrevista a Brad D. Studios, que Spielberg toparia dirigir o primeiro episódio da segunda temporada da série. Pelo visto, Spielberg era um ávido espectador e teria dito a Peyton que adoraria emprestar seu talento a algum episódio. Peyton e Frost tiveram uma reunião com Spielberg, que prometeu manter o episódio o mais estranho possível, mas isso não foi o suficiente para Lynch, que decidiu ele mesmo assumir a direção da estreia da temporada, deixando para depois (e, então, nunca) a participação do cineasta.
Vaiado em Cannes
A série, que estreou em 1990, já era um sucesso tremendo quando David Lynch resolveu mostrar o prelúdio chamado Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer em Cannes. Na época, o filme foi fortemente vaiado. Os críticos não só ficaram confusos como odiaram o filme. Anos depois, em 2017, quando a terceira temporada saiu e o filme foi apresentado novamente, vários críticos afirmaram que era uma obra-prima subestimada, que soube muito bem lidar com o macabro e o cômico.
Obrigados a revelar o assassino de Laura
O assassino de Palmer foi revelado somente depois da metade da segunda temporada, mas se dependesse dos criadores isso teria demorado ainda mais. A ABC estava pressionando ambos para a revelação desde a primeira temporada, mas quando a segunda começou eles pararam de pedir com gentileza, empurrando o programa para um horário péssimo que prejudicaria a audiência. Lynch não aprovava a ideia porque a série se tratava mais da cidade do que da morte da personagem, e declarou que isso mataria a série — quando o episódio foi ao ar, a ABC conseguiu o oposto do que esperava. Twin Peaks perdeu vários espectadores e não conseguiu renovação.
Quarto Vermelho e Eraserhead
Lynch gosta referenciar seus próprios trabalhos e o faz com maestria. O icônico padrão chevron no carpete da sala vermelha em Twin Peaks é o mesmo padrão visto no carpete da sala em Eraserhead.
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De trás para a frente
Outra curiosidades sobre a sala vermelha é que os atores realmente gravaram suas falas de trás para frente. Então, além de decorarem suas falas de trás para frente, elas foram gravadas dessa forma, e quando tocadas na ordem correta causavam um estranhamento assustador na fonética.
O diário de Laura Palmer
Muitos desdobramentos ocorreram a partir da série Twin Peaks. A editora Simon and Schuster lançou um livro chamado O Diário Secreto de Laura Palmer, escrito por Jennifer Lynch, filha de David Lynch, para saciar a curiosidade de alguns espectadores que desejavam acessar a cabeça da personagem. Jennifer seguiu os passos do pai e também dirigiu um filme chamado Encaixotando Helena, protagonizado por Sherilyn Fenn — a Audrey Horne na série.
David Bowie em O Retorno
Infelizmente, Bowie faleceu antes que pudesse gravar as cenas para a terceira temporada de Twin Peaks, retornando ao seu papel como Agente Phillip Jeffries, que interpretou no filme Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer. Lynch afirmou em uma entrevista que Bowie era uma pessoa diferente de todas as outras, e queria muito ter trabalhado com ele novamente.
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Papéis reduzidos no filme
Muitos foram os atores que quiseram participar do filme de Twin Peaks, como Kiefer Sutherland e Harry Dean Stanton. Entretanto, alguns veteranos da série não quiseram dar as caras. Kyle MacLachlan só aceitou participar se seu papel fosse mínimo, ao que Lynch criou o personagem Chester Desmond, interpretado por Chris Isaak, para preencher a lacuna deixada por Dale Cooper.
Tema composto em 20 minutos
Chamado de “Love Theme”, levou somente 20 minutos para que o compositor Angelo Badalamenti criasse a grande música que ficaria na cabeça de milhares de fãs ao longo desses anos.
Maddy Ferguson feita sob medida
A personagem de Laura Palmer, apesar de ser um dos grandes mistérios da série, não tem tanto destaque para uma atriz no sentido de atuação. Sheryl Lee era para ser somente um corpo morto no início da série, mas Lynch gostou tanto dela que criou uma personagem igual a Laura para que Lee pudesse se desenvolver, e foi assim que Maddy Ferguson foi criada.
E Shelly foi criada para Mädchen Amick
Assim como Maddy Ferguson não existia no início, Shelly também foi uma personagem criada para uma atriz em específico. Mädchen Amick tentou o papel de Donna Hayward, que acabou ficando para Lara Flynn Boyle, mas Lynch desenvolveu Shelly para comportar Amick no elenco.
Margaret Lanterman e seu tronco inseparável
Depois que a série terminou, os produtores deixaram que Catherine Coulson, que interpretou Margaret Lanterman — ou, mais conhecida como “Log Lady” — ficasse com seu amigo e confidente inseparável, ao qual ela se divertiu muito levando para convenções e eventos de fãs. Vários tentaram comprar o tronco, chegando a valores acima de $275,000, mas Coulson não conseguiu abrir mão de seu tronco. A atriz faleceu pouco depois das gravações de suas cenas para a terceira temporada de Twin Peaks — episódio, inclusive, com alta carga emocional para os fãs da atriz.
A história secreta de Twin Peaks
Com o anúncio do retorno da série, Mark Frost lançou o livro A História Secreta de Twin Peaks, que traz uma luz aos acontecimentos estranhos na história da cidadezinha pitoresca, desde abduções alienígenas até visões miraculosas. Nada ali é realmente muito normal, e o livro contém uma ótima linha cronológica de eventos passados.
Twin Peaks e Marilyn Monroe
A ideia para a série Twin Peaks surgiu enquanto Lynch e Frost trabalhavam em uma obra biográfica de Marilyn Monroe. O projeto nunca foi muito longe, e muitos afirmam que é porque Lynch teria implicado que JFK esteve envolvido na morte da estrela, mas alguns elementos da biografia podem ser encontrados durante a série — como a morte de Laura Palmer, que aconteceu antes que ela contasse que estava envolvida com uma famosa figura da cidade.
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