George Bernard Shaw certa vez disse que espelhos são usados para ver o rosto, a arte é usada para ver a alma. Se avaliarmos dessa forma, Odilon Redon, um dos mais importantes do simbolismo — que transpôs em tela seus sonhos e pesadelos —, tem muito a revelar.
O simbolismo foi um movimento artístico e literário que surgiu na França, do século XIX. Frequentemente eram trabalhados temas relacionados ao onírico, ao sombrio, ao metafísico, sendo, por isso, considerado um movimento gêmeo ao romantismo, se distanciando das questões reais de alguma forma. O movimento surge em oposição ao realismo, ao positivismo e ao naturalismo, que eram emergentes no período. Nas artes plásticas, alguns de seus maiores representantes foram Gustav Klimt e Pablo Picasso. Mas o movimento também se estendeu para a literatura, com autores como Augusto dos Anjos e Baudelaire, e ao teatro.
Um dos grandes nomes do simbolismo, considerado um de seus grandes representantes, foi Odilon Redon, nome artístico de Bertrand Redon, nascido em abril de 1840, falecido em julho de 1916. Suas bases teóricas foram definidas pela estética romântica e pelos manifestos do poeta Stéphane Mallarmé.
Redon tinha uma técnica de arte plástica única, utilizando muito do pastel para compor suas obras, que fazia com que pudesse utilizar diversas texturas diferentes. Aprendeu as técnicas de gravura com Bresdin e foi largamente influenciado por Gustave Doré. Desde criança o artista trabalhava com as artes e frequentou ateliês para aprender o ofício, mas demorou para que fosse realmente descoberto e apreciado. Também foi desde criança que Redon encontrou o gosto pelo romantismo e pelos temas que o movimento trabalhava. Redon foi uma criança bastante introspectiva, gostava de se refugiar nas leituras dessas obras.
Sua onda de sucesso veio de fato a partir de 1880, mais especificamente em 1884, quando o escritor Joris-Karl Huysmans publicou seu romance À Rebours, que se tornou um manifesto aos artistas decadentes. Nele, o jovem protagonista é um aristocrata cheio de excentricidades, das quais uma delas é colecionar os desenhos de carvão de Redon. Com seu aparecimento nesta obra, Redon acabou se tornando o mestre da doença e do delírio, temas dos quais seu trabalho se debruçava.
Durante o romance, várias passagens citam os talentos do artista, afirmando que era possível se sentir um vago mal estar de frente para os desenhos, talvez da mesma forma como se estivesse diante de algum provérbio de Goya, ou como se terminassem um dos textos de Edgar Allan Poe, “da qual Odilon Redon parecia ter transposto, para uma arte diferente, as miragens de alucinações criadas pela vertigem do medo e do mistério, eu sentia uma tristeza fascinante, e uma desolação lânguida emanava de meus pensamentos”, conforme consta em um trecho extraído do site Portal Artes.
Meus desenhos […] nos colocam, assim como a música, no ambíguo domínio do indeterminado.
Foi também em 1884 que, com Paul Gauguin e Georges Seurat, Redon criou o Salon des Indépendants (Salão dos Independentes), que organizava uma série de exposições por Paris. Seu slogan era “sans jury ni récompense”, que pode ser traduzido como “sem julgamento não há prêmio”, em tradução livre. A partir de seu contato com Gauguin, Redon iniciou uma carreira como colorista. Apesar de sempre ter utilizado cores em seus trabalhos, elas nunca haviam desempenhado um papel tão constante e forte em suas obras.
Ao final de sua vida, Redon abandonou suas antigas temáticas, e começou a produzir obras mais coloridas e alegres, nus artísticos, retratos, flores e mitologia, até seu falecimento em 1916.
Conexões macabras
Fã de Edgar Allan Poe, Odilon Redon lhe prestou inúmeras homenagens em pinturas que capturam a essência dos contos de um dos escritores mais importantes de todos os tempos. Essa conexão não passou despercebida e agora, tantas décadas depois, Redon entra para a Fazenda Macabra em uma colaboração pra lá de especial.
A Antologia Macabra, um dos primeiros lançamentos do selo Macabra, criado em parceria com a DarkSide Books, homenageia os grandes mestres da literatura dark. Organizada por Hans-Åke Lilja — editor do Lilja’s Library, um dos principais sites do mundo dedicados às obras de Stephen King, no ar desde 1996 —, a coletânea reúne o medo e o horror de treze almas macabras selecionadas a dedo para exaltar o que há de mais sombrio na literatura. Edgar Allan Poe, Clive Barker, Jack Ketchum, Stephen King e outros.
Para emoldurar o trabalho de artistas tão especiais, a Macabra resgatou as pinturas de Odilon Redon. Seu mundo de visões e sonhos, povoado de criaturas estranhas e às vezes monstruosas, influenciou significativamente os surrealistas, e flerta dramaticamente bem com as histórias sinistras desta antologia.
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Leia mais sobre Odilon Redon no site do artista e no Portal Artes.