As artes de Clive Barker

Autor de Hellraiser e Livros de Sangue, Clive Barker é mundialmente conhecido por sua escrita arrebatadora e os filmes de tirar o fôlego — mas o mestre também domina outras artes.

Conhecemos Clive Barker principalmente por sua escrita poderosa e visceral. Capaz de arrancar os maiores pesadelos da mente humana, Barker tece uma teia potente de horrores em seus trabalhos. O artista também foi responsável por trazer alguns de seus livros ao cinema, como em Hellraiser: Renascido do Inferno e Raça das Trevas.

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Porém, em Mundos Sombrios de Clive Barker, de Phil e Sarah Stokes, biografia que chega ao Brasil com o cuidado característico da Macabra em parceria com a DarkSide Books, nós conhecemos outras várias facetas do artista. Além de nos aprofundarmos em seus trabalhos escritos que, desde os anos 1980, tem arrebatado o grande público e arrancado suspiros de autores do gênero, também conhecemos uma série de interesses e artes que Barker presenteou ao mundo ao longo de sua carreira.

A Macabra listou quatro campos artísticos que Clive Barker domina e você talvez não sabia para dar um gostinho do que os leitores podem esperar com Mundos Sombrios de Clive Barker, livro essencial para os fãs do artista. 

Teatro

Antes de se aventurar pelo universo do terror em seus livros e filmes, Clive Barker se aventurou nos palcos universitários de Liverpool e de Londres — e, posteriormente, de outras localidades no Reino Unido também. Quando realizou seu secundário no Liceu Quarry Bank, Clive encontrou um público e uma trupe para encenar peças. Mais adiante, ele próprio começou a escrever alguns roteiros para seu grupo.

Pôster de uma das peças escritas por Clive Barker para a companhia The Dog Company.

Quando saiu da escola, Clive contava com alguns amigos com quem dividia os palcos — entre eles estava Doug Bradley, que seria nosso Pinhead durante mais de duas décadas de sua carreira, e Peter Atkins, que esteve com Clive em alguns roteiros de Hellraiser no cinema. 

Clive e seus amigos estrelaram muitas peças entre os anos de 1970 e começo dos anos 1980, a maioria delas escrita pelo próprio Barker. A companhia se chamava Dog Company, e alguns de seus maiores sucessos foram The History of the Devil, Frankenstein in Love e The Secret Life of Cartoons.

Clive tinha abandonado os palcos por volta de 1980, focando seus esforços na escrita dos roteiros e direção das peças. Nessa época, a companhia já estava alçando novos ares, preparando apresentações internacionais, e Clive começava a abrir mão da direção e escrita para outros diretores. Depois, entre 1981 e 1982, Barker se afastou da companhia de vez para se concentrar principalmente na escrita de contos, que seriam publicados pela editora Sphere Books em seu primeiro contrato editorial.

Pôster de Frankenstein in Love, peça escrita por Barker.

Artes Plásticas

As artes plásticas estão presentes na vida de Barker desde a infância, quando desenhava seus sonhos e ideias. Durante a faculdade, enquanto ainda mantinha seu grupo de teatro, Barker fazia experimentações fotográficas com amigos que, mais tarde, também seriam usadas em outros de seus projetos. Um desses, por exemplo, foi uma experimentação com uma placa de madeira e pregos que, posteriormente, o ajudou a criar o visual de Pinhead.

Alguns dos sketches de Clive Barker, retirados de seu site oficial, que podem ser encontradas nas edições de Livros de Sangue lançadas pela Macabra em parceria com a DarkSide.

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Barker também sempre aliou suas ideias para escrita à sua arte. Não é incomum encontrarmos esboços de desenhos para suas histórias, sejam eles simples ou complexos. Como os Stokes afirmam na biografia de Clive, “Desenhar se tornou a linguagem natural para sua imaginação fervilhante, e uma forma de pôr para fora avalanches de pensamentos que em palavras seria bem mais trabalhoso libertar”. 

Para mim, tudo gira em torno da história, das emoções metafísicas e viscerais despertadas pela narrativa, não o estilo. — Clive Barker

Mas, para além dos esboços com tinta e lápis e o que quer que tenha à mão, e suas produções artísticas em outras áreas, a pintura à óleo é uma das artes mais prolíficas de Barker, lhe rendendo algumas exposições ao longo da vida, como The Imagination of Clive Barker, que foi apresentada no Museu de Arte de Laguna. Pinturas gigantescas, de mais de dois metros de altura, eram comuns no ateliê do artista, e algumas delas foram responsáveis pela criação de Abarat, um dos muitos universos literários criados por Barker.

Clive Barker no evento Rue Morgue Festival of Fear, em agosto de 2005. Fotos retiradas de seu site oficial.

Poesia

Conhecemos muito da prosa de Barker, mas o artista multitalentoso também tem seus escritos na poesia. Em alguns casos, inclusive, tanto a prosa quanto a poesia acabam sendo intercambiáveis, como no caso em um de seus primeiros trabalhos publicados, A Trama da Maldade, onde o autor utiliza muito de recursos poéticos para construir um universo mágico e poderoso. Mas foi ainda na infância, talvez antes mesmo da escrita de prosa, que a paixão pela poesia se desenvolveu no coração de Barker.

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Na escola, Barker aprendia alguns poemas e os declamava — e declama, ainda hoje — com facilidade. Na adolescência encontrou na poesia uma forma de dar voz aos seus sentimentos mais profundos. Foi um dos professores do autor, Norman Russell, que percebeu seu talento para as obras rimadas, mostrando a ele como esse ritmo aparecia normalmente em seus trabalhos de redação. Hoje, o autor escreve poemas mais para sua satisfação pessoal do que para publicação.

Apesar de também escrever a poesia propriamente dita, em versos, é inegável que todos os trabalhos de Barker, incluindo a prosa, envolvem algo ritmado e poético. Como comentam os autores de Os Mundos Sombrios de Clive Barker, “Um fator crucial para tal é a tendência de reler os esboços em voz alta na reescrita, desenvolvendo a sonoridade e a cadência que encantam os leitores de sua prosa”. É essa cadência e esse extremo controle da língua que faz com que a escrita de Clive Barker seja tão semelhante à poesia. 

Videogames

Apesar de alguns jogos terem sido feitos a partir da obra de Barker, como os jogos da Ocean Software no universo de Raça das Trevas, Barker também foi responsável por alguns roteiros de videogames. 

No início dos anos 2000, o artista foi chamado para colaborar com o jogo que acabou intitulado Clive Barker’s Undying. Convidado pela DreamWorks a dar um toque mais macabro no jogo que já estava em andamento, que havia sido baseado em um projeto antigo de Steven Spielberg. Quando chegou ao projeto, a atenção de Barker se voltou ao personagem principal. 

Vejam só. Um homem gay está no comando da história agora. Tragam alguém que eu queira levar para a cama. Tragam alguém fabulosamente sexy. — Clive Barker

Com a Alchemic Productions e a MercurySteam, a Codemasters lançou, em 2007, o jogo Clive Barker’s Jericho. Além de criar a história para o jogo, Barker ajudou na criação de todo o design e se lembra com alegria do processo de participar de uma equipe. Acostumado a trabalhar sozinho em suas obras, Barker achou fascinante todo o trabalho envolvendo uma criação com um time enorme para que o jogo saísse do papel.

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Mundos Sombrios de Clive Barker, biografia mais que especial do grande mestre Clive Barker escrita por Sarah e Philip Stokes, está disponível em pré-venda no Site Oficial da DarkSide Books.

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.