Nascido em Tóquio, em 1910, Akira Kurosawa se tornou um dos principais cineastas do Japão, com sucesso internacional e de grande influência para a história do cinema. Dentre seus trabalhos, chama a atenção suas adaptações literárias — de autores japoneses consagrados como Ryūnosuke Akutagawa, a autores ocidentais, como Shakespeare, Dostoiéviski e Tolstói.
Kurosawa foi fortemente influenciado por seu pai e por um de seus irmãos ao escolher seguir a carreira de cineasta. O pai, Isamu Kurosawa, foi diretor de uma escola secundária, com grande entusiasmo pela cultura ocidental, levando sua família para assistir a filmes — e mesmo quando o Japão passou a se afastar do Ocidente, Isamu Kurosawa continuou a defender os filmes como uma boa possibilidade de ensino. Já seu irmão, Heigo, trabalhava como Benshi, um tipo de narrador de filmes japoneses. Mas, até então, Kurosawa esperava se tornar um pintor ou ilustrador.
Em 1935, o estúdio Photo Chemical Laboratories (PCL), que mais tarde se tornaria o conhecido estúdio Toho, estava procurando por diretores assistentes. Para participar da seleção, os candidatos precisariam fazer um ensaio, em que analisavam quais as falhas fundamentais do cinema japonês e suas possíveis soluções. Kurosawa levou as coisas um pouco na brincadeira, e respondeu que já que essas falhas eram fundamentais, não havia o que se fazer contra elas. Entre os examinadores do exame estava Kajirō Yamamoto, que insistiu para que o estúdio o contratasse.
Apesar de ter feito diversas cenas do filme Uma (1941), junto de seu mentor Yamamoto, seu primeiro filme sozinho como diretor foi A Saga do Judô (1943), uma adaptação do livro de mesmo nome de Tsuneo Tomita. Kurosawa leu o livro e pediu que o estúdio, agora já conhecido como Toho, desse um lance pelos direitos antes que outros estúdios demonstrassem interesse — e dito e feito, três dias depois ao menos três estúdios se interessaram nos direitos da publicação, mas Toho acabou ganhando a disputa.
Foi em seu filme seguinte, A Mais Bela (1944), que Kurosawa conheceu sua esposa, Yōko Yaguchi. Atriz do filme, Yaguchi havia sido escolhida como representante dos atores para dialogar diretamente com o cineasta quanto aos seus pedidos, direitos e demandas. Acabaram se tornando muito próximos, e se casaram em 1945. Os dois permaneceram juntos até 1985, quando Yaguchi faleceu. Tiveram dois filhos, Hizao e Kazuko, que também trabalharam na indústria do cinema.
Durante sua carreira, Kurosawa demonstrou particular interesse em obras passadas no período feudal japonês, além de trabalhar com alguns adaptações literárias. Um de seus autores favoritos foi Dostoiévski, e o cineasta fez uma adaptação de O Idiota, levando a história que originalmente se passa na Rússia para Hokkaido.
No mesmo período em que Kurosawa pensada sobre a adaptação de O Idiota, no início dos anos 1950, Rashomon estreou no Festival de Veneza e o cineasta chamou a atenção dos olhares do Ocidente. Em setembro de 1951, o filme recebeu o maior prêmio do festival, o Leão de Ouro.
Kurosawa também teve diversas tentativas e realizações junto ao cinema hollywoodiano. Um desses filmes foi Tora! Tora! Tora!, que fala sobre o bombardeio de Pearl Harbor pelo ponto de vista norte-americano e japonês. Kurosawa seria responsável pela metade japonesa, mas no natal de 1968 ele deixou a produção afirmando estar cansado. Os diretores Kinji Fukasaku e Toshio Matsuda assumiram seu lugar, enquanto a metade norte-americana foi dirigida por Richard Fleischer.
O cineasta continuou fazendo filmes, adaptando histórias que lhe eram queridas, sempre transportando seus cenários para o Japão, e escrevendo ele mesmo seus roteiros — um conselho dado por Yamamoto, quando ele iniciava sua carreira. Hoje é um dos nomes mais lembrados e célebres do cinema japonês, e sua produtora, a Kurosawa Production Co., segue lidando com os direitos de suas obras e tudo relacionado a sua carreira. Passados os anos de trabalho, a saúde de Kurosawa começou a entrar em declínio, e ele faleceu em decorrência de um derrame em 06 de setembro de 1998.
