5 escândalos criminosos da Era do Jazz

Uma era de encantos e liberdades, mas também repleta de crimes escandalosos. Confira cinco crimes que aconteceram nos estrondosos anos 1920.

Extravagância, festas, champagne. A década de 1920, conhecida como Era do Jazz ou os estrondosos anos 1920, é um período lembrado pelo esbanjamento, a sede de liberdade, a excentricidade e, como diria F. Scott Fitzgerald, um dos grandes nomes do período, “uma era de arte, uma era de excessos”. Mas, para além disso, também foi uma era de escândalos nas colunas criminais.

Uma época tão movimentada e cheia de glamour serviu como base para uma série de histórias e, dentre elas, os filmes baseados em crimes reais. Em Anatomia True Crime dos Filmes, Harold Schechter nos apresenta vários filmes ao longo da história do cinema e quais foram os acontecimentos reais em que eles se basearam. Um livro para quem é fã de cinema e true crime. E os anos 1920 marcaram presença entre os crimes mais escandalosos reunidos por Schechter.

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Para dar um gostinho do que os leitores caveirosos podem esperar, a Macabra separou cinco dos crimes que Schechter reuniu em seu livro, todos eles de uma das décadas mais extravagantes do século XX. Pegue seu disco favorito de jazz e venham com a gente.

O crime perfeito de Loeb e Leopold

Leopold, à esquerda, e Loeb, à direita.

Em maio de 1924, Nathan Freudenthal Leopold Jr. e Richard Albert Loeb, dois jovens ricos e excepcionalmente inteligentes, estudavam juntos na Universidade de Chicago. Morando na região desde sempre, os laços de amizade entre os dois se fortaleceram quando estavam mais adultos, já frequentando as aulas na faculdade juntos, pois ambos tinham certo interesse muito forte em crimes.

Naquele momento, os dois jovens não tinham ainda completado vinte anos, mas já haviam decidido que poderiam cometer o crime perfeito. Eles queriam provar que eram dois seres transcendentais, acima do bem e do mal, apoiados no que eles compreenderam do conceito de super homem de Nietzsche. O crime seria simples: sequestrar um garoto aleatório, de alguma família rica, enviar cartas de resgate para despistar a família, sumir com as provas e sumir com o garoto. 

Cena do filme Festim Diabólico, de Alfred Hitchcock

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Mas as coisas não aconteceram como planejado. O garoto, antes uma escolha aleatória, acabou se transformando em Bobby Frank, primo de Loeb. O garoto foi morto dentro do carro em que estavam, e todo o crime foi bastante cometido com bastante frieza. Ao levarem Bobby até uma área afastada, longe da cidade, eles jogaram ácido no rosto e nas genitais do menino, para dificultar a identificação. Mas, Leopold deixou seus óculos caírem, e apesar da crueldade do ácido, o jovem logo foi identificado pelos familiares.

O crime todo foi descoberto em questão de pouco tempos, depois disso. A história de Loeb e Leopold, cuidadosamente ensaiada, de nada adiantou e ambos confessaram os crimes. O que ficou conhecido como um dos “julgamentos do século” daquele período, rendeu aos dois a condenação à prisão perpétua pelo assassinato de Bobby Franks e mais 99 anos pelo sequestro de Bobby Franks. 

A história de Leopold e Loeb foi transformada em filme por Alfred Hitchcock no filme de 1948, Festim Diabólico. Leopold, em seu tempo na prisão, também se tornou um personagem importante na vida de Matt Rizzo, e suas histórias são contadas no quadrinho Uma História Real de Crime & Poesia, de David L. Carlson e Landis Blair.

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A dupla indenização: Ruth Snyder e Judd Gray

Judd Gray e Ruth Snyder

Apesar da ética jornalística já existir de certa forma, algumas tentativas de causar choque, derivadas do século XIX, ainda estavam em prática nos anos 1920. A execução de Ruth Snyder na cadeira elétrica foi uma dessas situações.

Snyder era uma dona de casa do Queens, em Nova York, que estava bastante cansada da vida com seu marido, Albert Snyder. Muitos alegavam que ela sofria constantes crises de ciúme da antiga noiva de seu esposo, e as coisas chegaram em um ponto longe demais quando ele pendurou um retrato dela na parede e nomeou seu barco com o nome da outra mulher — que, devemos esclarecer, já estava morta há dez anos. Mas, além disso, muitas testemunhas afirmaram que Snyder sofria abusos nas mãos do homem.

