Hoje Psicopata Americano pode até ser considerado um filme cult e contar com a adoração de milhares de fãs em todo o mundo. Mas as coisas nem sempre foram fáceis para o longa dirigido por Mary Harron e muito menos o livro escrito por Bret Easton Ellis.
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Lançado em 1991, o livro gerou polêmica e revolta antes mesmo de seu lançamento. Quase dez anos depois, a recepção da adaptação nas telonas não foi muito diferente. Mas afinal, por que a obra gerou tanta controvérsia a ponto do escritor receber ameaças de morte? Este post lista algumas das principais polêmicas e curiosidades que cercam a história e fazem de Psicopata Americano uma obra que rende debates até os dias atuais:
1. O livro foi lançado sob protestos
Desde suas primeiras críticas literárias terem saído na imprensa, Psicopata Americano gera polêmica. Até os colunistas defensores da liberdade de expressão se mostraram ultrajados com a obra de Bret Easton Ellis. Alguns chegaram a classificar o livro como um manual de tortura e desmembramento de mulheres.
Depois de meses de revolta e recriminação, 60 mil cópias do livro foram distribuídas pelas livrarias dos Estados Unidos. Até uma funcionária da editora protestou quanto à publicação, o que levou a empresa a cancelar o lançamento, desencadeando outros protestos, desta vez quanto à censura de um trabalho intelectual. A publicação foi redirecionada para outro selo e, após algum trabalho de marketing quanto à coragem de levar adiante tal obra, o livro foi distribuído para 20 mil livrarias dos EUA.
Ainda assim, muitos distribuidores se recusaram a participar do processo de vendas de Psicopata Americano. Mesmo nas livrarias, a obra ainda enfrentou alguns tipos de boicote por causa das passagens envolvendo violência contra mulheres.
2. Na Austrália houve até intervenção policial numa livraria
Uma livraria em Adelaide, na Austrália, recebeu uma visita inusitada da polícia por vender cópias de Psicopata Americano. Apesar do livro não ter sido banido no país, o problema é que os exemplares não estavam envoltos em uma embalagem plástica.
De acordo com a legislação de censura da Austrália, o thriller psicológico deveria ser vendido com esta embalagem por ser permitido somente ao público maior de 18 anos. O proprietário alegou que ele não sabia que este livro em particular precisava da embalagem e não se importou muito pelo fato de os livros terem sido retirados das prateleiras até que estivessem propriamente envoltos em plástico. Mas imaginem o susto de ver a polícia entrando na sua loja para retirar livros!
3. O filme levou anos até ser feito
Quase uma década se passou entre o lançamento do livro e do filme, mas isso não significa que ninguém tentou fazer esta adaptação antes. Desde 1992 existiam tentativas de levar a história para as telonas, com vários diretores cotados. O roteiro foi oferecido a Mary Harron em 1996, quando algumas versões de scripts já estavam rolando – inclusive uma do próprio Easton Ellis. Ela decidiu que para poder fazer o filme, precisaria escrever sua própria versão, o que ela fez com a ajuda de Guinevere Turner, que faz uma ponta no filme.
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Mesmo com o seu roteiro em mãos, ela ainda enfrentou desafios para encontrar um estúdio que bancasse a ideia. Foram inúmeras rejeições e sugestões que não eram bem-vindas para a proposta de Harron, que encontrou uma casa na Lionsgate.
Mesmo com estúdio definido, ainda se passaram mais uns dois anos entre a definição de casting, filmagens e o lançamento, que ocorreu em 2000.
4. Leonardo DiCaprio quase interpretou Patrick Bateman
Quando Mary Harron já estava envolvida com o projeto do filme e já cogitava Christian Bale para o papel de Patrick Bateman, a Lionsgate insistiu que Leonardo DiCaprio fosse a escolha para o protagonista. Isso ocorreu em 1998, após o ator ter alcançado o estrelato por sua atuação em Titanic, que se tornou um clássico e levou várias estatuetas do Oscar® para casa – nenhuma delas para DiCaprio.
