O que torna uma adaptação boa? Sabemos que não basta fazer com que a obra cinematográfica seja idêntica ao seu material de origem — nesse caso em específico, a literatura. Algumas mudanças precisam ser feitas para que o filme funcione tanto para os fãs, quanto para quem nunca leu o livro.
Quando pensamos em adaptações de livros em filmes de terror, imediatamente pensamos em Stephen King, que se tornou quase um sinônimo nesse quesito. Mas há um enorme oceano de adaptações literárias dentro do terror. Pensando nisso, o site Collider elencou algumas adaptações literárias que são são dos livros de King para que os fãs conheçam as obras.
A Macabra compartilha a lista com você e comenta um pouco sobre as escolhas.
Desafio do Além
The Haunting, 1963 // Shirley Jackson se tornou um estouro em 1948, quando o The New Yorker publicou seu conto “A Loteria”. Até então, a revista nunca tinha recebido tantas cartas — a maioria contendo reclamações contra a autora —, mas isso ajudou a alavancar a carreira de Jackson, que logo se firmou como uma das maiores escritoras de terror do século com o lançamento de A Assombração da Casa da Colina, em 1959.
A primeira adaptação de A Assombração da Casa da Colina não foi a primeira adaptação da obra de Jackson, mas é uma das mais conhecidas. Dirigida por Robert Wise, com roteiro de Nelson Gidding, o filme ganhou o nome de The Haunting no original, e foi intitulado Desafio do Além em português. É uma adaptação razoavelmente fiel, apesar de não deixar muito espaço para dúvidas quanto ao que está ocorrendo na velha Casa da Colina.
Nos anos 1990, a Dark Castle, famosa produtora de filmes de terror que homenageia William Castle, lançou um remake intitulado em português como A Casa Amaldiçoada. Menos fiel que seu antecessor dos anos 1960, o filme ainda assim traz outros detalhes sobre o livro que não foram aproveitados em 1963. Algum tempo depois, foi usado como paródia pela série de filmes Todo Mundo em Pânico 2.
E, claro, não podemos deixar de citar a série A Maldição da Residência Hill, de Mike Flanagan. Apesar da aparente distância com o material original, a série de Flanagan traz um compilado de homenagens à carreira de Shirley Jackson e outras de suas histórias, com vários elementos do livro original dispostos em pontos bastante estratégicos e facilmente reconhecidos pelos fãs da autora.
O Bebê de Rosemary
Rosemary’s Baby, 1968 // Quando pensamos em O Bebê de Rosemary, as imagens do filme de Polanski, de 1968, facilmente surgem em nossa memória. De certa forma, o sucesso do filme pode até ter diminuído um pouco a importância de Ira Levin para alguns fãs de terror mais relapsos — o que não é nosso caso, somos admiradores do autor. Levin foi um autor prolífico, e escreveu outras grande obras como Os Meninos do Brasil e The Stepford Wives (e já foi traduzido como As Possuídas e As Esposas de Stepford), e teve várias de suas obras adaptadas para o cinema e para a TV.
O filme de Polanski não foi a única adaptação de O Bebê de Rosemary, apesar de ser inegavelmente a melhor. Em 2014, uma minissérie dividida em dois episódios foi lançada com Zoe Saldana no papel de Rosemary em uma adaptação mais moderna do livro, mas não chegou a ganhar o coração do público.
Agora, em 2024, uma nova incursão ao aterrorizante prédio onde Rosemary conheceu o pesadelo chega a nós. O filme, intitulado Apartamento 7A e dirigido por Natalie Erika James, promete nos contar a história da antiga moradora do local. Com lançamento previsto para 27 de setembro para os Estados Unidos, o filme será lançado diretamente no canal de streaming da Paramount (e o lançamento mundial deve ocorrer em conjunto com a data norte-americana).
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O Exorcista
The Exorcist, 1973 // Clássico absoluto do cinema de terror, O Exorcista é um dos maiores filmes já produzidos. Não apenas pelo impacto que ele causou em seu público, como também no impacto causado na indústria do cinema. Sendo fã de terror ou não, você já deve ter ouvido falar do filme por aí. E não é para menos: adaptado do livro de mesmo nome de William Peter Blatty, que também trabalhou no roteiro do filme, os cuidados da produção são surpreendentes.
