Here’s Johnny: 20 Curiosidades macabras sobre O Iluminado

Improvisos, conflitos, toneladas de sal e um fã em Toy Story: conheça alguns fatos curiosos sobre O Iluminado, filme de Kubrick que completa 40 anos neste Natal.

Quando Stanley Kubrick comprou a briga com Stephen King para trazer a público a sua versão de O Iluminado, mal sabíamos o ícone que o filme se tornaria. Uma das obras mais importantes do cinema foi inspirada no livro do mestre King e, divergências criativas e de intenções à parte, marcou seu espaço com sangue e neve no cinema.

O filme foi lançado no Brasil no Natal de 1980, e conta a história de Jack Torrance e sua queda em desgraça conforme se sente pressionado pelos fantasmas de seu passado e do Overlook Hotel. Sua esposa, Wendy, e seu filho, Danny, foram com ele para o local para tentarem reforçar seus lados e fazer o novo emprego de Jack dar certo. Mas as coisas não dão tão certo.

O site Mental Floss reuniu uma série de curiosidades sobre o filme e, comemorando os 40 anos de lançamento da obra aqui no Brasil, traduzimos as mais interessantes.

STANLEY E O TERROR

Stanley Kubrick é conhecido por suas investidas em diferentes gêneros, e no início dos anos 1970, ele estava considerando dirigir O Exorcista. Mas ele acabou não conseguindo o trabalho  porque só queria dirigir o filme se também pudesse produzi-lo. Mais tarde, Kubrick disse a um amigo que queria “fazer o filme mais assustador do mundo, envolvendo uma série de episódios que tocariam os maiores pesadelos do público”.

LEIA+: A HISTÓRIA POR TRÁS DO ASSUSTADOR PAZUZU, DE O EXORCISTA

KUBRICK SEQUER LEU O ROTEIRO QUE STEPHEN KING ESCREVEU

De acordo com um dos biógrafos de Kubrick, David Hughes, King escreveu um esboço inteiro de um roteiro para O Iluminado. Kubrick nem achou que valesse a pena lê-lo, dando uma prévia do que declararia posteriormente, sobre King ser um escritor “fraco”. Em vez disso, Kubrick trabalhou com Diane Johnson no roteiro, porque ser um fã de seu livro, The Shadow Knows. Os dois acabaram passando onze semanas trabalhando no roteiro.

MAS KUBRICK TINHA ALGUMAS PERGUNTAS PARA KING

Esta é uma história que, aparentemente, King ainda conta em algumas leituras de livros. Stanley Kubrick ligou para ele às sete da manhã para dizer: “Acho que as histórias do sobrenatural são fundamentalmente otimistas, não é? Se há fantasmas, então isso significa que nós sobrevivemos à morte”. Quando King respondeu sobre como o Inferno se encaixaria naquela imagem, Kubrick simplesmente rebateu: “Eu não acredito no Inferno”.

NA PRÓPRIA CARNE

Em um filme que desconstrói a estrutura familiar, Kubrick estava rodeado por sua própria família. A produção executiva do filme ficou nas mãos do cunhado de Kubrick, Jan Harlan. Christiane Kubrick e Vivian Kubrick — sua esposa e filha, respectivamente — ajudaram tanto no design quanto na música, apesar de Vivian ser mais conhecida pelo documentário The Making Of The Shining. O filme de 30 minutos, que foi ao ar na BBC, foi um raro olhar para os estilos macabros de direção de Kubrick.

O DESAPONTAMENTO DO REI

Em 1983, King disse à Playboy: “Eu admirava Kubrick há muito tempo e tinha grandes expectativas para o projeto, mas fiquei profundamente desapontado com o resultado final. Partes do filme são arrepiantes, carregadas de um terror implacavelmente claustrofóbico, mas outras ficaram fracas”.

Ele também não gostou da escalação de Nicholson, alegando que “Jack Nicholson, apesar de ser um bom ator, estava no papel errado. Seu último grande papel foi em Um Estranho No Ninho, onde Nicholson vai parar em um manicômio. O filme anterior, junto de seu sorriso maníaco, levou o público a identificá-lo automaticamente como um louco, já na primeira cena. Já o livro é sobre a descida gradual de Jack Torrance à loucura pela influência macabra do Overlook — se o cara já é louco desde o início, então toda a tragédia de sua queda à loucura é desperdiçada”.

O QUARTO 217

No livro, os eventos macabros são ambientados no quarto 217, não no quarto 237. O hotel The Timberline Lodge, em Oregon, que era usado como o exterior do hotel para algumas fotos, é o culpado por essa troca. A gerência do Lodge solicitou que o número do quarto fosse alterado para que os hóspedes não evitassem o quarto 217. Não há quarto 237 no hotel, de modo que esse número foi o escolhido. O site da The Timberline Lodge diz: “Curiosamente e de maneira um tanto irônica, o quarto 217 é solicitado com maior frequência que qualquer outro quarto”.

