O Exorcista é, sem dúvida, um dos filmes mais cultuados no terror. Na época do lançamento causou um alvoroço entre os fãs, que ficaram chocados ao verem tantas situações terríveis em cena. Ainda hoje é um daqueles filmes dos quais os fãs do gênero falam com respeito, na maioria dos casos. Goste ou não, alterou os rumos do terror.
O filme foi baseado no livro de William Peter Blatty (que, por sua vez, se inspirou em uma notícia de jornal) e fala sobre a possessão demoníaca da garotinha Regan (Linda Blair), enquanto sua mãe (Ellen Burstyn) faz o possível para encontrar alguém que possa ajudá-la. Ao longo da narrativa, três padres tentam tirar o demônio de Regan, e todos acabam se deparando com perigos terríveis. Regan está possuída por um demônio antigo que anuncia a desgraça: Pazuzu.
Infelizmente, e por maior que seja a popularidade de O Exorcista, pouco se sabe sobre as origens e a história do demônio Pazuzu. Talvez por se tratar de um demônio tão assustador, como mostrado no filme, as pessoas acreditam que somente aquilo seja o necessário para compreender em totalidade a figura demoníaca e assustadora que possui uma garotinha. Mas a história de Pazuzu vai muito além. A partir do artigo “Evil against Evil” [Mal Contra o Mal], de Nils P. Heeßel, podemos descobrir um pouco mais sobre o demônio.
Pazuzu é um demônio babilônico e assírio, de meados do primeiro milênio A.C. Pazuzu era representado por um vento forte e violento que trazia a destruição para a natureza e para a humanidade. Por outro lado, era capaz de manter outros demônios afastados.
Na iconografia, sua imagem é descrita como corpo de humano, como em grande parte dos demônios antigos, mas sua cabeça difere das outras: um rosto retangular, com chifres caprinos, caninos e língua enormes, sempre à mostra, com pares de asas nas costas e um rabo de escorpião. A imagem de Pazuzu foi encontrada pelas escavações arqueológicas, na maioria das vezes, e em amuletos ou pequenas estatuetas, geralmente feitas de argila, vidro ou metal.
Um dos grandes mistérios de Pazuzu seria o início de sua história. Apesar de ser encontrado principalmente com representações no primeiro milênio A.C., uma possível origem mesopotâmica também não pode ser descartada, pois existem conexões iconográficas entre sua representação e a representação do deus egípcio Bes.
Uma curiosidade interessante é que Pazuzu é reconhecido por ser aquele quem derrota outros demônios, e as imagens, encontradas em sítios arqueológicos ou em tumbas antigas (como pertences dos mortos), poderiam ser utilizadas como pequenos ornamentos para a proteção, como em algum cordão em volta do pescoço ou algo semelhante. Além disso, alguns rituais de proteção neo-assírios e neo-babilônicos, pedem que um amuleto de Pazuzu sejam utilizados durante a execução do ritual.
Outra curiosidade é a relação entre Pazuzu e a deusa demoníaca mesopotâmica Lamashtu, conhecida por perseguir mulheres grávidas, complicar sua gravidez ou assassinar suas crianças. Em alguns amuletos, Pazuzu aparece em posição de defesa contra Lamashtu, e em alguns rituais, pede-se a utilização também da figura de Pazuzu.
Heeßel afirma, logo no início de seu artigo, que “evil against evil” (mal contra o mal) talvez seja a melhor frase para caracterizar a figura de Pazuzu. Apesar de todos esses rituais para ajuda, Pazuzu ainda era uma figura muito temida. Tinha, sim, o poder de deter outros demônios, mas ele mesmo era uma força demoníaca.
O poder destrutivo de Pazuzu é tanto, que em alguns amuletos existem duas forças sobrenaturais para auxiliar a humanidade a controlá-lo: Ugallu e Lulal. Alguns pesquisadores são contra a teoria de Heeßel, afirmando que as figuras de Ugallu e Lulal parecem muito mais estar a favor de Pazuzu do que em oposição à ele, mas talvez ambas as coisas não sejam exatamente excludentes: Ugallu e Lulal podem estar a favor de Pazuzu em sua missão de proteção, e fazendo o possível para mantê-lo na linha.
Seja como for, mesmo que a figura de Pazuzu fosse utilizada como proteção entre esses povos, é quase certo de que eles o temiam da mesma forma. O que não é difícil de se crer, visto que por mais correto e bom que fosse o Deus em antigas comunidades pagãs, eles ainda eram uma força incontrolável da natureza, o que facilita para que sejam temidos.
Pazuzu, filho de Hanbi, o deus dos demônios, e irmão de Humbaba, que aparece na história épica de Gilgamesh, nunca foi a figura mais gentil da Mesopotâmia, e sempre foi considerado um mal. Porém, com as preces e rituais, Pazuzu era geralmente “chamado” como defesa, sendo tão imponente que seria o único mal que poderia combater outro mal.
Durante o período de transição de cultos pagãos para o cristianismo, algumas figuras antigas foram realocados com novas posições: de extremo mal, geralmente. Conforme afirma-se no artigo de Joshua J. Mark, no site Ancient History Encyclopedia, o cristianismo não tinha mais espaço para essas figuras demoníacas e protetivas, sendo consideradas completamente malignas.
E aí, vamos pedir proteção para Pazuzu?