Você já parou para pensar no que quer que façam com o seu corpo quando você morrer? Se não pensou ainda, deveria, porque a morte é a única certeza na vida, e deixar esse “detalhezinho” de como você vai descansar eternamente inteiramente na mão dos familiares é sacanagem.
Em 2010, a agente funerária e escritora Caitlin Doughty fundou o Order of the Good Death”, um grupo que reune profissionais de diversas esferas para repensar nosso acordo com a morte na sociedade ocidental. A Ordem da Boa Morte, no bom português, acredita que é necessário que haja uma revolução na forma como a humanidade lida com a morte, e a forma de começar é aproximando a morte das pessoas, fazendo com que elas conversem sobre isso. Doughty advoga a respeito do envolvimento das pessoas nos processos funerários para que as despedidas sejam feitas de maneira apropriada, e começar a pensar nisso enquanto está vivo é a única saída para mudar alguma coisa.
Não à toa, Caitlin Doughty escreveu dois livros sobre o assunto: Confissões de Crematório e Para Toda a Eternidade — o primeiro contando como foram os dias dela trabalhando no serviço de cremação, o segundo contando sobre suas viagens no mundo e os diversos rituais da morte e do morrer que estão espalhados por aí.
Hora de cuidar do corpinho
Mas o foco do post hoje na verdade nem são os livros e o trabalho da Caitlin Doughty, e sim um jogo muito, mas muito interessante chamado A Mortician’s Tale, lançado em outubro de 2017 pelo estúdio Laundry Bear. A Mortician’s Tale se concentra na ideia da positividade com a morte, e sua inovação no tema já rendeu alguns prêmios e indicações no mundo dos games.
No jogo, você é uma agente funerária (muito parecida com a Caitlin Doughty, diga-se de passagem, e o próprio estúdio afirma que ela serviu de inspiração), e precisa preparar os corpos à medida que eles vão chegando. Você lida com os corpos o processo inteiro: lava, costura, retira fluidos. No final das preparações, você precisa passar um tempo com o morto, um sinal de respeito à história de quem morreu e aos familiares.
E se você imagina que isso é um tanto macabro, pode ficar tranquilo: o jogo todo tem tons pastel, não tem nada de gore, e existe um passo a passo a ser seguido. Livre para todos. Inclusive é muito didático, com caixas de informações explicando tudo que é necessário para você fazer seu trabalho direitinho. Quem sabe você sai dali direto pra uma funerária? (#mecontrata)
O jogo é interessantíssimo. Informativo, honesto e até bastante cômico, como diz no site da Laundry Bear, e está disponível nas plataformas Steam por aproximadamente R$20,00, e na Humble Store. Quem tem celulares e computadores da Apple, também pode se divertir.
Aprender sobre os processos internos do corpo e se aproximar da preparação de um cadáver ajuda muito a compreender seus próprios sentimentos pela morte. Estamos em constante contato com a morte, tudo acaba sendo diretamente ligado a ela, então é importante saber o que rola com a gente quando fechamos os olhos pela última vez.