Porém, além do ceticismo de Mary Harron para que ele fosse o serial killer de Psicopata Americano, a presença de Leo no projeto teria que enfrentar uma série de barreiras. Uma delas dizia respeito ao orçamento do filme, que era de US$ 6 milhões. O problema era que o cachê do DiCaprio era de US$ 20 milhões, uma conta que certamente não fecha.
Outro problema que tirou Leonardo DiCaprio da jogada foi a possibilidade de prejudicar sua imagem. Imaginem só: ele era o mais novo namoradinho da América com o seu rebelde Jack Dawson. Por mais que o ator quisesse fazer mais filmes alternativos e tentar driblar a imagem de galã, interpretar um homicida podia ser um passo bem arriscado em um momento crucial na carreira dele. Depois de muita influência de ativistas feministas, ele decidiu deixar o projeto.
Atores em alta naquela época, mas com um histórico mais independente, como Ewan McGregor (Trainspotting) e Edward Norton (Clube da Luta) também foram cogitados para o papel de Bateman. Mas a insistência de Mary Harron em Christian Bale valeu a pena e ele ficou com o papel.
5. Sua estreia em Sundance reacendeu a polêmica do livro
Assim como o livro, o filme de Psicopata Americano já causou revolta antes mesmo de estrear. Quando estreou no Festival de Sundance, as críticas ao longa foram contraditórias e algumas delas bem duras. O New York Post, por exemplo, chegou a citá-lo como a maior bomba do Festival. No entanto, as filas para assisti-lo davam a volta no quarteirão.
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6. Marcas não queriam seus produtos associados ao personagem
No livro de Bret Easton Ellis a natureza capitalista e materialista de Patrick Bateman fica bem mais evidente do que no filme. Cada descrição de personagem ou de contexto é acompanhada de uma enxurrada de nomes de grifes que os personagens estão vestindo. Praticamente nada passa despercebido da descrição detalhada do protagonista.
No entanto, o filme não despende muito tempo listando tais marcas. Mais do que uma economia de tempo, a produção teve vários problemas com estas grifes, já que muitas não queriam seus nomes associados a um filme potencialmente tão violento. A Cerutti, por exemplo, concordou que Christian Bale vestisse suas roupas, mas não quando o personagem estivesse matando alguém.
A Rolex concordou que qualquer personagem do filme pudesse usar seus relógios, menos Bateman – por isso a frase do livro “não toque no Rolex” precisou ser alterada para “não toque no relógio”.
A Perry Ellis providenciou cuecas na última hora, depois que a Calvin Klein pulou fora do projeto. A Comme des Garçons se recusou que uma de suas bolsas fosse utilizada para transportar um cadáver, então foi utilizada uma Jean Paul Gaultier no lugar.
7. O livro é mais pesado que o filme
Bret Easton Ellis já declarou que prefere a versão do livro do que a do filme. Por mais que o longa de Mary Harron se mantenha fiel à proposta do livro, chegando a reproduzir diálogos exatamente como estão no original, é claro que muito se perde quando um livro de mais de 400 páginas vira um filme de menos de 2h de duração.
O que nem todo mundo sabe é que a obra original contém muito mais violência do que o filme. Nas cenas de tortura, estupro, assassinato e mutilação muito foi deixado de fora na versão das telonas – construindo a expectativa da violência, mas cortando a maioria das sequências para uma outra situação do personagem, deixando meio subentendido o que aconteceu ali. Na maioria das vezes só se tem ideia das atrocidades cometidas por Bateman por meio de sua própria descrição.
No livro nada disso é deixado subentendido. Bret Easton Ellis não poupa detalhes das atrocidades que Bateman comete com suas vítimas, posicionando o protagonista com uma imagem bem mais monstruosa e menos charmosa do que aquela encenada por Christian Bale. Ler o livro ajuda a entender o motivo de tanta controvérsia em torno dele.
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