Os anos 1980 marcaram uma geração de fãs de terror. Dos vários filmes lançados ao longo da década, Poltergeist, de 1982, está entre os mais marcantes. A história da família adorável que mora em um subúrbio e, de repente, tem seu sonho americano destruído por forças incontroláveis — sejam elas assassinos, fantasmas ou alienígenas — é um tema recorrente no período.
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Dirigido por Tobe Hooper, com produção de Steven Spielberg, a história se concentra na família Freeling. Steve (Craig T. Nelson), o pai, é um corretor de imóveis de sucesso. A família também é composta por Diane (JoBeth Williams) e seus três filhos, Dana (Dominique Dunne), Robbie (Oliver Robbins) e Carol Anne (Heather O’Rourke). O que era uma vida comum para os Freeling, passa a se tornar um pesadelo quando a filha mais nova, Carol Anne, começa a ter episódios de sonambulismo e a falar com a TV. Em determinado momento, Carol Anne desaparece. O que se desenrola é uma luta por sobrevivência e para reencontrar a normalidade da família.
Como toda boa produção dos anos 1980, o filme tem várias curiosidades em sua história. Reunimos algumas delas para você ficar ainda mais familiarizado com esse fenômeno paranormal.
Steven Spielberg: muito além de produtor
Poltergeist foi produzido por Frank Marshall, Kathleen Kennedy e Steven Spielberg. Mas Spielberg trabalhou ainda mais no filme do que apenas na produção. A começar pela história, que é sua. Em 1980, o “faz tudo” Spielberg escreveu um tratamento de 11 páginas intitulado Night Time. Sua intenção original era que Stephen King escrevesse o roteiro completo, mas boatos que a editora de King pediu muito dinheiro para esse trabalho. O roteiro acabou sendo escrito por Spielberg, Mark Victor e Michael Grais. Para escrever a vizinhança dos Freeling, Spielberg se inspirou na própria vizinhança de quando era pequeno, o subúrbio de Scottsdale, em Arizona. Ele afirmou que “A família Freeling, em Poltergeist, não é diferente das pessoas que conheci enquanto crescia em Scottsdale”.
Além disso, na cena em que Marty (Martin Casella) arranca seu próprio rosto, as mãos são de Steven Spielberg. Casella estava preocupado em cometer algum erro grave, já que eles só tinham um busto para fazer a cena, e pediu que Spielberg fizesse por ele.
As polêmicas da direção
Tecnicamente, Spielberg trabalhou como produtor e quebra-galho em Poltergeist e foi diretor interino em E.T. O Extraterrestre, mas não é o que contam por aí. Muitos já questionaram Tobe Hooper em entrevistas sobre a participação real de Spielberg na direção de Poltergeist. Hooper conta que essa história começou quando uma equipe do L.A. Times, que não sabia quem exatamente era o diretor do filme, chegou para fazer uma reportagem na locação. Neste momento, Hooper estava nos fundos da casa com uma equipe, e Spielberg fazia as cenas das corridas de carrinhos, e os repórteres suspeitaram que ele fosse o diretor.
A atriz Zelda Rubinstein, que interpreta Tangina, afirmou que nos seis dias em que gravou suas cenas, Spielberg é quem estava dirigindo. Porém, Oliver Robins, que interpreta Robbie Freeling, afirmou que Hooper é quem deu as direções para todos os atores. A Directors Guild of America começou uma investigação, mas Spielberg afirmou que Hooper merecia os créditos sozinho.
As ligações com E.T. O Extraterrestre
Poltergeist e E.T. foram lançados no mesmo ano, em 1982, com poucas semanas de diferença, e os dois possuem algumas ligações. E.T. nasceu da mente de Steven enquanto ele escrevia Night Time. Originalmente, Night Time falava sobre alienígenas bons, o que foi usado posteriormente em E.T. Quando Hooper foi chamado para dirigir, foi sua ideia transformar a invasão em fantasmas malignos. Além disso, ambas as histórias falam sobre uma família no subúrbio que são visitados por seres não terrenos.
Inicialmente Drew Barrymore, que interpreta Gertie em E.T., trabalharia em Poltergeist como Carol Anne Freeling, mas Spielberg acreditou que ela ficaria melhor na luta para salvar o amigo alienígena.
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A maldição de Poltergeist
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Uma das histórias mais conhecidas sobre Poltergeist é sobre os esqueletos utilizados na cena da piscina, com JoBeth Williams. De início, a atriz nem queria gravar a cena pois ficou com medo de alguns cabos de eletricidade que estavam por perto, mas Spielberg a acalmou, descendo com ela na piscina e afirmando que, caso uma das luzes caíssem, os dois morreriam fritos. Mas, claro, além da ameaça iminente de morte, tudo fica pior quando pensamos que aqueles esqueletos que contracenaram com JoBeth eram reais — ou, pelo menos, é o que muitos afirmam.
