10 videoclipes altamente perturbadores

Gostamos sempre de uma boa dose de estranheza existencial. A lista de 10 clipes perturbadores da autora Paula Febbe traz questões sobre a vida e a morte através da música.

Ah, o que seria de nós se não alimentássemos a perturbação alheia, não é mesmo? Por isso, aconcheguem-se, meus queridos. Pegue a pipoca, considere a Macabra seu cinema pessoal e assista a esses vídeos que dariam frios na espinha de um camelo no deserto. Nossa lista não segue um padrão de mais ou menos perturbador, afinal de contas, todos são igualmente incômodos e têm a capacidade de te pegar pelo pescoço e fazer você repensar sua existência.

1. Depeche Mode – Wrong

Um clipe que mexe profundamente com nossa noção de tempo, espaço, percepção e direção, mostra um carro andando de ré enquanto um homem bastante estranho se movimenta de forma efusiva dentro do veículo, mas ainda assim, sem expressão. Talvez a parte mais perturbadora do clipe seja exatamente o rosto desse homem, que parece não acompanhar tudo o que está acontecendo à sua volta, e por algum motivo isso é muito assustador. Talvez por ser exatamente o esvaziamento de todas as emoções de um ser humano. Tudo isso a olho nu. 

Sobre esse clipe, só posso dizer que tudo o que está acontecendo pode não ser nada do que você está pensando.

2. Nine Inch Nails – The Perfect Drug

Em “The Perfect Drug”, Mark Romanek — um dos melhores diretores de videoclipes do mundo, na minha opinião — juntou ideias de uma estética sombria, inspirada em Edward Gorey. O diretor transformou a negação de Trent Reznor em ser ator e viver uma personagem, em um dos trabalhos mais bonitos da história dos videoclipes.

Destaque para a metade do clipe, quando Trent toma uma taça de absinto e as cores do videoclipe mudam para o verde, e as luzes também mudam, de acordo com os sons da bateria. Esse efeito nos faz sentir como se tivéssemos tomado uma taça de absinto junto com ele.

3. David Bowie – Lazarus

O que você faria se soubesse que um câncer está te matando? David Bowie fez um clipe. Numa cama. Vendado. Com botões de cruzes nos olhos. Ele está com uma camisola de hospital e há uma mulher (a morte?) de cabelos pretos dentro do armário, depois embaixo da cama, que o observa e tenta pegá-lo.

As cenas são intercaladas entre ele, de branco, na cama e ele, de preto, escrevendo em uma mesa com uma caveira ao seu lado. No decorrer do vídeo, ficamos na dúvida sobre quem está mais vivo, se o Bowie deitado de branco, que parece flutuar e canta a música, ou o Bowie vestido de listras que escreve aceleradamente (como se o tempo fosse insuficiente para ele). 

No final, ele entra no armário de madeira, onde a mulher de cabelos pretos estava anteriormente, observando-o no início do clipe. Para bom entendedor, uma imagem basta.

O videoclipe faz parte do último trabalho de David, Blackstar, lançado dois dias antes de sua morte. É de uma grandeza inenarrável.

4. Billie Eilish – When The Party´s Over

Claro que a mais nova porta-voz da perturbação musical não poderia faltar na nossa lista.

Qualquer videoclipe de Billie citado aqui poderia proporcionar uma sensação de estranheza, mas vamos citar o que fez com que ela começasse a ser vista como uma artista fora do padrão do mercado pop daquele momento: When The Party´s Over.

Ao tomar um copo de um líquido preto, este líquido a consome e começa a verter por seus olhos, sem espera, o que vira um choro que, simbolicamente, coloca para fora, em sofrimento, tudo aquilo que ela mesma se causou. Parece ser uma demonstração do que um relacionamento abusivo, ou uma depressão faz com você. 

 Poético, bonito e perturbador.

