De um lado, um gorila gigante capaz de destruir o que estiver a sua frente. Do outro, um monstro, que se parece com um réptil, com poderes desconhecidos pela raça humana e uma força destrutiva tão grande quanto a de seu adversário. Uma luta épica que se aproxima: afinal, quem vence uma luta entre Godzilla e King Kong?
O lançamento do trailer de Godzilla vs Kong causou comoção na internet. Nada melhor que um filme de monstros gigantes para mexer com a gente, não é?
As duas criaturas têm uma longa jornada e vários filmes lançados. Então, para ajudar você a se situar sobre o currículo dessas duas forças destrutivas, fizemos um guia rápido explicando os vários caminhos, reboots e remakes dessas produções.
King Kong
Kong foi criado por Merian C. Cooper, e sua primeira aparição foi na novelização do filme da RKO de 1933, escrita por Delos W. Lovelace, a pedidos do próprio Cooper. O filme King Kong (dir. Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack) foi lançado dois meses após o livro e firmou Kong no imaginário. Seu nome foi dado pelos habitantes da Ilha da Caveira, onde Kong vivia junto de outros animais gigantes — em sua maioria jurássicos, como plesiossauros, pterossauros e outros dinossauros.
Kong é retirado da Ilha da Caveira por Carl Denham (Robert Armstrong) e sua equipe de filmagem, que o levam até Nova York para exibi-lo como a “oitava maravilha do mundo”. É daí que temos a cena icônica de Kong escalando o Empire State Building, após ter escapado de seu cárcere.
A ideia de criar Kong surgiu para Cooper graças a uma influência que teve quando criança. Em 1899, Cooper ganhou um livro chamado Explorations and Adventures in Equatorial Africa. Nele, seu autor, Paul Du Chaillu, escrevia sobre suas aventuras na África e seus encontros com nativos. Chaillu, em um desses encontros, foi apresentado a uma história, sobre um gorila enorme, “extraordinariamente grande e invencível”, pelo qual Cooper ficou fascinado. Anos mais tarde, já inserido na indústria cinematográfica, Cooper começou a reunir elementos para criar seu filme.
Inicialmente, Cooper queria que Kong fosse uma imagem que causasse pesadelos. Sua aparência de gorila deveria ser aterrorizante, ele queria algo capaz de meter medo nas pessoas, algo entre o meio-humano e meio-fera. Ao longo do processo, entretanto, Cooper achou melhor que só a imagem do gorila prevalecesse. Mas Willis O’Brien e Marcel Delgado, responsáveis pelas esculturas das animações que seriam usadas para o filme, pensaram em algo mais semelhante a um homem, para garantir a empatia da audiência. Depois de várias tentativas, e depois de Cooper permanecer afirmando que queria algo monstruoso, “como a coisa mais maldita que eles já tivessem visto”, o modelo final ficou pronto.
Desde então, Kong tem feito diversas participações na cultura pop, além de protagonizar seus próprios filmes. O primeiro filme, lançado em 1933, foi só a primeira demonstração de seu reinado. Ainda em 1933, em dezembro, foi lançado O Filho de King Kong, com história de Ruth Rose e direção de Ernest B. Schoedsack.
Somente em 1963 é que Kong retorna às telas de cinema, e dessa vez muito bem acompanhado, em uma primeira versão da luta que veremos em março. King Kong vs. Godzilla, dirigido por Ishirô Honda e Tom Montgomery, marca a entrada do Rei nos estúdios Toho. No filme, Kong é capturado novamente de sua ilha e levado ao Japão, onde escapa e acaba se encontrando com Godzilla. Em 1967 acontece a segunda investida de Kong nos estúdios Toho, com A Fuga de King-Kong, em que Kong é levado até uma mina para encontrar pedras preciosas, que o robô MechaKong não consegue alcançar. Quando os dois se encontram, outra batalha começa e põe em risco as estruturas do Japão.
