V/H/S: A cronologia de uma franquia matadora

Com seis filmes desde 2012, V/H/S já garantiu seu lugar entre os fãs de terror como uma das franquias mais sangrentas e estimadas. Confira uma retrospectiva de suas produções e a promessa de novidades para 2024.

Sem contar com grandes estúdios e apostando em um subgênero que nem sempre é o favorito do mainstream, a franquia V/H/S segue fazendo sucesso mesmo depois de dez anos de seu primeiro lançamento.

Se você acompanha as notícias do mundo do terror, deve ter reparado nos últimos anos que a cada piscar de olhos um novo filme dentro da franquia V/H/S entrava em desenvolvimento. Nos últimos três anos, três filmes foram lançados — e, quando a franquia surgiu, em 2012, também houveram três lançamentos em três anos consecutivos.

Mas qual o segredo dessa série de filmes, e como ela se mantém relevante, com um nível de qualidade razoável, quebrando recordes em seus lançamentos? A Macabra reuniu uma retrospectiva dessas produções desde seu início. 

O sucesso de V/H/S

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Com uma pegada diferente do que estava sendo feito com sucesso naquele período — como os filmes de Jogos Mortais, que ainda faziam um sucesso relevante nas bilheterias, o início da franquia Sobrenatural e o lançamento do primeiro A Entidade —, V/H/S aposta no terror explícito, sem cair necessariamente no torture porn (mas quase chegando lá), e ainda utiliza elementos de uma outra série de filmes que tinha causado um burburinho anos antes, mas que começava a pecar em qualidade. De certa forma, V/H/S parecia uma aposta mais bem-sucedida de Atividade Paranormal, ocupando o lugar de representação para os fãs de found footage nos lançamentos do início da década de 2010.

A franquia foi criada por Brad Miska, um dos fundadores do site Bloody Disgusting, que assumiu a posição de produtor executivo ao lado de Roxanne Benjamin. Seguindo mais ou menos o mesmo pensamento do modelo de negócios do início da Blumhouse, onde os gastos são menores e se aposta na equipe criativa para fazer um bom trabalho, o primeiro V/H/S combinou os talentos do coletivo Radio Silence, Adam Wingard, Glenn McQuaid, David Bruckner, Joe Swanberg e Ti West. Alguns diretores apareceram em outros filmes da franquia, mas há um movimento interessante de nomes, frequentemente com cineastas mais novos ocupando a cadeira de direção de um segmento ou outro.

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Esse modelo de negócios, claro, facilita essa possibilidade. Em entrevista, ainda no início do projeto, Miska afirmou que auxiliou e guiou o quanto foi necessário, mas o trabalho foi todo dos diretores e roteiristas. Eles surgiram com as ideias, e eles as botaram em prática. Sendo um projeto que envolvia menos dinheiro que um filme hollywoodiano, essa prática criativa se torna mais possível. 

Ao longo da franquia, os filmes receberam críticas altas e baixas. Frequentemente os fãs escolhem seus segmentos favoritos, tornando o filme, em si, um sucesso “mediano” — alguns segmentos melhores, outros piores.  Mas é interessante observar como uma franquia que já passou de seus dez anos, que tem cerca de seis filmes e alguns spin-offs, e novos filmes a caminho, conseguiu se manter relevante sendo produzida de forma independente e com lançamentos muitas vezes extremamente nichados. Não estamos falando de uma superprodução da Warner ou da Blumhouse, e sim de uma série longa, constante e de qualidade.

As Crônicas do Medo

V/H/S, 2012 // O primeiro filme do que viria a se tornar a franquia V/H/S causou furor entre os fãs quando foi lançado. Um found footage, com terror explícito, segmentos de arrepiar os cabelos da nuca de qualquer um e, com a cereja do bolo, um filme que parecia ter sido feito com carinho, por fãs de terror. Tecnicamente, o primeiro V/H/S foi o único filme da série lançado de forma oficial no Brasil.

