Esqueça absolutamente tudo que você sabe sobre o Drácula, Frankenstein, lobisomens e até mesmo sobre a Igreja Católica. Esqueceu? Ok. Então agora se lembre de Van Helsing – O Caçador de Monstros.
Em 2004, chegava aos cinemas um filme que prometia redefinir as histórias dos Monstros Clássicos. Dirigido por Stephen Sommers e protagonizado por Hugh Jackman e Kate Beckinsale, Van Helsing – O Caçador de Monstros misturava ação e aventura, acrescentava alguns elementos de terror e das lendas que conhecemos tão bem, e criou um universo completamente novo.
No filme, Gabriel Van Helsing (Jackman) — não Abraham, Gabriel — viaja até a Transilvânia, com seu fiel escudeiro Carl (David Wenham), para ajudar Anna (Beckinsale) a livrar sua família e sua cidade da terrível influência de um ser poderoso e assustador: Drácula (Richard Roxburgh).
O filme infelizmente não foi tão bem quanto Sommers e alguns fãs gostariam, mas a nostalgia fez bem a ele e nos ajuda a lembrar de um tempo mais simples. Contando com uma nova popularidade, Van Helsing cada vez mais tem conquistado admiradores.
A Macabra reuniu algumas curiosidades dessa produção, desde sua concepção até finalmente chegar aos cinemas, para contar ao leitor. Pegue suas tochas e venha com a gente.
Uma longa tradição de (refazer) monstros
Os Monstros Clássicos da Universal são uma das coisas mais tradicionais na história do cinema de terror. É difícil encontrar um fã que não tenha se encantado, ao menos uma vez, pelos filmes das décadas de 1930, 1940 e 1950 do estúdio que, até então, era o maioral quando se tratava de filmes de terror. Drácula, Frankenstein, A Noiva do Frankenstein, O Homem Invisível, A Múmia, O Monstro da Lagoa Negra… esses filmes renderam milhões de dólares e, ainda hoje, conseguem fascinar suas audiências.
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Na verdade, são tão lucrativos, que já estiveram em diversos planos de ampliação e remakes dos estúdios — sendo, inclusive, trazidos de volta por estúdios e produtoras concorrentes ao longo dos anos, mas dificilmente sendo tão glamourosos e queridos quanto os originais.
Ao longo dos anos 1980 e 1990 — e, mais tarde, 2000 e 2010, com a intenção de criar um “Dark Universe” — não faltaram diretores que criaram projetos para refilmar e recriar esses filmes. O Monstro da Lagoa Negra bateu o recorde de tentativas de remake e, no início dos anos 1990, passou pelas mãos de John Landis, John Carpenter, Peter Jackson, Ivan Reitman e Del Toro. Os outros filmes, porém, não foram esquecidos, e vários boatos se espalharam sobre possibilidades de refilmagem. Até que, ao final da década, um projeto chamou a atenção: A Múmia, de 1999.
A Múmia que mudou o jogo
Dirigido por Stephen Sommers, A Múmia utiliza alguns elementos-chave do filme de 1932, como nomes e ambientação, mas transferia a linguagem e o visual para algo mais moderno, mais elétrico, com mais ação. Ao invés de termos um filme de terror como o do Karloff na década de 1930, acabamos recebendo um filme de ação com algumas características do cinema de horror.
Mas funcionou. Sommers acabou ganhando a confiança do estúdio para prosseguir com a franquia A Múmia, que rendeu outros dois filmes e ainda um spin off intitulado O Escorpião Rei, com um Dwayne “The Rock” Johnson no início de sua carreira como ator — The Rock voltaria ao universo da Universal no (cancelado) remake de O Lobisomem para o famoso (e malfadado) “Dark Universe”.
Depois do sucesso de A Múmia, Sommers ganhou uma espécie de carta branca para trabalhar com os filmes dos Monstros Clássicos. E resolveu utilizar essa carta para fazer Van Helsing.
Alguns mal-entendidos
Em 1992, um filme causou um certo rebuliço na indústria cinematográfica. Com cenários e figurinos impactantes, Drácula de Bram Stoker, dirigido por Coppola, deu uma nova vida aos filmes de vampiros — e, de certa forma, uma nova estética, mais elegante, que seria utilizada, também, por Neil Jordan em Entrevista com o Vampiro.
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Drácula de Bram Stoker de 1992 foi um fenômeno. E, de certa forma, trouxe também expectativas para os nossos Monstros Clássicos. Será que finalmente fariam algum remake? Depois dos filmes da Hammer, os Monstros acabaram sendo utilizados, na maioria das vezes, em paródias, como Deu a Louca nos Monstros. Conde Drácula e companhia ainda não tinha encontrado nova vida, até o sopro de esperança de Coppola.