Quando voltou ao Ocidente, Kong teve filmes distribuídos pela Paramount, De Laurentiis Entertainment Group, BKN International e Universal Studios, até seu último sucesso, distribuído pela Warner Bros., que também é responsável por seu novo filme, novamente ao lado de Godzilla para outra batalha épica.
O filme que será lançado este ano utiliza como origem o filme de 2017, Kong: A Ilha da Caveira. Nele, retornamos para a ilha onde tudo começou, em 1933, com um tom mais moderno e rumos diferentes da história. Kong não é capturado, mas tem sua paz invadida pelos homens que estão dispostos a descobrir tudo sobre ele. Ao final do filme, temos alguns indícios do que vem a seguir neste universo compartilhado de Kong e outros monstros.
Godzilla
Godzilla, ou Gojira, é um grande monstro, com algumas características reptilianas. Sua criação foi inspirada pelo filme O Monstro do Mar (1953, dir. Eugène Lourié) e pelo incidente de Daigo Fukuryū Maru — em que uma tripulação de um pesqueiro acabou vítima de exposição à radiação. A trajetória de Godzilla é de dar inveja, e em 2004, nosso grande amigo assustador ganhou uma estrela na calçada da fama em Hollywood, em homenagem aos seus 50 aninhos. Sua história é um pouco mais complexa e cheia de ramificações que a de Kong, então vamos focar nas repartições de suas “eras”.
Mas antes, vamos do início. Godzilla é um monstro um pouco mais novo que Kong. Sua franquia começa em 1954, com o filme Godzilla, dirigido por Ishiro Honda. Na trama, testes de armas nucleares norte-americanas resultaram na criação de um monstro gigante, que pode destruir Tóquio e os arredores — e, quem sabe, o mundo! O exército não consegue deter a criatura, e sobra para Emiko Yamane (Momoko Kôchi) e Hideto Ogata (Akira Takarada) deterem o monstro.
Apesar de sua forma lembrar um enorme lagartão, algumas pessoas acreditam que a palavra “gojira” é uma mistura, em japonês, das palavras “gorilla” (gorira) e baleia (kujira). Mas, de acordo com o FAQ de Godzilla, o nome surgiu do apelido de um funcionário da Toho, que era um cara durão, e se chamava Gojira.
Sendo um dos primeiros filmes desse tipo feitos no Japão, a produção não tinha tanta noção de como criar a roupa para a criatura, e os efeitos de stop motion estavam fora de cogitação, por serem muito caros. Haruo Nakajima, um dos atores que vestiu a roupa de Godzilla, sofreu em alguns momentos da produção, chegando a desmaiar. Mas assim que os problemas foram superados, puderam seguir com a produção.
E seguiram de verdade. Godzilla ganhou reputação e fama, uma filmografia que pode até assustar aqueles que querem maratonar os filmes. Sua franquia é dividida em eras a partir das produções japonesas.
A Era Showa, que vai de 1954 a 1975, leva esse nome pois todos seus filmes foram produzidos antes da morte do Imperador Showa, Hirohito, em 1989. Essa primeira era é composta por 15 filmes, que começa com o filme original, e se, de início, Godzilla era considerado um vilão, ao longo dessa primeira era ele se transforma em um anti-herói, lutando contra outros monstros, como Ghidorah e Mechagodzilla, a duplicata robótica de nosso monstro preferido. Ambos são considerados os dois principais antagonistas dessa primeira era.
Em seguida temos a Era Heisei, com os filmes produzidos entre 1984 e 1995, com 7 produções. A Era Heisei começa com Gojira (1984, dir. Koji Hashimoto), também conhecido como The Return of Godzilla, e serve como um reboot deste universo, sendo uma sequência do primeiro filme de 1954, e desconsiderando os eventos da Era Showa. Nesta Era, os filmes seguem uma timeline direta, com cada filme sendo uma continuação de seu anterior, e a preocupação sobre a origem de Godzilla é mais discutida e pensada. Aqui, há um dinossauro chamado Godzillasaurus que sofreu mutações a partir da radiação nuclear.
