Curiosidades sobre o filme Freaks

Marco do cinema de gênero, Freaks é um show à parte. Listamos as curiosidades mais macabras do filme de Tod Browning.

Uma história de amor, traição e vingança ambientada no circo. Personagens carismáticos e amáveis, mas que causaram horror quando apareceram para o público em 1932. Para conviver entre os freaks, você precisa aceitar ser um deles.

Os freak shows, ou os “shows de aberrações”, estiveram presentes como eventos culturais para o povo norte-americano por volta dos anos 1840. Para alguns estudiosos de cultura, inclusive, esses shows foram imprescindíveis para moldar a forma como o público acompanha produções culturais nos dias de hoje. 

Para outros críticos, ainda, esses shows foram extremamente importantes para a cultura do terror. Isso se torna ainda mais verdadeiro quando ficamos sabendo que Tod Browning, diretor de Drácula, de 1931, um dos primeiros filmes de terror de enorme sucesso e que, naquele momento, se intitulava como um filme do gênero, foi um artista itinerante, entre apresentações circenses e de espetáculos de feiras — os conhecidos sideshows.

Não por coincidência, mas por escolha própria, Tod Browning também dirigiu um filme sobre o assunto nos anos 1930. Freaks, intitulado Monstros no Brasil, lançado em 1932, foi levemente baseado do conto “Spurs” de Tod Robbins e apresentava o ambiente dos freak shows de dentro, com artistas saídos dos próprios espetáculos.

Na história, uma bela mulher, Cleopatra (Olga Baclanova) começa a atrair a atenção de um dos anões do sideshow em que trabalha, Hans (Harry Earles). O que de início era uma brincadeira com a cara do pobre homem, logo passa a ficar mais sério quando Cleo descobre que Hans é riquíssimo, e planeja se casar com ele — mesmo que ele já esteja noivo de Frieda (Daisy Earles). Cleo começa a armar com Hércules (Henry Victor), o homem forte do show, para roubar o dinheiro de Hans, entretanto, no dia de seu casamento, enquanto os outros “freaks” entoam a canção de que agora Cleo é uma deles, a mulher se descontrola. Logo, todos percebem que há algo errado e, bom, mexeu com um, mexeu com todos. As coisas não terminam bem para Cleo ou Hércules.

Freaks é uma história de horror e traição, mas também de lealdade entre essas pessoas marginalizadas. Listamos algumas curiosidades sobre essa produção que está quase completando 90 anos e faz parte da história do cinema.

Lon Chaney

Originalmente, Freaks era para ser protagonizado por Lon Chaney, “o homem das mil faces”. Seu projeto data pelo menos desde 1925, do período em que a MGM produziu outro filme de Browning estrelado por Chaney, chamado A Trindade Maldita, que era baseado em um conto de Tod Robbins. em que um ventríloquo, um anão e um levantador de pesos, se reúnem e começam a cometer uma série de crimes. O filme tinha como ator Harry Earles que, interessado em encontrar mais papéis, trouxe aos olhos de Browning o conto “Spurs”, também de Robbins, e contava a história de duas estrelas de circo que tentavam tirar vantagem de um anão rico.

A história chamou a atenção de Browning, que era, anteriormente, artista circense e performer de vaudeville. A intenção de Browning, de acordo com David J. Skal, biógrafo do diretor, era fazer com que Chaney estrelasse também esse roteiro, mas o filme não chegou a ser feito no período em que Chaney esteve na ativa. O ator faleceu pouco depois de fazer a versão falada de A Trindade Maldita, em 1930.

Reunindo o elenco

O processo de seleção de elenco foi intenso. Browning optou por trabalhar diretamente com pessoas ligadas aos freak shows. Harry Earles, quem apresentou a “Spurs”, de Robbins, para Browning, ficou com o papel do anão rico Hans, e logo convenceu sua irmã Daisy a fazer o papel de Frieda, noiva do protagonista.

