A produção de Antikamnia e os calendários estampados por esqueletos

Um medicamento que prometia aniquilar dores e febre. De brinde, calendários com carismáticos esqueletos. Conheça a Antikamnia.

Se hoje nós acompanhamos as vendas de remédios com um marketing agradável, procurando sempre demonstrar bem-estar para aqueles que estão procurando conforto na farmacologia, com bulas bem explicadas e suas contraindicações, antes as coisas não funcionavam assim.

Sabemos, inclusive, que muitos produtos que são proibidos já fizeram parte da vida diária de muitas pessoas principalmente durante o século XIX: o láudano, que continha uma razoável quantidade de ópio; a utilização de Erthroxlyn coca, mais tarde conhecida como cocaína, utilizado para dores de dente; entre tantos outros. No livro Medicina Macabra, de Thomas Morris, vimos horrores na administração de remédios e procedimentos malucos.

LEIA+: O MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA DE PESSOAS AFOGADAS NO SÉCULO 18

Então, talvez não fosse tão assustador ter uma marca de um analgésico representado por carismáticos esqueletos, não é?

E era exatamente assim que uma empresa vendia seus “tranquilizadores de dor”, a chamada Antikamnia Chemical Company, de 1890, localizada na cidade de St. Louis, no estado norte-americano do Missouri. A companhia foi criada por dois antigos farmacêuticos para comercializar Antikamnia, um remédio que prometia ser um alívio para dores e febre, cujo nome em grego significa “contra dores”. A fórmula da Antikamnia variava, mas era geralmente composta com grandes doses de acetanilida, que foi utilizada na segunda metade do século XIX para substituir a morfina mas caiu em desuso pois causava problemas no sistema respiratório a longo prazo. Entretanto, a Antikamnia, naquele momento, era um grande analgésico.

Não podendo perder tempo, a empresa decidiu comercializar de forma agressiva seu produto, e apelou para brindes e produtinhos promocionais. O medicamento nunca foi patenteado e não era necessário que um médico passasse uma receita para que fosse consumido, mas os donos da empresa imaginaram que com essas ofertas de generosidade seu medicamento seria cada vez mais recomendado.

Um desses brindes era um calendário para os anos de 1897 a 1901, ricamente ilustrado por Louis Crusius, um médico e artista que já era conhecido por suas ilustrações no mínimo excêntricas. Seus calendários faziam muito sucesso, e são até hoje comercializados em antiquários. O calendário de Antikamnia foi uma sensação igual, se não ainda maior.

Como mencionado, entretanto, a Antikamnia não era exatamente “saudável”, e no início do século XX os produtos derivados de acetanilida foram alvo da Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA) norte-americana, que determinou que a partir de 1907, esses produtos precisavam ser rotulados como tal, com um aviso claro e precauções. Ainda sim, a companhia fez um esquema para burlar essa regra, e deixou avisado em seus rótulos que o produto continha acetofenetidina, um derivado de acetanilida, e não propriamente a acetanilida. Isso durou um tempo, mas quando o caso foi levado até a Corte, em 1910, foi decidido que a Antikamnia era uma violação ao ato da FDA, e a empresa não durou muito após isso.

Mesmo que ainda hoje os calendários sejam vendidos e nos tragam lembranças de um momento que a medicina era menos preocupada, muitas pessoas morreram envenenadas pelas promessas de alívio de dores da Antkamnia. Após 50 anos, entretanto, descobriu-se que o remédio realmente retirava a dor, pois os cientistas descobriram que o produto primário que era metabolizado pelo corpo era o paracetamol.

*

Gostou de conferir os macabros calendários com esqueletos? Confira outros trabalhos artísticos na categoria Arte Macabra em nosso blog. Comente com a Macabra no Twitter e Instagram.

Compartilhe:
pin it
Publicado por

Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.