5. Nirvana – Heart Shaped Box

Acho que não existe videoclipe mais fiel aos pensamentos de Kurt do que esse. Uma mistura de anatomia humana, revolta contra o racismo, revolta contra o descaso que a sociedade teve com ele, crítica à religião e uma pitada de romantismo, desembocando em toda essa transgressão que a gente ama.

Destaque para o idoso na cama, sendo alimentado através do soro, por um feto, para os urubus que esperam ele morrer na cruz, e para a menina loira vestida como membro da Ku Klux Klan, que tem o chapéu manchado de preto. Genial é pouco.

6. Wolfie´s Just Fine – Break my Back

Jon Lajoie começou sua carreira como ator de novelas, mas também foi um dos primeiros a criar esquetes engraçadinhas para o YouTube, no começo do portal. Apesar do grande talento, Jon nunca teve tanto sucesso quanto achou que teria dito por ele mesmo em algumas entrevistas.

Só que o tempo passou, e o talento de Jon só fez crescer. Com sua nova banda, criou esse clipe que, pelo menos eu, vejo como uma briga de egos dele mesmo. Talvez de seu ID com seu Ego e Superego. Pois é! A psicanalista pira.

7. The Dead Weather – Treat Me Like Your Mother

A expressão “morrer de amor” soa familiar? Imagine se fosse possível enxergar, a olho nu, o quanto uma briga de casal pode machucar os envolvidos. É exatamente isso que mostra o clipe de “Treat me like your mother”, do Dead Weather.

A vocalista — Allison Mosshart — vai de encontro a Jack White, com espingardas carregadas, como em um duelo. Durante a música, começam a atirar um no outro. Acertam várias balas, mas nenhum dos dois morre.

O destaque mais “Tarantinesco” do clipe acontece quando, no meio do duelo, Allison decide acender um cigarro, dando um certo charme a toda tragédia, brincando ainda mais com o fato de ser imortal.

8. Marroon 5 – Animals

Quem diria que Adam Levine se daria tão bem ao fazer o papel de um serial killer! 

Com direito a caras e trejeitos estranhos, açougue, sangue escorrendo nele e na mulher observada (seu objeto de desejo no clipe, e sua esposa na vida real) e muito stalking, esse é um clipe que vale a pena ser visto. Até por trazer um serial killer, assim, no meio da música pop (a gente gosta disso, né?)

9. Johnny Cash – Hurt

Esse é outro videoclipe perturbador pelo fim da vida de seu artista e da proximidade da arte com a realidade. Outro vídeo dirigido por Mark Romanek. Outra música do Nine Inch Nails: a versão de Johnny Cash para a música “Hurt”, do Nine Inch Nails. Aqui, Romanek conseguiu sintetizar, em poucos minutos e muita poesia, toda a vida e dor de uma das maiores lendas do country/rock, inserindo cenas do homem idoso ao piano e imagens de arquivo do cantor.

O homem, que já foi conhecido como um dos maiores causadores de problema dentro do rock and roll, mostra-se vulnerável de uma maneira sublime, tudo por causa do inevitável, e próximo, encontro com a morte.

10. Jack White – Sixteen Saltines

Um mundo (quase) sem adultos, em que Jack White é o último deles e convive com crianças extremamente cruéis. Temos cenas de crianças fazendo tatuagens, adolescentes comendo sanduíches direto do teto e alguém perdendo um dedo sem se importar. 

Para Freud, crianças são perversas polimorfas. Talvez para Jack também.

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Paula Febbe é escritora e roteirista, com trabalhos para sites, TVs, rádios e veículos impressos como Rolling Stone e Folha de São Paulo. Teve seu primeiro conto publicado em 2010, e desde então encontrou seu próprio caminho em meio a escrita. É autora de Relato Inspirado por Orelhas, Não, Sarau Inconsciente de um Alter Ego Esquizofrênico, Mãos Secas com Apenas Duas Folhas, Metástase e Cartas no Corredor da Morte, o último em parceria com a autora Cláudia Lemes. Em 2021, lançará um novo título pela DarkSide Books.