A conspiração macabra do Experimento Filadélfia

Uma das lendas urbanas militares mais grotescas de todos os tempos revista em detalhes para descobrirmos a verdade.

Você não precisa ser um teórico da conspiração ou um cinéfilo de longa data para ter ouvido sobre O Projeto Filadélfia. “O Experimento”, afinal, é uma das lendas urbanas militares mais grotescas de todos os tempos — e ele tem persistido como uma infame teoria da conspiração da Segunda Guerra Mundial desde que surgiu. Mas há alguma verdade nisso? Vamos dar uma olhada e aproveitar para refrescar nossa memória.

Segundo a lenda, em 28 de outubro de 1943, o USS Eldridge, uma escolta de navios destruidora da classe Cannon, estava conduzindo experimentos altamente secretos destinados a conquistar o comando dos oceanos contra as potências do Eixo. O boato era de que o governo estava criando uma nova tecnologia que tornaria os navios de guerra invisíveis ao radar inimigo, e era chegada a hora de testá-lo. Em que lugar? No estaleiro naval da Filadélfia, é claro.

Tudo certo, e o experimento indo de vento em popa. Então testemunhas, posteriormente ao evento, começam a afirmar que um estranho brilho verde-azulado cercou o casco do navio enquanto seus geradores giravam e, de repente, o Eldridge simplesmente desapareceu. Não, talvez não tenha desaparecido, não totalmente, já que o navio foi visto quase que instantaneamente em Norfolk Naval Shipyard, na Virgínia, antes de desaparecer novamente e reaparecer na Filadélfia.

Segundo a lenda, documentos militares classificados relataram que a tripulação de Eldridge foi afetada pelos acontecimentos, de maneira perturbadora. Alguns inclusive ficaram loucos. Outros desenvolveram doenças misteriosas. Mas outros ainda disseram ter sido fundidos com o navio; ainda vivos, mas com membros selados ao metal.

Isso renderá alguns pesadelos, e certamente será material para mais filmes e séries na Netflix, mas qual é realmente a razão convincente pela qual a história de Eldridge ganhou tanta repercussão?

Em um artigo de 1994, Jacques F. Vallee teorizou para o Journal of Scientific Exploration que imagens profundas são a chave para plantar uma farsa nas mentes das massas e do público instruído.

Mas antes de quebrar a mágica sobre o que realmente aconteceu naquele dia, vamos falar sobre o homem por trás do mito: Carl M. Allen, que atende pelo pseudônimo, Carlos Miguel Allende. Em 1956, Allende enviou uma série de cartas para Morris K. Jessup, autor do livro The Case for the UFO, no qual ele argumentou que objetos voadores não identificados merecem um estudo mais aprofundado.

Jessup aparentemente incluiu texto sobre a teoria do campo unificado porque é isso que Allende colocou em suas correspondências. Nos anos 50, a teoria do campo unificado, que nunca foi provada, tentou fundir a teoria geral da relatividade de Einstein com o eletromagnetismo. Na verdade, Allende afirmou ter sido ensinado pelo próprio Einstein e poderia provar a teoria do campo unificado com base em eventos que ele testemunhou em 28 de outubro de 1943.

Allende afirmou que viu o Eldridge desaparecer do estaleiro naval da Filadélfia e insistiu que os militares dos Estados Unidos haviam conduzido o que ele chamou de Experimento Filadélfia — e estavam tentando encobri-lo.

Jessup foi então contatado pelo Escritório de Pesquisa Naval da Marinha, que recebeu um pacote contendo o livro de Jessup com anotações afirmando que a tecnologia extraterrestre permitia ao governo dos EUA fazer descobertas na teoria do campo unificado.

Este é um dos detalhes mais estranhos. As anotações foram projetadas para parecer que foram escritas por três autores diferentes — um deles talvez sendo extraterrestre? De acordo com o artigo de Valle para o Journal of Scientific Exploration, Jessup ficou obcecado com as revelações de Allende, a ponto do perturbado pesquisador tirar a própria vida em 1959. E somente em 1980 a prova da falsificação de Allende seria disponibilizada.

Inexplicavelmente, dois oficiais da ONR tinham 127 cópias do texto anotado impresso e distribuído privadamente pelo empreiteiro militar Varo Manufacturing, dando asas à história de Allende muito depois da morte de Jessup.

Então, o que realmente aconteceu a bordo do USS Eldridge naquele dia?

Em algum lugar em Delaware existem canais militares secretos que têm todas as respostas… De acordo com Edward Dudgeon, que serviu na Marinha dos Estados Unidos a bordo do USS Engstrom, que estava ancorado no Philadelphia Naval Yard enquanto o Eldridge também estava, ambos os navios tinham dispositivos secretos a bordo. Eles não eram nem capas de invisibilidade nem unidades de teletransporte projetadas por alienígenas, mas, ao invés disso, embaralhavam as assinaturas magnéticas de navios usando a técnica de desmagnetização, que fornecia proteção contra torpedos magnéticos a bordo de submarinos.

Como Stuff Works sugeriu que o “brilho verde” relatado por testemunhas naquele dia poderia ser explicado por uma tempestade elétrica ou Fogo de Santelmo (o fogo de santelmo é uma descarga eletroluminescente provocada pela ionização do ar num forte campo elétrico provocado pelas descargas elétricas. Mesmo sendo chamado de fogo, é na realidade um tipo de plasma provocado por uma enorme diferença de potencial atmosférica). E, finalmente, os canais do interior conectaram Norfolk à Filadélfia, permitindo que um navio viajasse entre os dois em poucas horas.

Com tantas informações e coincidências macabras e documentos sigilosos, fica difícil bater o martelo sobre a verdade ou a ficção dos fatos que embalam a imaginação dos teóricos da conspiração desde então, mas o que se pode dizer com certeza é que onde há fumaça, há fogo (e não estamos falando de Santelmo por aqui). De toda forma, o famigerado USS Eldridge seria transferido para a Grécia em 1951 e vendido como sucata nos anos 90, mas o embuste de Allende continuaria vivo e inspirando pesadelos para as próximas gerações.

E já que ainda estamos aqui, se estiverem procurando por bons filmes sobre o tema deem uma chance a Philadelphia Experiment e Event Horizon. Vale seu tempo.

Filmes sobre o Experimento Filadélfia

Texto traduzido de We are the Mighty

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