Para os outros personagens, o diretor de elenco Ben Piazza viajou quase um mês pelo país para conseguir reunir artistas de espetáculos de feira e circos. Mas, a busca deu retorno e Piazza encontrou tantos nomes que fizeram sucesso no filme, como “Garoto Metade” Johnny Eck, o “Torso vivo” Prince Randian, Schlitzie, que se tornou o artista mais reconhecido do filme, e Angelo Rossitto, que continuou fazendo filmes por mais cinquenta anos depois de Freaks.

Nem tudo foram flores, é claro. Por um lado, Freaks ficou reconhecido como uma experiência memorável graças a vontade de Browning de contratar artistas de circo com deficiências reais, o que na época serviu, entre muitas coisas, para humanizar as pessoas que estavam fazendo aquele filme; por outro lado, muitos desses artistas não eram atores, e necessitavam de assistência e paciência. Browning chegou ao ponto de ter pesadelos em que estava gravando o filme e não conseguia realizar determinadas cenas.

Os ânimos nos estúdios da MGM não foram muito melhores. Durante a gravação, vários membros do local se mantiveram distantes dos artistas contratados. Alguns deles não eram muito bem vistos, e permaneceram afastados dos salões principais do estúdio, se mantendo em tenda, do lado de fora. Isso não evitou que pessoas os tratassem de formas horríveis. Conta-se a história que, certo dia, F. Scott Fitzgerald, que realizava serviços para a MGM no período, encontrou as irmãs xifópagas Violet e Daisy e teve que correr para vomitar — esse encontro teria sido uma das inspirações para seu conto “Crazy Sunday”.

O lançamento

Freaks foi lançado em 1932, e as primeiras sessões foram feitas em janeiro daquele ano. A audiência ficou escandalizada. Pessoas deixaram as salas de cinema — uma delas, inclusive, deixou o local gritando —, além das ameaças de processo. O chefe de produção, Irving Thalberg, resolveu intervir, adiando um pouco o lançamento do filme e realizando algumas pequenas mudanças na edição. Ironicamente, a versão sem cortes, que foi exibida na estreia mundial do filme no San Diego’s Fox Theatre, acabou sendo mais admirada na época de lançamento.

Mesmo assim, Freaks não foi nenhum sucesso de bilheteria. Com orçamento de $316.000 de dólares, o filme noticiou uma perda de $164.000 — sem lucro para os freaks.

Acredita-se que foi esse filme que descarrilou de vez a carreira de Browning. O diretor já havia passado por muita coisa na vida, até aquele momento — na década de 1910, Browning teve uma vida agitada: se envolveu em um acidente de carro que levou à morte de um amigo, em que passou dias no hospital, além do período em que viajava com shows de feiras e circos. Mas diz-se que foi o fracasso de Freaks que afundou completamente a carreira do diretor, já que ele nunca se recuperou. Parte disso foi porque Browning não conseguiu se acostumar com a carreira de diretor de filmes falados, algo que aconteceu com diversas estrelas da era muda no cinema. 

Os anos 1960

Jack Dracula, por Diane Arbus

Freaks encontrou um novo público nos anos 1960, sendo exibido em cinemas à meia-noite, fazendo sucesso com o movimento da contracultura. Uma das pessoas que sofreu grande influência do filme no período, de acordo com Skal em seu livro The Monster Show, foi a fotógrafa Diane Arbus, que já chamava a atenção por seus projetos com pessoas marginalizadas e de comportamento desviante. Uma de suas fotografias mais famosas nos apresenta Jack Dracula, um homem todo tatuado que, também, possui tatuagem da criatura de Frankenstein e a palavra Drácula tatuada no seu lábio inferior.

Freaks também foi fonte de inspiração para a autora Katherine Dunn, que escreveu o livro Geek Love. A história também é ambientada em um circo, com uma família de freaks como personagens principais, e se tornou um marco na literatura, inspirando nomes como Kurt Cobain e Neil Gaiman.

Browning faleceu em 1962 e não teve tempo de ver o renascimento de seu filme.

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.