Desde o sucesso de Until Dawn, o estúdio britânico Supermassive Games tem se dedicado quase que integralmente ao terror. Ano passado tivemos a oportunidade (ou infortúnio, me diga você) de embarcar num navio mal assombrado com Man of Medan, o primeiro capítulo da The Dark Pictures Anthology, dessa vez o tema do jogo é bruxaria, cruzando três linhas temporais distintas, porém interligadas.
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A Macabra segue intrigada pelo formato focado em narrativa, tomadas de decisão e gráficos ultrarrealistas. Tanto que resolveu entrar em contato com o pessoal da Supermassive para entender melhor como funcionam tais engrenagens macabras. E quem nos trouxe algumas respostas foi o Produtor Executivo Dan McDonald.
- Depois de assassinos em série e assombrações em alto-mar, é hora das bruxas. Como foi transitar entre subgêneros tão diversos de terror em tão pouco tempo?
Todos os jogos na The Dark Pictures Anthology têm uma história, cenário e elenco diferentes. Uma das razões pelas quais queríamos fazer uma série de antologia é que temos muitas histórias que queremos contar. Quando começamos a criar a The Dark Pictures Anthology, criamos quase 39 subgêneros diferentes de terror quando nos sentamos e discutimos sobre isso. Essa é a grande vantagem de fazer uma antologia — nada está fora dos limites. Man of Medan era um navio fantasma e sobrenatural, com elementos de invasão domiciliar. Little Hope tem outros, diferentes novamente. Gostamos de misturar os subgêneros do terror.
- Little Hope é inspirado na cidade real de Andover, vizinha de Salem. Por que escolher esta cidade como cenário e não a mais popular e difundida quando se trata de caça às bruxas?
Todos os jogos em The Dark Pictures Anthology têm alguma base de fato, ficção ou lenda dentro do mundo real. Little Hope usa elementos dos julgamentos das Bruxas de Andover de 1692. Uma das principais razões pelas quais escolhemos Andover, no lugar da mais conhecida Salem, é que os julgamentos de Andover, na verdade, resultaram em mais acusações, confissões e execuções do que qualquer outra cidade em New Hampshire, incluindo Salem.
- Anteriormente, Cenobitas foram citados como inspiração para as monstruosidades de Little Hope. Você poderia falar um pouco mais sobre isso? E o que você acha dessa redescoberta do trabalho de Clive Barker recentemente, com produções como Books of Blood, um novo Candyman ou uma série inspirada em Hellraiser?
Os Cenobitas de Barker foram retratados de diferentes maneiras em sua ficção e em interpretações em filmes, histórias em quadrinhos etc. Quando projetamos os demônios de Little Hope, recorremos a várias inspirações visuais, e os Cenobitas de Barker foram um forte ponto de referência para as deformidades que alguém prontamente associaria a uma infinidade de sacrifícios, dores e torturas físicas. Em todos os outros aspectos, eles são muito diferentes. Embora repulsivos, os demônios em Little Hope não são, de forma alguma, glamorosos e estão muito menos “no controle”, menos frios do que os terríveis “superaçougueiros” de suas obras. Além disso, as motivações dos demônios de Little Hope são muito diferentes. Na minha opinião, quanto mais se revisitar o trabalho de Clive Barker, melhor, desde que se faça jus aos originais. Ele é certamente um mestre do gênero.
- Quanto ao gameplay em si, Little Hope seguirá exatamente o que vimos em Man of Medan? Você poderia se aprofundar um pouco mais nisso?
