O manual de sobrevivência de pessoas afogadas no século 18

O livro Medicina Macabra dedica um capítulo à recuperação de vítimas de afogamento.

Morrer por afogamento era uma preocupação séria no século 18. Esta fatalidade era uma das principais causas de morte naquela época. Por causa disso, a medicina se empenhou em encontrar técnicas cada vez mais certeiras de reanimação de pessoas afogadas. O livro Medicina Macabra, de Thomas Morris, dedica um capítulo inteiro às técnicas de reanimação mais bizarras daquele período.

Medicina Macabra, livro de Thomas Morris

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A preocupação era tão grande que sociedades humanitárias foram fundadas em diversos países europeus, cujo objetivo era desenvolver novas técnicas. Algumas delas delas foram a Sociedade de Salvamento de Pessoas Afogadas, fundada em Amsterdã em 1767, e a Sociedade para Reanimar Pessoas Aparentemente Afogadas, fundada em Londres no ano de 1774. 

Um dos médicos que se dedicou a estas técnicas de reanimação foi o suíço Samuel Auguste David Tissot. Elas estão presentes em seu trabalho Conselhos a respeito da saúde. Apesar de ter sido um importante médico da época, com contribuições sérias sobre a saúde humana, hoje percebemos que alguns de seus métodos de reanimação ficaram um tanto ultrapassados.

7 Formas de reanimar pessoas afogadas

Cabra nadando no lago

Em suas instruções de primeiros socorros de pessoas afogadas, o médico era bem razoável em relação à esperança de reanimação. Ele reconhecia que na maioria dos casos poucos minutos de submersão são fatais. No entanto, Tissot também defendia que não se deveria desistir da vítima tão cedo, já que algumas circunstâncias poderiam prolongar a vida da pessoa afogada.

Segundo o médico, estas técnicas ajudavam a reanimar vítimas de afogamento:

1. Esfregar o corpo do afogado

Antes da invenção da reanimação cardiorrespiratória (RCP), um dos melhores métodos para restaurar a circulação de pessoas afogadas era esfregar o corpo da vítima. O manual de Tissot especifica que o paciente deve ser despido e esfregado vigorosamente com toalhas grossas e secas. Depois disso, ele deve ser deitado sobre uma cama bem aquecida e continuar recebendo massagens por um tempo considerável. Uma técnica bem razoável.

2. Respiração boca a boca com tabaco

Segundo Tissot, uma das técnicas de reanimação envolvia uma pessoa saudável forçando seu próprio sopro para dentro dos pulmões do afogado. Até aí tudo bem, respiração boca a boca existe até hoje. Só que ele defendia um upgrade na técnica: o ar soprado para a vítima deveria conter fumaça de tabaco.

Isso significa exatamente o que você está pensando: um paramédico executando respiração boca a boca enquanto fuma. A adição do fumo tinha sua explicação: Tissot e muitos médicos do século 18 acreditavam que o afogamento não era causado somente pela inalação de água, mas pela espuma criada por ela ao entrar em contato com os gases dos pulmões. Nesta linha de raciocínio, a fumaça do tabaco serviria para dissolver esta espuma, fazendo com que o ar recuperasse sua pressão no aparelho respiratório.

3. Tirar sangue da vítima

A aplicação de sangrias era bem comum para o tratamento de diversas doenças e quadros clínicos. Não seria diferente com a reanimação de pessoas afogadas. De acordo com Tissot, caso houvesse um cirurgião por perto, ele deveria abrir a veia jugular da vítima e extrair cerca de 300 ml de sangue. O argumento do médico era de que isso renovaria a circulação e removeria a obstrução da cabeça e dos pulmões.

Sangria no Século XVIII

4. Fumigação alemã

Assim como as sangrias, a fumigação alemã servia para tratar vários quadros clínicos e situações de emergência. Para quem não está familiarizado com o termo, lembre-se da respiração boca a boca com tabaco. É quase a mesma coisa, só que a fumaça entra por outro buraco (sim, aquele!).

O médico defendia que as emanações de tabaco deveriam ser baforadas, de maneira rápida e abundante, intestino acima. A técnica era combinada com os sopros de tabaco pela boca. Ou seja, enquanto um paramédico soprava a fumaça para os pulmões, um cachimbo era posicionado no reto da vítima.

A fumigação alemã era considerada tão importante que tubos e foles para soprar fumaça de tabaco foram instaladas em lugares públicos, como acontece com desfibriladores hoje em dia.

5. Tomar chá

Qual é a primeira coisa que você faria depois de ser reanimado de um afogamento? Segundo Tissot, a melhor opção seria tomar um chá. O médico defendia que, depois de recuperados os sinais vitais, o paciente deveria tomar em no máximo uma hora uma infusão forte de cardo-mariano e flores de camomila adoçadas com mel. Se não houvesse chá por perto, ele recomendava oferecer ao paciente água quente com uma pitada de sal.

Chá para se recuperar de gripe

6. Mais sangrias e água de cevada

A reanimação de uma pessoa afogada não significava que a batalha estava concluída. Em seu trabalho, o médico aponta que em alguns casos as vítimas viriam a falecer mesmo após as primeiras indicações de melhora. Portanto, os cuidados não poderiam ser interrompidos, principalmente quando a pessoa sentir algum tipo de pressão, apresentar tosse ou estado febril.

Um dos cuidados indicados por ele era a aplicação de sangria nos braços e a administração de água de cevada. Mas atenção: aqui a água de cevada não é um eufemismo para cerveja!

7. Cobrir a vítima com esterco

Apesar de não cheirar bem, esta técnica tinha algum fundamento na teoria de Tissot. Isso porque o calor de uma pilha de esterco poderia ser benéfico para reativar a circulação sanguínea da vítima. O médico disse que recebeu o relato por um “sensato espectador”, que testemunhou o sucesso da técnica na reanimação de um homem que havia permanecido por seis horas (!) debaixo d’água.

Contos da carochinha na Medicina Macabra

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O que não funciona para reanimar afogados, segundo Tissot

Para o médico, todas estas técnicas tinham seu fundamento e eram eficazes para recuperar a vida de vítimas de afogamento. No entanto, algumas práticas eram fortemente condenadas por ele. A seguir, listamos o que não era considerado eficiente em termos de reanimação:

Embrulhar a vítima em pele de animal: normalmente ovelhas, bezerros ou cachorros eram esfolados imediatamente antes do procedimento. Para o médico, estas operações eram mais lentas e menos eficazes do que o calor de uma cama (ou de uma pilha de esterco).

Girar afogados dentro de um tonel vazio: sim, por um tempo acreditou-se que isso ajudaria a reanimar vítimas. Para ilustrar melhor, a técnica envolvia prender o paciente sobre ou dentro de um barril deitado de lado, que era então girado de um lado para o outro. A crença era de que esta oscilação faria com que a água saísse dos pulmões. Além de perigoso, Tissot julgava que o método gastava um tempo importante para a recuperação de pacientes.

Pendurar pacientes pelos pés: acho que esta dispensa comentários.

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Renunciei à vida mundana para me dedicar às artes da trevas. No meu cálice nunca falta vinho ungido e protejo minha casa com gatos que afastam os espíritos traiçoeiros. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.