Como Pânico se tornou um dos maiores filmes do terror

Com a chegada de um novo capítulo nos cinemas, relembramos como a franquia Pânico alterou os rumos das histórias de terror.

Há 25 anos, poucas pessoas poderiam imaginar que um longa estreando tão próximo do Natal iria alterar para sempre as regras do jogo dos filmes de terror. A frase “qual o seu filme de terror favorito?” não seria mais ouvida sem a lembrança do assassino de máscara branca, com olhos esbugalhados e um grito preso nos lábios. Ghostface, Sidney Prescott e, sem dúvida, Wes Craven e Kevin Williamson fizeram história.

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E essa história se desenvolveu, aumentou, trocou várias vezes de personagens secundários, mas sempre manteve o famoso trio e o icônico assassino. Quatro filmes e uma série de TV depois, chegamos a um novo capítulo de Pânico. Mesmo depois desses 25 anos, o filme segue fazendo fãs, e uma nova geração está pronta para tentar descobrir quem é o assassino antes de ser morta. 

Mas qual foi o segredo do sucesso de Pânico? Quais pontos tornaram a série de filmes tão icônica, gerando ansiedade e alegria ao descobrir que nossos personagens favoritos estão retornando para uma nova história? 

Regra número 1: vamos quebrar as regras

Pânico ficou reconhecido por ser um filme de terror que tira sarro de boa parte dos filmes de terror. E, claro, por subverter uma série de conceitos que tínhamos nos deparado nos slashers até então. A começar por Sidney Prescott, interpretada brilhantemente por Neve Campbell. 

Puxando pela memória da época, a maioria das final girls tinham os cabelos loiros, ou bem claros, e estavam envoltas naquele ar virginal pelas quais ficaram tão conhecidas. Quando Drew Barrymore entrou em cena na famosa sequência de abertura, muita gente achou que ela seria a protagonista. Além de seu nome em destaque, Drew tinha a cara da final girl. É nesse momento, talvez, que surge o primeiro grande choque para os fãs de slasher: a mocinha morreu.

Mas logo em seguida somos apresentados a Sidney, que está passando por momentos bem difíceis, pois sua mãe faleceu no ano anterior. Aqui, uma outra concepção geral sobre os slashers é quebrada: Sidney tem problemas reais com os quais se preocupar, ela não é só uma garota do colegial que curte com seus amigos.

Slashers são cheios de regras que acabam tornando o subgênero tão especial, mas Pânico, ao longo dos quatro filmes lançados até então, conseguiu quebrar boa parte delas. A base, com todos os elementos, está lá — as casas do subúrbio, os pedidos de ajuda por telefonemas, o stalker, a perseguição, o assassino mascarado, a final girl —, mas são, pouco a pouco, alteradas e transformadas. As próprias regras de Randy Meeks (Jamie Kennedy), um ávido fã de terror, são quebradas uma a uma — da festa em que todos estão bebendo, todos sobrevivem, exceto o assassino; e mesmo dizendo “eu já volto”, Dewey permanece de pé. Além disso, claro, Sidney sobrevive, mesmo não sendo mais a garota virgem.

Os personagens conhecem os filmes de terror. Eles assistem a esses filmes e eles sabem o que pode acontecer. É um nível diferente de consciência do próprio gênero, que funcionou muito bem. Conforme os filmes foram sendo feitos, novas regras também surgiram — as regras das trilogias, as regras dos remakes. Todas elas foram sendo quebradas uma a uma. Desde então, muitos filmes e livros adotaram essa postura.  

Regra número 2: o assassino mascarado

Ghostface é, sem dúvida, o assassino mais desastrado que já pisou no círculo dos filmes de terror. Incontáveis são as vezes em que ele cai, tropeça, escorrega, leva um chute, um soco, é atingido por móveis, por objetos de decoração, entre tantas coisas. Por que, além de tudo, Ghostface é humano, em todos os filmes, por todas as vezes, ele sempre foi humano. E esse é um detalhe importante do assassino. Independentemente de qual seja o motivo que estão se vingando de Sidney ou de sua mãe, o Ghostface é de carne e osso. 

E isso criou uma nova expectativa diante do personagem. No novo filme da franquia, depois que descobrimos que Gale Weathers, Sidney Prescott e Dewey Riley estão de volta, a preocupação dos fãs é: quem é o Ghostface? No melhor estilo das histórias “quem matou?”, já tão consagradas pelas narrativas de detetives, os fãs querem saber quem é o assassino — e, por experiências anteriores, os fãs sabem que pode ser qualquer um do círculo de conhecidos de Sidney.

