Você tem uma vida inteira pela frente. A chance de recomeçar ao lado de seus familiares, em um bom emprego, em uma cidade nova. Tudo parece ir bem, mas a casa que você conseguiu para que essa nova vida tenha início fica bem ao lado de uma estrada assustadora, com um tráfego violento de caminhões. Apesar disso, você decide que fará dar certo. Você, sua esposa, e seus dois filhos pequenos merecem isso.
Mas aí uma tragédia acontece: durante uma festinha no quintal, seu filho mais novo é atropelado por uma dessas máquinas aterrorizantes. O que você pode fazer, além de encarar o luto?
Bom, você pode enterrar seu garotinho em um cemitério de animais que, dizem as lendas, traz os bichos de volta à vida. Trouxe seu gato, Churchill, pode trazer um bebê de três anos também.
A história de O Cemitério, livro escrito por Stephen King, foi responsável por traumatizar muitos leitores — inclusive seu próprio autor. Quando transformada em filme, intitulado ampliou seus horizontes de horrores para aqueles jovens desavisados que, sem querer, assistiram o filme tarde da noite em algum canal de TV, sem saber o que os esperavam, sem conhecer o terrível final que os aguardava.
Depois de uma sequência e um remake, a Paramount traz uma nova história para os fãs com Cemitério Maldito: A Origem. Celebrando esse lançamento, a Macabra reuniu algumas curiosidades sobre a franquia.
Uma estrada perigosa
Assim como boa parte das histórias de Stephen King, há uma fagulha ali que é real, que o escritor experienciou e que ficou com ele o bastante para ser transformado em história. Com Cemitério Maldito, essa fagulha foi o local onde ele morava. Convidado para ser professor em sua alma mater, na Universidade do Maine, King se mudou com sua família para uma casa próxima do local, em Orrington. A casa não era de todo o mal e o salário era bom, mas a estrada da qual eles eram vizinhos era terrível e absurdamente perigosa. Cheia de caminhões, não era difícil encontrar algum bichinho morto nas proximidades, e um cemitério de animais foi feito no bosque, para que as crianças se despedissem de seus companheiros. Conta a lenda que até a placa, Pet Sematary, era escrita errada — o título original do livro, assim como do filme, mantém esse erro de grafia propositalmente.
A própria filha de King sofreu com esse problema. Seu gatinho, certo dia, foi encontrado morto nas proximidades e enterrado no cemitério. King também quase foi espectador de uma tragédia maior: seu filho mais novo, Owen, que hoje também é escritor, correu em direção à estrada enquanto um caminhão se aproximava em alta velocidade. King correu e conseguiu salvá-lo mas, como explicou em uma das introduções que escreveu para o livro ao longo dos anos, a sensação de “e se” permaneceu com ele, como um pesadelo: “Suponhamos que eu não o tivesse pegado? Ou suponhamos que ele tivesse caído no meio da estrada, e não na beirada dela?”.
Permanece um pesadelo para King
Um dos livros mais queridos pelos fãs do autor, King não foi muito fã dele quando o escreveu. O autor contou em 2006, para o The Paris Review. que “Eu sou orgulhoso por ter seguido o caminho todo, mas foi tão horrível no final, tão macabro. Quer dizer, não há esperança para ninguém no final desse livro”. O autor contou também que, diferente da maioria de seus livros, aos quais ele entrega para Tabitha ler, este ele não entregou. Ele apenas o deixou em cima de sua escrivaninha e continuou a trabalhar em outras histórias — Christine, naquele momento, era o livro que ele estava escrevendo, e acabou sendo publicado antes de O Cemitério.
A publicação dele, na verdade, aconteceu por necessidade. Depois de alguns anos de contrato com uma de suas editoras, King acabou encerrando suas atividades por lá. Mas, por causa de um acordo, ele ainda devia uma história para eles. O Cemitério havia passado alguns meses arquivado, mas acabou retornando à memória de King para cumprir este acordo de publicação.
O autor já afirmou em outras ocasiões que, não fosse por isso, talvez ainda hoje não tivesse publicado o livro, e o considera sua história mais sinistra.