De início, os boatos sugeriam que Van Helsing seria um filme spin off de Drácula de Bram Stoker. Algumas notícias surgiram e informaram por aí que Anthony Hopkins retornaria para o papel de Van Helsing, e que a história seguiria com ele. Imaginem o susto quando o primeiro trailer saiu!
Sequência? Não! Uma franquia
Com o sucesso de A Múmia e com a carta branca para trabalhar com outros Monstros da casa, Sommers não se fez de rogado e começou a sonhar alto. A intenção dele não era apenas que Van Helsing tivesse uma sequência… mas que se tornasse uma franquia!
Devemos dizer que isso não era apenas um passo maior que a perna para Sommers. De fato, as pessoas ansiavam por um retorno desses personagens e, claro, vários cineastas sempre quiseram que seus filmes tivessem muitas sequências. Mas Sommers não contava que Van Helsing não agradaria tanto o público quanto A Múmia.
Para começar, uma das coisas que fez com que A Múmia fosse tão bem recebida pelo público, era o casal protagonista. Brendan Fraser não somente estava em um momento de sucesso, como sua química com Rachel Weisz e a dinâmica dos dois enquanto tentam deter uma múmia antiga fez com que o filme valesse a pena por si só, por mais diferente que ele fosse do clássico de Karloff. Era como se fosse um novo filme, com personagens novos e uma nova história, não tendo tanto apego assim ao clássico, e podendo conquistar tanto os fãs antigos — com algumas referências pontuais — como novos fãs.
Van Helsing, entretanto, não teve tanta sorte. Hugh Jackman não cativou tanto o público ou a crítica, talvez pela memória muito recente de Anthony Hopkins como outro Van Helsing, muito diferente; ou talvez pela imagem já quase consolidada de Jackman como Wolverine naquele momento. Além disso, Kate Beckinsale também não gerou tantos comentários positivos quanto vinha gerando pelos fãs em sua franquia de vampiros contra lobisomens Anjos da Noite. O tom, a ambientação e os efeitos especiais também não ajudaram a salvar as esperanças de Sommers em uma possível franquia, e ele viu seu sonho sendo mandado para a tumba.
Mas, mesmo que não tenha conseguido fazer sua franquia, Van Helsing teve uma prequel lançada também em 2004, em animação, que conta a história do personagem perseguido Mr. Hyde pelas ruas londrinas. Com 33 minutos, o filme intitulado Van Helsing, Missão Londres foi lançado apenas uma semana depois de Van Helsing nos cinemas, mas muitos não ficaram sabendo de sua existência.
Outras pequenas referências…
Van Helsing conseguiu unir uma horda de personagens das histórias dos Monstros Clássicos: além do próprio personagem-título — aqui chamado Gabriel, e não Abraham, porque Sommers não achava adequado para o tom do filme um protagonista com esse nome —, o filme também reúne a Criatura de Frankenstein, Drácula e lobisomens (não necessariamente chamados Talbot, mas sabemos a intenção). Mas outras referências foram feitas ao longo da história.
Para começar, Dr. Jekyll e Mr. Hyde tecnicamente não fizeram parte dos filmes dos Monstros da Universal clássicos, daquele período entre 1930 a 1950. Na verdade, os filmes inspirados na obra de Robert Louis Stevenson foram produzidos no período, mas pela MGM e pela Paramount. Mas é indiscutível que o livro de Stevenson também tem um enorme peso para o horror do século XX, então nada mais justo do que incorporá-lo no filme.
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Também, em determinado momento da pré-produção, havia uma cena onde poderíamos ver Gil-Man, a criatura de O Monstro da Lagoa Negra, na caverna subterrânea onde Anna e Van Helsing se encontram com a Criatura de Frankenstein. Infelizmente a cena não foi levada adiante. Talvez, Sommers quisesse utilizar a ideia de Gil-Man em outro momento — já que ele também esteve cotado em alguns momentos para ser o cineasta a dirigir o remake de O Monstro da Lagoa Negra.
Apesar de não querer que seus lobisomens fossem muito próximos das produções contemporâneas, Sommers tenta prestar uma homenagem a um dos maiores filmes dessas criaturas do horror moderno, que é Um Lobisomem Americano em Londres. No começo do filme, há um lobisomem que teve seu design feito de forma parecida com o trabalho de Rick Baker de forma intencional, para a alegria dos fãs que notaram o detalhe.
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