Elizabeth Báthory: a macabra história por trás da Condessa Sangrenta

Condessa Sangrenta ou Condessa Drácula, Elizabeth Báthory é figurinha carimbada nos círculos macabros. Saiba mais sobre a vida dessa personagem histórica.

Reza a lenda que, entre os idos do século XVI, uma jovem condessa se tornou conhecida por sua crueldade e terror que causava nas jovens da população. Para se manter sempre bela e jovem, a condessa se banhava em sangue de virgens. Alguns acreditam até que Elizabeth Báthory ingeria esse sangue, tal qual nosso vampiro mais querido, Conde Drácula. Mas, afinal de contas, quem foi Elizabeth Báthory?

Elizabeth Báthory por autor desconhecido

Filha de pais que tinham laços consanguíneos, há a possibilidade de que a jovem Elizabeth, assim como várias crianças nascidas nas grandes famílias aristocráticas europeias, tenha sofrido com a endogamia. Báthory, de acordo com boatos, sofria de muitos ataques epilépticos quando criança, que poderia ser um dos efeitos desse casamento entre primos. Além de diversas doenças que podem surgir entre esse tipo de casamento por parentesco, alguns estudos comprovam a maior probabilidade de que os frutos dessas uniões tenham maiores propensões a enlouquecerem ou terem outros distúrbios mentais. 

Outros boatos nos levam a crer que Elizabeth presenciou um sem número de violências quando criança, e até se divertia com algumas delas. Faltam fontes e documentos que comprovem esse sentimento da jovem condessa, mas não é difícil imaginar que, sendo uma nobre do século XVI, ela realmente tenha presenciado coisas terríveis, ainda mais vivendo no leste europeu, durante o domínio turco. Disputas de terras, guerras e um número aterrorizante de torturas não era tão incomum assim na vida da aristocracia. 

Os Báthory eram uma das casas mais antigas e de prestígio no período. Seu pai era o barão George VI Báthory, irmão de Andrew Bonaventura Báthory, que havia sido voivode da Transilvânia. Sua mãe, a baronesa Anna Báthory, era filha de Stephen Báthory de Somlyó, outro voivode da Transilvânia. Anna também era irmã de Stephen Báthory, rei da Polônia e grande duque da Lituânia. Voivodes eram líderes de forças militares no leste europeu, que logo passaram a ser governantes de províncias e regiões. Outro grande voivode famoso foi Vlad Dracul, que muitos acreditam ter algum tipo de parentesco com os Báthory. 

Enquanto é difícil apurar se o sangue de ambos os clãs se mesclaram em algum momento, é fácil dizer que de certa forma há algo que os une e dá ainda mais pano pra manga nessa história.

A Ordem do Dragão era uma cavalaria voltada a membros da alta aristocracia. Fundada em 1408 por Sigismundo de Luxemburgo, Imperador Romano-Germânico de 1433 até sua morte, além de Rei da Germânia, Hungria, Croácia e Boêmia, suas intenções eram, inspirados pelas cruzadas, proteger a ordem cristã, principalmente contra os otomanos. Conta-se que Vlad II Dracul, pai de Vlad, o Empalador, tirou seu nome da Ordem. Mesmo depois que a Ordem do Dragão perdeu prestígio, ainda foi mantida em emblemas de muitas casas nobres da região do leste europeu, como o clã Báthory.

Famosa imagem de Vlad, o Empalador

É claro que essa ligação ajudou muito a pensarmos em uma história em que Elizabeth Báthory tivesse herdade essa sede de sangue de seu (suposto) parente distante, um dos mais cruéis governantes que já se teve notícia, Vlad, O Empalador — que, por um acaso, também é cercado de diversas lendas sobre seu vampirismo. Mas, como não temos acesso a fontes que comprovem esses rituais sanguinolentos, nos apegamos ao que sabemos.

Ao que tudo indica, também, Báthory não era nenhuma vampira, mas sua crueldade era, sim, muito real. Processos de seu julgamento indicam sua obsessão e frieza ao lidar com outros seres.

O que sabemos de Elizabeth Báthory é que, ainda muito jovem, com 10 anos, ela ficou noiva do conde Ferenc II Nádasdy, e os dois se casaram quando Elizabeth estava com 15 anos. De acordo com algumas histórias, aos 14 anos Elizabeth teria ficado grávida de um camponês e dado à luz uma menina chamada Anastasia, que foi enviada a um casal de camponeses que fugiram do reino. Algumas fontes contam que Ferenc castigou violentamente o affair de sua noiva. 

Quando se casaram, por ter uma posição social maior que a de seu marido, Elizabeth manteve seu sobrenome e foi Nádasdy que mudou o dele. 

Em 1578, três anos após o casamento, Nádasdy assumiu o comando das tropas húngaras na guerra contra os otomanos, e foi Elizabeth quem passou a comandar a população da Hungria e Eslováquia. De acordo com alguns relatos, houveram diversos momentos em que Báthory interveio a favor de mulheres pobres que precisavam de ajuda.

Cópia de retrato que está localizado no Museu Nacional da Hungria

É somente depois da virada do século, entre os anos de 1602 e 1604, que as coisas começam a ficar muito complicadas para Elizabeth. Vários rumores haviam se espalhado sobre as atrocidades que Báthory cometia, e depois de um processo que levou alguns anos entre pedidos de respostas e apuração dos fatos, em 1610, o Rei Matias do Sacro Império Romano-Germânico, aceitou que a questão fosse investigada e designou György Thurzó, palatino da Hungria, para descobrir os fatos por trás de tantos rumores.

Thurzó enviou András Keresztúry e Mózes Cziráky para recolherem provas em março de 1610. Em outubro do mesmo ano eles já haviam recolhido 52 depoimentos. Em 1611, o número já passava de 300. As coisas não pareciam promissoras para a condessa. 

Dentre esses depoimentos, apurou-se que Elizabeth teria começado com garotas de cerca de 14 anos, depois avançou para filhas de aristocratas de posições mais baixas que a dela, enviadas para a corte para aprender etiqueta. Diversos desaparecimentos foram relatados. As torturas usadas por Báthory, de acordo com as testemunhas, variavam entre surras violentas e mutilações, mordidas em diversas partes do corpo, principalmente faces e braços, uso de agulhas e formigas, além de temperaturas ou muito altas, ou muito baixas. