Cuidado ao viajar para o Texas: curiosidades sobre O Massacre da Serra Elétrica

Clássico dos filmes de terror, a produção de O Massacre da Serra Elétrica guarda diversas curiosidades e discussões acaloradas.

Antes de Halloween, antes de Sexta-Feira 13 e antes de Pânico, havia O Massacre da Serra Elétrica. Essa é uma das taglines do filme dirigido por Tobe Hooper, lançado em 1974, e que alterou consideravelmente a forma como o cinema de terror é visto.

A origem dos filmes slasher é discutida amplamente entre os fãs de terror. Alguns acreditam que o primeiro slasher foi A Tortura do Medo. Outros, que foi Halloween. Outros ainda afirmam que foi com Psicose. Alguns preferem dizer que foi O Massacre da Serra Elétrica. E, de certa forma, todos estão certos. Todos esses filmes têm elementos que serviram para construir, moldar e formar um dos subgêneros mais queridos do terror. 

Se Psicose e A Tortura do Medo trabalharam com assassinos em série, que utilizam certo tipo de metodologia em seus assassinatos, e Halloween nos entregou um medo tão particular para o público dos anos 1980, que era a invasão aos subúrbios, O Massacre da Serra Elétrica trabalhou com dois conceitos que seriam utilizados exaustivamente nos anos posteriores: o grupo de jovens que resolve fazer uma viagem e, no final, resta apenas uma sobrevivente, a final girl.

No filme, dois irmãos partem em uma viagem para o interior do Texas com seus amigos para visitar o túmulo do avô, quando são perseguidos por uma família de psicopatas canibais. Marilyn Burns, que interpreta Sally, ainda hoje é considerada por muitos uma das melhores final girls do terror. 

Como muitos dos filmes de baixo orçamento feitos entre os anos de 1970 e 1980, O Massacre da Serra Elétrica guarda as melhores histórias dos bastidores. Reunimos algumas dessas curiosidades para deixar os fãs ainda mais fascinados por essa produção clássica.

Suas inspirações

Há uma história que conta que Hooper teve a ideia de criar O Massacre da Serra Elétrica enquanto fazia compras para o Natal em uma loja cheia. De acordo com essa história, não tinha como se movimentar na loja, o que fez com que a mente de Hooper viajasse quando ele viu uma serra elétrica. Mas essa é só a ponta do iceberg para um filme com muitas camadas.

De acordo com o próprio Tobe Hopper, através de entrevistas reunidas e inseridas no livro O Massacre da Serra Elétrica [Arquivos Sangrentos], de Stefan Jaworzyn, uma das maiores influências em seu filme foram os quadrinhos da EC Comics. Aquela atmosfera, grudada no cineasta desde que era muito novo, ajudou a moldar o clima perfeito para o filme que conhecemos tão bem hoje.

Muitos também afirmam que uma influência importante para O Massacre da Serra Elétrica seja o serial killer Ed Gein, que foi condenado por assassinar duas pessoas e suspeito no desaparecimento de outras cinco. Além de cometer assassinatos, Gein roubava túmulos e construía troféus com peles e os ossos de suas vítimas. Essa história é confirmada e negada na mesma medida pelas pessoas que participaram da produção do filme. Kim Henkel, um dos roteiristas, afirmou que eles realmente sabiam da história de Ed Gein, mas outra série de assassinatos que aconteceram no Texas, conhecida como The Candyman Murders (não é aquele Candyman) chamou mais a atenção da equipe e foi utilizada como inspiração.

Censura livre?

Acreditem ou não, outro dos debates que percorrem a criação deste clássico é a intenção de Hooper e sua equipe em fazer de O Massacre da Serra Elétrica um filme de censura livre. Se você algum dia percebeu que não temos lá muito sangue espalhado pelo longa, dizem que esse é o motivo principal. 

Mas, as opiniões aqui também são desencontradas. Enquanto alguns membros da equipe confirmam que este foi um motivo de embate entre Hooper e suas ideias, outros (como o próprio Hooper) dizem que não estavam muito preocupados com isso. No documentário Texas Chain Saw Massacre: The Shocking Truth, Hooper afirmou que fez ligações preocupadas ao MPAA (Motion Picture Association of America), pensando exatamente sobre como conseguir restrições a menores de 17 anos. Segundo ele, sua preocupação era “como conseguir censura livre e pendurar alguém em um gancho de açougue?”.

