Em um passeio mais atento por ruas que se tornaram espaçosas galerias de arte nas mãos de Isaac Cordal, você ainda poderá ser surpreendido por pequenos seres que parecem esquecidos e abandonados à própria sorte, a exemplo da sociedade que os rodeia. Na marquise de prédios, em canos de esgoto, sobre bueiros ou dentro de pequenos armários de arquivo: nenhum lugar é inusitado demais para o artista plástico minimalista expor seus trabalhos.
Nascido em 1974, em Pontevedra, situada em Galícia, na Espanha, Isaac Cordal estudou na Universidade de Belas Artes Pontevedra, graduando-se em escultura. Também estudou por cinco anos na Escola de Canteiros Pontevedra, uma escola dedicada à conservação do artesanato em pedra. Posteriormente, Isaac fez treinamentos na Camberwell College of Arts, em Londres. Cordal ainda é membro fundador da Alg-a.org, comunidade de arte digital da Galiza e foi um membro ativo da cena do death metal na Espanha, publicando o fanzine “Exorcism” e tocando guitarra na banda Dismal entre 1992-1998.
Mas o que a arte de Isaac Cordal nos traz de tão especial?
De uma maneira bem simples e direta, podemos dizer que a arte de Isaac nos faz perceber o que esquecemos ou preferimos não notar, ao mesmo tempo em que cataboliza nossa imaginação e aumenta nossa percepção interna sobre o mundo e como tratamos a nós mesmo como integrantes de um mesmo bioma.
CEMENT ECLIPSES
Cement Eclipses é um de seus projetos mais conhecidos, consistindo de pequenas esculturas de cimento fotografadas no espaço urbano. Suas figuras podem ser encontradas coladas em cima de ônibus, presas ou rente a paredes, em cornijas…
Pelo seu pequeno tamanho (aproximadamente 15 cm) é necessário prestar muita atenção para encontrá-los. Mas tais esculturas tem um enorme papel para o artista, servindo como uma metáfora muito própria para refletir sobre política, burocracia e estruturas poder.
Apresentando várias situações corriqueiras em sociedade, porém absurdas no espaço urbano que ocupam, seu trabalho pode ser visto tanto no espaço dedicado das galerias quanto no limbo caótico e frenético das ruas. Pequenas esculturas nômades já foram vistas em cidades como Bruxelas, Londres, Berlim, Zagreb, Nantes, San José, Barcelona, Viena, Malmo, Paris, Milão e Bogotá.
O trabalho de Cordal é uma reflexão crítica sobre o progresso e suas consequências, como o isolamento e a miséria humana. Mudanças climáticas e a desvalorização gradual de nossa existência também estão em seus pontos de interesse.
Em uma entrevista de 2012 com a Agenda Magazine, Cordal explica:
“Nosso olhar é tão fortemente focado em coisas grandes e bonitas, enquanto a cidade também contém zonas que têm o potencial de serem belas, ou que eram realmente belas no passado, às quais negligenciamos. Acho realmente interessante procurar esses lugares e intervenções de pequena escala para desenvolver uma maneira diferente de encarar nosso comportamento como uma massa social.”
VIVENCIANDO E ANTEVENDO AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Em vários projetos, Isaac Cordal demonstrou interesse em temas relacionados à mudança climática. São montagens e esculturas locadas em paisagens corrompidas pelo progresso que denotam o abandono, a ineficiência e demagogia das discussões políticas a cerca do tema. O trabalho de Cordal é delicado, mas afiado, ferindo pela realidade indigesta que seus pequenos seres projetam em nossos rostos.
“Refletir sobre o futuro é sobre o passado, porque o presente praticamente não existe”, diz em seu website.
NOSSA SURREAL EXPERIÊNCIA SOCIAL
Os pequenos homens e mulheres de Cordal podem assumir vários significados. Réplicas humanas em situações rapidamente reconhecíveis, e muitas vezes divertidas, embora elas sempre tragam fragmentos de nossa natureza precária e ineficiente como seres sociais. Espaços caóticos povoados por homens usando terno e gravata, nômades do barro, pequenas amostras da destruição e reconstrução permanente de nosso relacionamento com o espaço que habitamos.
SOBRE O CAOS E A SOLIDÃO
O caos também é um elemento constante em seu trabalho. Sempre atrelado ao drama social e a constante destruição e depredação ambiental, as peças de Cordal mostram o desespero que nos aguarda em um futuro que parece óbvio na visão do artista.
Sem dúvida, o trabalho de Isaac Cordal é uma amostra surpreendente e poderosa de como uma visão minuciosa e detalhista pode se tornar especialmente única. A arte de Isaac é mais uma prova de que, muitas vezes, o confronto direto com o que detestamos e tememos é o único caminho para atingirmos uma real mudança de comportamento. Nesse sentido, esperamos que sua arte viva e pulsante continue enchendo nossos olhos com a realidade macabra que muitos ainda tentam não enxergar.
*
Gostou de conhecer um pouco da arte de Isaac Cordal? Comente com a Macabra no Twitter e no Instagram. Não deixe de conhecer o Instagram do artista e o site de seu projeto, Cement Eclipses.