A misteriosa vida e morte da figurinista Vera West

Responsável por grande parte dos figurinos dos Monstros da Universal, Vera West foi uma das mais prolíficas estilistas do período.

Bandagens, apetrechos exóticos, roupas de gala com um requinte impressionante e até mesmo peças de roupas delicadamente destruídas: algo entre o visivelmente planejado e o desconcertante desordeiro. Na era clássica dos filmes da Universal, um nome se destacava diante de todos os outros quando a questão era o design de figurinos. A grande chefe do departamento era Vera West, uma mulher que teve a vida — e a morte — envoltos em mistério.

Acredita-se, de acordo com as pesquisas do Censo 1910, que West nasceu em 28 de junho de 1898, e que seu local de nascimento era na Filadélfia. A jovem West frequentou o  Philadelphia School of Design for Women, uma grande e famosa escola de artes para mulheres, ficando conhecida como a maior do ramo no país. Dentre suas estudantes mais famosas estavam Elenore Abbott, Mary-Russell Ferrell Colton, Charlotte Harding, Lillian Genth, entre outras.

Depois de se graduar, West começou a trabalhar como estilista. Aqui, as fontes se contradizem: algumas afirmam que West trabalhou em um salão na Quinta Avenida, em Nova York; outras, que ela permaneceu trabalhando na Filadélfia. Nos anos 1920, entretanto, as fontes voltam a dizer o mesmo: West se viu obrigada a deixar o lugar em que morava por questões pessoais que não foram descobertas até então. No período, West era casada com Stephen D. Kille. Não se sabe se West assinou o divórcio com Kille antes de se mudar, mas sabe-se que, pouco tempo depois, Vera casou-se com Jacques C. West. Kille faleceu em 1931.

O Homem que Ri (1926)

Indo para Hollywood, acabou encontrando trabalho na Universal Studios. Seu primeiro grande trabalho como designer de figurinos foi para o filme O Homem que Ri (1928), adaptação do livro de Victor Hugo, dirigido por Paul Leni e protagonizado por Conrad Veidt, uma das grandes estrelas do cinema mudo.

Mas a história de West com a Universal não parou por aí. Na verdade, a relação de ambas foi muito duradoura. Ao todo, em sua carreira, West teve quase 400 créditos em figurinos e design em filmes do estúdio, alguns deles não creditados, mas com seu trabalho nos bastidores.

Glamour monstruoso

A Noiva de Frankenstein (1935)

Dentre suas maiores realizações estão os figurinos, em sua maioria os vestidos, em diversos filmes dos Monstros Clássicos da Universal, como Drácula (1931), A Múmia (1932), A Noiva de Frankenstein (1935) — sendo a responsável pelo figurino da própria Noiva —, O Lobisomem (1941), e algumas de suas continuações, O Filho de Frankenstein (1939) A Volta do Homem Invisível (1940), A Mulher Invisível (1940) A Alma de Frankenstein (1942), Frankenstein Encontra o Lobisomem (1943), O Fantasma da Ópera (1943), O Filho de Drácula (1943), A Sombra da Múmia (1944), A Mansão de Frankenstein  (1944), O Retiro de Drácula (1945). Ainda no terror, além do já mencionado O Homem que Ri, West também trabalhou em A Casa Mal Assombrada (1939), A Casa das Sete Torres (1940), Sexta-Feira 13 (1940), O Gato Negro (1941).

O Retiro de Drácula (1945)
O Filho de Drácula (1943)

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Também foi responsável pelos figurinos de cinco dos filmes de Sherlock Holmes do período: Sherlock Holmes e a Voz do Terror (1942), Sherlock Holmes e a Arma Secreta (1942), Sherlock Holmes em Washington (1943), Sherlock Holmes Enfrenta a Morte (1943) e Sherlock Holmes e a Mulher Aranha (1943).

Mas, ainda sim, talvez a criação mais famosa de Vera West, além dos trajes em A Noiva de Frankenstein usados por Elsa Lanchester, seja o figurino usado por Ava Gardner em Assassinos, de 1946.

Ava Gardner em Assassinos (1946)

No livro Creating the Illusion: A Fashionable History of Hollywood Costume Designers, os autores por Jay Jorgensen e Donald L Scoggins demonstram que, durante a crise da década de 1930 da Universal, West também leva créditos por ajudar a salvar o estúdio da falência ao fazer os vestidos de uma das jovens em ascensão contratadas naquele momento. Em 1939, a revista Photoplay afirmou que, desde o momento em que Deanna Durbin chegou à Universal para fazer Três Pequenas do Barulho até 3 Meninas Endiabradas, tudo que Durbin vestia era criado por Vera West.