Os segmentos do primeiro V/H/S foram: “Tape 56”, dirigido por Adam Wingard, que funciona como prólogo e é dividida em pequenos momentos ao longo do filme, unindo todos os segmentos; “Amateur Night”, dirigido por David Bruckner, segmento de maior sucesso no filme, que rendeu o spin-off Sereia Predadora; “Second Honeymoon”, dirigido por Ti West; “Tuesday the 17th”, de Glenn McQuaid; “The Sick Thing That Happened to Emily When She Was Younger”, dirigido por Joe Swanberg; e “10/31/98”, dirigido pelo coletivo Radio Silence. 

A maioria desses cineastas tinham carreiras recentes, com alguns curtas no currículo. Os dois diretores que tinham a maior experiência se tratando de filmes de terror e longas-metragens eram Ti West, que já havia lançado alguns filmes como A Casa do Diabo (2009) e Hotel da Morte (2011), e Adam Wingard, que havia lançado no ano anterior o sucesso Você é o Próximo (2011).  

V/H/S/2

V/H/S/2, 2013 // O segundo filme V/H/S foi recebido com empolgação pelos fãs. Dado o burburinho que o primeiro causou, era esperado que o segundo trouxesse a mesma qualidade e o mesmo empenho, agradando novamente aqueles que já estavam fascinados pelo visual caseiro que o filme de 2012 tinha proposto. O filme foi bem recebido no geral, com críticas positivas em maior número. Somente Simon Barrett e Adam Wingard retornaram como diretores; os outros cineastas convidados faziam sua primeira colaboração com a franquia.

O filme foi dividido novamente em segmentos que eram unidos por uma narrativa, que funcionava tanto como prólogo, como epílogo, e também como elemento de ligação entre os segmentos, dessa vez intitulada “Tape 49” e dirigida por Barrett. Os outros segmentos e seus diretores foram “Phase I Clinical Trials”, dirigido por Wingard; “A Ride in the Park”, dirigido por Eduardo Sánchez e Gregg Hale; “Safe Haven”, dirigido por Timo Tjahjanto e Gareth Evans; e “Slumber Party Alien Abduction”, dirigido por Jason Eisener, que rendeu um filme spin-off em 2022 (também dirigido por Eisener).

Dentre os novatos, Eisener era conhecido por sua colaboração com o falso trailer “Hobo with a Shotgun”, presente nos filmes da sessão dupla Grindhouse pensada por Quentin Tarantino e Robert Rodriguez em 2007 — posteriormente, em 2011, o curta foi transformado em longa por Eisener, ocupando, ao lado de Machete e, agora, Thanksgiving, como os únicos trailers falsos a ganharem um longa de verdade. Eduardo Sánchez também era um nome mais que conhecido entre os fãs de terror, tendo dirigido A Bruxa de Blair, ao lado de Daniel Myrick, em 1999 — Gregg Hale, que é codiretor com Sánchez em seu segmento em V/H/S 2, produziu A Bruxa de Blair

V/H/S Viral

V/H/S Viral, 2014 // Foi em 2014, com o terceiro filme seguido, que a sensação de novidade começava a chegar ao fim para a, até então, trilogia V/H/S. As notas dos críticos e o interesse do público pareceram diminuir. Depois de V/H/S Viral, a franquia levaria sete anos para lançar um filme sob o nome de V/H/S novamente. Ainda assim, V/H/S Viral não pode ser considerado um fracasso absoluto. Em seu lançamento, a Fangoria notou que a mudança de tom para os outros dois filmes anteriores poderia chatear alguns fãs, mas que poderia ser bem-vindo a outros. 

Dessa vez, todos os cineastas convidados eram novatos na franquia. A narrativa que unia os segmentos ficou nas mãos de Marcel Sarmiento, e foi intitulada “Vicious Circles”. Os outros segmentos foram “Dante the Great”, de Gregg Bishop; “Parallel Monsters”, de Nacho Vigalondo; “Bonestorm”, da dupla Justin Benson e Aaron Scott Moorhead; e o curta “Gorgeous Vortex”, de Todd Lincoln, que foi cortado do lançamento oficial pois não dialogava com os outros segmentos, mas que foi mantido no DVD e Bluray do filme.

