Você já deve ter visto o meme por aí, sobre quando dormimos de fones de ouvido, ouvindo alguma música, e nosso demônio pessoal da paralisia de sono aparece. Apesar de muito compartilhado nas redes, não são todas as pessoas do mundo que tiveram ou que ainda terão episódios de paralisia do sono. Entretanto, o episódio pode, sim, acontecer com qualquer pessoa — você não precisa ser narcoléptico para sofrer um desses “ataques”.
Mas o que é essa condição e o que ela tem a ver com o terror? Vem com a Macabra que a gente te leva em um tour sobre o assunto.
Um ataque vulnerável
Pense que você está no lugar em que deveria se sentir mais seguro e confortável, sua própria cama. Você sente seu corpo relaxar e entra no estado de dormência que deveria propiciar descanso depois de um longo dia. Você dorme. Mas, então, você acorda assustado. Você pode apenas não conseguir se mexer. Ou, em outros casos, consegue perceber algo no quarto com você. Você pode sentir, ouvir e ver coisas que não sabe se são reais ou não. Nesses casos, tudo parece um pesadelo terrível, com a diferença assustadora que, tecnicamente, você está acordado. Você pode sentir um peso sobre o peito, formigamento em alguma parte do corpo, ou pode simplesmente ter várias sensações aterradoras.
É mais ou menos assim que um ataque de paralisia do sono acontece. Essa condição simplesmente aparece em algumas pessoas; outras, podem ter algum problema com insônia, privação de sono, narcolepsia; existem pessoas até que têm esse problema na família, e acabam herdando, de alguma forma, seu próprio inferno particular.
Em meio ao sono, abri meus olhos e vi vários vultos vindo em minha direção. Eu tentava gritar, mas ninguém me ouvia. Eu tentava me mexer e não conseguia. Isso durou alguns minutos. — Relato contato em reportagem a Uol
A explicação científica
Como aponta o site do dr. Dráuzio Varella, antes de tentarmos compreender melhor esse fenômeno, precisamos entender como funciona nosso ciclo do sono. O período do nosso sono pode ser dividido em quatro etapas, que começa com um sono mais leve, até chegar ao sono profundo. E essas etapas podem acontecer várias vezes durante a noite.
De acordo com o artigo no site, “A paralisia ocorre quando há um descompasso entre o mecanismo cerebral e o mecanismo de ativação dos músculos. Como se o interruptor fosse apertado, mas a luz não acendesse. Acontece somente no início do sono ou nos primeiros minutos ao acordar, quando a pessoa está em alerta, mas os músculos não respondem”.
Os sintomas e os demônios
Nem todos os ataques de paralisia do sono são iguais. Alguns dos sintomas mais comuns e mais leves incluem um certo tipo de sonambulismo, onde a vítima se mexe e balbucia enquanto dorme. Zumbidos, assobios, barulho de estática e afins são comuns nessa condição, assim como uivos, sussurros e outras vozes.
Meu cérebro estava consciente, mas meus músculos ainda estavam dormindo. — Relato contado em reportagem a BBC
Mas também há a parte realmente assustadora de um ataque desses: muitas vítimas da paralisia do sono afirmam sentirem uma pressão muito grande no peito, assim como dores de cabeça, acompanhado de intenso medo e pânico. Em ataques mais graves e violentos, acontece aquilo que descrevemos há alguns parágrafos: alucinações fortes e até figuras escuras em determinados pontos do quarto — ou em cima das vítimas. Esses sintomas são frequentemente conhecidos como “os demônios da paralisia do sono”.
A pintura O Pesadelo, de Henry Fuseli, é reconhecida por muitos como uma tentativa de mostrar como é um ataque de paralisia do sono, sendo descrita como a visita de um demônio durante o sono. A ligação se dá principalmente pela criatura, tipo um goblin, sentada sobre o peito da vítima, enquanto uma égua preta (no inglês mare, que aliada à palavra noite, night, se une em nightmare, pesadelo, que dá título ao quadro) observa o acontecimento.
LEIA+: O PESADELO DE HENRY FUSELI
No cinema
Apresentado em alguns festivais de filmes ao redor do mundo, tendo estreado em Sundance em 2015, O Pesadelo – Paralisia do Sono é um documentário dirigido por Rodney Ascher — que também dirigiu o famoso documentário O Labirinto de Kubrick (ou Room 237), de 2012. Recebendo várias reviews positivas na época do lançamento, o foco do documentário é justamente conversar com as pessoas que tiveram essa experiência inquietante, que ainda hoje é um mistério.
Mas não é apenas O Pesadelo que lida com o fenômeno da Paralisia do Sono. Ainda que de forma mais subjetiva e alegórica, outros filmes trouxeram essa condição. Em A Maldição da Residência Hill, quando Nell, jovem ou adulta, experiencia coisas em seu quarto, aproxima-se muito da verdadeira sensação que vítimas desse ataque já sofreram. Se quisermos ir um pouco mais longe, Freddy Krueger, vilão de A Hora do Pesadelo, poderia ser a personificação de um dos “demônios do sono” — talvez levando um pouco longe demais a empreitada.
Dentre os filmes que utilizam pesadelos como metáforas, podemos citar ainda Não Feche os Olhos (2020) e Mara: o Demônio do Sono (2018), duas produções em que suas protagonistas enfrentam situações paralisantes enquanto estão no reino de Morpheus, até que esses perigos se tornam reais demais.
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Apesar do interesse por esse fenômeno estar aumentando, ainda não há tantas pesquisas na área. Poucos pesquisadores do sono realmente têm investido tempo para determinar e solucionar alguns dos mistérios da Paralisia do sono, como afirma um artigo da BBC, publicado em abril de 2023. Resolver algumas questões da Paralisia do Sono pode ajudar a compreender ainda mais sobre o cérebro humano.
A maioria dos casos não necessita de um tratamento, mas caso o paciente enfrente o problema com recorrência e isso o prejudique em sua vida desperta, é necessário que ele consulte um médico.
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