Carmilla: uma das maiores vampiras da literatura

Publicado em 1872 por Sheridan Le Fanu, Carmilla se tornou um ícone das vampiras no terror. Confira algumas curiosidades sobre este clássico.

Quando pensamos nas histórias de vampiros, três delas, escritas ainda no século XIX, foram as precursoras de todo um movimento que iria, anos mais tarde, povoar o cinema com os sugadores de sangues: “O Vampiro”, de John Polidori, de 1816; Carmilla, de Sheridan Le Fanu, de 1872; e Drácula, de Bram Stoker, de 1896. Apesar de ser um século recheado de histórias de sensação, como eram chamadas, e graças aos famosos penny dreadfuls, diversas foram as histórias de vampiros publicadas no período. Entretanto, graças a essas três, surgiram elementos característicos e importantes para o futuro do terror.

Em Carmilla, conhecemos a história de Laura, nossa narradora, que conta um episódio estranho de sua adolescência, onde conheceu Carmilla e a abrigou em sua casa. Com um temperamento errático e sentimentos fortes, Carmilla era extremamente diferente de sua anfitriã, apesar de ambas terem se tornado amigas íntimas. Quando Laura começa a ter estranhos pesadelos e outras jovens são dadas como mortas com sintomas semelhantes aos das garotas, o rumo da história sofre uma mudança brusca e descobre-se que Carmilla não é exatamente quem diz ser.

Ambientada nas florestas da Estíria entre castelos abandonados e criaturas da noite, Carmilla se tornou um dos maiores clássicos de vampiros de todos os tempos. Agora, 150 anos depois de seu lançamento, Carmilla chega em uma edição imponente aos leitores caveirosos. Com ilustrações da artista Isabella Mazzanti, responsável pela capa e por todas as artes internas, Carmilla é apresentada aos fãs da Caveira de uma forma ainda mais especial.

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Selecionamos algumas curiosidades e informações que fazem de Carmilla um livro tão importante. Pegue sua vela e nos acompanhe ao castelo abandonado da Condessa de Karnstein.

Sheridan Le Fanu

Joseph Thomas Sheridan Le Fanu foi um autor irlandês. Apesar de ser lembrado principalmente por Carmilla, Sheridan foi um dos maiores autores de histórias de fantasmas de seu período. Dentre seus outros trabalhos, também escreveu romances históricos e outras várias histórias góticas. Seus livros de maior sucesso foram, além de Carmilla, Uncle Silas: A Tale of Bartram-Haugh, e In a Glass Darkly, uma coleção de cinco histórias curtas que reuniam os registros póstumos de Dr Hesselius.

Dentre esses papéis póstumos está a história de Laura e Carmilla. Dr Hesselius passou a ser considerado um dos primeiros personagens detetives do oculto da literatura, precedido por Harry Escott, um personagem de Fitz James O’Brien (1855), e pelo narrador do livro de Robert Bulwer-Lytton, intitulado The Haunted and the Haunters; or, The House and the Brain (1859). Hasselius apareceu primeiramente na história “Green Tea”, e foi sucedido por diversos outros detetives com interesse no sobrenatural, como Dr. John Silence, de Algernon Blackwood, Carnacki, de William Hope Hodgson, e Abraham Van Helsing, de Bram Stoker — na contemporaneidade, dois dos mais famosos detetives sobrenaturais são Hellboy e Dylan Dog.

Le Fanu foi um grande escritor, e seus trabalhos não passaram batido entre outros autores que viveram em seu período. M.R. James, Henry James e, mais explicitamente, Bram Stoker. O autor bebeu muito de elementos de Carmilla (como também de uma série de outras histórias de vampiros do período), para criar Drácula e suas interações com os outros personagens de sua história — além, como pudemos perceber, a criação de Van Helsing se deve, um pouco, ao Dr. Hesselius.

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Possíveis fontes consultadas

Dom Augustin Calmet, autor de Traité sur les apparitions des esprits et sur les vampires ou les revenans de Hongrie, de Moravie, &c

Assim como em Drácula, uma das possíveis fontes utilizadas por Sheridan para a criação de seu romance foi Traité sur les apparitions des esprits et sur les vampires ou les revenans de Hongrie, de Moravie, &c (Tratado sobre as aparições de espíritos e sobre vampiros ou fantasmas da Hungria, Morávia, etc.), escrito por Dom Augustin Calmet. Foi publicado pela primeira vez em 1746, sob o título de Dissertations sur les apparitions des anges, des démons et des esprits, et sur les revenants et vampires de Hongrie, de Bohême, de Moravie et de Silésie, e depois expandido e publicado novamente em 1751. A tese consistia de um estudo aprofundado que ia de possessões demoníacas e anjos até episódios de vampirismo a ressurreição de mortos. Foi um importante documento para o período.

