As várias faces de Hannibal Lecter

Apesar de nos lembrarmos principalmente de Anthony Hopkins quando pensamos em Hannibal Lecter, este personagem icônico já foi interpretado por alguns outros atores. Relembre com a Macabra.

Brilhante psiquiatra forense e um astuto serial killer canibal, o dr. Hannibal Lecter tem encantado os fãs de suspense e terror desde sua primeira aparição nas prateleiras das livrarias ainda nos anos 1980. Porém, foi a partir dos anos 1990 que o personagem se consagrou como um dos maiores vilões da cultura pop, título que pareceu se solidificar ao longo dos anos, conforme outras histórias foram sendo contadas.

Imagem de O Silêncio dos Inocentes, 1991

A Macabra relembra a história do personagem, em uma retrospectiva que vai desde os livros até a série de sucesso.

Os livros

Thomas Harris

Publicado em 1981, Dragão Vermelho foi o segundo livro de Thomas Harris, e o primeiro a apresentar o nosso famoso e querido psiquiatra e canibal Hannibal Lecter. No livro, o antigo agente do FBI Will Graham opta por sair da aposentadoria para se juntar à busca do serial killer conhecido como “Fada do Dente”. Ele terá que contar com o apoio de Lecter, a quem prendeu anos atrás por ter cometido uma série de assassinatos. 

Demoraria ainda alguns anos até que Harris lançasse uma sequência para a história. Os livros que compõem a quadrilogia de Hannibal Lecter, afinal, são um caso curioso de lançamentos espaçados. Enquanto Dragão Vermelho foi publicado no início da década de 1980, o segundo livro, O Silêncio dos Inocentes, foi lançado somente em 1988; Hannibal, o terceiro livro, apenas mais de dez anos depois, em 1999. Por fim, o quarto livro, Hannibal, A Origem do Mal, foi publicado em 2006, e funciona como prequel para a história. 

Anthony Hopkins e Thomas Harris

Entre esses lançamentos dos livros, porém, houve um fato que fez com que Hannibal Lecter ficasse muito conhecido para além das páginas e se tornasse um fenômeno, ampliando não somente a popularidade do personagem, mas o sucesso dos livros: as adaptações cinematográficas.

A adaptação de 1986

Pôster de Caçador de Assassinos, 1986

É muito comum nos lembrarmos de Hannibal Lecter sendo interpretado por Anthony Hopkins no começo dos anos 1990, em O Silêncio dos Inocentes e nos filmes subsequentes; ou mesmo de Mads Mikkelsen na série dos anos 2010. Mas, antes deles, tivemos outro Hannibal Lecter. Estilizado como Lecktor, Brian Cox, o astro de Tróia (2004) e Succession (2018–2023), interpretou o personagem em 1986, na adaptação Caçador de Assassinos

Pouco lembrada quando pensamos no personagem, Caçador de Assassinos foi escrito e dirigido por Michael Mann, conhecido principalmente pelo clássico policial Fogo Contra Fogo (1995) e o drama O Último dos Moicanos (1992). Inicialmente, Dino de Laurentiis, famoso produtor de Hollywood — em sua extensa carreira, De Laurentiis teve as mãos em projetos como a franquia Halloween, Evil Dead, e algumas  adaptações de Stephen King, incluindo Chamas da Vingança (1984) e Comboio do Terror (1986), além de ter produzido o famoso projeto da adaptação de Duna, de David Lynch (1984) — considerou Lynch como diretor do longa a ser adaptado do livro de Harris, mas o cineasta considerou a história “violenta e completamente degenerada”. 

Imagem de Caçador de Assassinos, 1986

O desenvolvimento de Caçador de Assassinos levou três anos. Nesse período, Michael Mann pesquisou e se correspondeu extensamente entre agentes do FBI e da Unidade de Ciências Comportamentais. William Petersen, que viveu Will Graham na adaptação de 1986, trabalhou no departamento de Crimes Graves da Polícia de Chicago e também teve contato com agentes do FBI, lendo arquivos e falando com os agentes envolvidos na investigação contra Richard Ramirez. Posteriormente, Petersen interpretou Gil Grissom, chefe do departamento de análise forense em Las Vegas em CSI. Caçador de Assassinos acabou sendo muito elogiado por seu empenho em compreender o trabalho do FBI na elaboração de perfis para a captura de assassinos.

