A chegada de Broken Porcelain e a mente por trás da macabra franquia Remothered

Chris Darril, diretor e roteirista do jogo concedeu uma entrevista à Macabra e falou sobre suas influências e as mecânicas de Broken Porcelain.

O terror italiano é muitíssimo conceituado e influente no cinema, mas como acontece nos videogames? O diretor e roteirista Chris Darril há anos atua na indústria e a franquia idealizada por ele, Remothered, é o resultado de todo esse esforço e paixão. Chris, inclusive, já trabalhou ao lado de uma de suas grandes inspirações, Hifumi Kono, o criador de Clock Tower. E pensar que Remothered nasceu como uma remake não oficial dessa mesma obra…

Com a chegada do novo capítulo nessa saga que envolve monastérios em chamas, parasitas de mariposas manipuladores de mentes e, em especial, o amor entre duas jovens, Macabra entrou em contato com o sempre simpático e receptivo artista para um bate-papo sobre seus horrores.

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  • Quando idealizou uma trilogia, você já tinha todos os elementos de cada jogo em mente? Alguma coisa mudou no design de Broken Porcelain para o que estamos jogando agora?

A história da Remothered teve um processo de desenvolvimento diferente. A primeira história que escrevi, no início da minha carreira, foi na verdade a de Broken Porcelain. A partir daí, o primeiro jogo veio naturalmente, então agora ter as duas histórias lançadas é uma ótima sensação. Você poderia dizer que o terceiro também já está escrito, pois o roteiro original completo incluía todas as três histórias juntas, mas era uma história muito grande para ser contada em uma parte. Assim nasceu a trilogia.

  • A franquia Remothered lida com temas muito pesados e delicados, raramente abordados em videogames. Ainda há muito espaço para crescimento da mídia nesse aspecto?

Acho que os videogames mostraram que são capazes de lidar com grandes questões e assuntos. Se os videogames antes eram considerados apenas “entretenimento de baixa qualidade”, hoje em dia eles podem transmitir grandes mensagens sem sacrificar a diversão e o valor do entretenimento. Eles são o meio perfeito para entregar os dois!

  • Gostaria que você comentasse um pouco sobre as diferenças entre jogar como Reed e como Jennifer. Jen é definitivamente uma garota especial em muitos aspectos, certo?

Jennifer é mais rápida do que Reed, em primeiro lugar. Em segundo lugar, ela tem esse grande poder não expresso: o olho da mariposa. É como mudar de ponto de vista: Reed em Tormented Fathers teve que enfrentar a Red Nun e sua habilidade que lhe permitiu controlar as mariposas; neste jogo, jogando principalmente como Jennifer, poderemos controlar as mariposas e enfrentar aqueles que não o podem fazer. Vai ser uma mudança divertida.

  • Senti uma forte influência do trabalho de Thomas Harris em Remothered desde Tormented Fathers, mas agora mais. Quais foram suas principais influências neste novo trabalho?

Principalmente O Iluminado, mas a maioria dos romances de King. Há novamente, é claro, a inspiração de Lynch com aquelas histórias que são mais sujeitas a interpretação pessoal, leitura por trás das linhas, e não apenas um epílogo universal. Com isso, há o mesmo sentimento paranoico descrito por muitas das obras-primas do drama-terror de Polanski.

A franquia Remothered busca evoluir o conceito de protagonista indefeso, tão bem trabalhado em games como Clock Tower. Esta é a forma mais eficaz de traduzir o terror que o personagem passa, para quem o controla?

É apenas uma interpretação disso. O horror pode ser descrito de várias maneiras, já que o “medo” é o sentimento dominante da humanidade e nós, a cada dia, enfrentamos esse sentimento. É necessário para a sobrevivência e nós o convertemos para nos ajudar a ter sucesso ou para entender onde e quando falhamos. Mas, claro, a forma como a saga Clock Tower descreveu o gênero de terror nos videogames é mais compreensível, verossímil e, sem dúvida, o mais próximo de um “simulador de terror”. Isso porquê, para sobreviver, temos que olhar ao redor de nós mesmos e usar o que podemos encontrar: a sobrevivência nunca é premeditada e, portanto, Remothered faz o mesmo.

Desde Tormented Fathers, o que você leu/jogou/ assistiu em horror que surtiu impacto real em você? Ansioso por algo ainda não lançado?

Acabei de assistir A Maldição da Mansão Bly na Netflix e descobri as muitas semelhanças com Remothered: Broken Porcelain — algumas são malucas! Certamente irei assistir a todos os projetos que o Sr. Ari Raster fará, já que seus dois últimos experimentos foram duas grandes joias. Estou curioso sobre o próximo Halloween e a reinicialização de Candyman. Talvez Run? Principalmente porque depois de ter assistido ao inesperado clássico instantâneo Ratched de R. Murphy com a sempre talentosa, bela e enigmática Sarah Paulson, comecei a amá-la cada vez mais. Veremos!

  • Preciso perguntar: há algo pessoal nessa história trágica? Quanto de Remothered é puramente ficção? E qual é a sua relação com as mariposas? Eu simplesmente as amo!

É como me relaciono com meus próprios medos: de ser esquecido e também de esquecer, e as doenças nos mudando, não só por fora, mas também por dentro. Sobre as mariposas, eu estava pesquisando sobre elas com a ideia de usá-las como símbolo dessa série. Da história antiga, “psiché” é como os gregos chamavam as borboletas, e fiquei incrivelmente surpreso ao saber disso. Uma vez em um jardim botânico com toneladas de mariposas e borboletas voando, encontrei todas essas criaturinhas pulando em cima de mim. Eu pensei “uau, elas são legais!”, então o guardião botânico me disse: “na verdade elas deitam nas pessoas porque esperam tirar vestígios de sangue e linfa na pele e suor — elas são obcecadas por isso porque vivem muito pouco”. Fiquei chocado.

O próximo capítulo será realmente a conclusão da Remothered? Porque me parece que ainda há muito a ser explorado, a ser aprofundado. Ou você já tem planos para novas obras? Espero que você continue nos aterrorizando!

Sinceramente, todos deveriam saber quando desistir e na minha humilde opinião, apesar de ser o criador, Remothered não aguenta mais do que uma trilogia: algumas histórias nascem com a intenção de contar ESSA história e, assim, continuar a dar voltas para, depois, perder o compasso sem saber para onde ir apenas banaliza seus propósitos. Mas, bem, vamos ver o que o futuro nos dirá.

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Apesar de não saber interagir com jovens, dedica quantidades insalubres de seu tempo ao entretenimento eletrônico, tal qual Fantasma na Máquina, e sua faceta macabra, a preferida, se faz razão para continuar. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.