A evolução do boneco Chucky

Se você assistiu a mais de um filme de Brinquedo Assassino, sabe que Chucky passou por várias mudanças. A Macabra te conta um pouquinho sobre quem foram os responsáveis pelo boneco mais assustador do cinema de terror.

As maratonas de franquias de filmes abrem nossos olhos para diversas coisas. E, quando somos fãs, acabamos percebendo até mesmo algumas das mudanças mais sutis — seja no ator que interpreta aquele vilão mascarado ou a mudança na direção de um filme para o outro.

Quando se trata da franquia Brinquedo Assassino, percebemos várias dessas alterações ao longo da história. Uma das mais curiosas são as mudanças no visual e no estilo de Chucky. Não estamos falando de sua personalidade, que assume um lado sarcástico e mais violento dependendo do tom do filme, e sim do próprio boneco utilizado ao longo desses anos.

O canal Tell It Animated, no Youtube, criou uma animação para mostrar algumas das mudanças mais perceptíveis no boneco entre 1988 e 2019.

A Macabra aproveitou o lançamento de Chucky: O Legado do Brinquedo Assassino, da dupla Dustin McNeill e Travis Mullins, para se aprofundar um pouco no tema. Abaixo, explicamos um pouco mais sobre os criadores do boneco Chucky e quem foi responsável por seu visual em cada filme. 

Os primeiros passos de Chucky

Brinquedo Assassino, 1988

Quando começaram a pensar em quem poderia ser uma opção para trabalhar na construção do boneco, o produtor executivo David Kirschner pensou logo em Rick Baker, que àquela altura já havia ganhado o Oscar por Um Lobisomem Americano em Londres e havia trabalhado no clipe de Michael Jackson da música “Thriller” — entre outros grandes feitos, como seu trabalho em Videodrome e Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança

Baker estava ocupado com outros projetos, mas recomendou o trabalho de Kevin Yagher que, apenas com 24 anos, já havia trabalhado com outros ícones do terror, auxiliando Tom Savini em Sexta-Feira 13, Parte 4: O Capítulo Final, o próprio Baker no videoclipe de “Thriller” e redesenhando a maquiagem de Freddy Krueger no segundo filme de A Hora do Pesadelo. Quando foi chamado para Brinquedo Assassino, Yagher tinha terminado seu trabalho em A Hora do Pesadelo 3: Os Guerreiros dos Sonhos.

Kevin Yagher e parte da equipe no set de filmagem do primeiro Brinquedo Assassino

Foi o primeiro filme em que um animatrônico feito por Yagher tivesse seu protagonismo, e a equipe do especialista em efeitos especiais fez um trabalho primoroso. Foram feitas várias cópias do boneco, cada uma especializada em diferentes ações sob diferentes ângulos. Dependendo da cena, nosso querido Chucky precisava de sete marionetistas ao mesmo tempo para controlá-lo — seu rosto, por exemplo, às vezes precisava de três operadores.

Apesar do excelente trabalho, ainda assim era bastante complicado filmar algumas das cenas, e houveram diversos problemas diferentes no set. Além do boneco, Ed Gale, um ator com nanismo conhecido em Hollywood por esses papéis, também gravou algumas cenas.

As primeiras sequências

Brinquedo Assassino 2, 1990

Não somente a dedicação, mas também a familiaridade de Yagher e sua equipe com os processos para levar Chucky à vida fizeram com que eles retornassem para os próximos filmes. Depois de Brinquedo Assassino, o especialista em efeitos especiais foi trabalhar em Contos da Cripta, onde fez uso de outro animatrônico para o personagem Guardião da Cripta. Yagher utilizou o que aprendeu com Chucky e ainda aprimorou seu trabalho.

Essa outra experiência fez com que, quando fosse chamado para o segundo Brinquedo Assassino, Yagher tivesse ainda mais consciência do que o boneco precisava para ser ainda mais funcional.

Yagher se manteve atrelado ao projeto mesmo tendo feito pouco no terceiro filme. Lançado em 1991, apenas um ano depois de Brinquedo Assassino 2, não havia tempo hábil para que outra empresa assumisse o trabalho. Yagher e sua empresa de efeitos especiais estavam com diversos projetos nas mãos, como Bill & Ted: Dois Loucos no Tempo e Querida, Estiquei o Bebê, o que fez com que o especialista delegasse esse trabalho com Brinquedo Assassino 3 a uma equipe confiável que já havia trabalhado com ele anteriormente.

