Houve uma época em que mafiosos eram uma espécie de celebridade, estampando constantemente as manchetes dos jornais – pelos motivos errados, é claro. As organizações formadas por eles movimentaram tanto o cenário policial que o público criou um certo fascínio por estas figuras infames da história.
Com aliados criminosos que ultrapassavam fronteiras e esquemas que blindavam os chefões da aplicação da lei, muitos mafiosos eram adorados e respeitados em suas comunidades, que viam neles uma espécie de anti-herói, que enfrentava o sistema para garantir a proteção dos próximos. O que algumas pessoas demoraram a entender era que esta mesma engrenagem que “protegia a comunidade” ajudava a alimentar uma dinâmica de violência que batia à porta de casa.
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Além de chamarem a atenção pelos crimes cometidos, alguns destes gângsters despertavam inveja pelos seus luxuosos estilos de vida: carrões do ano, casacos de pele, noitadas nos melhores clubes e restaurantes e belas mulheres. Claro que isso tudo tinha um alto preço, que poderia ser cobrado com sangue ou uma dura sentença atrás das grades.
Tanta badalação dos jornais e do interesse público rendeu histórias que foram parar em livros, quadrinhos e no cinema. Confira a seguir alguns dos mafiosos que renderam grandes bilheterias nas telonas.
1. Al Capone
Um dos mafiosos mais conhecidos de todos os tempos atuou durante o período da Lei Seca e acredita-se ter sido o responsável pelo massacre do Dia de São Valentim. Ele já foi representado inúmeras vezes no cinema e na TV, dada a popularidade do mafioso.
Sua representação mais conhecida ocorreu no filme Os Intocáveis, de Brian De Palma, quando foi interpretado por Robert De Niro. O filme de 1987 conta a história do ponto de vista do grupo de policiais liderados por Eliot Ness (Kevin Costner), que busca combater a corrupção do crime organizado em Chicago.
A história do mafioso também serviu como base para o roteiro de Scarface, cuja primeira versão foi lançada em 1932, estrelada por Paul Muni. A versão mais conhecida pela geração atual também é de Brian De Palma, com Al Pacino vivendo o papel principal. Lançado em 1983, o filme muda bastante a ambientação da história original de Capone, passando para a Miami dos anos 1980.
2. Henry Hill
Henry Hill pode não ter sido um chefão da máfia – sua origem irlandesa nunca permitiria –, mas a riqueza de detalhes com que narrou suas três décadas trabalhando como gângster ajudaram Nicholas Pileggi a escrever o livro Os Bons Companheiros, eternizado no cinema pelo diretor Martin Scorsese.
Pileggi foi interpretado por Ray Liotta e, apesar de na época estar escondido sob o programa de proteção de testemunhas, deu suas contribuições com o roteiro e em consultoria para atores como Robert De Niro e Joe Pesci, que buscavam orientação sobre os trejeitos dos mafiosos que eles estavam interpretando: James Conway e Tommy DeVito.
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3. Frank Rosenthal
Mais um mafioso para a conta de De Niro: Frank Rosenthal foi escalado pela máfia para tomar conta dos esquemas deles envolvendo um cassino em Las Vegas. O filme Cassino, também dirigido por Scorsese, conta a história da influência da máfia nos cassinos de Las Vegas. Rosenthal ganhou um novo nome, Ace Rothstein, e há todo um triângulo amoroso envolvendo o então melhor amigo dele, Nick Santoro (Joe Pesci) – baseado no verdadeiro Anthony Spilotro – e a socialite Ginger McKenna (Sharon Stone).
Frank também deu seu depoimento a Nicholas Pileggi, que escreveu o livro e o roteiro de Cassino. Num primeiro momento, ele não queria envolvimento algum com a produção, obrigando Pileggi a buscar outras fontes para a história. Quando ele ouviu rumores de que Robert De Niro interpretaria seu papel, ligou para Pileggi perguntando se poderia conhecer o ator. Depois de uma viagem de De Niro à Flórida para visitar Rosenthal, o mafioso concordou em contribuir com o filme.