A Era Millenium surge em 1999 e vai até 2004, e se inicia com um novo reboot, a partir do filme Godzilla 2000 (1999, dir. Takao Okawara). A Era Millenium é como uma antologia da história de Godzilla, em que cada filme funciona separado, e utiliza o filme original, de 1954, como um ponto de partida. É composta por seis filmes. Depois de Godzila: Batalha Final (2004, dir. Ryûhei Kitamura), que comemora os 50 anos de lançamento do primeiro filme, a Toho decidiu colocar a franquia em hiato novamente.
Godzilla retorna em uma nova Era, iniciada em 2016 e que ainda não foi encerrada, chamada Era Reiwa. Até agora, a Era Reiwa conta com quatro filmes, e tem uma série programada para estrear em abril de 2021. A Era começou com o filme Shin Gojira (2016, dir. Hideaki Anno e Shinji Higuchi), e seguiu com outros três filmes animados em parceria com a Netflix: Godzilla: Planeta dos Monstros (2017), Godzilla: Cidade no Limiar da Batalha (2018) e Godzilla: O Devorador de Planetas (2018), todos dirigidos por Hiroyuki Seshita e Kobun Shizuno.
A saga de Godzilla até aqui foi só a respeito das obras produzidas pela Toho. No Ocidente, Godzilla teve uma jornada diferente do Japão. Não foi a primeira vez que o Ocidente voltou suas vistas ao grande monstro, entretanto. Produções conjuntas entre a Toho e produtoras norte-americanas já aconteciam antes. King Kong vs. Godzilla, de 1963, foi uma das primeiras dessas parcerias.
Mas, a primeira produção completamente norte-americana do monstrão aconteceu nos anos 1990. Antes disso, nos anos 1980, Steve Miner, um frequente colaborador de Sean S. Cunningham e diretor de filmes como Sexta-Feira 13 Parte 2 (1981) e Sexta-Feira 13 Parte 3 (1982), comprou os direitos para produzir o filme que se chamaria Godzilla: King of the Monsters in 3D, com storyboards de William Stout e roteiro de Fred Dekker, além de uma cabeça gigantesca e animatronica produzida por Rick Baker do Godzilla. Infelizmente o projeto não foi produzido, devido aos custos que teria.
Então, nos anos 1990, a produtora TriStar comprou os direitos da Toho para produzir seus filmes. Ou melhor, seu filme, filho único, intitulado Godzilla (1998, dir. Roland Emmerich). Inicialmente uma trilogia, os planos foram cancelados após o lançamento de 1998 ter recebido péssimas críticas. Então, aproveitando os direitos, a TriStar lançou uma série animada, Godzilla: A Série, que teve críticas muito melhores.
Até que, finalmente, chegamos aos eventos recentes na carreira de Godzilla. Atualmente, a linha cronológica válida para o “MonsterVerse”, que se junta aos filmes do Kong, são as produções que começaram a ser lançadas em 2014, pela Legendary em união com a Warner Bros. Godzilla (2014, dir. Gareth Edwards) foi o primeiro filme lançado do MonsterVerse, e fez considerável sucesso — o que levou a própria Toho a investir em um reboot e iniciar a já comentada Era Reiwa —, e é seguido por Godzilla II: Rei dos Monstros (2019, dir. Michael Dougherty).
A batalha em 2021
O próximo capítulo dessa história será lançado dia 31 de março. Godzilla vs. Kong (2021, dir. Adam Wingard). Estamos todos ansiosos para ver quais serão os desdobramentos dessa batalha épica entre dois dos monstros mais queridos do cinema. E você, é #TimeGodzilla ou #TimeKong? Comente com a Macabra no Twitter e Instagram.
Independentemente do lado dessa briga, esperamos uma luta justa e segura para os dois participantes.