Referências e localização
Muitas das obras de King compartilham localizações em cidades fictícias, habitando o famoso Maine de King. Cemitério Maldito se passa em Ludlow, cuja referência é a cidade em que King morava na época que escreveu o livro, Orrington. Ludlow, no mapa fictício de King, fica próxima a Orono (uma cidade real no Maine), e as duas cidades fictícias mais conhecidas de King, Derry e Castle Rock. Ludlow, além de ser palco de Cemitério Maldito, também aparece em A Metade Negra.
Ao longo do livro, algumas referências são feitas a outras cidades de King, como uma placa de sinalização para Jerusalem’s Lot e um aceno a Derry. Há o momento onde Jud Crandall comenta sobre um São Bernardo que ficou doente com raiva em uma cidade vizinha. Essa é uma referência a Cujo, que também é repetida na adaptação de Cemitério Maldito de 2019. O filme de 2019 também traz uma referência semelhante sobre a placa de sinalização, trocando Salem’s Lot por Derry.
Escolhas de direção e pedidos especiais
Mary Lambert era uma diretora consideravelmente novata quando foi chamada para dirigir o filme. Antes de Cemitério Maldito, a cineasta havia dirigido somente outro longa, Marcas de uma Paixão, e era conhecida principalmente por dirigir clipes musicais — da Madonna e de Janet Jackson, principalmente.
Mas Lambert não foi a primeira escolha para o filme. Antes da cineasta, George Romero e Tom Savini foram cotados para a cadeira de direção. Romero quase chegou a dirigir o longa, mas quando a produção começou a sofrer atrasos, ele saiu. Savini, na verdade, desde o começo não chegou a aceitar o trabalho.
King ficou responsável pelo roteiro da adaptação, e queria que a história se mantivesse o mais próxima possível do livro que havia escrito. E, para isso, ele tinha um pedido: que o filme fosse rodado no Maine, para que ficasse mais próximo do que ele tinha pensado enquanto escrevia.
Foi pensando nessa proximidade com a fonte original que King aprovou pessoalmente Mary Lambert como diretora. Os dois tiveram um encontro para conversar sobre o filme, e King ficou tão impressionado com o conhecimento de Lambert sobre o livro que deu carta branca para ela, e não se encontrou com outros diretores para tratar da questão.
Stephen King e Ramones
A adição de Mary Lambert à equipe de produção de Cemitério Maldito trouxe outros benefícios ao filme. King é um grande fã dos Ramones, e fez uma referência à banda no livro O Cemitério. Em contrapartida, Lambert, que trabalhava ativamente na indústria musical, ofereceu à banda um convite para fazerem uma música tema para o filme. Os Ramones aceitaram muito felizes, e “Pet Sematary” se tornou uma das músicas mais conhecidas da banda.
Além disso, no começo do filme, no fatídico momento do caminhão, o motorista do veículo está ouvindo “Sheena Is A Punk Rocker”.
A escolha dos atores
Alguns trabalhos de atuação saltam aos olhos quando nos lembramos de Cemitério Maldito. Um dos rostos mais conhecidos para os fãs de terror é o de Jud Crandall, interpretado por Fred Gwynne, que interpretou o gigante frankensteiniano Herman Munster em Os Monstros, a série dos anos 1960. Mary Lambert afirmou que Gwynne era sua única opção para viver o gentil senhor que mora ao lado dos Creed.
Mas não podemos deixar passar a atuação de Miko Hughes, que faz o jovem Gage. Inicialmente a Paramount queria que o papel fosse dado a gêmeos, igual ao que aconteceu com Ellie e normalmente acontecia com grandes papéis infantis no período. Mas Lambert ficou tão impressionada com o jovem Hughes que fez o possível para que o estúdio o aceitasse, e acabou dando muito certo.
Para os papéis de Louis e Rachel alguns nomes foram considerados, como Keith Carradine, Glenne Headly e Colleen Camp, mas as escolhas finais acabaram indo para Dale Midkiff e Denise Crosby.
Não podemos nos esquecer, também, que King faz uma participação especial nessa produção, como o pastor no cemitério onde os Creed enterram o pequeno Gage.
Agora, um boato: dizem as línguas por aí que Bruce Campbell estava cotado, e era a primeira escolha, para viver Louis Creed. Ficamos muito curiosos em saber como o filme seria se essa escolha tivesse sido levada adiante.