À época do lançamento de V/H/S Viral, a dupla Benson e Moorhead ainda não tinham lançado seus maiores sucessos, mas já haviam iniciado a carreira com Resolution (2012). Primavera, que colocou a dupla em maior contato com os fãs de terror, foi lançado no mesmo ano de V/H/S Viral. Nacho Vigalondo tinha uma ampla experiência com curtas antes de V/H/S Viral, mas também foi diretor de Crimes Temporais (2007), um filme em língua espanhola pouco conhecido mas amplamente elogiado.

V/H/S/94

V/H/S/94, 2021 // Depois de sete anos de hiato, V/H/S retornou e, de certa forma, pegou seus fãs de surpresa. E, mostrando que conseguia se reinventar, mas ainda apoiado nas antigas tradições, V/H/S/94 foi lançado no Fantastic Festival e, em seguida, no canal de streaming Shudder — agora recebendo o selo de “Shudder Original Film“ —, batendo o recorde de visualizações pela audiência em sua estreia. 

Os cineastas Simon Barrett e Timo Tjahjanto retornaram, acompanhados de outros diretores novatos na franquia. O prólogo, a narrativa que une os segmentos, foi dirigido por Jennifer Reeder e intitulado “Holy Hell”; seguido por “Storm Drain”, de Chloe Okuno; “The Empty Wake”, de Barrett; “The Subject”, de Tjahjanto; e “Terror”, de Ryan Prows. 

Entre os novos cineastas responsáveis por V/H/S/94, Jennifer Reeder já era conhecida por seu trabalho em Knives and Skin (2019), filme que atingiu o status de cult entre alguns fãs de cinema. Chloe Okuno havia trabalhado em alguns curtas, mas após V/H/S/94 dirigiu Observador, um dos filmes mais elogiados entre aqueles que foram lançados em 2022. 

V/H/S/99

V/H/S/99, 2022 // Diferente dos outros filmes da franquia, V/H/S/99 não contou com um prólogo ou uma narrativa que une os segmentos em uma única história. E, também, nenhum dos outros cineastas anteriores esteve presente neste novo filme. Ainda assim, V/H/S/99 quebrou o recorde de seu antecessor com o número de pessoas que o assistiram em sua estreia na plataforma do Shudder — que, por um acaso, também era o recorde do próprio canal de streaming.

Os segmentos foram “Shredding”, dirigido por Maggie Levin; “Suicide Bid”, dirigido por Johannes Roberts; “Ozzy’s Dungeon”, dirigido por Flying Lotus; “The Gawkers”, dirigido por  Tyler MacIntyre; e “To Hell and Back”, dirigido por Vanessa e Joseph Winter.

Entre os cineastas convidados para o filme, Johannes Roberts talvez tenha sido o mais experiente em questão de longas, com créditos como Medo Profundo (2017), Medo Profundo: O Segundo Ataque (2019) e Os Estranhos: Caçada Noturna (2018). Maggie Levin já havia dirigido o filme My Valentine para a série de filmes Into the Dark (2020), e Tyler MacIntyre, que foi responsável pelo filme As Garotas da Tragédia (2017), também teve um filme em Into the Dark, intitulado Good Boy (2020), e está lançando este ano o slasher It’s a Wonderful Knife. Joseph e Vanessa Winter foram responsáveis pelo sucesso daquele mesmo ano Deadstream.  

V/H/S/85

V/H/S/85, 2023 // Acenando diretamente aos filmes snuff da década de 1980, V/H/S/85 se concentra na ideia de uma série de filmes caseiros com imagens horríveis que foram encontrados e passados em um canal de TV. Isso não somente retoma o conceito original, de uma narrativa que une todos os segmentos da história, como de certa forma homenageia o subgênero do found footage — em um momento que muitos filmes desse tipo reconquistaram a atenção do público, como Deadstream e Marcas da Maldição, lançados em 2022.