William Friedkin, diretor do longa, garantiu que uma pesquisa profunda fosse realizada. Gabriele Amorth, padre que ficou conhecido por seu extenso número de exorcismos realizados, todos com o aval da Igreja Católica, e que serviu de inspiração para o filme O Exorcista do Papa e foi objeto do documentário O Diabo e o Padre Amorth, também dirigido por Friedkin, adorou o filme de 1973, e disse que a realidade é muito próxima daquela apresentada na produção.
Não era para menos, já que o material de base usado por Friedkin, o livro de Blatty, também foi fruto de uma intensa pesquisa. Blatty se inspirou em um caso real ocorrido nos anos 1950, que por sua vez virou o livro O Exorcismo, escrito por Thomas B. Allen.
Apesar das muitas tentativas de sequência, o filme original segue imbatível.
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Hellraiser – Renascido do Inferno
Hellraiser, 1987 // Escrito e dirigido por Clive Barker, adaptado do próprio livro, Hellraiser se tornou um clássico de forma bastante rápida. Apresentando um universo inspirado em boates de BDSM e demônios que mergulham de forma profunda no prazer humano para encontrarem suas vítimas, Clive Barker conseguiu emplacar um sucesso que permanece relevante e impactante ainda hoje.
Hellraiser também passou por um problema com suas sequências. Apesar de Renascido das Trevas ser um ótimo filme, as sequências seguintes começaram a decair conforme foram sendo lançadas, chegando a um ponto de ser difícil de assistir.
A produção recebeu um remake em 2022, dirigido por David Bruckner e que leva o mesmo nome de seu antecessor dos anos 1980, Renascido do Inferno. Alguns fãs afirmaram que o filme deixa a desejar de um certo “charme” (e talvez até um pouco de cenas explícitas) que o original possui, mas não deixa de ser uma adaptação interessante.
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Rebecca, a Mulher Inesquecível
Rebecca, 1940 // Alfred Hitchcock adaptou muitas obras ao longo de seus anos como diretor. Psicose, claro, poderia estar nesta lista — apesar de algumas diferenças entre o livro e o filme, ainda assim é uma adaptação extremamente competente. Mas a Collider elegeu Rebecca, a Mulher Inesquecível, de 1940, o que também é uma escolha muito justa.
Daphne du Maurier havia publicado Rebecca em 1938, apenas dois anos antes do livro cair nas graças de Hitchcock. Du Maurier ainda não era uma escritora tão conhecida na época, tendo publicado apenas quatro outros romances, nenhum tão duradouro quanto este. Com um clima de paranoia e horror, Rebecca foi adaptado de forma excepcional por Hitchcock e se tornou um clássico rapidamente, que conseguiu espelhar as inseguranças da protagonista ao longo do livro em seu filme.
Uma nova adaptação produzida pela Netflix, com direção de Ben Wheatley e protagonizado por Lily James e Armie Hammer, foi lançada em 2020. O filme não foi muito bem-recebido pelo público, e as polêmicas envolvendo Hammer não ajudaram a melhorar a reputação da produção. Rebecca também teve algumas outras adaptações, mas a de Hitchcock segue sendo a mais conhecida e bem-sucedida.
Deixa Ela Entrar
Låt den rätte komma in, 2008 // Quando lançado em 2008, o filme dirigido por Tomas Alfredson e adaptado da obra de John Ajvide Lindqvist, que também assina o roteiro do longa, Deixa Ela Entrar surgiu como um furacão entre os fãs de cinema. Na época, com a falta do twitter e do facebook, a notícia do lançamento foi espalhada pelo boca a boca e muitos ficaram interessados em assistir a produção, que, de certa forma, subvertia algumas noções que tínhamos sobre filmes de vampiros, ainda mais em um momento que os grandes exemplos dessa categoria começavam a ser os filmes de Crepúsculo e séries como Diários de um Vampiro.
Não demorou para que o filme recebesse um remake norte-americano, intitulado Deixe-me Entrar e dirigido por Matt Reeves, já em 2010. Em 2022, uma série também foi produzida baseada no romance de Lindqvist. Não podem ser consideradas adaptações ruins, porém, os fãs seguem preferindo o filme original.
