5 filmes japoneses de terror inspirados por lendas

Entre os yōkai, yūrei e onryō, o Japão está repleto de criaturas fantasmagóricas, capazes de arrepiar até o último fio de cabelo da nuca dos mais corajosos. Confira alguns filmes inspirados por essas lendas.

O Japão tem uma extensa tradição em filmes de terror. Suas produções, que ganham o ocidente principalmente entre no final dos anos 1990, geram pesadelos até nos espectadores mais corajosos. Geralmente focando em presenças sobrenaturais, estes filmes apresentaram ao mundo um universo mágico e aterrorizante: o das histórias de terror japonesas, suas lendas urbanas e seus espíritos. 

Os Yōkai, criaturas sobrenaturais do folclore, os yūrei, os fantasmas, e os onryō, os espíritos vingativos, habitam a cultura japonesa há séculos, e são passados adiante através de suas tradições, orais ou escritas. Em Clássicos Japoneses Sobrenaturais, o pesquisador Richard Gordon Smith reuniu mais de cinquenta histórias tradicionais e aterrorizantes do Japão.

A Macabra listou cinco filmes que foram inspirados por lendas tradicionais e contemporâneas do Japão, para que o leitor se prepare para este lançamento da DarkSide Books.

A lenda de Okiku – O Chamado

Ringu, 1998 // Um dos filmes de terror japoneses mais conhecidos no ocidente, O Chamado, de Hideo Nakata, é adaptado a partir da trilogia de livros de Koji Suzuki. Por sua vez, acredita-se que uma antiga lenda possa ter influenciado a criação do autor.

Conta-se, em uma das versões da história, que Okiku era uma jovem serviçal de um samurai, que a tentava para ser sua amante. Não cedendo aos seus avanços, o samurai armou uma arapuca para ela: fazendo desaparecer um dos dez pratos Delft de sua família, botou a culpa em Okiku. Se o prato não fosse encontrado, ela seria morta. Okiku contou e recontou os pratos até nove, todas as vezes, e contou ao samurai que não encontrara o décimo. Ele lhe deu uma última chance de se tornar sua amante e ela, negando novamente, assinou sua sentença: foi jogada em um poço e morreu ali.

A lenda conta que a jovem permaneceu sendo uma presença constante para seu assassino contando até nove, até que um exorcista fosse capaz de parar a contagem, dizendo dez assim que ela chegava no último número. A história de Okiku remonta ao século XVIII. Sua primeira aparição foi em um teatro bunraku — um tradicional teatro de bonecos japoneses —, em uma peça chamada Bancho Sarayashiki

Sadako, a nossa presença aterrorizante em O Chamado, ecoa a contagem de Okiku: também tendo sido morta em um poço, Sadako dá às suas vítimas sete dias até que ela venha buscá-las. Aprisionada numa fita de vídeo, ela está sempre pronta para destruir aqueles que a assistem. 

A lenda de Futakuchi-onna – Imprint

“Imprint”, episódios de Masters of Horror, 2006 // Futakuchi-onna pode ser traduzido literalmente como “mulher de duas bocas”, e é um yokai famoso no Japão. 

A lenda circula, pelo menos, desde o século XIX. De acordo com a história, uma Futakuchi-onna geralmente é esposa de um homem muito avarento, que come miseravelmente e por isso gerou uma segunda boca que, na maioria das vezes, fica em sua cabeça, dentro de seus cabelos. Na lenda mais popular, um homem vivia solteiro em uma vila, pois não aguentava pensar em ter que gastar dinheiro para alimentar uma esposa. Mas, certo dia, conheceu uma mulher que, além de linda, não comia nada. Logo o homem a desposou, mas percebeu que seu estoque de arroz diminuía a cada dia. Fingindo ir trabalhar para pegar a mulher no flagra, ficou horrorizado ao ver a transformação da cabeça dela: o cabelo se partir ao meio na parte de trás, o crânio se abrir em uma bocarra.

Um dos responsáveis por contar a história da Futakuchi-onna foi Takashi Miike, no décimo terceiro episódio da série Masters of Horror, criada por Mick Garris. Na história, um jornalista norte-americano do período vitoriano vai até o Japão se encontrar com sua amada, que deixou para trás em uma outra visita anterior. Chegando lá, entretanto, lhe é contado, por uma jovem que trabalhava em um bordel, que coisas terríveis aconteceram com ela. A jovem que conta a história, entretanto, revela ser uma Futakuchi-onna. O episódio foi considerado aterrorizante demais por Mick Garris, e a emissora que transmitia a série acabou cancelando sua exibição. O episódio se tornou inédito nos Estados Unidos.

