“Chas Addams era um artista”: entrevista com H. Kevin Miserocchi

Conheça a Tee & Charles Addams Foundation em uma entrevista com H. Kevin Miserocchi, diretor da fundação e organizador do livro A Família Addams: Álbum de Família.

Antes de protagonizarem séries ou filmes, os Addams habitavam as páginas de revistas — principalmente na New Yorker e New York Times. Seu criador, Charles Addams (1912-1988), ficou reconhecido como um dos grandes humoristas do século XX, e sua produção artística foi uma das mais prolíficas nos anos de ativa — Os Addams foram uma pequena parcela em comparação com tantos outros cartuns que Chas Addams, como assinava suas artes, criou.

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Hoje, quem cuida do espólio de Chas e organizou o livro A Família Addams: Álbum de Família, lançamento da DarkSide Books em parceria com a Macabra, é H. Kevin Miserocchi, diretor da Tee & Charles Addams Foundation — fundação apoiada pela própria Tee Addams, terceira e última esposa de Chas, quem doou o material para o local.

A seguinte entrevista foi originalmente realizada pelo site Hamptons, em virtude da apresentação organizada pela Biblioteca East Hampton, e mediada por Miserocchi chamada Charles Addams: Family and Friends. Traduzimos e adaptamos a entrevista parcialmente para que os fãs macabros ansiosos pelo lançamento de A Família Addams possam conhecer um pouco mais da trajetória da Tee & Addams Foundation, além do próprio Chas Addams.

  • Como você conheceu Tee e Charlie?

Tee e eu estávamos arrecadando fundos em 1979 para o Fundo de Resgate Animal. Ela tinha bons amigos que compraram uns 20 hectares em Wainscott para construir o centro de adoção para todos os cães e gatos vadios que estavam vagando por aqui. Assim que nos conhecemos, através da ARF (Animal Rescue Fund, no original), ela conhecia todas as pessoas e eu sabia como fazer a arrecadação de fundos. Iríamos para Nova York, até seus bons amigos, com fundações e coisas assim, e coletaríamos o máximo de dinheiro possível. Então, foi assim que a conheci. Foi bizarro, porque eu conhecia o Charlie, mas não sabia que ele era o Charles Addams, com os dois ds. Eu o conhecia como Charlie, e eu nunca havia questionado que eles eram namorado e namorada vivendo juntos. 

Não até estar lá, arrecadando fundos em sua casa, eu percebi, com todos aqueles gatos e pelos de gatos e coisas — quero dizer, era como um ninho de coisas brilhantes em seu escritório, e fumaça de cigarro — eu percebi o que estava na parede eram cartuns. Então houve um clique. Ai meu deus, você quer dizer que Charlie é o Charles Addams com dois ds. O resto é história. Nos tornamos bons amigos, não melhores amigos, mas muito bons amigos. Ela o protegeu aqui no East End porque ele era 14 anos mais velho do que ela e ela mantinha sua vida social em uma quilha que era muito mais confortável e que não iria pressioná-lo. Ele precisava do seu tempo sozinho. Eu fiquei muito mais próximo de Tee depois que Charlie faleceu. Meu parceiro e eu fomos convidados para nos mudar para cá. Ela construiu uma casinha na propriedade, derrubou um pequeno lugar e construiu um lugar apropriado para nós morarmos. Éramos paisagistas, então planejamos o lugar. Era maravilhoso. Foi uma grande junção. Ela não iria cavar buracos na propriedade, e foi isso que fizemos. Foi assim que tudo começou. Então acabamos com uma fundação porque eles disseram, você sabe, há cerca de 1.500 desenhos no sótão aqui depois que Charlie morreu que foram transferidos de Nova York e nunca foram publicados. Então, finalmente formamos uma fundação em 1999.

  • Qual a missão da Tee & Charles Addams Foundation?

Você sabe, é interessante, nós temos A Família Addams se agigantando, sempre acima, o que, claro, paga as contas. Mas também nos permite fazer o que é nossa missão, que é educar o público por meio da exibição de sua obra. Portanto, nunca precisamos cobrar taxas de um museu. Isso é o que nos certificamos de não fazer. Porque não há dinheiro nas artes, então eles realmente não têm dinheiro para isso. Mas, ao mesmo tempo, normalmente se receberia algumas taxas bem caras para enviar a arte ao redor do mundo. E nós não fazemos isso. Essa é a nossa missão, educar o público através da exposição. O resto é que nós temos nosso próprio segurador pessoal chamado A Família Addams.

  • A Família Addams resistiu belamente ao teste do tempo. Qual foi a reação de Charlie ao sucesso que a franquia foi ganhando até se tornar tão icônica?

