O ilustre Castelo de Frankenstein

Nas montanhas de Odenwald, na Alemanha, um enorme castelo em ruínas atrai a curiosidade. Conheça a ligação entre o Castelo de Frankenstein e a obra clássica de Mary Shelley.

Não, o Frankenstein que conhecemos através dos escritos de Mary Shelley não foi uma pessoa real. Mas este nome guarda uma enorme ligação com o mundo que habitamos: uma ligação que fica a 370 metros de altura na montanha de Odenwald, onde tem uma vista inteira para a cidade de Darmstadt, na Alemanha. Essa ligação se chama Castelo de Frankenstein.

Em um cenário que poderia ter saído de um clássico gótico, o Castelo de Frankenstein, até onde pode se afirmar, esteve no itinerário de Mary Shelley e seu grupo, que vagaram pelas paragens alemãs no período em que a jovem estava com dezessete anos.

No livro Frankenstein: Anatomia de Monstro, de Kathryn Harkup, conhecemos um pouco mais sobre a construção e as ligações que Frankenstein guarda com os acontecimentos da vida de Shelley e da ciência da época. Através de um trabalho minucioso, Harkup se debruça sobre a criação de uma das obras mais importantes do terror e da ficção científica. 

Dentre esse elementos, está a viagem de Mary Shelley e o Castelo de Frankenstein. A Macabra reuniu algumas informações sobre esse castelo, sua história, e de onde surgiu sua possível ligação com Frankenstein, para atiçar ainda mais a curiosidade do leitor.

A história do castelo

Certo, mas por que o castelo se chamava Castelo de Frankenstein? E quem o construiu?

Até onde sabemos, essas duas perguntas são bem simples de se responder. Por volta do século XIII, Lorde Konrad II Reiz von Breuberg mandou construir o castelo em questão, e mudou seu nome para “on und zu Frankenstein” — que, em uma tradução literal, poderia significar “sobre e para Frankenstein”. Frankenstein, em alemão, pode ser traduzido como “pedra dos Franks”, e os Franks, por sua vez, são uma tradicional linhagem alemã.

A “casa dos Frankenstein” é uma casa nobre e franconiana — que vem da língua francônica, dialeto falado pelos francos germânicos do século V ao século IX — data de, pelo menos, a metade do século X. 

Avançando alguns anos, temos Konrad II que construiu este belíssimo monumento para sua família nas montanhas de Odenwald. Durante vários séculos, e se dividindo entre outras famílias aliadas, os herdeiros de Frankenstein habitaram o local, até que, entre os séculos XVII e XVIII, foi utilizado como abrigo para refugiados e hospital, e então acabou se tornando ruínas.

O Castelo de Frankenstein no filme Young Frankenstein, de 1974

Pela sua localização e pelas florestas densas e escuras que o rodeiam, o Castelo de Frankenstein logo se tornou o que podemos chamar de “assombrado”. Ainda que poucos sejam os registros de quem ousou desafiar seus fantasmas, o local começou a tecer histórias na mente da população próxima. Dentre essas lendas estavam a que um dragão habitava um dos lados dos jardins do castelo, enquanto o outro continha uma fonte da juventude, que era visitada por mulheres idosas na primeira noite de lua cheia depois da noite de Walpurgis — geralmente comemorada entre os dias 30 de abril e 01 de maio.

Depois, o romance de Mary Shelley só deixaria essas histórias ainda mais coloridas e intensas.

Johann Konrad Dippel, o alquimista

Johann Konrad Dippel, alquimista e vizinho assustador

Um dos habitantes mais ilustres do Castelo de Frankenstein — mais ainda que seu velho parente Konrad II — foi Johann Konrad Dippel que, contam os boatos, era alquimista, e poderia ser uma das figuras que inspirou Mary Shelley a criar o nosso Victor Frankenstein.

Dippel nasceu no próprio castelo em meados de 1673. Devido a seu trabalho, e provavelmente a seu caráter excêntrico, logo ele começou a chamar a atenção da região. Os boatos começaram a surgir, acreditando-se que Dippel teria vendido a alma ao Diabo em troca de conhecimento e outros ganhos. Também começaram a correr histórias de que ele poderia ter chego até a criação da Pedra Filosofal, bem como poderia ter feito diversos testes de transferências de almas. 

