Dois estudantes, certo dia, acreditaram que conseguiriam cometer o crime mais perfeito do mundo. A vítima foi um garotinho de 14 anos, e a história deu origem ao filme Festim Diabólico, dirigido por Alfred Hitchcock, adaptado da peça de Patrick Hamilton.
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No filme, dois jovens, Brandon Shaw (John Dall) e Phillip Morgan (Farley Granger), estrangulam até a morte um colega de classe da Universidade de Harvard, David Kentley (Dick Hogan), na cobertura de seu apartamento em Manhattan. A intenção dos jovens era provar que poderiam cometer o crime perfeito, sem serem pegos, como um exercício intelectual. Após esconderem o corpo em um baú antigo de madeira, os dois resolvem dar um jantar para alguns conhecidos. Parte do plano era utilizar o antigo baú como uma espécie de buffet para os convidados, tornando assim a macabra brincadeira ainda mais tenebrosa.
O filme é considerado um dos projetos mais experimentais de Hitchcock. Evitando o máximo de cortes, todas as cenas correm durante dez minutos, que era a capacidade total da câmera. Atualmente, alguns críticos acreditam haver um subtexto homoafetivo entre os personagens de Brandon e Phillip.
A História Real
Nathan Freudenthal Leopold Jr. e Richard Albert Loeb, conhecidos costumeiramente por Leopold and Loeb, eram dois estudantes muito ricos da Universidade de Chicago. Ambos excepcionalmente inteligentes, Leopold e Loeb tinham personalidades bastante diferentes. De acordo com Dr. Lee Mellor, autor do livro Behind the Horror: True Stories that Inspired Horror Movies, enquanto Leopold gostava de focar em seus estudos, era recluso e odiava esportes, Loeb pensava pouquíssimo em seus estudos, preferindo beber, socializar e era um rapaz engajado em esforços atléticos.
Os dois cresceram juntos na região sul de Chicago, e se conheciam de vista, mas a amizade de ambos se fortaleceu na faculdade, principalmente depois que descobriram que os dois tinham um interesse profundo em crimes. Além disso, Leopold, particularmente, era fascinado pelo conceito de Nietzsche de super homem (Übermenschen), e o interpretava como sendo um triunfo arrogante — como Dr. Mellor afirma, como ele e Loeb não somente eram ateus como também possuíam intelectos elevados, eles eram os super homens que Nietzsche havia profetizado —, considerando a si mesmos como dois seres transcendentais, acima do bem e do mal.
A partir dessas discussões e chegando a estas conclusões, os dois passaram a tramar o “crime perfeito”.
Leopold estava com 19 anos, enquanto Loeb estava com 18, e o crime decidido era sequestrar e assassinar um garoto, sem serem descobertos, planejando cuidadosamente cada passo — de onde encontrar a vítima perfeita, até onde poderiam se livrar do cadáver. No período de seis a sete meses, todos os planejamentos estavam feitos, e eles poderiam agir finalmente no dia 21 de maio de 1924.
A ideia era sequestrar uma criança de uma família rica. Para conseguirem esconder quais seriam suas verdadeiras intenções, eles enviaram uma carta de sequestro, pedindo um resgate. Após a carta, eles assassinaram a criança para que ela não pudesse confirmar suas identidades.
A escolha da criança era aleatória. Eles rodaram por alguns locais frequentados por crianças ricas por algumas horas, até encontrarem Bobby Frank, primo de Loeb, que ofereceu uma carona ao garoto enquanto Leopold dirigia o carro. É difícil se ter certeza de como os fatos aconteceram em seguida, mas a maioria das opiniões acreditam que, no banco de trás, Loeb estava com um cinzel, o qual golpeou Bobby várias vezes na cabeça, o arrastou para o banco traseiro e então o sufocou, até que o garoto estivesse morto.
Leopold e Loeb esperavam se livrar do corpo de Franks em um local afastado, então dirigiram até Wolf Lake, em Hammond, alguns quilômetros ao sul de Chicago. Ao anoitecer, tiraram as roupas do garoto, o jogaram em um bueiro e, para dificultar sua identificação, jogaram ácido em seu rosto e em suas genitais — o garoto era circuncidado.
Assim que retornaram para Chicago, o aviso de que Bobby havia desaparecido circulava entre as famílias. Leopold ligou para a mãe de Bobby, utilizando o nome de “George Johnson”, avisando que entraria em contato para dar as instruções do pedido de resgate. O bilhete foi enviado, uma segunda chamada foi feita, e o resgate estava correndo de acordo com o planejado. Enquanto isso, os dois jovens continuaram levando suas vidas como se nada tivesse acontecido, jogando cartas, bebendo, e seguindo adiante.
As coisas começaram a dar errado para Leopold e Loeb quando encontraram o corpo de Bobby Franks e a família foi avisada imediatamente. A polícia iniciou uma rígida investigação e chamou os dois jovens para depor no dia 29 de maio. Ambos já esperavam pela investigação, e resolveram inventar um álibi: no dia do sequestro de Bobby, eles estavam com duas mulheres de Chicago, no carro de Leopold, e as teriam deixado próximas de um campo de golfe algum tempo depois, sem terem conseguido gravar seus nomes.
A história dos dois estava bem ensaiada, e tudo parecia ir de acordo com o plano, mas quando o chofer de Leopold foi chamado para depor, descobriu-se que ele ficou com o carro do garoto aquele dia inteiro. Então algo não fazia sentido na história dos dois assassinos.
Daí em diante foi fácil fazê-los confessar. Quer dizer, um confessou primeiro que o outro. Loeb confessou primeiro, contando como tudo foi planejado a partir de Leopold; mas a confissão de Leopold não demorou, e ele fez questão de dizer que era “só o motorista”, enquanto o assassinato havia sido cometido por Loeb. Durante a confissão, os dois começaram a contar também como estavam nessa busca sedenta pelo crime perfeito, a questão do fascínios com o conceito de super homem de Nietzsche e todos os pormenores da situação.
As Consequências do Crime
O julgamento de Leopold e Loeb foi considerado um dos “julgamentos do século” — até então, o terceiro, ao lado de Harry Thaw e Sacco e Vanzetti. Um advogado renomado foi contratado para defender Loeb, que percebeu que a alegação de insanidade não funcionaria, e um julgamento com júri facilmente faria com que Loeb fosse sentenciado à pena de morte. Então, a saída foi declará-lo culpado, e torcer para uma condenação mais leve. Os dois foram condenados à prisão perpétua pelo assassinato e mais 99 anos pelo sequestro de Bobby Franks.
Loeb foi morto na prisão por um companheiro de cela, com uma navalha. Leopold continuou estudando e trabalhando após a prisão, se tornando um prisioneiro modelo. Conseguiu a liberdade condicional em 1958, e foi contratado como médico técnico em um hospital em Porto Rico. Em seguida, Leopold se casou e conseguiu o diploma de médico na Universidade de Porto Rico, onde faleceu em 1971, por um ataque cardíaco.
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