4. Jimmy Hoffa
Hoffa começou sua vida pública como líder sindical dos motoristas, chegando a se tornar vice-presidente nacional da organização. Mais ou menos pela mesma época em que começou seu envolvimento com o sindicato, iniciaram também suas relações com a máfia. Ele chegou a ser condenado por adulteração, tentativa de suborno, conspiração e fraudes postal e eletrônica. Apesar de ter sido preso em 1967, continuou presidente do sindicato até 1971, quando abriu mão do cargo em um acordo com o presidente Nixon, que resultaria na sua liberdade. Em 1975 Hoffa desapareceu em uma suspeita de queima de arquivo da máfia. Ele foi declarado morto em 1982, mesmo sem terem encontrado seu corpo.
Jimmy Hoffa foi interpretado por Al Pacino em O Irlandês, megaprodução de Martin Scorsese que reuniu os veteranos dos filmes de máfia Robert De Niro, Joe Pesci, além do próprio Pacino. O filme é contado do ponto de vista de Frank Sheeran (De Niro), um membro do sindicato que executava pessoas para Hoffa. Sheeran também existiu de verdade e há indícios nunca comprovados de seu envolvimento no desaparecimento e morte de Jimmy Hoffa.
5. Frank Lucas
Envolvido com o tráfico de drogas, Frank Lucas operou no Harlem no final dos anos 1960 e início da década de 1970. Ele foi conhecido por cortar intermediários e comprar heroína diretamente do Triângulo Dourado, no sudeste asiático. Frank Lucas afirmava que contrabandeava a droga em caixões de soldados americanos mortos, mas segundo seu fornecedor, não era bem assim: a heroína era transportada nos pallets que sustentavam os caixões.
A história de Lucas parou no cinema na pele de Denzel Washington com o filme O Gângster, dirigido por Ridley Scott. Muitas passagens da produção criaram um pouco mais de ficção na história do gângster, para efeitos dramáticos. Apesar de Lucas ter se declarado satisfeito com o filme, seu advogado de defesa discordou, apontando muitas passagens que não condizem com a jornada do criminoso e que tentam dar um ar quase nobre a ele.
Em 1976, o gângster foi condenado por tráfico e sentenciado a 70 anos de prisão. No entanto, por se tornar um informante da polícia, ele reduziu sua pena a apenas 5 anos. Foi condenado novamente em 1984 e ficou atrás das grades por mais 7 anos. Lucas faleceu em 2019 aos 88 anos.
6. Dominick Napolitano
Mais conhecido como Sonny Black, Napolitano foi conselheiro e mais tarde chefe de uma das facções da família Bonanno entre o final dos anos 1970 e início dos anos 1980. Suas operações envolviam tráfico de drogas, roubo, extorsão, assalto a bancos, agiotagem, sequestro, apostas e operações em cassino.
Nos cinemas ele ficou mais conhecido pela operação do FBI que enviou um agente infiltrado à máfia. O agente em questão era Joe Pistone, que adotou o alias que dá nome ao filme: Donnie Brasco. Sonny foi interpretado por Michael Madsen e Brasco por Johnny Depp.
7. John Dillinger
Com atuação durante o período da Grande Depressão, Dillinger e sua gangue foram acusados de assaltar 24 bancos e quatro estações policiais, além de outros crimes, é claro. Por ter um alvo mais específico em grandes corporações e pessoas de maior poder aquisitivo, deixando as classes mais baixas de fora, Dillinger chegou a ser comparado a Robin Hood pela mídia.
No cinema ele foi interpretado por Johnny Depp no filme de Michael Mann Inimigos Públicos. A trama foca na busca “gato caçando rato” por parte do agente Melvin Purvis, interpretado por Christian Bale.
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