Ti West: horror, sangue e subversão

Diretor e roteirista responsável por X e Pearl, Ti West começou sua carreira no cinema de terror no início dos anos 2000. Saiba mais sobre o cineasta.

Produtor, roteirista, cinegrafista, editor e diretor, Ti West tem chamado a atenção dos fãs de filmes de terror nos últimos anos. Seu último sucesso lançado, X, se tornou um dos queridinhos de 2022 nas listas de grandes sites especializados. No filme, um grupo segue até uma fazenda no Texas para gravar um filme adulto, quando é surpreendido por uma série de mortes.

Mas a carreira de West começa na década de 2000, e o cineasta trilhou um longo caminho até cair de forma definitiva nas graças do público mainstream, com seu aguardado novo filme Pearl, uma prequel de X

O início de tudo

West nasceu em Wilmington, Delaware, e frequentou a Escola de Artes Visuais de Nova York. Seu primeiro curta, The Wicked (2001), contava a história de dois agentes especiais que, após encontrarem o corpo de uma garota morta, acabam descobrindo terrores que vivem nas profundezas do local. Seu segundo curta, Prey (2001), lançado no mesmo ano, também se passa na floresta, com dois amigos que tiraram fotos de algo que aterrorizava a região.

O lançamento de seus dois primeiros longas, Ataque dos Morcegos (2005) e Trigger Man (2007) foi morno, mas já mostrava o que se poderia esperar deste cineasta iniciante. Em Ataque dos Morcegos, um grupo de quatro amigos, a caminho de um casamento, são encurralados em uma fazenda e atacados por diversas criaturas sedentas por sangue. Já Trigger Man conta a história — baseada em um acontecimento real — em que três caçadores se tornaram a caça. 

Com temas bastante diferentes entre si e um orçamento curto, West iniciava ali uma carreira instigante, com o que viria ser uma constante em seus projetos: seus filmes, muito diferentes entre si, tornavam a experiência dos espectadores sempre uma caixinha de surpresa.

Os primeiros anos de sucesso

O ano de 2009 trouxe uma mudança para West. A Casa do Diabo, seu terceiro longa-metragem, foi produzido com um orçamento de cerca de 900 mil dólares — o que, em comparação com Trigger Man, que teve seu orçamento de cerca de 10 mil dólares, foi uma melhora significativa.

Cena de A Casa do Diabo (2009)

Trabalhando ao lado de grandes nomes como Jocelin Donahue, Tom Noonan, Mary Woronov, Dee Wallace e Greta Gerwig, A Casa do Diabo conseguiu atrair a atenção e o carinho dos fãs de terror. No filme, uma estudante universitária (Donahue) aceita um emprego para trabalhar de babá durante uma noite. Entretanto, logo a jovem percebe que seus clientes misteriosos guardam um segredo que pode levá-la à morte.

Além da qualidade técnica e de seu roteiro, A Casa do Diabo apresenta uma excelente caracterização e ambientação nos anos 1980, antes mesmo que a moda nostálgica e o amor pela década estivessem à toda. O filme já demonstra a atenção e cuidado de West aos detalhes de seus filmes que se passam no passado.

Ti West durante as gravações de A Casa do Diabo (2009)

Ainda em 2009, West dirigiu a sequência do filme de Eli Roth, Cabana do Inferno 2. No filme, o sobrevivente do vírus mortal tenta contar a todos o que está acontecendo na região, mas uma empresa de água mineral já está comercializando o líquido contaminado. O filme foi refeito diversas vezes na etapa de pós-produção, e West pediu para que seu nome fosse retirado dos créditos, substituído pelo famoso pseudônimo Alan Smithee. Entretanto, o cineasta não era membro da DGA (Directors Guild of America) e seu pedido foi negado. West odiou o resultado final, e alega que o que vemos em tela é trabalho de produtores e executivos do que ele próprio.

Em seguida, em 2011, foi a vez do lançamento de Hotel da Morte. Escrito e dirigido por West, o filme acompanha dois funcionários durante as últimas horas do hotel em que trabalham, que está prestes a fechar as portas. Com a reputação de assombrado, os dois decidem descobrir o que se esconde nas sombras do local, mas perceberão que é um erro somente quando for tarde demais. Menos charmoso que A Casa do Diabo em sua ambientação, o filme não fez tanto alarde em seu lançamento, mas tem sido redescoberto nos últimos anos.

Cena de Hotel da Morte (2011)

Os três trabalhos seguintes de Ti West foram com segmentos nas antologias V/H/S (2012), O ABC da Morte (2012) e The 3:07 AM Project (2013).  Em V/H/S, antologia produzida pelo grupo Radio Silence, que se tornou logo uma série de filmes devido a seu sucesso, West dirige o segmento “Second Honeymoon”. Em O ABC da Morte, projeto que reúne diversos nomes que se tornariam fortes no terror nesta última década, como Ben Wheatley, Adam Wingard e Nacho Vigalondo, West dirige o segmento “M Is for Miscarriage”. Em The 3:07 AM Project, projeto criado pela Vice com quatro diretores de terror para fazerem curtas sobre o horário considerado em muitas regiões como um horário amaldiçoado, West dirigiu o curta “Box”.

Os últimos dois filmes de West, antes de passar um tempo dirigindo episódios para séries, foram O Último Sacramento (2013) e No Vale da Violência (2016). Em O Último Sacramento, uma equipe de jornalistas acompanha um homem que está em busca de sua irmã, em um local chamado Paróquia do Éden, que, como eles descobrirão, de Éden tem pouca coisa. Já No Vale da Violência, único faroeste da carreira do cineasta, acompanhamos uma história de vingança, onde um homem misterioso transformará uma cidadezinha de desajustados em um local sangrento, com John Travolta e Ethan Hawke.

