Tá certo, Halloween deve ser o maior sucesso da carreira de John Carpenter. Mas esse fato se torna quase irrelevante quando a gente para e presta atenção no currículo do cineasta. Dentre todas as coisas incríveis que Carpenter fez — e isso inclui seu trabalho com a música —, não podemos deixar de apreciar a obra-prima que é Eles Vivem, de 1988.
Inspirado no conto “Eight O’Clock in the Morning”, de Ray Nelson, com o roteiro escrito pelo próprio Carpenter, Eles Vivem se tornou um dos maiores filmes de horror e ficção científica já feitos. Seu nome figura em quase todas as listas de melhores filmes desses gêneros, inclusive. E ele é tão icônico que é muito difícil um apreciador de cinema não ter topado nenhuma vez com alguma imagem dele por aí.
Na história, Nada (Roddy Piper), um trabalhador da construção civil, acaba encontrando um par de óculos para lá de especiais. Quando ele os coloca, é capaz de ver mensagens secretas escondidas por trás de anúncios e outdoors. O que Nada achava ser ruim, se torna ainda pior quando ele consegue ver através de pessoas comuns que, com os óculos, assumem a imagem de alienígenas.
Tenebroso, não é? Com uma direção e crítica afiadíssimas de Carpenter, o filme hoje é considerado cult de muito sucesso. A Macabra, que é fã do cineasta e do filme, reuniu algumas curiosidades sobre a produção.
Quem conta um conto aumenta um ponto
De acordo com a história contada por aí, Carpenter se deparou primeiro com a história que viria a se tornar Eles Vivem em formato de quadrinhos. Publicada em 1986 na Alien Encounters, da Eclipse Comics, e roteirizada pelo próprio Ray Nelson, a história foi batizada como “Nada” para o formato em HQ. Mas, de fato, tudo começou como um conto.
Publicada originalmente em 1963, em um volume da Fantasy & Science Fiction, “Eight O’Clock in the Morning” e a HQ “Nada” são bastante semelhantes entre si, contando a história desse personagem, um ninguém, que acaba descobrindo essa estranha conspiração para fazer os humanos obedecerem aos seus comandos. Mas ambas diferem um bocado do filme de Carpenter que deu todo um cenário e ambientação maiores, criação de novos personagens e novos pontos no roteiro.
Carpenter leu a história em quadrinhos e pensou imediatamente na metáfora do que estava acontecendo no período Reagan, do consumismo exacerbado e da produção massiva de produtos. E, para todos que conheciam o cineasta, suas aspirações e o momento em que o filme foi lançado, isso era bastante claro. Até que grupos neonazistas começaram a utilizar o filme para seus próprios ideais, fazendo Carpenter ter que vir a público no twitter explicar que não, esse filme sempre foi sobre a Era Reagan.
Luta Livre
Talvez você não saiba, mas Roddy Pìper é, na realidade, um lutador de luta livre muito famoso dos anos 1980. Carpenter queria escalar um homem realmente bruto para interpretar o personagem Nada. Então, quando assistiu WrestleMania III (1987), onde Piper lutou contra Adrian Adonis, Carpenter resolveu chamá-lo para participar do filme.
Mas as coisas não foram tão fáceis assim. Vince McMahon, empresário e atual CEO da WWE, não queria que Piper estivesse no filme, afirmando que encontraria outro filme que pagasse até mais para ele se ele recusasse. Mas Piper negou, permaneceu no filme, e credita até hoje Carpenter por seu sucesso. Para ele, ele ficou ainda mais famoso quando retornou aos ringues do que quando saiu para trabalhar na produção.
Eu estou sem chicletes
Uma das frases mais queridas do cinema de horror é falada por Nada em Eles Vivem: “Eu vim aqui para mascar chicletes e chutar bundas, e eu estou sem chicletes”. De certa forma, essa curta frase deu todo o background necessário ao personagem e fez com que a audiência simpatizasse cada vez mais com ele.
Mas essa frase foi quase espontânea. O próprio Roddy Piper a escreveu. De acordo com Carpenter, Piper reuniu várias frases ao longo de sua carreira como lutador para usar em momentos oportunos e anotou todas em um caderninho. Na época da produção, acabou mostrando as anotações ao diretor, que incorporou a frase ao personagem.
Nada e Frank
Keith David já é um velho conhecido dos fãs de terror — e, também, do próprio Carpenter. Depois da atuação de David em O Enigma de Outro Mundo, Carpenter achou que poderia escrever um personagem do tipo “ajudante” para ele, mas que não fosse o típico ajudante, e sim um cara que consegue se virar sozinho. Ele escreveu o papel de Frank já com Keith David em mente.
E foi uma ideia muito acertada. David e Piper se deram bem. Tão bem, aliás, que a cena de luta deles foi extremamente estudada por ambos, que lutaram de verdade. Uma cena que, tecnicamente, duraria alguns segundos, foi aumentada para minutos graças ao trabalho mais que bem feito dos dois atores, que só fingiram mesmo os socos no rosto.
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