A trajetória monstruosa de Tom Savini

Tom Savini é um dos grandes magos dos efeitos especiais. Com mais de 400 fotos e grandes relatos, Tom Savini: Vida Monstruosa revela os segredos do mestre. Confira algumas curiosidades que podem ser encontradas neste lançamento arrepiante.

O terror tem uma cara. Ou melhor, um cara responsável pelas suas mais icônicas caras monstruosas, zumbis assustadores e dilacerações que espantam pelo realismo, ao mesmo tempo que entretêm pelo absurdo do gore: Tom Savini.

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O mago dos efeitos especiais e da maquiagem de terror agora faz parte da Fazenda Macabra com Tom Savini: Vida Monstruosa, uma biografia em imagens com direito aos trabalhos mais marcantes, bastidores e uma verdadeira celebração da carreira do artista.

Mas o que nem todo mundo sabe é que Savini consegue representar tão bem o terror em seu trabalho por já ter se deparado com ele pessoalmente. Quando serviu o exército americano durante a Guerra no Vietnã como fotógrafo de campo ele ficou frente a frente com os terrores produzidos pela própria humanidade. “Eu acho que o Vietnã foi uma verdadeira lição de anatomia”, declara o artista.

Foi durante o conflito que ele aprendeu em detalhes sobre como o sangue escurece na morte ou como o corpo humano perde o controle muscular neste processo. “É por isso que o meu trabalho parece tão visceral e autêntico.” Faz todo o sentido.

Em 1974, de volta a Pittsburgh, ele conseguiu um emprego no departamento de maquiagem no filme Sonho de Morte, que também fala sobre um soldado que retornou profundamente perturbado do Vietnã — exatamente como Savini. A partir de então ele engatou um trabalho no outro e nos anos 1980 se tornou pioneiro em efeitos especiais no terror, com direito a colaborações recorrentes com ninguém menos do que George A. Romero.

O jeito Savini de fazer as coisas

Apesar do trabalho do artista parecer brutal e sanguinolento, há um fundo quase cômico em suas criações, mais ou menos como um bicho-papão saído de uma história em quadrinhos. Um dos exemplos que melhor explica o que estou tentando dizer está em Creepshow, quando um caipira (interpretado pelo próprio Stephen King) tem sua pele gradativamente transformada em ervas daninhas — uma construção bizarra que consegue ser divertida ao mesmo tempo em que causa calafrios.

Este senso de humor (se é que podemos chamar disso) data desde os primeiros experimentos de Tom Savini com sangue falso para se distrair diante da rigidez da escola católica que frequentava. Sim, os truques do artista já começaram quando ele era um garoto. 

O próprio Savini compara o seu trabalho com o de um mágico ilusionista: “Você está iludindo as pessoas para que elas acreditem naquela ilusão. Acho que eu e o Romero queríamos ser mágicos do assassinato. Quando você vê nossos nomes nos letreiros do cinema, já sabe que irá assistir a um show de mágica que irá te fazer rir, mas que também pode lhe dar pesadelos”.

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Mas falar do trabalho de Tom Savini fica muito mais legal quando entramos em detalhes. Por isso, separamos alguns segredos de produção dos longas nos quais ele emprestou seu talento e sanguinolência:

Despertar dos Mortos (1978)

Em uma de suas colaborações com George A. Romero, Tom Savini teve a responsabilidade de cuidar das maquiagens e efeitos especiais da sequência do clássico A Noite dos Mortos-Vivos. Para honrar o original que era em preto e branco, ele deixou os zumbis acinzentados. Mais tarde ele admitiu que isso foi um erro, pois na tela os monstros ficaram azulados.

Outro arrependimento do artista foi o tipo de sangue artificial utilizado no filme, ao qual ele se refere como “horrível”. Em sua defesa, Savini afirmou que “ele parecia bom na garrafa, mas fotografava como giz de cera derretido e tinha uma terrível cor rosada”. Mais tarde ele aprendeu a aperfeiçoar o sangue de seus filmes com Dick Smith, responsável pelos efeitos especiais de O Exorcista. A fórmula do sucesso envolve xarope de milho misturado com corantes culinários vermelhos e amarelos.

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Apesar destes equívocos no filme, o mago dos efeitos de terror contava com a total confiança de George A. Romero. Segundo Savini, mais da metade de suas ideias recebiam carta branca do diretor sem questionamentos. O improviso tornava tudo mais divertido para ambos. Mais tarde, Romero confiou a Savini a direção do remake de A Noite dos Mortos-Vivos.