Dentre os prêmios que ganhou, estão um Oscar honorário em 1990, concedido pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas; o BAFTA de Melhor Filme Estrangeiro por Ran, em 1985; o BAFTA de Melhor Diretor por Kagemusha, a Sombra de um Samurai, em 1980; o Leão de Prata no Festival de Veneza por Os Sete Samurais, em 1954, um Leão de Ouro por sua carreira, entre tantos outros.
Se você teve pouco contato com as obras de Akira Kurosawa e quer conhecer melhor esse grande nome, confira a lista com 7 filmes essenciais para mergulhar na carreira do diretor.
Os Sete Samurais
Shichinin no samurai, 1954 // Um samurai veterano atende ao chamado de uma vila para ajudá-los e protegê-los contra a ameaça de um grupo de ladrões. Reunido com outros seis samurais, o grupo ensina os locais a se defenderem de possíveis contratempos e ameaças. Ambientado no período Sengoku (1467–1573), o filme se tornou um clássico japonês produzido, dirigido e coescrito por Kurosawa. Até o momento em que foi lançado, foi considerado o filme mais caro produzido no país. O filme fez muito sucesso no ocidente, recebendo uma série outras obras baseadas em sua história, como Sete Homens e Um Destino (1960, dir. John Sturges).
Ran
Ran, 1985 // Já com certa idade, um chefe militar poderoso divide seu reino entre os três filhos.. A decisão faz com que se revoltem, e essa partilha de poder leva os três a iniciarem uma guerra familiar contra eles mesmos e contra seu pai. Ran também se passa no período Sengoku, e é uma das três incursões de Kurosawa na obra literária de Shakespeare, sendo um filme levemente baseado em Rei Lear. Foi uma produção nipo-francesa, produzida pelos estúdios Herald Ace, Nippon Herald Films e Greenwich Film Productions. Em chinês, ran, ou 乱, significa “caos”.
Trono Manchado de Sangue
Kumonosu-jô, 1957 // Outro dos três filmes dirigidos por Kurosawa baseado na obra de Shakespeare, Trono Manchado de Sangue é uma releitura de Macbeth para o Japão feudal. Assim como no texto shakespeariano, o filme apresenta um soldado e uma esposa ambiciosos, que acabam cometendo um crime para subirem na hierarquia social e política. Apesar das mudanças de alguns elementos da narrativa, o filme é considerado uma das melhores adaptações da peça de Shakespeare para o cinema.
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Homem Mau Dorme Bem
Warui yatsu hodo yoku nemuru, 1960 // Com raízes em Hamlet, Homem Mau Dorme Bem trata da corrupção de corporações e é ambientado em um cenário noir, um pouco diferente dos outros três filmes mencionados até aqui. Um vendedor de carros se casa com uma jovem, filha de um empresário muito rico, somente para se vingar do suicídio de seu pai e mostrar para todos como o homem pode ser o culpado por essa morte.
Rashomon
Rashomon, 1950 // Em 1950, o cineasta dirigiu e coescreveu Rashomon, uma adaptação do conto “Dentro do Bosque” [Yabu no naka], de Ryūnosuke Akutagawa, célebre escritor japonês — o conto foi baseado nas histórias do Konjaku Monogatari, um livro de antigas lendas do período Heian (794–1185). Em “Dentro do Bosque”, assim como no filme, um crime é cometido: uma noiva é violentada e seu marido, um samurai, é morto. A narrativa é reconstruída a partir do ponto de vista de cada um dos envolvidos e de suas declarações.
Yojimbo, o Guarda-Costas
Yôjinbô, 1961 // Em Yojimbo, O Guarda-Costas, acompanhamos um ronin — um samurai sem mestre no período do Japão feudal — que chega a uma cidade dividida entre duas facções criminosas. Os líderes de ambas as facções querem contratar o homem para sua segurança, mas tudo indica que ele está mais interessado em livrar a cidade dessa guerra.
Viver
Ikiru, 1952 // Levemente baseado no livro A Morte de Ivan Ilitch, Viver conta a história de um burocrata idoso que descobre estar com câncer terminal. Enquanto enfrenta a doença, o homem tenta encontrar sentido em sua vida. Em 2022, um remake norte-americano adaptando o script de Viver para o ocidente será lançado, intitulado Living, com direção de Oliver Hermanus e roteiro de Kazuo Ishiguro.
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