Pós-produção
Hoje não é difícil encontrar alguns fãs de terror que digam que “Cemitério Maldito não é tão bom assim”, muito por causa de alguns efeitos do filme que não envelheceram tão bem, ou algumas atuações que já não convencem tanto. Mas, na época de seu lançamento, o filme se saiu bem. A crítica não foi exatamente generosa, mas o filme ficou em primeiro nos aluguéis de VHS.
Apesar disso, ainda há um séquito de fãs prontos para defender a qualidade da direção de Lambert e a adaptação de uma das histórias favoritas dos leitores de King.
Uma sequência foi feita
Poucos se lembram, mas Cemitério Maldito ganhou uma sequência alguns anos depois do primeiro filme ter sido feito — o que mostra, realmente, que ele não foi o fracasso que muitos acreditam ter sido. Lançado em 1992, o filme O Cemitério Maldito II contou novamente com a direção de Mary Lambert, mas sem o envolvimento de King no roteiro. Na história, o jovem Jeff Matthews (Edward Furlong) acabou de perder a mãe, e retorna para sua cidade natal com seu pai, Chase (Anthony Edwards). Lá, eles ficam sabendo dos recentes acontecimentos no cemitério de animais. A questão que assombra a mente do garoto é: será que ele conseguiria trazer sua mãe de volta?
Infelizmente, ao contrário do primeiro filme, algumas ideias de Mary Lambert foram cortadas. Inicialmente, a cineasta queria continuar gravando no Maine, mas quando a produção começou, os produtores ficaram preocupados que o inverno no Maine poderia ser muito rigoroso, e filmaram na Georgia. Outro ponto foi que Lambert queria que sua personagem central fosse Ellie Creed, mas os produtores duvidaram que uma garota adolescente conseguiria segurar a história.
O remake de 2019
Querendo dar uma nova vida à história de Stephen King, a ideia de um remake de Cemitério Maldito começou em 2010. Inicialmente, Matt Greenberg foi contratado para escrever o roteiro — posteriormente seu nome apareceria nos créditos do filme por ter feito parte de uma versão inicial da história. Entre os nomes possíveis que serviriam de diretores para essa nova versão de O Cemitério estavam Juan Carlos Fresnadillo e os irmãos Andy e Barbara Muschietti. Por fim, a escolha para a cadeira de direção foi tomada e Kevin Kölsch e Dennis Widmyer assumiram, com roteiro de Jeff Buhler.
Jason Clarke assumiu o papel de Louis, enquanto Amy Seimetz interpretou Rachel, John Lithgow fez o papel de Jud, Jeté Laurence foi Ellie e os irmãos Hugo e Lucas Lavoie revezaram como Gage.
O filme segue uma história semelhante ao da história original e da primeira adaptação, mas uma grande diferença entre eles fez com que os fãs torcessem o nariz — mais do que seria normal para uma nova adaptação de um filme já clássico do terror oitentista. Na nova adaptação, não é Gage, o jovenzinho, que morre ao ser atropelado por um caminhão, e sim Ellie.
O filme se deu melhor que a sequência dos anos 1990, mas ainda assim não conseguiu apagar o filme original do coração dos fãs, e as comparações se tornaram inevitáveis. De toda a forma, o filme conta com um visual sombrio bastante interessante que merece ser visto.
Uma nova empreitada
Provando que nenhum buraco já foi cavado o suficiente e que as palavras de Jud Crandall nunca foram levadas a sério, um novo filme da franquia chega aos espectadores. Cemitério Maldito: A Origem planeja explorar o começo da lenda urbana, na juventude de Jud, e contar um pouco mais sobre a criação do cemitério de animais.
O filme vai se passar em 1969, e é dirigido por Lindsey Anderson Beer, corroteirizado por Jeff Buhler, que retorna para esse prequel. O elenco conta com Henry Thomas, Pam Grier, David Duchovny e Jackson White, que viverá o jovem Jud Crandall.
Apesar da pouca fé que alguns fãs podem ter, o trailer apresenta uma visão sombria dos anos 1960 e muitos personagens novos que podem trazer uma outra profundidade para a história. Estamos curiosos, enfim, para saber os caminhos que serão tomados em Cemitério Maldito: A Origem, que tem estreia prevista diretamente no canal de streaming da Paramount dia 05 de outubro e no Telecine dia 06.
Confira o trailer abaixo:
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