Todos os jogos na The Dark Pictures Anthology são títulos independentes, com diferentes histórias, configurações e personagens. Embora a mecânica de jogo permaneça semelhante em cada jogo, gostamos de iterar — e Little Hope não é diferente. A principal mudança que as pessoas notarão em Little Hope é que, em algumas cenas, agora temos uma câmera controlada pelo jogador. Isso dá ao jogador a chance de obter uma visão completa do ambiente explorado. No entanto, câmeras fixas ainda são muito importantes: elas nos permitem configurar totalmente uma cena e obter todo o impacto cinematográfico que desejamos. A outra mudança principal que fizemos para Little Hope é a de um ícone sensível ao contexto antes de QTEs. Eles fornecem alguns detalhes sobre a ação prestes a acontecer e o tempo do jogador para se preparar. Por exemplo, um ícone de punho caso seja uma ação de combate que está prestes a acontecer. Tal como acontece com todos os jogos da The Dark Pictures Anthology, Little Hope também pode ser jogado no modo multijogador. Você pode jogar o modo online “História Compartilhada” para dois jogadores e o modo cooperativo de sofá para até 5 jogadores. Sabemos pelos comentários de Man of Medan que as pessoas realmente gostam de ambos os modos.
- De Until Dawn a Medan e Little Hope, hoje, podemos dizer que Supermassive é um estúdio totalmente dedicado ao terror? E quantos episódios dentro da Dark Pictures Anthology estão planejados?
Normalmente sim, amamos o terror e adoramos contar histórias. Existem tantos subgêneros diferentes para brincar e assuntos tão variados que não acho que ficaríamos entediados de fazer jogos de terror. Cada jogo na The Dark Pictures Anthology subverte um subgênero diferente e adoramos brincar com isso. Em Man of Medan você tinha um navio fantasma com elementos de invasão domiciliar e agora, com Little Hope, você tem bruxaria, inferno e demônios. Não seria possível variar tanto em diferentes subgêneros em filmes, mas dentro dos jogos é mais fácil de fazer porque você tem muito mais tempo para contar a história. Com relação a quantos jogos estamos fazendo — tantos quantos as pessoas gostariam de ver. No entanto, depois de Man of Medan e Little Hope, temos outros dois em pleno desenvolvimento e outros quatro em vários estágios entre conceito e design.
- Complementando a questão anterior: você pode nos dar apenas uma ideia do tema do próximo segmento? Teremos um teaser no final de Little Hope, assim como foi com Man of Medan?
Não tenho certeza se posso responder a esta perguntar sem revelar spoilers. Basta dizer que será muito diferente de Man of Medan e Little Hope, ainda será assustador e ainda será sobre emoções humanas sob estresse e terror inimagináveis. Quanto a um teaser, você só terá que jogar para descobrir.
- Em Little Hope, vamos lidar com três linhas temporais, certo? Um passado distante do século XVII, outro apenas algumas décadas atrás, e acontecimentos recentes, nos dias atuais. Como será a transição entre todos esses momentos diferentes? E como os personagens serão conectados e interconectados?
Mais uma vez, não posso responder diretamente sem revelar alguns spoilers enormes. Essencialmente, 4 alunos e seu professor estão envolvidos em um acidente de ônibus que significa que eles ficaram presos na cidade aparentemente abandonada de Little Hope. Enquanto procuram desesperadamente por um meio de escapar, visões do passado os assombram e os arrastam para testemunhar os eventos dos julgamentos de bruxas do século XVII que aconteceram naquela cidade. No início, você verá um prólogo ambientado na década de 1970 — em todos esses eventos, há pessoas que se parecem com eles. Os personagens precisarão entender o significado dessas visões, juntar todas as pistas que podem ser encontradas no jogo para descobrir o que está acontecendo e então concluir por que tudo isso está acontecendo com pessoas que se parecem com eles.
- Você poderia nos contar um pouco mais sobre suas inspirações para Little Hope? Qual foi o terror recente que mais o impactou? Qual a sua opinião sobre o terror criado hoje, visto em A Bruxa ou Midsommar?
Certamente houve inspirações quando estávamos criando Little Hope. Uma óbvia é A Bruxa e elementos de Hellraiser (os Cenobitas) nos demônios que criamos. Outra é Corrente do Mal, na forma como os demônios surgem para os personagens e a história também se inspira em As Bruxas de Salem de Arthur Miller, destacando os eventos em torno dos julgamentos de bruxas do século XVII e como a paranoia e a histeria dominaram uma cidade e os levaram a acusar, e em última análise, executar seus próprios vizinhos que eram inteiramente inocentes.
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