Duas páginas da revista Mirror Magazine, recuperadas pelo site V is for Vintage, sobre Deanna Durbin e seu vestuário assinado por Vera West

Marlene Dietrich e Mae West também vestiram famosas composições da estilista em cena, nos filmes Atire a Primeira Pedra (1939) e Minha Dengosa (1940), respectivamente, entre outras produções do estúdio.

Atire a Primeira Pedra (1939)
Figurino de Marlene Dietrich em Atire a Primeira Pedra (1939)
Minha Dengosa (1940)

West: vítima de chantagem ou alucinação?

Vera West deixou a Universal entre o final de 1946 e 1947 (com fontes divergentes em relação às datas exatas). Não se sabe muito bem por que West deixou o estúdio, mas acredita-se que ela queria trilhar outros caminhos, além de não estar muito feliz com o novo diretor, que assumiu em 1946, William Goetz. Após sair dos estúdios, West trabalhou em uma coleção de primavera para o Beverly Wilshire Hotel.

No dia 29 de junho de 1947, um domingo, o fotógrafo Robert T. Landry retornou para casa de manhãzinha. Ele alugava um quarto na casa em que West morava com seu marido, Jacques. Landry era um famoso fotógrafo da indústria cinematográfica, sendo ele o responsável pela famosa foto pin-up de Rita Hayworth.

Rita Hayworth por Bob Landry

Ao chegar em casa, Landry percebeu que os dois cãezinhos do casal estavam ao lado da piscina ganindo e, ao se aproximar, encontrou o corpo da estilista já sem vida. Ao chamar as autoridades, uma investigação foi feita. Jacques, afirmava estar longe da casa pois havia discutido com a esposa na noite anterior e resolveu ir para Santa Barbara até os ânimos se acalmarem. O casamento não andava bem há alguns anos, mas Jacques afirmou que era completamente normal terem essas discussões.

A polícia encontrou um frasco de pílulas para dormir vazio, mas tanto Vera quanto Jacques usavam os comprimidos. Entretanto, eles encontraram também dois bilhetes de suicídio bastante estranhos, que faziam alusão a uma chantagem que Vera afirmava estar sofrendo há anos. Os bilhetes diziam: “Este é o único jeito. Estou cansada de ser chantageada” e “A cartomante me disse que existe somente uma forma de evitar o chantagista que venho pagando há 23 anos. Morte”. 

De acordo com o livro de Jay Jorgensen e Donald L Scoggins, Jacques afirmou para os investigadores que Vera sofria de alucinações e mania de perseguição, e que conhecia muito bem as finanças da estilista e saberia se ela estivesse sendo chantageada. Para ele, tudo não passava de coisa da cabeça da esposa. 

Todos os amigos de Vera ficaram chocados ao descobrir sua morte, que foi noticiada como um suicídio. A atriz Ella Raines, atriz dos filmes noir A Dama Fantasma (1944) e Dúvida (1944), afirmou na ocasião que havia se encontrado há pouco tempo com Vera em Nova York, que parecia estar bastante feliz e não ter problema algum. A também figurinista Yvonne Wood, chegou a dividir com amigos uma série de teorias sobre a situação, inclusive de que Vera havia sido assassinada e que tentaram mascarar o fato como suicídio. Mas a própria Wood afirmou que Vera era uma mulher muito gentil e amável, e que não tinha inimigos conhecidos.

Entretanto, é bastante estranho que esses 23 anos anunciados na carta de Vera West coincidam com o tempo em que ela se mudou de Nova York para Hollywood, e que ninguém saiba exatamente como e por quê essa mudança aconteceu. Se houve chantagem e assassinato, ou apenas uma mania de perseguição extremamente forte, nunca saberemos. Jacques West desapareceu após a demolição da casa em que morou com a esposa.

*

A ocasião da morte de Vera West é cheia de mistérios, e também pouco sabemos sobre o começo de sua vida, mas de uma coisa temos certeza: West foi um dos grandes nomes da indústria do cinema, responsável por construir a imagem que temos hoje de alguns dos monstros mais icônicos da ficção. Hoje, infelizmente, ela é pouco lembrada. Fotos suas são difíceis de encontrar, e temos poucas referências de seu nome e seus trabalhos, mas seu legado será eterno. Através de toda a beleza fascinante que criou, West merece ser lembrada.

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.