“ALL WORK AND NO PLAY MAKES JACK A DULL BOY”

A frase macabra e famosa muda de significado com as traduções estrangeiras do filme, a pedido de Kubrick. Nas versões em alemão, a frase se traduz em: “Não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje”. A tradução em espanhol é: “Ainda que se levante cedo, o dia não vai amanhecer mais cedo”. Em Italiano: “Quem acorda cedo ganha um dia de ouro”. Por aqui, a frase ficou bastante próxima à original: “Muito trabalho e pouca diversão fazem de Jack um bobão”.

UM BELO TRABALHO DE DATILOGRAFIA

Ninguém tem certeza se Kubrick digitou 500 páginas de “All work and no play makes Jack a dull boy”. Kubrick não levou essa tarefa ao departamento de apoio, usando sua própria máquina de escrever para fazer as páginas. Era uma máquina de escrever que tinha memória interna, por isso poderia ter produzido as páginas sem uma pessoa real ter digitado tudo. Mas as páginas individuais do filme contêm diferentes layouts e erros. Alguns alegam que teria sido característico do diretor preparar individualmente cada página. Infelizmente, nós nunca saberemos — Kubrick nunca abordou essa questão antes de morrer.

SEGREDOS ESCONDIDOS NA PLAYGIRL

Kubrick é famoso por ser um diretor macabramente detalhista. Então, quando Jack Torrance é visto lendo uma Playgirl no lobby do Overlook, antes de ser contratado, provavelmente não é sem sentido. Existe um artigo na capa edição sobre incesto, então a teoria mais comum é que Kubrick estava sutilmente sugerindo que Danny pode ter sofrido abuso sexual. Outro artigo anunciado na capa é uma entrevista com David Soul (da série de TV Starsky & Hutch). A ex-mulher do personagem Hutch — interpretado por David Soul — Vanessa, aparece na terceira temporada e é assassinada no apartamento dele. Talvez Kubrick estivesse lançando um prenúncio do que poderia acontecer no filme. Independentemente disso, nenhum hotel normal deixa cópias da Playgirl por aí, então a revista serve como uma bandeira vermelha imediata na adaptação.

O ÚNICO TRABALHO EXPRESSIVO DE DANNY LLOYD

O Iluminado parecia introduzir uma estrela infantil promissora com Dan Lloyd. Ele acabou tendo um papel em um filme de TV dois anos depois, mas essa foi a extensão de sua carreira macabra. “Continuamos tentando por vários anos… até que eu estava no ensino médio e parei por volta das 14 com quase nenhum sucesso”, disse ele ao New York Daily News. Anos depois, em 2019, Lloyd acabou fazendo uma participação em Doutor Sono.

LLOYD NÃO SABIA QUE ESTAVA FAZENDO UM FILME DE TERROR

Para proteger Dan, que tinha 5 anos quando fez o filme, Kubrick disse que eles estavam filmando um drama. Ele nem mesmo viu o filme até os 16 anos. Ele disse mais tarde: “Eu pessoalmente não acho assustador porque eu vi os bastidores. Eu sei que pode ser meio irônico, mas eu gosto de filmes engraçados e documentários”.

JACK NICHOLSON IMPROVISOU “HERE’S JOHNNY”

Enquanto filmava a cena em que Jack quebra uma porta do banheiro com um machado, Nicholson gritou a famosa fala de Ed McMahon do The Tonight Show Starring Johnny Carson. O slogan macabro funcionou tão bem que ficou no filme.

NICHOLSON ESCREVEU UMA CENA

Além de improvisar uma das falas mais famosas do filme, Nicholson escreveu uma cena inteira. Ele sentiu uma compreensão particularmente profunda nos momentos em que a esposa de Jack Torrance o atrapalhava, enquanto ele tentava escrever.

Em uma entrevista ao The New York Times, Nicholson explicou: “Foi assim que eu me senti quando me divorciei. Eu estava sob a pressão de ser o homem da casa, com uma filha, e eu acabei aceitando um trabalho para atuar em um filme durante o dia, enquanto escrevia um filme à noite.” Nicholson contou a Stanley sobre como aos poucos a esposa não o reconhecia mais, o considerando um maníaco, e ele escreveram a experiência para colocar em uma cena.

KUBRICK E SHELLEY DUVALL NÃO SE DERAM MUITO BEM

Apesar de ter um bom relacionamento com Nicholson, Kubrick foi notoriamente brutal com Shelley Duvall durante as filmagens. Nas palavras da atriz, “De maio a outubro eu estava realmente com problemas de saúde, porque o estresse do papel era enorme. Stanley me empurrou e me cutucou mais do que eu havia sido empurrada até então. Foi o papel mais difícil que eu já tive que interpretar”.