A lenda de Hanako-san – Toire no Hanako-san

Toire no Hanako-san, 1995 // Se você foi uma criança ou adolescente entre os anos 1980 e 2000, conhece muito bem a história da Loira do Banheiro. Uma lenda urbana que tem em vários lugares do mundo, a Loira do Banheiro era uma garota que aparecia quando era chamada, geralmente em banheiros, geralmente depois de dizerem seu nome três vezes. Assim como a Bloody Mary. Assim como a Hanako-san. 

Assim como a maioria das lendas urbanas, Hanako-san também apresenta algumas. Tanto sua aparência quanto suas origens diferem de acordo com quem conta. Na maioria das versões ela é uma garotinha pequena, de cerca de dez anos. Alguns contam que Hanako era uma garota que cometeu suicídio no banheiro, outros que ela era uma criança morta por um estranho, ou até um parente abusador. Há até mesmo uma versão de que a garotinha possa ter morrido durante a Segunda Guerra Mundial, durante um ataque aéreo, enquanto brincava de esconde-esconde. 

Hanako-san é uma figura popular no Japão e já esteve em diversas mídias — mangás, filmes e animações. Dois dos filmes em que ela é o espírito protagonista são Toire no Hanako-san (1995), dirigido por Joji Matsuoka; e Shinsei toire no Hanako-san (1998), de Yukihiko Tsutsumi. No primeiro filme, um aluno transferido de uma escola fundamental é suspeito de ter sido possuído pelo espírito de Hanako. No segundo, o cenário é uma escola de ensino médio, e uma garota descobre que o local é mesmo em que sua irmã mais velha desapareceu anos atrás.

A lenda de Kuchisake-onna – Carved

Kuchisake-onna, 2007 // A Kuchisake-onna — que pode ser traduzida literalmente para “a mulher com fenda na boca” — é um espírito maligno vingativo da cultura popular japonesa, e inspirou o filme Carved, de Kôji Shiraishi. 

Na história de Kuchisake-onna, ela é descrita com cabelos longos e pretos, sempre com a boca coberta com uma máscara ou algo semelhante, carregando uma tesoura, facas ou outros instrumentos afiados. Ela costuma perguntar a suas vítimas se a consideram bonita. Se a resposta for sim, ela retira o que cobre sua boca e mostra o corte, que vai de orelha a orelha, então repete a pergunta. Se a resposta mudar para não, ela assassina sua vítima. Se a resposta continuar sendo sim, ela corta a boca de sua vítima como a sua própria.

A história remonta ao período Edo, entre os séculos XVII e XIX, e acredita-se que a inspiração tenha sido uma mulher adúltera, ou mesmo uma prostituta, de algum samurai. Outras versões da lenda apareceram com o tempo, afirmando que o rasgo poderia ser por causa de um procedimento dental ou mesmo que uma outra mulher, invejosa de sua beleza, tenha rasgado sua boca.

Em Carved, a Kuchisake-onna utiliza tesouras. Na história, ela aterroriza as ruas japonesas sequestrando crianças para seus próprios propósitos. 

A lenda de Teke-teke – Teketeke

Teketeke, 2009 // Outra lenda urbana bastante popular no Japão, a teke-teke é a figura de uma jovem que morreu ao cair na linha do trem e ter seu corpo separado em dois. 

Na história, a jovem caiu na linha e teve seu tronco e seus membros inferiores separados. Ela retornou como um espírito vingativo, somente com a parte de cima do corpo, e assombra as estações de trem pelo país. Ao encontrar suas vítimas, ela faz com eles o mesmo que aconteceu com ela: corta as pessoas pela metade. Como não possui as pernas, ela costuma andar com as mãos, fazendo um barulho semelhante a um teke-teke, por isso seu nome.

A história de teke-teke foi contada no filme Teketeke, de Kôji Shiraishi, mesmo diretor de Carved. A trama do filme é bem simples: uma garota descobre a lenda de teke-teke depois de ter um amigo morto de uma forma aterrorizante. Ao visitar o local, acaba entrando em contato com o espírito vingativo.

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O livro Clássicos Japoneses Sobrenaturais está disponível em pré-venda no Site Oficial da DarkSide Books. E você, tem coragem? Comente com a Macabra no Twitter Instagram.

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.