Brandon Lee e O Corvo: a tragédia, o sucesso e o remake

O Eric Draven de Brandon Lee viverá eternamente em nossos corações. Relembramos a carreira do ator, seu trágico desfecho e a luta cinematográfica para recontar uma história de amor e morte.

Quando pensamos em Brandon Lee, inegavelmente nos vêm à memória sua brilhante performance como Eric Draven em O Corvo. Lee interpretou o roqueiro romântico, que retorna dos mortos para vingar a sua morte e a de sua noiva. O filme, lançado em 1994, ainda é muito querido para os fãs, e ajudou a moldar uma geração de jovens alternativos ao longo dos anos 1990 e 2000.

Entretanto, nos últimos quinze anos, os boatos de que um remake estaria em desenvolvimento sempre trouxe à tona questões sobre a realização dessa produção, se seria realmente necessário mexer nesse vespeiro, e se seria de bom tom lidar com essa obra que ficou imortalizada por um ator que se foi tão jovem enquanto ainda gravava suas últimas cenas no filme. Agora, com o remake finalmente sendo lançado, as discussões estão mais acaloradas do que nunca.

Brandon Lee faleceu aos 28 anos, em 1993 — quase trinta anos exatos desde a morte de seu pai, Bruce Lee, que faleceu em julho de 1973, aos 32 anos. Aos amigos, certa vez, disse que achava que morreria jovem como seu pai. Mas nada poderia preparar os fãs do jovem ator para o que aconteceu no set de filmagens de O Corvo

A Macabra relembra a curta, mas gigantesca, trajetória de Brandon Lee. 

O início da carreira

Brandon Lee nasceu em primeiro de fevereiro de 1965. Filho de Bruce Lee, ator mestre em artes marciais, Brandon seguiu o caminho do pai — tanto ao aprender a arte da luta quanto na atuação. Bruce Lee faleceu quando o filho tinha apenas 8 anos.

O primeiro filme de Brandon Lee foi o filme de ação de Hong Kong intitulado Sede de Vingança (1986). Foi, também, o filme que lhe abriu mais portas: após o lançamento, Lee ganhou na categoria de Melhor Novo Ator no Prêmio de Cinema de Hong Kong. Ainda em 1986, Lee esteve em Kung Fu: O Filme e do piloto Kung Fu: The Next Generation (1987), ambos derivados da série de TV Kung Fu, dos anos 1970.

Massacre no Bairro Japonês (1991), um dos grandes sucessos de Brandon Lee, protagonista do filme ao lado de Dolph Lundgren

Nos anos seguintes, Lee esteve em um dos episódios da série de TV Karate Kid Ohara (1987–1988) e nos filmes Missão Laser (1989), Massacre no Bairro Japonês (1991) e Rajada de Fogo (1992), todas produções de ação. Deve ter sido uma surpresa para os fãs de quadrinhos quando Lee foi anunciado como Eric Draven em O Corvo, em meados de 1993.

O sucesso em O Corvo

Apesar de uma carreira que começava a se mostrar bastante sólida, foi em O Corvo que Lee recebeu seu maior destaque. Dirigido por Alex Proyas, escrito por David J. Schow e John Shirley, e adaptado dos quadrinhos de mesmo nome de James O’Barr, O Corvo conta a história de Eric Draven, um homem que sofreu um brutal assassinato ao lado de sua noiva, Shelly Webster na chamada “Noite do Diabo”, a noite que antecede o Halloween. Um ano depois, Eric retorna dos mortos com o espírito do Corvo ao seu lado, para que tenha sua vingança contra os criminosos que o assassinaram.

Com uma trilha sonora marcante e um estilo de direção único, ambos condizentes com o que estava em alta entre os jovens alternativos, O Corvo logo se tornou um sucesso entre o público e entrou para sempre na lista dos filmes mais queridos da década de 1990. Nos anos seguintes, os estúdios tentaram emplacar algumas sequências, mas nenhuma dela fez tanto sucesso quando o original dirigido por Proyas.

Infelizmente, não foi apenas por sua qualidade que O Corvo se tornou um filme tão lembrado.

O trágico acidente fatal

Foi no dia 31 de março de 1993, enquanto filmava uma cena em que levava um tiro — pelo que consta, foi a cena em que Eric é morto junto de Shelly — que Brandon Lee veio a falecer. Na cena, o personagem de Michael Massee, Funboy, dispara contra Lee com uma arma.