Chas Addams era um artista. Eu não deveria dizer que ele não ligava, mas ele não ligava. A TV não era uma mídia que ele se interessava particularmente. Eu acho que ele tinha a menor TV que eu já vi em seu apartamento em Nova York, e estava empurrada em um canto. Caso ele precisasse ficar em casa, ou estivesse doente, ou precisasse estar em contato com o resto do mundo. Ele era um nova iorquino, ele estava sempre fora e ativo e era um artista. Então, toda a coisa da Família Addams pegou ele de surpresa. Especialmente porque ele nunca havia nomeado eles. Até o fim. Quero dizer, ele tinha nomeado os personagens para o programa, nos anos 1960, porque ele nunca tinha dado nome aos personagens. Eles não diziam ‘Oh, olá, Morticia, como está você?’. Nada disso estava nos cartuns. Eles não tinham nome e eles nem eram uma família. Às vezes ele os colocava juntos como uma família, mas eles eram individuais.

Quando disseram a ele ‘bom, nós gostaríamos de chamá-los de A Família Addams’, ele estava bastante reticente. Ele era o tipo de cara que fica atrás das câmeras, não na frente delas, e ele tinha medo disso. E tudo bem. Ele não esteve na frente das câmeras muitas vezes, foi mais por causa da Família Addams, e ele tinha uma ótima vida social. Ele viajava com uma multidão bastante cara de pessoas. Portanto, ele foi fotografado. Ele namorou Jackie Kennedy, namorou Joan Fontaine. Então, você está sob o olhar público, querendo ou não. No que diz respeito à Família Addams, ele foi para a Califórnia uma ou duas vezes, e foi amigável com os atores ao ponto de gostar de John Astin, e gostar de Carolyn Jones. Ele fez pequenos cartuns para eles, coisas pessoais. Ele teve um interesse, mas não gastou muito tempo nisso. 

  • Você tem algum trabalho ou personagem favorito que o Charlie criou?

Todos os personagens de A Família Addams são únicos, e nós os conhecemos bem, mesmo que apenas 150 desenhos de toda a criação de Chas fosse dedicada a eles. Gostei muito de alguns temas que ele abordou comparativamente aos personagens. Ele investiu bastante tempo nisso porque, como eu disse antes, tínhamos a boa-Barbara, a má-Barbara e, em seguida, Tee, três esposas, e a má-Barbara estavam bem no meio. Ela era como um grande caroço de abacate. Quer dizer, bem no meio de dois casamentos legais, estava aquele show de terror. Ele fez muitos desenhos sobre relacionamentos, sobre o andamento do namoro, o interesse por alguém, o casamento e depois o que fazer com o corpo. Fizemos um livro há vários anos e era intitulado Happily Ever After, não exatamente um título original… Porque ele fez alguns desenhos que na verdade tinham um príncipe sentado ao lado de uma princesa na frente de um conselheiro matrimonial dizendo, ‘nós não estamos vivendo felizes para sempre’. É por isso que o chamamos assim. Mas esse é um dos temas mais maravilhosos que ele trabalhou, e ele fez bastante com isso.

  • A Fundação está estabelecida nos Hamptons. Fale um pouco sobre o período de Addams neste local.

Acontece que Charlie teve uma casa em Westhampton Beach por anos. Muito antes de ele e Tee viverem juntos ou se casarem. Foi nos anos 1940 que ele comprou o local — depois de seu primeiro casamento. Ele manteve a casa durante todo o tempo, até seu segundo casamento, quando nem percebeu que o havia perdido para um acordo de casamento muito ruim. Havia uma boa Bárbara e havia uma má Bárbara, a má Bárbara pegou tudo o que podia. Ela tinha sido advogada uma vez, então ela sabia o que estava fazendo.

Tee também já havia sido casada, e eles viviam no East Hampton. Tudo isso foi terminado, embora Tee e Charlie já se conhecessem na década de 1940. De toda a forma, eles não estavam juntos naquela época. Lá estavam eles, uma viúva e um divorciado, e então eles se estabeleceram em Water Mill, na casa de Tee. Ela havia comprado uma casa após a morte de seu marido. Eles estavam juntos em Water Mill por um bom tempo antes que isso acontecesse aqui em Sagaponack, onde temos a Fundação, de sua casa aqui. Foram os últimos anos de sua vida, porque ela a comprou em 1985. [Havia] Muita construção em Water Mill e ela amava a natureza, a vida selvagem e tudo mais. Ela comprou este lugar, o que é ótimo porque é um apoio ao Nature Conservancy, com uns 90 acres de Nature Conservancy. Este é um tipo de ponto ideal escondido na parte de trás do Sagaponack. Eles ficaram aqui apenas por três anos antes de Charlie morrer.

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A entrevista completa pode ser conferida no site Hamptons. Confira o site da Tee & Charles Addams Foundation

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.