Afinal, com ou sem roteiro?

O filme até tinha um roteiro, mas não foi seguido à risca. De acordo com um dos membros da equipe, Robert A. Burns, diretor artístico, o roteiro foi encurtado drasticamente. Muitas piadas não condiziam com o humor que o filme queria passar, muitas cenas de jovens dirigindo já não se encaixavam na ideia final do Massacre. Allen Danziger, que interpreta Jerry, afirmou que a maioria de suas falas era improvisada. 

Ao mesmo tempo que Kim Henkel afirmou que mudanças estruturais não aconteceram, somente mudanças internas, Gunnar Hansen, o clássico Leatherface, afirmou que muitas mudanças foram feitas. Já Sallye Richardson, diretora assistente e co-montadora do filme, conta que nem se lembra do roteiro, que muitas das ideias foram somente orientações e que foi na montagem que o filme realmente se formou. 

As filmagens

Para muitos membros da equipe e do elenco, esse foi o primeiro longa-metragem de suas carreiras. Para alguns, foi uma experiência rápida e interessante; para outros, um pesadelo. Entre os que não consideraram uma gravação agradável está nosso Leatherface preferido, Gunnar Hansen, que teve que utilizar a mesma camiseta durante quatro semanas, sem poder lavá-la, porque só tinham uma camiseta para seu personagem e o longa não poderia ter erros de continuidade. Ed Neal, que interpreta o caroneiro que inicia a tragédia dos jovens no Texas, conta que, graças ao calor de 46º graus do Texas e a falta de lavagem de suas roupas, chegou um momento em que eles já estavam quase se tornando a família canibal de verdade. 

A gravação durou de 32 dias a oito semanas, e entre muitas discussões entre a equipe criativa, principalmente Tobe Hooper, Allen Danziger e Robert Burns, as coisas acabaram entrando nos eixos — para simplificar bem.

A pós-produção

Diferente de muitos filmes, não houve comemoração ao terminar as gravações de O Massacre da Serra Elétrica. Todos estavam cansados do calor do Texas, Marilyn Burns havia se machucado algumas vezes durante as gravações — na cena de seu salto pela janela, por exemplo. Ninguém estava muito confortável para comemorar. Além disso, o orçamento estava apertado, e as discussões continuaram no período de pós-produção.

Tecnicamente, o montador do filme era Larry Carroll, mas Sallye Richardson, co-montadora, faz questão de deixar claro que Carroll não fez nada, apesar de receber os créditos. O período de pós-produção foi a parte mais cara do filme, e Hooper continuou fazendo inserções no longa por meses até se dar por satisfeito. 

As sequências

Como todo bom filme slasher de sucesso lançado entre a década de 1970 e 1980, O Massacre da Serra Elétrica teve seu sucesso sugado até o osso. O filme rendeu cinco sequências: O Massacre da Serra Elétrica 2 (1986), O Massacre da Serra Elétrica 3 (1990), O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno (1994), O Massacre da Serra Elétrica 3D: A Lenda Continua (2013) e Massacre no Texas (2017), o remake O Massacre da Serra Elétrica (2003), além de uma série de jogos e aparições de Leatherface em outras mídias.

E como no primeiro filme, as coisas não aconteceram de forma fácil no restante da franquia. A começar que o segundo filme, de 1986, só existiu por um acordo que Hooper tinha com a produtora Cannon Films. No acordo, Hooper tinha que entregar três filmes para a produtora — acordos assim eram comuns para conseguir financiamentos. Os atores do primeiro filme não foram considerados para os próximos, com exceção de Gunnar Hansen, a quem foi oferecido um valor de tabela por seu trabalho, ao que ele não aceitou. 

Os filmes não foram tão bem aceitos quanto o primeiro — e, tendo em vista que o primeiro também não foi um exemplo de boas críticas em seu lançamento, isso diz muita coisa. Acontece que o filme original de Hooper já tinha uma legião de fãs quando as sequências foram lançadas, e eles não receberam essas obras muito bem, principalmente os filmes mais recentes. 

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As informações deste texto foram retiradas do livro O Massacre da Serra Elétrica [Arquivos Sangrentos], de Stefan Jaworzyn, com tradução de Antônio Tibau e Dalton Caldas. Comente com a Macabra no Twitter e Instagram

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.