Ti West e John Travolta nas gravações de No Vale da Violência (2016)

Entre O Último Sacramento e No Vale da Violência, entretanto, West também fez uma ponta no filme de Adam Wingard, Você é o Próximo (2011), como Tariq, namorado da filha do casal que tem sua casa invadida no meio da noite. West fez alguns outros pequenos papéis como ator ao longo de sua carreira, inclusive em seu primeiro filme, O Ataque dos Morcegos.

Dos filmes para as séries

Depois de seus filmes de terror ao longo dos anos 2000 e início de 2010, West deu uma sumida do olhar afiado dos fãs. Durante seis anos, West esteve dirigindo episódios de séries para TV.

Sua longa lista de trabalhos inclui cerca de 15 episódios de séries, dentre elas Wayward Pines, Pânico, Outcast, O Exorcista e Contos do Loop. Em entrevista para a IndieWire, quando perguntado do porquê desse afastamento repentino dos filmes, West afirmou que, para ele, a criação de um filme leva muito tempo. A escrita, o levantamento de recursos, encontrar as pessoas interessadas.

Cena do episódio “Unclean”, da série O Exorcista, dirigido por Ti West

Para West, o trabalho de direção para séries de TV, apesar de diferente da direção um filme, também foi recompensador. “Estes foram trabalhos mais de consultoria do que fazer meus próprios filmes. Foi bem legal poder trabalhar em coisas que eu não escrevi. Eu tinha que me encontrar com showrunners e ver como todos eles estavam estressados. Eu ficava: ‘Oh, cara, eu sou você em minha outra vida. Como posso ajudar?’. Era divertido poder ajudar alguém a encontrar sua própria vibe. Porque eu fiz tudo sozinho por tanto tempo, que a produção não foi intimidadora para mim.”

Mas, depois de seis anos afastado dos longas — e dos filmes de terror, como um todo, já que seu último trabalho dirigindo um filme foi o faroeste No Vale da Violência (2016) — West retornou ao trabalho e nos brindou com X

X e Pearl

Cena de X (2022)

Quando os fãs receberam o trailer de X, houve empolgação. Havia uma clara lembrança a O Massacre da Serra Elétrica, e estava bastante óbvio que Ti West e a A24 haviam investido esforços para tornar o filme realidade. Em entrevistas, West revelou que há tempos havia conversado com os executivos da produtora para fazerem algo juntos, mas até então ainda não tinha decidido o que. Quando finalmente ele tinha uma história em mãos, enviou a ele não tendo certeza de que eles topariam. Mas acabaram topando, e o resultado foi um dos grandes sucessos do ano até agora.

Mesmo com a lembrança de O Massacre da Serra Elétrica, entretanto, West avisa aos fãs que sua intenção era subverter expectativas com X. Em entrevista ao Rue Morgue, ao ser perguntado sobre essa clara inspiração, o cineasta avisa que apesar dos personagens estarem em uma van e o filme se passar no Texas, sua intenção era fazer um filme que subvertesse a expectativa do que os espectadores poderiam esperar de uma história como essa. “Se você é um cinéfilo ou um fã de terror, você deve pensar que sabe para onde você está indo, e então você recebe algo diferente.”

Cena de X (2022)
Cena de X (2022)
Cena de X (2022)
Ti West durante as gravações de X (2022)

Para West, também, essa ligação entre filmes de horror e filmes adultos é bastante clara, principalmente no período em que se passa X, os anos 1970. Para o cineasta, ambos os filmes eram feitos de fora das engrenagens de Hollywood, pelos desajustados e outsiders. Então, de certa forma, havia uma espécie de conexão entre eles. Ao Rue Morgue, West contou também que, ao criar X, ele queria mostrar um filme sobre fazer filmes. “Eu tenho uma grande reverência pelo cinema e queria convidar as pessoas para conhecer o que é fazer um filme, e espero dar a eles alguma aproximação disso, assim como o que eu estava fazendo no filme de terror que estava fazendo.”

Ao mesmo tempo em que filmava X, West já estava desenvolvendo sua sequência-prequel, o filme Pearl, que conta a história de uma personagem importante da obra original. Interpretada também por Mia Goth, que faz a protagonista Maxine e também interpreta a própria Pearl em ambos os filmes, West queria desde o início que as personagens fossem interpretadas pela mesma atriz, mas estava receoso em quem poderia fazer isso, até encontrar Goth.

Cena de Pearl (2022)

Pearl tem estreia prevista para setembro nos cinemas dos Estados Unidos, apenas alguns meses do lançamento de X, que nos cinemas norte-americano entrou em cartaz em março. Aqui no Brasil, X estreou em julho, e ainda não há previsão de estreia para Pearl.

Abaixo, você confere os trailers dos dois lançamentos de Ti West.

Filmografia

  • The Wicked (curta) – 2001
  • Prey (curta) – 2001
  • Ataque dos Morcegos – 2005
  • Trigger Man – 2007
  • Christmas Decay (curta) – 2008
  • A Casa do Diabo – 2009
  • Cabana do Inferno 2 – 2009
  • Hotel da Morte – 2011
  • V/H/S (segmento “Second Honeymoon”) – 2012
  • O ABC da Morte (segmento “M Is for Miscarriage”) – 2012
  • The 3:07 AM Project (segmento “Box”) – 2013
  • O Último Sacramento – 2013
  • No Vale da Violência – 2016
  • X – 2022
  • Pearl – 2022

Qual seu filme favorito do cineasta? E quais suas expectativas para suas duas últimas produções? Comente com a Macabra no Twitter e Instagram.

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.