Conheça o Vale da Estranheza e 3 filmes para compreender a teoria

A teoria que demonstra certo grau de repulsa entre humanos e máquinas pode fazer muito sentido em alguns filmes de terror. Conheça a hipótese do Vale da Estranheza e confira três filmes nos quais ela pode ser aplicada.

Você já se deparou com um vídeo de, digamos, um robô, muito semelhante a uma pessoa real, mas, quando percebeu, tinha algo de errado com ele? Um certo desconforto, apreensão e até mesmo repulsa tomou conta de você, mesmo que não soubesse explicar exatamente o por quê?

Bom, você pode ter experienciado em primeira mão a teoria do “Vale da Estranheza”, ou “Uncanny Valley”. Mas do que se trata essa hipótese? A Macabra te explica e ainda recomenda três filmes em que o assunto pode ser aplicado.

A teoria

Criada por Masahiro Mori nos anos 1970, a hipótese afirma, resumidamente, que quando um robô se torna parecido com um ser humano, a empatia e a compaixão do observador tendem a se tornar mais positivas. Entretanto, e aqui está o pulo do gato, atingindo um determinado nível de semelhança — que ainda não é idêntico, mas apenas aproximado —, o humano se sentirá desconfortável e sua repulsa irá aumentar conforme ele observa o objeto.

Robô Repliee Q2, que fez parte de um experimento onde era mostrado aos observadores o robô; a estrutura do robô, abaixo de sua cobertura; e a humana que serviu de inspiração ao robô. Foi a observação do robô que gerou os níveis mais altos de atividade cerebral nos participantes.

Passado esse momento, e quando a semelhança ultrapassa esse ponto e se aproxima ainda mais da humanidade, o humano voltará a sentir empatia, quase chegando ao nível de compaixão que tem por outro ser humano. 

A aplicação da teoria

Masahiro Mori é um especialista e pioneiro na área da robótica e da automação, e sua pesquisa se aprofundou na relação das emoções humanas com entidades não humanas. O conceito do professor pode ser aplicado em diversos campos, como a estética, robótica, design e computação gráfica.

Gráfico criado para demonstrar onde se encontra o Vale da Estranheza.

Mas, para além dessas áreas, podemos sentir esse mesmo desconforto com outras criaturas quase humanas, como bonecos e até mesmo zumbis. Como explica o jornal Massachusetts Daily Collegian, “Essa sensação perturbadora vem do fato de que todas essas coisas são quase humanas, mas erram o alvo por pouco”. Sentimos o algo que falta, aquela pequena parcela de humanidade que não está nesses objetos e criaturas.

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Para mergulhar no Vale da Estranheza

A ideia do Vale da Estranheza e de entidades quase humanas e sua repulsa no ser humano também pode ser aplicada e utilizada em filmes de terror. Conforme a tecnologia passa a ser uma preocupação em determinados casos, é um caminho natural utilizarmos essa hipótese para criar histórias aterrorizantes. 

A Macabra indica três filmes em que os fãs podem reconhecer a teoria do Vale da Estranheza.

Nós

Us, 2019 // Em Nós, Jordan Peele nos leva a uma jornada sombria pela vida de Adelaide Wilson (Lupita Nyong’o), uma mulher que guarda um passado bastante perturbador. De início, sua vida parece comum, apesar de a observamos um pouco distante durante as férias que tira com sua família. Quando cópias quase exatas dela e de sua família batem à sua porta no meio da noite, descobrimos que um estranho acontecimento em seu passado a botou em contato com doppelgangers, e eles a estão procurando. 

Os doppelgangers em Nós são cópias quase exatas dos seres humanos a quem eles copiam, mas não chegam a alcançar a perfeição. Eles podem ser colocados naquele ponto do gráfico do Vale da Estranheza em que os humanos observadores sentem certo desconforto ao lidar com eles. 

M3gan

M3gan, 2022 // Em M3gan, sucesso da Blumhouse dirigido por Gerard Johnstone, a engenheira Gemma (Allison Williams) se sente um pouco deslocada quando recebe a guarda de sua sobrinha de 8 anos, Cady (Violet McGraw), órfã após um estranho acidente de seus pais que os levou à morte. Gemma trabalha para uma empresa de brinquedos e, com um protótipo de uma boneca robô, ela pensa ser uma boa ideia unir ambas, para que sua sobrinha se sinta melhor. Mas essa decisão trará sérias consequências.

A ideia de criar um robô semelhante a um ser humano para que tome conta e brinque com crianças já pode parecer algo saído da mente de Asimov, e poderia ficar relegado somente a um filme de tech-horror, mas M3gan acaba caindo rapidamente no Vale da Estranheza. Algo que ilustra bem a aplicação dessa teoria é a fascinação/estranheza causada por sua dança em uma cena do filme, que dominou as redes sociais no período de divulgação. 

Invasores de Corpos

Invasion of the Body Snatchers, 1978 // Em Invasores de Corpos — tanto suas adaptações, como a dirigida por Philip Kaufman, quanto o livro de Jack Finney que originou todas elas —, acompanhamos um homem que percebe que as pessoas de sua cidadezinha estão sendo substituídas por seres que, apesar de muito parecidos com eles, não atingem o ponto de perfeição. Logo ele descobre que estranhas criaturas espaciais estão se apossando das pessoas do local, e a intenção é expandir a invasão para todo o mundo.

Invasores de Corpos, assim como Nós, não lida com a robótica, como ilustra originalmente a hipótese de Masahiro Mori, mas podemos pensar em seu conceito enquanto história como algo muito próximo da teoria do vale: há invasores se passando por humanos, mas enquanto sua aparência pode ser muito próxima a dos humanos em si, suas atitudes não o são. Elas são responsáveis pela estranheza e por causar essa sensação de que há algo errado ao observador.

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E você, já conhecia a teoria do Vale da Estranheza? Já havia pensado em como ela pode fazer sentido com alguns filmes de terror? Comente com a Macabra no Instagram e em suas redes sociais.

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.