Foi um acidente trágico. Essas armas geralmente são disparadas com cartuchos e balas falsas. Duas semanas antes da cena fatal, haveria a gravação de uma cena em que seria necessário dar um close no disparo de uma bala. Por conta das condições orçamentárias, a munição falsa não foi uma munição apropriada de cenografia, e sim balas esvaziadas de pólvora, ainda contando com a escorva, com um cartucho falso. A escorva é o aparelho que faz a detonação da arma acontecer. Disparando a arma, ela teria força e energia suficiente para alojar a bala no cano.

Na gravação da cena de Lee, a arma seria disparada de uma distância entre 3 e 5 metros do ator. Os cartuchos falsos foram substituídos por cartuchos vazios — esses, por sua vez, possuem pólvora, mas não possuem a bala em si, então não há, tecnicamente, o risco de que um projétil seja disparado. Porém, por uma fatalidade, a arma não foi limpa corretamente e aquele projétil ainda estava alojado no cano. O especialista em armas não estava no local da gravação, apenas um assistente de adereços, que não conhecia os passos corretos para se lidar com uma gravação com armas de fogo. A arma de fogo foi disparada com a mesma força que um projétil comum, atingindo-o no abdômen, e isso causou a morte de Lee. 

Problemas com armas nos sets

A trágica morte de Lee não foi o primeiro acidente em um set e muito menos o último. No terror, um dos casos mais notórios aconteceu no set de filmagens de No Limite da Realidade, de 1983, na filmagem do segmento de John Landis, onde o ator Vic Morrow e duas atrizes mirins, Myca Dinh Le, de 7 anos, e Renee Shin-Yi Chen, de 6, morreram em um acidente de helicóptero. Para piorar, as duas crianças foram contratadas em desacordo às leis da Califórnia.

Vic Morrow no filme No Limite da Realidade (1983)

Em relação a armas, mais recentemente tivemos outro acidente que deixou a todos bastante consternados. Durante a gravação do filme Rust, Alec Baldwin disparou uma arma que feriu fatalmente a diretora de fotografia Halyna Hutchins e feriu Joel Souza, diretor do longa. Desde o acidente de Lee não havia uma morte por armas de fogo em um set de filmagens.

Shannon Lee, irmã de Brandon Lee

Em sua conta no X (na época ainda Twitter), Shannon Lee, irmã de Brandon, deixou uma mensagem de apoio: “Nossos corações estão com a família de Halyna Hutchins e com Joel Souza e com todos os envolvidos no acidente de Rust. Ninguém nunca deveria morrer por uma arma em um set de gravação”. Shannon, que também trabalha na indústria cinematográfica, é fervorosa ao defender que os atores que lidam com armas também deveriam ter uma preparação para a prática, para que eles mesmos possam se certificar que estão com a arma correta.

Polêmica com o remake

A morte de Brandon Lee trouxe grande pesar para todos os envolvidos. O filme quase não foi lançado. O’Barr, escritor do quadrinho original, sentiu muito a perda de Lee e praticamente se sentiu responsável pelo acontecido. Ele próprio passou por uma perda triste — O Corvo foi escrito baseado na morte da noiva de O’Barr —, e lamentou profundamente que algo assim tivesse acontecido com alguém tão jovem em uma produção que adaptava sua obra. Michael Massee, o ator que disparou a arma, se negou a assistir ao filme após o lançamento e permaneceu assombrado pelo acontecido até sua morte, em 2016, aos 64 anos.

Brandon Lee e Alex Proyas no set de O Corvo

É por esse motivo, principalmente, que muitos fãs pensam no remake de Rupert Sanders como uma jogada arriscada — para não dizer um absurdo. Considerado o legado de Brandon Lee, o último filme que fez antes de morrer, muitos acreditam que não deveria haver uma nova tentativa de trazer o quadrinho de O’Barr à vida — mesmo que o filme tenha contado com continuações e até mesmo uma série de TV.

Proyas foi um dos mais ativos a defenderem O Corvo, seu primeiro filme, como um legado de Lee. Em suas redes sociais, Proyas disse que: “[O Corvo] não é apenas um filme. Brandon Lee morreu o fazendo, e foi finalizado como um testamento de seu brilho perdido e dessa trágica perda. É seu legado. É assim que deveria permanecer”. 

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.