Em A Noiva de Chucky, lançado em 1998, Yagher tinha mais tempo para trabalhar, levando em consideração que, além de repaginar completamente o boneco que havia feito anteriormente, para deixá-lo mais expressivo, também precisava construir uma companheira para ele — um trabalho digno de Victor Frankenstein.

Uma das mudanças mais significativas, além do rosto mais expressivo para os bonecos matadores, se encontra na pele utilizada por Yagher para eles. Antes, nos três primeiros filmes, o especialista havia utilizado látex, o que fazia com que a pele se rasgasse mais facilmente e o boneco ficasse praticamente inutilizado. Já em A Noiva, a substituição por um tipo de silicone fez com que a pele fosse mais resistente. Levando em consideração o trabalho para a manutenção e manipulação dos bonecos — ainda mais neste quarto filme, em que vemos mais ação do casal de pombinhos —, foi uma troca extremamente útil.

A equipe de Yagher nas gravações de Brinquedo Assassino 3

Exatamente por ser um filme com mais ação e sangue, a produção precisou de uma ajudinha. A equipe da Paul Jones Effects Studio foi contratada para ajudar na maquiagem, e alguns efeitos especiais com CGI também foram feitos — não para adicionar personagens, mas para ajudar o trabalho dos animatrônicos de Yagher e remover ou adicionar alguns objetos em cena.

Antes de dizer tchau à franquia, encerrando seus trabalhos com Chucky nesta quarta empreitada, Yagher fez um último boneco triunfal: o recém-nascido que vemos em o final de A Noiva de Chucky também foi um trabalho seu — e foi vendido posteriormente em seu site por 4500 dólares.

Chucky encontra um novo pai

Tony Gardner, o novo responsável pelo boneco Chucky, ganhou uma pontinha no filme O Filho de Chucky. O especialista em efeitos especiais foi morto em cena em seu primeiro filme da franquia, uma excelente mensagem de boas-vindas.

Até então, Yagher havia sido a mão que controlava a criação e as mudanças em Chucky e nos outros bonecos da franquia, mas uma série de mudanças na produção em O Filho de Chucky fizeram com que ele se afastasse do boneco assassino. Além de ter tido o orçamento reduzido de forma absurda, o que diminuiria ainda mais os recursos para os efeitos visuais, Yagher teria que viajar frequentemente graças às gravações, que foram feitas na Romênia.

Então, o que poderia ser feito era arrumar outra pessoa disposta a assumir o cargo deixado vazio. Um nome acabou sendo pensado por Kirschner: Tony Gardner, outro nome forte dos efeitos especiais, que anteriormente já havia ajudado a equipe na pré-produção de A Noiva de Chucky.

Gardner não era nenhum novato no ramo. Sua carreira nos efeitos especiais começou nos anos 1980, também fazendo parte das equipes de Baker no videoclipe de “Thriller” do Michael Jackson e em O Homem das Estrelas (1984), de John Carpenter, e posteriormente na equipe de Stan Winston em Aliens, O Resgate (1986) — nos três seu nome não foi creditado. Em A Bolha Assassina (1988), de Chuck Russell, assumiu a equipe de efeitos especiais, e daí em diante trabalhou em diversas obras do gênero, como Raça das Trevas (1990), Darkman: Vingança sem Rosto (1990), Sonâmbulos (1992), Uma Noite Alucinante 3 (1992), Abracadabra (1993), O Mestre das Ilusões (1995), Jovens Bruxas (1996), entre outros.

Tony Gardner e uma cabeça de Chucky

Quando assumiu sua nova função a bordo desse trem que já estava em sua quinta parada, Gardner não somente trabalhou com os projetos anteriores de Yagher, mas teve que conciliar todas as opiniões da equipe de como seria Glen/Glenda. O segredo ao redor do boneco também era algo estressante. A produtora queria que Glen/Glenda fosse escondido o máximo possível. 

Mas talvez a parte mais difícil para Gardner e sua equipe tenha sido a gravação de cenas com os três bonecos se movendo juntos, que se fazia necessário uma equipe de quase trinta operadores e marionetistas para funcionar.

Os últimos longas da franquia (até o momento)

Fiona Dourif conversando com quem seria seu parceiro de cena pelos próximos anos

A Maldição de Chucky surgiu de um desejo de Mancini de recomeçar a franquia do zero — algo que, por sorte, não foi levado adiante. Sua intenção era recuperar o caráter sério e ameaçador do boneco depois de A Noiva e O Filho, mas, depois de alguns meses de trabalho, a solução não era recomeçar do zero, e sim dar novas camadas à franquia que já estava consolidada no coração dos fãs.