Em 1925, ela começou um caso com Henry Judd Gray, um vendedor, também casado. Juntos, eles planejaram o assassinato de Albert. Ruth fez com que o homem comprasse um seguro de vida com um valor bastante alto. Tempos depois, ele foi assassinado por Albert e Ruth. Ruth alegou que havia sido um assalto, mas a polícia logo descobriu a verdade ao encontrar em sua própria casa os itens que ela havia afirmado terem sido levados.

Cena do filme Pacto de Sangue, de Billy Wilder

O julgamento de Ruth logo se tornou um circo midiático. Mas o que chocou de fato a população foi o que veio após a execução de Ruth: uma foto em preto e branco, desfocada, com a palavra morta em letras garrafais, e a foto de uma mulher executada. Uma das fotos mais infames da história do jornalismo moderno dos Estados Unidos, a foto foi tirada por Tom Howard, que conseguiu esconder uma câmera em miniatura em seu tornozelo esquerdo e tirou a foto do momento da execução.

O crime de Ruth foi transformado em filme através das mãos de Billy Wilder. Lançado em 1944, recebeu o título em português de Pacto de Sangue.

Os Assassinatos de Hall-Mills

Edward Hall e Eleanor Mills

Junto do julgamento de Ruth Snyder e dos assassinatos cometidos por Leopold e Loeb, os assassinatos de Hall-Mills formam uma trindade de melodramas jurídicos, como Harold Schechter afirma em seu livro. Mas, diferente dos outros dois, este último tende a ser mais esquecido — e, também, não encontrou uma resolução satisfatória ainda hoje. 

Em 16 de setembro de 1922, em New Brunswick, New Jersey, o Padre Edward Wheeler Hall e a jovem Eleanor Reinhardt Mills, que cantava no coro da igreja e era casada com o sacristão. Ambos os corpos foram posicionados para parecerem estar se abraçando. Eleanor teve três disparos e Edward um. Em uma autópsia realizada quatro anos depois, foi descoberto que Eleanor teve também sua língua arrancada.

Durante anos a especulação era de que os dois tinham o caso, e isso foi confirmado na cena do crime quando várias cartas de amor foram encontradas. Todos esses ingredientes — um romance tórrido no seio da comunidade, entre dois membros da igreja, além das condições violentas com que os cadáveres foram encontrados — foi suficiente para que o circo estivesse armado. A fazenda em que os dois foram encontrados logo se tornou atração turística, vendendo até mesmo pequenas porções de terra aos visitantes, como suvenir. 

Cena do filme Sede de Escândalo, de Mervyn LeRoy

Apesar do detetive do caso ter considerado que seria um caso muito fácil de ser resolvido, foi somente quatro anos mais tarde, quando o jornal Daily Mirror de Nova York alegou ter encontrado novas evidências, é que o caso foi reaberto. A culpa caiu sobre os ombros da viúva de Hall, Frances, e seus irmãos. Mas, mesmo com toda a atenção voltada ao caso, e todos os milhares de jornais vendidos naquela época, Frances e seus irmãos foram considerados inocentes. 

A história acabou servindo de base para o filme dirigido por Mervyn LeRoy e lançado em 1931, Sede de Escândalo, que conta a história de um editor inescrupuloso de um jornal em decadência que resolve desenterrar um assassinato cometido há anos antes, sem pensar muito bem nas consequências de seus atos.

Beulah Annan e Belva Gaertner

Beulah Anna, à esquerda, e Belva Gaertner, à direita

Dois crimes, sem relação, se interligaram para criar um dos musicais mais famosos de todos os tempos. A história, claro, data dos estrondosos anos 1920, começando lá em 1924, com Beulah Annan. 