Dia dos Mortos (1985)

O primeiro desafio em Dia dos Mortos, terceira parte da trilogia de Romero, foi domar a própria ambição do diretor. Conforme o próprio Savini descreve, o roteiro original de George A. Romero “era tão grosso quanto uma lista telefônica e parecia um Os Caçadores da Arca Perdida com zumbis”.

Tom Savini se lembra de ir a diversas reuniões em que era discutida a necessidade de estruturas gigantes de acrílico para proteger o elenco das explosões gigantescas do roteiro. Com o novo script em mãos, foi possível filmar o longa — que ainda é uma produção ambiciosa.

O filme foca em um grupo de cientistas e sobreviventes militares que estão confinados em um abrigo subterrâneo quando o apocalipse zumbi rola solto lá fora. Mesmo com toda a discussão em torno da claustrofobia tóxica do isolamento, são os efeitos especiais que chamam a atenção.

Por saber que cada pessoa tem seu corpo decomposto de maneira diferente dependendo da forma com que morreu, Tom Savini tentou fazer cada zumbi do filme como se estivesse em um diferente estágio de decomposição. Romero embarcou na ambição e nos improvisos do amigo. “Foi minha obra-prima”, afirma Savini.

Instinto Fatal (1988)

Esta não foi a primeira vez que Tom Savini precisou lidar com uma criatura animatrônica, mas desta vez precisava convencer o público de que se tratava de um macaco de verdade. “Filmamos um teste meu e do macaco robô como se eu estivesse conversando com ele. Daí o produtor veio, viu no monitor e disse: ‘Oh, você finalmente conseguiu fazer com que estes macacos fizessem algo!’. Ele não sabia diferenciar, achava que era um macaco de verdade”, relembra o cineasta.

O robô símio salvou George Romero neste filme, pois os macacos reais, apesar de inteligentes, não faziam nada quando as câmeras estavam gravando. Savini ainda garante que nenhum animal foi ferido nas filmagens: “Quando o personagem de Jason Beghe morde o macaco e o joga de um lado para o outro é um macaco de borracha”.

Quando os macacos estão acendendo palitos de fósforo ou empunhando navalhas também se trata de macacos de borracha construídos para o filme. “Os macacos de verdade ficavam sentados lá e você podia agitá-los; os treinadores podiam agitá-los e fazê-los baterem na mesa. Mas os macacos falsos estavam atrás da mesa fazendo isso enquanto Beghe estava em cena.”

Trauma (1993)

Além de George Romero, outro mestre do terror com quem Savini colaborou foi Dario Argento. Em 1993 eles trabalharam no filme Trauma, sobre um assassino que decapitava suas vítimas. O mago dos efeitos visuais disse que a principal lição aprendida nesta produção foi a de improvisar quando as coisas não ocorrem conforme o planejado. “Piper Laurie era claustrofóbica, então não podíamos fazer um molde de sua cabeça. Eu acabei colocando-a numa banqueta por debaixo do chão do cenário e a girei de uma maneira que parecia que a sua cabeça estava rolando pelos seus ombros.”

Daquele dia em diante, Argento passou a se referir a Tom Savini como um “vulcão da mente”. Savini considera o cineasta um dos maiores estilistas visuais com quem já trabalhou. Fãs do terror familiarizados com o trabalho de Dario Argento não veem motivo para discordar.

O Maníaco (1980)

Tom Savini admite que alguns de seus próprios efeitos especiais podem ter ido longe demais, particularmente no filme O Maníaco. Na trama, um homem sádico e solitário mata mulheres e toma seu cabelo como troféu. O próprio Savini aparece no filme como uma vítima, tendo sua cabeça estourada por uma espingarda — que na verdade era uma prótese recheada com camisinhas repletas de sangue cenográfico.

Apesar da violência bem explícita do filme, o artista explica que a ideia original era retratar assassinatos mais sexuais e com violência ainda mais explícita, mas que ele acabou não concordando: “O que você vê no filme na verdade é bem menos do que o que tinha sido planejado”.

Savini reconhece que O Maníaco era um filme B e com uma história muito ruim, apesar de ter gostado de trabalhar com boa parte da equipe. Na verdade, o principal motivo para ele ter topado participar da produção do longa era a oportunidade de poder estar em Nova York por alguns meses, já que nem o salário foi muito bom.

Outros segredos de produção e cenas de bastidores estão em Tom Savini: Vida Monstruosa, lançamento da Macabra Filmes e da DarkSide® Books.

 

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Renunciei à vida mundana para me dedicar às artes da trevas. No meu cálice nunca falta vinho ungido e protejo minha casa com gatos que afastam os espíritos traiçoeiros. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.