A cena em que Wendy está se defendendo de Jack com um bastão é um exemplo dessa pressão. A cena inclusive chegou ao Livro Guinness dos Recordes, porque precisou de 127 tomadas, o maior número já registrado em uma cena com diálogos.

O HOTEL OVERLOOK NÃO FAZ SENTIDO

Rob Ager, um fã observador de O Iluminado, notou que há muitos aspectos no conjunto do The Overlook Hotel que não fazem sentido. Por exemplo, o escritório de Ullman tem uma janela para o lado de fora, mas há salas ao redor do escritório, tornando a janela impossível. Este é o caso de muitas das janelas do filme — elas não funcionam no contexto. Há também um corredor macabro no Colorado Lounge que essencialmente aparece do nada. Ager criou um vídeo no qual ele mapeia muitos desses detalhes sem sentido.

Já o produtor executivo de O Iluminado, Jan Harlan, afirmou que isso foi intencional. “Os interiores não fazem sentido”, disse ele em 2012. “Esses corredores enormes e salões de baile não cabiam dentro (do hotel). Na verdade, nada faz sentido.”

O FILME USOU 900 TONELADAS DE SAL

E isso foi apenas para a cena final! No final de O Iluminado, Jack persegue o jovem Danny através de um labirinto coberto de neve antes de finalmente morrer. Para criar o congelante labirinto macabro, foi preciso muito sal e farelos de isopor.

O FILME LEVOU CINCO ANOS PARA FICAR PRONTO

Kubrick é notório por suas longas produções cinematográficas. As fontes diferem sobre quanto tempo duraram as filmagens, mas provavelmente levou quase um ano. Na época em que estava fazendo o filme, Kubrick disse: “Fazer um filme impõe em sua vida uma maravilhosa e estimulante pontualidade. Eu estou fazendo exatamente o mesmo que estava fazendo quando tinha 18 anos e fazendo meu primeiro filme. Isso liberta você de qualquer outro sentido de tempo”.

HÁ UM FINAL ORIGINAL DIFERENTE

Não é incomum que o final de um filme mude na pós-produção, mas Kubrick mudou o final depois do filme ter sido exibido por um final de semana inteiro nos cinemas. A versão do segundo final está perdida, mas existem páginas do roteiro. A cena acontece depois que Jack morre na neve. Ullman visita Wendy no hospital. Ele diz a ela: “Sobre as coisas que você viu no hotel. (Um tenente) Me disse que eles realmente passaram um pente fino e não encontraram a menor evidência de algo fora do comum”. Ele também encoraja Wendy e Danny a ficarem com ele por um tempo. O filme termina com um texto sobre a tela preta, “O Overlook Hotel sobreviveria a esta tragédia, como aconteceu com tantos outros. Ainda está aberto todos os anos de 20 de maio a 20 de setembro. Está fechado para o inverno”. Ao fim Kubrick concluiu que era uma informação desnecessária e a retirou.

O famoso crítico Roger Ebert considerou o corte uma boa decisão. De acordo com ele, “Kubrick foi sábio ao remover aquele epílogo, ele puxou um tapete a mais de debaixo da história”.

TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO

Muitos teóricos do cinema têm suas próprias interpretações sobre O Iluminado, e essas conspirações estrelam em seu próprio filme: o documentário Room 237. Uma teoria macabra é que Kubrick ajudou a falsificar o pouso do homem na Lua e O Iluminado é sua confissão. Outra afirma que o filme é realmente sobre o genocídio dos nativos americanos, e existe a que lê o filme como uma história sobre o Holocausto e campos de concentração.

Leon Vitali, assistente pessoal de Kubrick durante as filmagens, desde então nega essas teorias. “Eu estava caindo de rir na maior parte do tempo”, disse ele sobre o documentário. “Há ideias adotadas no filme que eu sei que são totalmente Balderdash”.

(* Balderdash é um jogo de tabuleiro de blefes e curiosidades)

O SITE MAIS FAMOSO SOBRE O FILME É ADMINISTRADO PELO DIRETOR DE TOY STORY 3

Lee Unkrich comanda o The Overlook Hotel, que contém toneladas de fotos e informações dos bastidores sobre o filme. “Eu comecei o site puramente por razões egoístas”, Lee confessou em 2013. “Eu colecionei coisas do O Iluminado ao longo dos anos, e eu só queria ter um lugar onde elas pudessem ser organizadas.” Unkrich também foi uma das pessoas que ajudaram a financiar o documentário do Room 237.

Mas, inegavelmente, a parte mais macabra da obsessão de Unkrich com O Iluminado é encontrar as referências ocultas em vários filmes da Pixar, incluindo Toy Story 3: o carpete de Sid é muito parecido com um carpete no Overlook Hotel. A placa de um caminhão de lixo diz “RM237”. E Trixie conversa online com um brinquedo de dinossauro na rua que por acaso tem o nome de tela “Velocistar237”.

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