As únicas certezas que temos realmente sobre Dippel é a de que ele esteve envolvido em um tipo de óleo de origem animal, que foi batizado de “Dippel’s Oil” — bem pouco original, de fato —, que, em sua ideia inicial, serviria como um elixir da vida — capaz até de exorcizar demônios, de acordo com nosso querido descendente de Frankenstein.

Com o passar do tempo, entretanto, o óleo passou a ser usado como repelente e até mesmo como arma durante a Segunda Guerra Mundial, sendo utilizado para impregnar os poços de água. O Óleo de Dippel era feito a partir da destilação destrutiva dos ossos, e era descrito como um líquido viscoso, escuro e de cheiro insuportável.

Victor Frankenstein, na adaptação clássica da obra de Mary Shelley de 1931.

Outra coisa que sabemos do alquimista é que, a partir de alguns de seus livros — como o Maladies and Remedies of the Life of the Flesh (Moléstias e Remédios da Vida da Carne, em tradução livre), por exemplo — o homem acreditava que dava para transferir a alma de um cadáver a outro através de um funil. 

Então, a partir destes dois experimentos que, de certa forma, estão tão ligados à morte e outros assuntos dessa natureza, podemos crer que Dippel tinha algum ponto de semelhança com Victor Frankenstein? É difícil dizer, uma vez que, entre os séculos XVII e XIX, as ciências, em suas variadas formas, eram estudadas por uma gama bem ampla de curiosos. 

A viagem de Mary

Apesar de todos esses detalhes cheios de coincidências, não existem provas de que Shelley esteve no Castelo de Frankenstein em suas viagens. 

Foi em sua primeira viagem como casal como Percy, e junto de sua meia-irmã Claire, que Shelley teria estado mais próxima de pisar no Castelo. Na ocasião, o trio viajava pela Europa e estava extremamente feliz com essa possibilidade. Não podemos nos esquecer que Mary era filha de Mary Wollstonecraft, uma mulher viajada, e que a garota tinha conhecimento da vida da mãe. Então deve ter sido com alegria, mesmo que com recursos tão precários, que ela iniciou essa jornada.

Os diários de Mary contam que ela viajou até a França, e viu o país já bastante afetado pelas disputas políticas — estamos falando de 1814, pleno domínio de Napoleão, quando já haviam declarado guerra ao antigo imperador —, mas o destino do grupo era a Suíça. Chegando lá, entretanto, graças a falta de posses, o grupo não pôde concluir seus planos, que era ficar em um dos lagos conhecidos da região. Então, através da forma de transporte mais barata, a partir das águas pelo Reno, eles retornaram para a Inglaterra.

Durante essa viagem, Shelley escreve em seu diário que esteve hospedada em Gernsheim, que fica a poucos quilômetros de Darmstadt, morada do enorme castelo em ruínas de Frankenstein. Ela também esteve em Mainz e Mannheim, que são citadas no livro e ficam a poucas horas do local. 

Se Mary Shelley soube, de alguma forma, sobre o Castelo, não podemos afirmar. Talvez tenha ouvido sobre suas histórias na embarcação, talvez nas cidades onde passou algumas noites. Alguns estudiosos, apesar de não haver prova alguma, afirmam que a história possa ter sido contada para a mãe de Mary, Mary Wollstonecraft, a partir dos irmãos Jacob e Wilhelm Grimm. Nada disso é comprovado, então somente nos resta especular se Mary teria andado por aquelas ruínas ou não.

Essa história e diversas outras sobre a criação de uma das maiores obras do terror e da ficção científica podem ser lidas em Frankenstein: Anatomia de Monstro, de Kathryn Harkup. A autora se debruça com empenho sobre Frankenstein, um livro tão cheio de detalhes curiosos, buscando, através de fontes da época e estudos de diversos outros autores, elucidar um pouco a obra de Mary Shelley. A edição, uma parceria entre a Macabra e a DarkSide Books, conta com o especial carinho que já é marca registrada da editora.

O livro está em pré-venda no Site Oficial da DarkSide Books. Ficou curioso para conhecer mais histórias sobre a criação de Frankenstein? Comente com a Macabra no Twitter Instagram.

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.