Imagem de Caçador de Assassinos, 1986

O filme não foi o sucesso esperado pelo grupo De Laurentiis, e recebeu críticas mistas. O estilo de Mann, naquele momento, não foi dos mais apreciados para se contar uma história policial, e o protagonismo de Petersen também não foi muito elogiado. O filme não arrecadou o suficiente para ser considerado um sucesso de bilheteria, e logo, seguindo os parâmetros de um lançamento cinematográfico nos anos 1980, foi considerado um fracasso comercial.

A quadrilogia de filmes

Imagem de O Silêncio dos Inocentes, 1991

Lecter retornou para as telonas em 1991, com o lançamento de O Silêncio dos Inocentes. Dirigido por Jonathan Demme, o filme teve o roteiro adaptado do livro de Harris por Ted Tally. Produzido pela Orion Pictures, até aquele momento os direitos de Hannibal Lecter (o personagem) ainda pertenciam a Dino de Laurentiis que, com o fracasso comercial de Caçador de Assassinos, acabou entregando os direitos para a Orion de graça. O Silêncio dos Inocentes, entretanto, diferente de Caçador de Assassinos, foi um baita sucesso.

Protagonizado por Anthony Hopkins no papel de Hannibal e Jodie Foster como Clarice Starling, o filme conta a história da agente Starling, uma agente em treinamento no FBI, que é designada para o caso envolvendo o assassino Buffalo Bill e o desaparecimento de algumas mulheres. Starling contará com a ajuda de Lecter para desvendar a mente do assassino e tentar se adiantar aos passos dele, evitando que outra vítima seja morta.

Imagem de O Silêncio dos Inocentes, 1991

O filme conquistou os cinco grandes prêmios do Oscar: Melhor Direção, Melhor Diretor, Melhor Ator, Melhor Atriz e Melhor Roteiro Adaptado. Mas, para além disso, colocou um grande refletor em cima de Hannibal Lecter e dos livros de Thomas Harris — até aquele momento, somente Dragão Vermelho e O Silêncio dos Inocentes haviam sido lançados.

Imagem de Hannibal, 2001

O filme seguinte, Hannibal, foi lançado apenas em 2001, uma adaptação do livro de 1999 de Harris. A protagonista é novamente Clarice Starling, agora interpretada por Julianne Moore. Lecter (Hopkins) fugiu para a Itália, e vem trabalhando lá como curador de um museu. Ele está sendo procurado não somente pelo FBI, mas também por Mason Verger (Gary Oldman), uma antiga vítima de Lecter que sobreviveu. A carreira de Starling tem estado por um frio, mas Verger dá um jeitinho para que ela retorne ao caso de Lecter, para usá-la como isca e completar sua vingança contra o doutor canibal.

Depois do sucesso de O Silêncio dos Inocentes, Harris passou muito tempo escrevendo o novo livro, Hannibal. Havia interesse de todas as partes para que dessem continuidade na produção da história de Lecter. Dino de Laurentiis e sua esposa, Martha, compram novamente os direitos da história diretamente com Harris — o acordo com a Orion era somente para o filme de 1991 —, e começaram a planejar o novo filme. Demme foi chamado para dirigir, mas não gostou dos rumos que o livro tomou e declinou o convite; Foster, por outro lado, declinou para trabalhar como diretora em Flora Plum (que não chegou a ser finalizado). O papel de diretor foi oferecido a Ridley Scott, que aceitou após ler o manuscrito de Harris e ter afirmado que nunca tinha lido nada tão rápido desde O Poderoso Chefão, e Julianne Moore foi escolhida como Clarice Starling.

Imagem de Hannibal, 2001

Apesar das críticas serem mistas, o filme conquistou várias posições de melhor bilheteria, se tornando a terceira maior estreia até aquele momento, sendo o maior lançamento de fevereiro daquele ano e passou três semanas como o primeiro em bilheteria nos Estados Unidos. Era questão de tempo até que um novo capítulo da história de Lecter surgisse.