Beulah Annan era casada com o mecânico Albert “Al” Annan. Mas, certo dia, se envolveu com Harry Kalstedt. Em abril de 1924, Beulah ligou para seu marido e, na primeira versão de sua história, contou a ele que havia atirado em um homem que tentou “forçar fazer amor” com ela. Al era um cara simples e muito apaixonado, mas com a pressão policial aumentando as histórias de Beulah começaram a mudar. Beulah confessou o crime de primeira, mas os motivos se alteraram: primeiro, em legítima defesa; depois, porque Kalstedt disse que iria abandoná-la; e a última versão era de que ela contou ao homem que estava grávida, e eles entraram em uma briga para alcançar a arma. Independente das histórias, uma das características que tornou Beulah uma assassina muito conhecida foi a de que ela deixou um disco de foxtrot, intitulado Hula Lou, tocando durante duas horas antes de ligar para seu marido. Acredita-se Kalstedt ainda estava vivo durante alguns momentos após o tiro. 

O caso ganhou bastante publicidade. Al gastou todo o dinheiro que tinha na época para pagar um bom advogado para Beulah. Logo após o julgamento, em que Beulah foi absolvida, ela informou à imprensa que estava deixando o marido. 

Mas esse não foi o único crime a acontecer no começo de 1924. Um mês antes do assassinato de Kalstedt, outro homem foi encontrado morto, chamado Walter Law. Os indícios levaram os policiais a buscarem um culpado no prédio em frente onde o carro de Law estava, com o homem morto ao volante. Lá, eles se depararam com uma mulher com sérios problemas em mãos. Belva Gaertner tinha roupas sujas de sangue em seu apartamento, e os policiais a viram com a vítima momentos antes.

Cena do filme Chicago, de 2002, adaptação do musical de mesmo nome de Maurine Dallas Watkins 

Belva era uma mulher casada pela terceira vez, mas estava separada de seu atual marido. Cantora de cabaret, utilizava o nome de Belle Brown. Estava tendo um romance com Law, um homem casado e com filho. Belva foi presa, aquele circo midiático que conhecemos foi armado — perdendo um pouco o brilho quando Beulah foi presa em abril —, e sua defesa foi de que talvez Law havia atirado em si mesmo. Belva foi absolvida. 

As histórias de Belva e Beulah serviram de base para a peça escrita por Maurine Dallas Watkins em 1926, que cobriu ambos os julgamentos para o Chicago Tribune em 1924. A peça mais tarde seria transformada no grande espetáculo da Broadway, Chicago, e também no filme Pernas Provocantes, de 1942.

Earle Edward Nelson

Earle Edward Nelson

Um pouco menos conhecido que os outros serial killers que vieram após os anos 1950, Earle Edward Nelson também se encaixa na categoria. Nelson ficou órfão aos dois anos, após ambos os seus pais morrerem de sífilis. Logo ele foi enviado para morar com a avó. Quando tinha cerca de 10 anos, Nelson sofreu um acidente com sua bicicleta, e ficou desacordado durante quase uma semana. Nos anos mais tarde, passou a se acreditar que esse acidente teria parte da responsabilidade por seu comportamento criminoso. Aos 14 anos, com a morte de sua avó, Nelson foi viver com sua tia.

Em 1915, com 18 anos, Nelson foi preso pela primeira vez, após invadir uma cabana que acreditava estar desocupada. Pouco tempo depois, foi enviado ao Hospital Mental do Estado de Napa. Nelson conseguiu fugir três vezes do local, até os funcionários deixarem de o procurar. Aos 21 anos, ele se tornou um criminoso sexual.

Cena do filme A Sombra de uma Dúvida, de Alfred Hitchcock

Em 1921 Nelson foi levado novamente ao Hospital Mental do Estado de Napa após ter tentado abusar sexualmente de uma garotinha de 12 anos. Depois de várias fugas, Nelson foi libertado em 1925 e no ano seguinte, em 1926, começou a cometer seus assassinatos. A maioria das vítimas de Nelson eram mais velhas, e ele acostumava se aproximar de mulheres em busca de moradia, em pensões. Nelson ficou conhecido como O Assassino Gorila. Nelson foi preso no Canadá, e sentenciado a morte em janeiro de 1928.

A história do assassino serviu como base para o personagem antagonista do filme A Sombra de uma Dúvida, de 1943, dirigido por Alfred Hitchcock. No filme, uma jovem garota está muito feliz com a visita de seu tio, até que ela descobre que o homem tem uma outra vida macabra. 

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O livro Anatomia True Crime dos Filmes está disponível em pré-venda na Loja Oficial da DarkSide Books. Comente este post com a Macabra no Twitter e Instagram.

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.