O Enigma de Outro Mundo
The Thing, 1982 // O Enigma de Outro Mundo, de John Carpenter, é talvez o exemplo mais engraçado e curioso da lista. Primeiro porque poucos se lembram que o filme é um remake, e também porque poucos sabem que os filmes foram adaptados de uma história de ficção científica de 1930.
Who Goes There? é uma novela de ficção científica escrita por John W. Campbell, um dos grandes nomes da ficção científica norte-americana. A primeira adaptação da história foi em O Monstro do Ártico, de 1951, dirigido por Christian Nyby e Howard Hawks. Carpenter, fã do filme original, dirigiu seu remake nos anos 1980. Alguns acreditam também que o filme Expresso do Horror, de 1972, protagonizado por Christopher Lee e Peter Cushing, é, de certa forma, uma adaptação da história de Campbell, mas ele é bastante diferente dos filmes de 1951 e 1982.
Esse é um dos poucos casos onde o remake ultrapassa em muito a qualidade e o sucesso do original. Apesar de O Monstro do Ártico ser um excelente filmes do período, é notável o que Carpenter fez em sua versão, se tornando inclusive um dos filmes mais queridos do diretor.
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Audição
Ôdishon, 1999 // Ryû Murakami é conhecido entre os fãs da literatura em língua japonesa por escrever algumas coisas bem estranhas, e Audição não escapa muito disso. Uma história de arrepiar os cabelos não poderia ter sido adaptada para o cinema por outra pessoa senão Takashi Miike, também conhecido por suas histórias violentas e explícitas.
E Takashi Miike fez um excelente trabalho como diretor dessa obra, que é frequentemente listada como um dos maiores filmes de terror japonês. As duas obras merecem ser conferidas — e se você nunca teve contato com o autor ou o diretor, é bom estar preparado.
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O Ritual
The Ritual, 2017 // O Ritual fez certo estardalhaço quando foi lançado em 2017, principalmente por sua atmosfera e pela criatura que podemos ver no filme, mas não atingiu um amplo público brasileiro. Lá fora, no mercado internacional, o filme foi disponibilizado pela Netflix, mas não chegou a entrar no catálogo do Brasil.
E é um baita filme. Adaptado do livro The Ritual de Adam Nevill, autor que sempre aparece em listas de autores de terror atuais para se conhecer, a história acompanha um grupo de viajantes que se perdem na floresta e encontram coisas bem estranhas por lá. Com um clima de folk horror moderno, com alguns resquícios do bom e velho paganismo na floresta, O Ritual é uma grande adaptação que merece mesmo mais reconhecimento.
Perfect Blue
Pâfekuto burû, 1997 // Clássico da animação japonesa dirigido por Satoshi Kon, poucos se recordam que Perfect Blue é uma obra literária, escrita por Yoshikazu Takeuchi. Em partes, porque Yoshikazu Takeuchi se tornou reconhecido no meio literário principalmente por livros-guias para fãs, como The History of Toho Special Effects Movies, publicado em 1983. Já Satoshi Kon foi um renomado diretor de animações japonesas, sendo responsável também por grandes sucessos como Paprika (2006) e Tokyo Godfathers (2003). Perfect Blue, assim como Audição, sempre aparece como recomendação para fãs de terror e thriller.
O Exorcismo da Minha Melhor Amiga
My Best Friend’s Exorcism, 2022 // Grady Hendrix tem se destacado com seus livros de terror cheios de humor e personagens cativantes. Um autor relativamente novo, a primeira adaptação de um livro seu foi O Exorcismo da Minha Melhor Amiga, apesar de ele já ter escrito roteiros de outros filmes, como Delivery Macabro. Distribuído diretamente na Prime Video mundialmente, O Exorcismo da Minha Melhor Amiga é um filme divertido que segura muito bem os elementos principais do livro de Hendrix, com as características que fizeram dele um dos livros mais citados nos últimos anos. Cheio de referências aos anos 1980, o filme manteve a atmosfera e conferiu um ar adolescente bem descontraído à história.
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