Traduzido e adaptado de Everyday Runaway
“Por favor, pegue essa areia e devolva para algum lugar de sua ilha. Eu tive muita má sorte em minha vida desde que isso chegou até mim, e estou muito arrependido de ter pegado. Por favor me perdoe e eu rezo para que, desde que ela seja devolvida, a minha má sorte vá embora”.
Essa carta de Timothy Murray está entre outras milhares de correspondências de desculpas recebidas pelo Hawaii Volcano National Park (e correios locais) anualmente. Pacotes trazendo de volta pedras e areia, acompanhados de cartas contando sobre a má sorte e a calamidade que causaram, enchem as caixas de correios havaianas até um limite que faria acreditar até os mais céticos entre nós.
Acreditando ou não em má sorte, abaixo estão algumas razões pelas quais talvez você queira pensar duas vezes antes de pegar um pouco de areia (ou pedras) e levar para casa como souvenir — ou mesmo presentear alguém.
A Maldição de Pele
Pele é a deusa do fogo e dos vulcões que, de acordo com a lenda, mora na cratera do vulcão Kilauea, na Ilha do Havaí (onde hoje fica o Hawaii Volcano National Park). Ali existem várias histórias comparando a ira de Pele com as erupções vulcânicas ou fluxos de lava calamitosos. Esses visíveis e ativos poderes resultaram no respeito (e até veneração) para Pele sobreviver até mesmo a outros deuses. Afinal de contas, foi seu fogo que desenvolveu a ilha através das atividades vulcânicas.
Mesmo hoje, os havaianos nativos e novos residentes da ilha deixam presentes como Gin, frutas e flores vermelhas para a Madame Pele, para demonstrar respeito e garantir boa sorte. (Como diria o ditado “Pele vai adotar você, ou cuspi-lo para fora… e você saberá se você deveria ficar aqui ou não assim que chegar”.)
Pele tem sido referida como matriarca da ilha e é através de seu poder de criação e proteção que a maldição de Pele nasceu, uma vez que Pele é protetora das terras de suas crianças.
De acordo com a lenda, Pele vê as rochas de lava como suas crianças, e quando uma rocha/seus filhos (ou qualquer outra coisa que pertence a ela) é levada embora, ela fica tão raivosa que requer uma terrível vingança do ladrão. Além disso, sua vingança (como a de qualquer mulher) não é uma vingança gentil ou educada.
Essa não é uma vingança do tipo “derramar seu café” ou “perder as chaves do seu carro”. A má sorte associada a maldição de Pele é mais notória: animais de estimação morrendo (uma das calamidades mais reportadas), relacionamentos terminando, entes queridos ficando doentes de repente, etc.
A repentina torrente de má sorte pode continuar por meses, ou mesmo anos, até que os itens roubados retornem para a ilha (e para Pele).
Cultura Havaiana
Veja bem, os havaianos acreditam que tudo que existe tem uma força vital, ou “mana”, e que certos espíritos ou forças podem habitar objetos inanimados. De fato, muitas palavras havaianas que dizem respeito a pedras são antropomórficas (atribuindo características a seres não humanos ou coisas). Isso se compara como, na cultura ocidental, nós vemos certos traços humanos em nossos animais. Nós sabemos que nossos animais não são humanos, mas, de alguma forma, nós nos importamos com eles (e as vezes até consideramos) como se eles fossem.
É dessa forma que os havaianos veem seu ambiente. Ele os alimenta, fornecem o que precisam, e é parte deles mesmos. Eles pertencem ao ambiente e vice e versa. Quase como se ele fosse parte da família — e nós precisamos nos importar com a nossa família, de várias formas.
Portanto, todas as rochas no Havaí são consideradas sagradas. Por essa razão, a construção de estruturas na ilha (Heiaus, templos havaianos, e semelhantes), foram realizados por especialistas naqueles campos e Kahunas (ou sacerdotes) que sabem o protocolo correto para remover e usar determinados tipos de rochas.
Então, retornando à maldição de Pele. Acreditando ou não, a fundação dessa história é verdadeira para o sentido dos havaianos que consideram de má sorte remover ou incomodar as rochas, a menos que certos protocolos sejam seguidos, ou cerimônias sejam feitas, ou alguém com alguma perícia (como um Kahuna) dê uma pedra para você.
Amaldiçoados ou agourentos?
Enquanto alguns juram pela maldição de Pele, outros acreditam que a lenda é uma invenção do século XX — inventada por guardas florestais que foram alimentados assistindo um aumento significativo de visitantes levando rochas (e outros pedaços da ilha) para casa com eles.
Outra versão sobre a origem da lenda é que foi inventada por motoristas de ônibus que não aguentavam mais limpar sujeira, areia e rochas deixadas para trás por turistas (e suas coleções de rochas e areias como lembranças).
Sendo a origem da lenda antiga ou moderna, tudo retorna para a questão de respeitar a terra e o velho ditado de deixar o local da forma que o encontrou — pedras, areia, e tudo mais.
Os havaianos enxergam sua terra de maneira sagrada e tirar algo de lá é arrancar do seu habitat o que foi feito para estar ali. Gostou de conhecer mais sobre este costume da ilha? Comente a matéria com a Macabra no Twitter e no Instagram.