Graças aos esqueletos, muitos acreditam que o filme realmente ficou amaldiçoado. A “Maldição de Poltergeist” surgiu após vários dos atores envolvidos nos filmes, tanto no original quanto na sequência, terem falecido. De doenças súbitas à mortes inexplicáveis, acredita-se que algo realmente rondava a locação e foi levada para casa por alguns dos membros do filme. Além dos acontecimentos após os lançamentos dos filmes, muitos atores afirmaram que durante as gravações coisas sobrenaturais também aconteceram com eles. JoBeth Williams chegou em casa após um dia no set e encontrou todos os quadros de sua parede desalinhados, e mesmo que os consertasse eles voltavam a ficar tortos; Zelda Rubinstein teve uma visão de seu cachorro lhe dizendo adeus, e recebeu um telefonema de sua mãe avisando do falecimento do cãozinho.
Efeitos práticos curiosos
Uma das coisas que mais chama atenção nos filmes dos anos 1980 são os efeitos práticos. A imaginação era ativa e as gambiarras eram necessárias, já que muitas vezes as produções possuíam uma ou duas chances de gravar a tomada, devido ao baixo orçamento e às dificuldades de conseguir várias peças iguais de uma mesma cena. E com Poltergeist não foi diferente. Como mencionado, havia somente um busto para a cena do rosto arrancado de Marty. Mas vários outros efeitos chamam a atenção. A cena das cadeiras equilibradas em cima da mesa, por exemplo, foi feita com um corte só. Enquanto acontecia uma panorâmica das cadeiras no chão, os membros da equipe técnica correram para substituí-las por uma peça única, pré-empilhadas, antes da câmera completar a ação.
A casa que implode também era um risco, mas a cena foi realizada com engenhosidade. Um modelo de quase dois metros de largura, com cabos a ligando a um aspirador abaixo do chão parecia resolver o problema. Os cabos puxaram as paredes e o aspirador sugava os escombros, enquanto uma câmera gravava tudo com 300 quadros por segundo, o que corresponde a mais de 12 vezes a velocidade de uma gravação normal. Quando a gravação foi reproduzida nos 24 quadros por segundo, com as imagens da casa lentamente se desintegrando, o projecionista do estúdio até se engasgou com o efeito produzido.
Sequências e prêmios
Poltergeist acabou fazendo um enorme sucesso e está sempre nas listas dos melhores filmes de terror dos anos 1980, além de ter sido o filme de maior bilheteria da carreira de Tobe Hooper — que também dirigiu O Massacre da Serra Elétrica (1974), a primeira adaptação para TV de Vampiros de Salém, de Stephen King (1979), Pague para Entrar, Reze para Sair (1981), entre outros. Lembrado com carinho e sendo uma inspiração para muitos realizadores do gênero ainda hoje, Poltergeist é referenciado em diversos filmes e séries. Recebeu duas sequências, Poltergeist II: O Outro Lado (1986) e Poltergeist III: O Capítulo Final (1988); além de um remake em 2015, Poltergeist: O Fenômeno, e outro remake está sendo produzido por Joe e Anthony Russo (os irmãos Russo, entretanto, não forneceram maiores informações sobre a produção desde então). O filme também ganhou uma série de TV chamada Poltergeist: The Legacy, em 1996.
Poltergeist ganhou o prêmio BAFTA de Melhores Efeitos Visuais e foi indicado ao Oscar nas categorias Melhores Efeitos Visuais, Melhor Edição de Som e Melhor Trilha Sonora Original — composta por Jerry Goldsmith, também compositor da trilha de A Profecia. Ambos os filmes foram criticados por sua trilha sonora: enquanto a trilha de A Profecia foi chamada de “muito perturbadora e demoníaca”, a de Poltergeist foi chamada de “muito disneyficada”.
Uma novelização especial
Poltergeist também recebeu uma versão escrita para os fãs leitores. O livro foi escrito por James Kahn, que também trabalhou na novelização de outros grandes sucessos dos anos 1980, como Os Goonies, Indiana Jones e o Templo da Perdição e O Retorno de Jedi.
Mas a parte mais divertida é como Kahn entrou no barco de Poltergeist. O escritor conta que, durante as gravações de E.T., e enquanto ele trabalhava em um centro de emergências em Santa Mônica, ele foi chamado para a cena de reanimação do nosso amigo alienígena. Então, naquele dia, quando conheceu Spielberg, ele lhe deu uma cópia de seu livro, World Enough, and Time. Naquela mesma semana ele foi contatado para escrever a novelização de Poltergeist.
Naquele momento Poltergeist já estava quase terminado, então Kahn teve que se apressar bastante para que conseguissem lançar o livro junto do filme. O autor conta que Spielberg deu a ele liberdade para escrever, então ele acrescentou um bocado de suas pesquisas com percepções extrassensoriais. De acordo com Kahn, o livro passou por uma adição de uns 50% de informações em comparação ao roteiro.
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