Mas se o orçamento de O Filho de Chucky era baixo, o de A Maldição do Chucky era pior. Depois de quase dez anos do lançamento de O Filho, a Alterian Inc., empresa de Tony Gardner, retornou para trabalhar em A Maldição, agora com a ajuda de Peter A. Chevako como designer mecânico e marionetista principal. Ainda assim, a equipe conseguiu fazer um bom trabalho, já que os avanços animatrônicos ajudavam na não necessidade de reconstruir tudo do zero, e havia um cenário pronto onde o filme iria se passar, também sem a necessidade de que tudo fosse construído.

Com as melhorias nas edições digitais, também, já não havia uma grande preocupação com cabos, o que possibilitava que bonecos fossem pendurados e manipulados através de hastes. 

Uma das coisas com as quais Gardner teve que trabalhar foi o retorno do rosto “normal” do boneco, já que há muitos anos não víamos Chucky sem nenhuma sutura — mas, levando em consideração que, entre um filme e outro, havia quase dez anos de separação, talvez nem tenha sido tanto tempo assim. 

Outro fato divertido levou a Alterian Inc. a ter que trabalhar com uma cópia de um dos bonecos antigos, originalmente feito por Yagher. Em A Maldição de Chucky, um dos personagens conta que comprou uma câmera em uma loja RadioShack. A RadioShack abraçou a galhofa, e pediu um dos bonecos para fazer o comercial de TV que seria exibido em 2014 no intervalo do Super Bowl. Com o nome de “Os Anos 1980 Ligaram”, outros personagens icônicos do período também apareceriam por ali, incluindo o colega assassino de Chucky, Jason Voorhees. A empresa, entretanto, queria um boneco igual ao do segundo filme — que, ok, não é um filme dos anos 1980, mas tudo bem. Apesar desse contratempo, o resultado ficou bem divertido (mas, no ano seguinte, a RadioShack declarou falência).

Essa experiência com a réplica do Chucky usado em Brinquedo Assassino 2 seria importante para Gardner e sua equipe muito mais cedo do que eles poderiam imaginar.

Por fim, Gardner retornou também em O Culto de Chucky, último filme oficial da franquia antes da série do canal Syfy. O que, claro, foi uma sorte, porque se tivessem perdido novamente uma empresa para trabalhar com Chucky, os custos talvez fossem altos demais para refazer o boneco, e talvez isso impossibilitasse o filme. Os cortes orçamentários, entretanto, fizeram com que Gardner só pudesse levar dois membros de sua equipe com ele para as gravações que ocorreram em Winnipeg, no Canadá, e os escolhidos foram Lilo Tauvao e Peter A. Chevako, que já haviam trabalhado em outros filmes da franquia com Gardner.

Imagem francesa de divulgação, com Chucky sendo uma estrela e sendo maquiado para partir para o ataque

Novamente, o trabalho da equipe de Gardner era principalmente o de ampliar técnicas que haviam funcionado de forma satisfatória no filme anterior, e aprimorar o que não havia. O uso de efeitos digitais também continuou sendo importante, novamente sendo utilizado para apagar os marionetistas do set — que agora não precisavam ficar em alçapões escuros, e sim somente em seus collants verdes, no meio dos outros atores.

Foi decidido que o Chucky de Boneco Assassino 2 seria replicado, também, em O Culto de Chucky. Isso poderia ter sido um problemão, já que todos os bonecos ficaram com Yagher depois que ele saiu da franquia, mas o dia foi salvo graças designer de adereços e colecionador de Chucky Garrett Zima, que possui um dos únicos bonecos que sobreviveu aos anos 1990 e 2000.

Após O Culto de Chucky

Tony e Kyra Gardner em imagem do documentário Living with Chucky

A franquia do nosso boneco assassino favorito foi revivida graças à série do Syfy Chucky. No começo, a Alterian Inc. fez parte da produção, mas atualmente o supervisor de efeitos especiais da terceira temporada é Jeff Skochko.

Tony Gardner, entretanto, segue creditado ao longo de Chucky como produtor associado. E provando que Chucky é um negócio de família, sua filha, Kyra Gardner, dirigiu o documentário Living with Chucky, que conta um pouco da trajetória dessa franquia que completou 35 anos em 2023. 

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Todas essas curiosidades e muitas outras você pode encontrar em Chucky: O Legado do Brinquedo Assassino, de Dustin McNeill e Travis Mullins. O livro reúne mais de 600 páginas com entrevistas, histórias de bastidores, fofocas e informações especiais, feito de fã para fã.

E você, qual o seu visual favorito do Chucky? Qual o seu favorito? Comente com a Macabra no Twitter e Instagram.

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.