A humanidade, a possibilidade e o fato de não sabermos quem é o Ghostface — e não sabermos de verdade, não o vemos sem máscara durante todo o filme, pode ser qualquer um dos personagens — fazem com que o assassino seja ainda mais mortal (mas um bocado divertido, também).

Regra número 3: Hello, Sidney

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Além de todos os elementos que fazem com que Sidney Prescott seja uma grande final girl e que figure entre as favoritas do público, ela é uma protagonista carismática. A final girl é uma personagem que está cansada da morte e só quer que ela acabe. A intenção dela é escapar daquilo de uma vez por todas. Mas, ao longo da franquia, Sidney nunca fugiu da luta.

No primeiro e segundo filmes de Pânico, Sidney está cansada dos acontecimentos, das perseguições, e tenta se distanciar da história de Woodsboro. No terceiro filme, ainda distante, ela busca ajudar outras mulheres vítimas através de um serviço por telefone. No quarto filme ela escreve um livro sobre suas experiências. E, pelo que pudemos ver pelo trailer do quinto filme, Sidney está em um novo momento de sua vida mas, ainda sim, pronta para sobreviver.

Regra número 4: O casal potência

Além de Sidney, não podemos nos esquecer deles, o casal Gale-Dewey, como dois dos grandes motivos para o sucesso da série.

Desde o primeiro filme, Gale Weathers (Courteney Cox) e Dewey Riley (David Arquette) conquistaram o coração dos fãs. Entre os altos e baixos da dupla como casal, eles foram de extrema importância para o desenvolvimento da franquia. Gale, com seu olhar aguçado para a investigação (ou, ainda, seu dom para se meter onde não foi chamada e encontrar furos de reportagem) e sua língua afiada, e Dewey, quase sempre no lugar certo e na hora certa, com seu senso de justiça e proteção, acabaram formando uma dupla dinâmica contra o Ghostface, e em auxílio de Sidney.

Gale e Dewey sobreviveram apesar das constantes tentativas de assassinato. Assim como Sidney, ambos perderam amigos e pessoas próximas. E, de certa forma, cada um dos dois experimentou um pouquinho do fardo da final girl: sobreviver, apesar de assistir a tantas mortes.

Regra número 5: sabendo que podiam, eles fizeram

Pânico serviu de exemplo para uma abordagem diferente dos filmes de terror — principalmente os slashers. Wes Craven já havia tentado, de certa forma, fazer um filme consciente de si mesmo em O Novo Pesadelo – O Retorno de Freddy Krueger, unindo os atores reais e o universo dos filmes de A Hora do Pesadelo no capítulo final da franquia. Mas talvez o que faltasse para dar certo em uma empreitada como essas fosse o roteiro habilidoso e divertido de Kevin Williamson

Williamson se mostrou esperto ao tratar de uma geração bastante específica — aquela que tinha assistido, já, a muitos filmes de terror, e seu roteiro dialoga bastante bem com os jovens. Em seus trabalhos seguintes, como Dawson’s Creek e Eu Sei O Que Vocês Fizeram no Verão Passado, Williamson seguiu mostrando a competência de atingir o público certo com as questões certas — inclusive atualizando a trama deste último em relação ao seu livro de origem.

Tecnicamente, as portas estavam abertas para algo novo, para um novo tipo de história sendo contada. Com Pânico, percebeu-se que os adolescentes, também, estavam ficando mais espertos, que a fórmula de não saber como agir em um filme de terror estando em um filme de terror estava um pouco ultrapassada. A metalinguagem abriu os olhos de uma série de autores, roteiristas, diretores e produtores. A sorte, então, estava lançada. 

Regra número 6: Um novo capítulo

Um filme que começou com uma bilheteria não muito alta na semana do Natal acabou transformando o gênero para sempre, e influenciando diversas novas produções ao longo dos anos seguintes. Pânico segue sendo um dos grandes marcos do terror. Estamos ansiosos para conferir quais as novas revelações, reviravoltas e regras quebradas. Abaixo, o trailer de Pânico 5, que estreia dia 14 de janeiro nos cinemas.

E você, quais suas expectativas para o novo filme da franquia? Comente com a Macabra no Twitter e no Instagram.

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.