É necessário nos lembrarmos que, ao longo do século XVIII, talvez mais que nos séculos anteriores, alguns fenômenos deixaram a Europa em estado de alerta. O possível vampiro de Arnold Paole e a Besta de Gévaudan foram apenas duas das inúmeras ocorrências do sobrenatural que chamaram a atenção no período. Vários estudos surgiram sobre o assunto. Dentre eles, está esse tratado de Calmet, comentado até mesmo por Voltaire em seu Dictionnaire philosophique, publicado em 1764.

Em um dos capítulos de Carmilla, Sheridan utilizou uma das histórias de Calmet e fez referência direta a ela.

Elizabeth Báthory

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Outras possíveis fontes, como argumenta Matthew Gibson, um estudioso sobre o tema, foi O Livro dos Lobisomens, do Reverendo Sabine Baring-Gould, outro clássico que investiga esses fenômenos sobrenaturais publicado em 1865; a balada Christabel, de Coleridge, publicada em 1797; Schloss Hainfeld; or a Winter in Lower Styria, de Basil Hall, publicado em 1836, além da nossa velha conhecida Elizabeth Bathory.

Romance serializado

Ilustração de Carmilla por David David Friston

Algo bastante comum no século XIX eram as revistas literárias e as publicações de folhetins. Esses romances serializados eram publicados em diversas partes nas revistas e, não raramente, eram editados em formatos de livros posteriormente, após o encerramento da série.

Com Carmilla isso não foi diferente. A história de Laura e sua antagonista vampira foi publicada entre 1781 e 1872 na revista The Dark Blue. Depois, foi publicada como uma das histórias no livro In a Glass Darkly, com outras quatro histórias curtas de Le Fanu.

Filmes

Sendo uma história tão importante para a literatura de vampiros e para o terror, é claro que ela seria transformada em filme. Uma das adaptações mais importantes de Carmilla, por mais breves que sejam os elementos utilizados, é o filme alemão O Vampiro, de 1932. Dirigido por Carl Theodor Dreyer, o filme é levemente baseado no livro de Sheridan, sem as partes das relações homoafetivas e com alterações de contexto, mas alguns personagens são indiscutivelmente retirados da obra original de 1872.

Quatro anos mais tarde, o filme A Filha de Drácula foi lançado. Dirigido por Lambert Hillyer, o filme tem elementos de “O Convidado de Drácula”, um conto que teria sido lançado como prólogo do livro de Bram Stoker mas que foi publicado somente após sua morte, e também de Carmilla.

Já na década de 1960, adaptando certos elementos do livro de Sheridan, é lançado Rosas de Sangue, filme francês dirigido por Roger Vadim. Considerado um dos grandes filmes de vampiros já feito, Rosas de Sangue acompanha uma jovem que fica enciumada do casamento de seu primo com outra mulher e se torna obcecada por histórias de vampiros.

Em 1964, a produção intitulada O Túmulo do Horror, com Christopher Lee, adaptou o livro de Sheridan. Com algumas alterações no roteiro e algumas adições de personagens — Karnstein, por exemplo, se torna o nome do Conde, pai de Laura, e já se sabe que Carmilla seria uma antepassada da família —, o filme acaba sendo o primeiro a ser mais fiel entre as adaptações já citadas.

Nos anos 1970, a Hammer produziu a Trilogia Karnstein. Composta pelos filmes Atração Mortal (1970), Luxúria de Vampiros (1971) e As Filhas de Drácula (1971), os três filmes acompanham a história de Mircalla Karnstein e suas descendentes. É ainda hoje considerada uma das obras mais fiéis em adaptar o livro de 1872, mesmo com as alterações feitas para a trilogia.

A websérie Carmilla, de 2014, também é inspirada na obra de Le Fanu. Com uma ambientação moderna, Laura e Carmilla são colegas de quarto na universidade. A websérie conquistou uma quantidade considerável de fãs, ganhando um filme em 2017.

Além disso, Carmilla também se tornou tema de músicas; teve aparições em outros livros, como Anno Drácula, de Kim Newman; foi mencionada em outras séries sobre vampiros, como True Blood; e foi uma personagem constante na série de jogos Castlevania

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.