Qual a primeira coisa que você pensa sobre a pessoa de Lovecraft quando mencionamos o nome do autor? A resposta depende muito do seu nível de fã. Para alguns, uma mente brilhante, criador de mundos e horrores indizíveis; para outros, um sujeito que vivia seus preconceitos escancarados como um outdoor.
Mas, se pensarmos que uma das concepções não apaga a outra, temos como resultado uma pessoa complexa e, como tal, cheia de erros e acertos. Em Necronomicon: Vida & Morte de H. P. Lovecraft, livro escrito pelo professor e especialista em terror W. Scott Poole, lançamento da Macabra em parceria com a DarkSide Books, nós conseguimos vislumbrar todas as camadas densas e idiossincrasias desse personagem tão caro para a literatura do gênero.
Afinal de contas, quem foi Howard Phillip Lovecraft? A resposta dessa pergunta pode ser muito mais difícil do que somente “foi o criador do Cthulhu”, e em seu livro, Poole nos retrata as várias faces e as várias vidas do jovem escritor de Providence.
Para celebrar a chegada dessa obra às mãos dos leitores brasileiros, a Macabra listou cinco motivos especiais para ir correndo garantir a sua cópia.
Correspondências
Nós achamos que conhecemos uma pessoa até termos acesso à sua correspondência pessoal. Hoje em dia poderíamos estar falando de e-mails ou mensagens em aplicativos de conversa. Mas, na época de Lovecraft, as cartas eram o principal meio de se falar com pessoas distantes. E Lovecraft era um grande adepto delas.
Quase isolado em Providence, sua amada cidade para onde voltou após o término de seu casamento e sua curta estadia em Nova York, era através de cartas que Lovecraft entrava em contato com seus protegidos e seus amigos distantes, enviava seus trabalhos, e, também, deixava sua personalidade mais à mostra para seus futuros fãs.
Poole se debruça sobre esse material e traz à tona diversas questões que, antes, poucas vezes foram levantadas. Quem eram os amigos mais próximos de Lovecraft? Como ele realmente se sentia com suas publicações, sobre o ofício de ser escritor? Quais eram os outros interesses do autor? Suas percepções eram mutáveis ou ele era o mesmo desde que era um jovem, ainda na escola? Essas perguntas podem ser analisadas através de conversas que Lovecraft teve com as pessoas mais próximas ao longo de sua vida.
Nem tudo é o que parece
Lovecraft conheceu muitas pessoas ao longo de sua carreira. Apesar de ser um companheiro constante de sua própria solitude, o escritor também mantinha um contato animado com outras esferas que, de certa forma, contribuíram para forjar muito do que conhecemos sobre ele.
Alguns personagens-chave de sua história foram aqueles que assumiram suas publicações após sua morte e a sua esposa. Mas será que o que conhecemos, ou achamos que conhecemos, sobre esses dois grupos distintos, pode ser levado tão a sério? Quais foram os reais papéis dessas pessoas na vida de Lovecraft?
Em Necronomicon: Vida & Morte de H. P. Lovecraft, muitas verdades que fãs antigos do mestre da literatura cósmica tinham por certeza podem ser questionados. Poole não inventa a roda ao se aprofundar nesses temas, mas questiona noções que podem ter passado despercebidas para muitos dos leitores de Lovecraft até então.
A verdade nua e crua
Amenizar a vida de seu objeto de estudo nunca foi uma intenção de Poole. Ao se questionar sobre as possibilidades deste homem complexo e cheio de sentimentos conflitantes que era Lovecraft, Poole nos traz algumas outras visões sobre as qualidades e defeitos do escritor. Ao mesmo tempo que era um homem com fortes pensamentos racistas, por exemplo, um de seus maiores amigos era forte apoiador da cultura negra emergente no Brooklyn dos anos 1920.
Poole rechaça a ideia de “Lovecraft ser um homem de seu tempo”, graças a esses episódios em que o autor teve amplo contato com ideias diferentes das dele. Um dos grandes diferenciais da obra, W. Scott Poole analisa Lovecraft em seu contexto, e exatamente por isso demonstra que ele era um homem com plenas capacidades de pensar por si mesmo.
Análise das obras
Algumas páginas da biografia Necronomicon: Vida & Morte de H. P. Lovecraft são utilizadas para uma análise feita por Poole das obras de seu objeto de estudo, Lovecraft. Afinal de contas, quais eram os medos de Lovecraft? O que ele escrevia estava diretamente ligado ao seu modo de pensar, mas até onde ele ia para retirar suas maiores inspirações?
E, por falar em inspirações, a obra de Lovecraft realmente estava mais próxima à de Poe, ou havia outros escritores, contemporâneos a ele, que conversavam melhor com seus temas e escritos? Quem, afinal, Lovecraft admirava e quem ele ignorava no meio da literatura? Não somente perguntas feitas por estudiosos, conhecer um pouco mais sobre essa base da escrita lovecraftiana ajuda o leitor de Lovecraft a entender melhor suas ideias e a construção de mundo que ele ajudou a criar.
Os Mythos, também, é um ponto forte na investigação de Poole. Longe de ser uma criação específica de Lovecraft, a história dos Mythos remonta a uma disputa por direitos autorais e até mesmo uma forte vontade dos detentores de seu espólio de verem consolidada uma carreira post mortem do escritor.
O mundo pós-Lovecraft
Quando dizemos que H. P. Lovecraft influenciou profundamente e alterou a forma como, no Ocidente, a literatura de horror, seus filmes e seus derivados cresceram e se desenvolveram, não é um exagero. Grande parte dos produtos mais nerds que conhecemos hoje surgiram, objetivamente ou subjetivamente, por influência das obras lovecraftianas.
Isso fica muito claro ao longo de Necronomicon: Vida & Morte de H. P. Lovecraft, onde W. Scott Poole faz um trabalho de análise para identificar, de forma geral, onde se encontra a influência de Lovecraft. Seja na música, nos jogos de RPG, nas revistas de contos ou nos textos de horror, o autor se tornou onipresente e seu reflexo paira absoluto acima da cultura nerd.
Bônus: O cara sabe do que está falando
W. Scott Poole pode ser um nome ainda a ser descoberto pelos leitores brasileiros, mas o escritor e professor tem uma longa carreira pesquisando o gênero de horror. Seus livros incluem algumas obras importantes para o estudo do gênero como Monsters in America: Our Historical Obsession with the Hideous and the Haunting e Wasteland: The Great War and the Origins of Modern Horror — a serem lançados em breve pela Macabra. Atualmente, leciona história no College of Charleston. Necronomicon: Vida e Morte de H. P. Lovecraft foi finalista do prêmio Bram Stoker na categoria Não Ficção, e seus livros constantemente aparecem nas listas de melhores do ano da crítica especializada.
*
São vários os segredos que permeiam as páginas de Necronomicon: Vida & Morte de H. P. Lovecraft, assim como o livro perdido e enlouquecedor de Abdul Alhazred. A biografia de Lovecraft é um prato cheio para se gastar horas refletindo sobre a vida e a obra desse escritor tão complexo. O livro já está em pré-venda no site oficial da DarkSide Books.
E você? Curioso para se aprofundar nessa mente brilhante e conflituosa? Comente com a Macabra no Twitter e Instagram.