Dino e Martha de Laurentiis resolveram fazer outra adaptação de Dragão Vermelho, já para ser lançada em 2002 visto que, até aquele momento, não havia outros livros de Hannibal Lecter que pudessem ser adaptados. Anthony Hopkins retornou para o papel, mas um pouco relutante, achando que três filmes de Lecter poderiam ser demais para o público. Ted Tally, roteirista de O Silêncio dos Inocentes, também retornou para sua posição em Dragão Vermelho. Foi graças ao seu roteiro que Ralph Fiennes e Edward Norton se juntaram à produção — ambos haviam adorado O Silêncio dos Inocentes, mas não gostaram de Hannibal.

Imagem de Dragão Vermelho, 2002

Apesar de sua bilheteria não ter sido tão expressiva quanto dos dois filmes anteriores, as críticas foram melhores do que as de Hannibal, lançado no ano anterior. Dino e Martha de Laurentiis não queriam perder os direitos de Hannibal Lecter, e também não queriam perder tempo e esperar a poeira baixar demais. Então, logo pediram a Harris que ele trabalhasse em um roteiro e um livro novo.

Martha de Laurentiis conta que a ideia surgiu durante a turnê de lançamento de Dragão Vermelho, onde sugeriram um filme que contasse a história do jovem Hannibal e como ele se tornou quem se tornou. Dino ofereceu a posição de roteirista a Harris, mas deixou bem claro que se ele não estivesse disposto, procuraria outro autor para escrever o roteiro. 

Imagem de Hannibal, A Origem do Mal, 2002

Hannibal: A Origem do Mal foi lançado, enfim, em 2007, depois de cerca de cinco anos de preparação. O filme foi dirigido por Peter Webber, contou com o roteiro do próprio Harris e foi protagonizado por Gaspard Ulliel no papel do jovem Hannibal. O livro correspondente à obra foi publicado apenas dois meses antes do lançamento do filme. De toda a franquia, é a produção que segue com a menor nota nos agregadores de críticas e também foi o que fez a menor bilheteria também.

A série Hannibal

Imagem promocional da série Hannibal, 2013–2015

Mesmo depois de mais de vinte anos do lançamento de O Silêncio dos Inocentes, Hannibal Lecter permaneceu entre os grandes vilões do terror e foi lembrado constantemente como o homem com mais idade elegante e assustador interpretado por Anthony Hopkins. Mas, no começo da década de 2010, um outro Hannibal Lecter iria causar comoção, atraindo novos (e mais jovens) fãs para a franquia. 

Em 2011, a NBC começou a desenvolver uma série sobre o personagem. A antiga chefe de produção escalada para o programa trouxe Bryan Fuller, que anteriormente havia trabalhado na série Heroes, para escrever o piloto. Os executivos da série ficaram tão impactados com a força do roteiro de Fuller que ignoraram o período de teste do piloto e deram à série uma temporada inteira de 13 episódios.

Imagem da série Hannibal, 2013–2015

Focando em elementos de Dragão Vermelho, Hannibal e Hannibal: A Origem do Mal, a série Hannibal teve, ao longo de suas três temporadas e 39 episódios, direção de cineastas como David Slade, Guillermo Navarro, Vincenzo Natali e Neil Marshall. Tomando como cenário para os acontecimentos os anos anteriores da prisão de Lecter por Will Graham, Mads Mikkelsen foi escolhido para viver essa versão de Hannibal, enquanto Graham foi interpretado por Hugh Dancy. Dancy, ainda em meados dos anos 2000, havia feito uma audição para viver Hannibal na prequel de 2007, mas não foi escolhido para o papel. A série contou até mesmo com um consultor para o “preparo de carne humana” realizado por Hannibal, o chef José Andrés.

Infelizmente, a série acabou sofrendo com o cancelamento, assim como várias séries do período — os fãs de Penny Dreadful sabem bem como é o sentimento. Após três temporadas, a NBC cancelou Hannibal. Ao longo dos anos, várias tentativas foram feitas para que a série retornasse, e apesar do interesse do elenco e dos fãs, não tivemos notícias sobre um possível retorno nestes últimos dez anos.

Imagem da série Hannibal, 2013–2015

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.