A narrativa de ligação de V/H/S/85 foi intitulada “Total Copy”, dirigida por David Bruckner, que também esteve no primeiro V/H/S, em 2012; e foi seguida por “No Wake”, de Mike P. Nelson; “God of Death”, de Gigi Saul Guerrero; “TKNOGD”, de Natasha Kermani; “Ambrosia”, também de Nelson; e “Dreamkill”, de Scott Derrickson.

Bruckner, depois do primeiro V/H/S, se dedicou a alguns outros projetos: teve um segmento na antologia Southbound (2015), o filme de folk horror O Ritual (2017), o terror A Casa Sombria (2020), um dos mais elogiados em seu ano de lançamento, e o remake de Hellraiser: Renascido do Inferno, que foi lançado em 2022. Scott Derrickson também dispensa apresentações aos fãs de terror, sendo responsável por O Exorcismo de Emily Rose (2005), A Entidade (2012) e O Telefone Preto (2021). Gigi Saul Guerrero também tem conquistado cada vez mais a atenção do público de terror, com o filme Culture Shock, da série de filmes Into the Dark (2019), O Bingo Macabro (2021) e um segmento na antologia Satanic Hispanics (2022). 

Spin offs

Imagem do segmento “Amateur Night”, dirigido por David Bruckner, que está presente no primeiro filme da franquia.

Nesses pouco mais de dez anos de existência da franquia, além dos seis filmes lançados até então, V/H/S também contou com alguns spin-offs. O primeiro deles foi Sereia Predadora, em 2016, que expandia o universo criado no segmento “Amateur Night”, dirigido por David Bruckner, que está no primeiro filme da franquia. O filme, diferente do segmento, foi dirigido por Gregg Bishop — diretor do segmento “Dante the Great”, de V/H/S Viral

Em 2018, a franquia ganhou uma minissérie intitulada V/H/S: Video Horror Shorts. Os episódios foram lançados pela antiga rede social Snapchat, entre os dias 28 e 31 de outubro. Seus títulos eram “Stray Dog”, dirigido por L. Gustavo Cooper; “Rearview Window”, também dirigido por Cooper; “The Nest”, de Ben Franklin e Anthony Melton; e “First Kiss”, de Emily Hagins.

Kid vs. Aliens, longa inspirado no segmento “Slumber Party Alien Abduction”, de V/H/S/2 e dirigido por Jason Eisener

Por fim, em 2022 foi lançado o filme Kid vs. Aliens, uma adaptação e expansão do segmento “Slumber Party Alien Abduction”, presente em V/H/S/2 e dirigido por Jason Eisener, que repete seus créditos como diretor no longa. Dentre os spin-offs lançados até o momento, foi o de maior sucesso.

O futuro da franquia

Graças ao sucesso de suas últimas produções, os fãs já estão animados para o próximo filme da franquia que vem aí. Não há muitas informações ainda sobre o projeto, mas durante o anúncio da New York Comic Con de 2023, foi dito que este novo filme será mais focado no sci-fi, e também carregará o selo de um filme original da Shudder, em uma coprodução com Bloody Disgusting, Cinepocalypse e Studio71. O filme está previsto para estrear em 2024. 

A promessa de focar na ficção científica é um salto bastante corajoso para a franquia, que tem trabalhado lado a lado com o terror ao longo dos anos, utilizando os mais diversos subgêneros aliados ao found footage para aterrorizar sua audiência.

Mas vai rolar, e estamos muito curiosos para saber como V/H/S vai lidar com o sci-fi.

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E você, já assistiu a todos os filmes da franquia V/H/S? Qual segmento mais te marcou? Comente com a Macabra no Twitter e Instagram.

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.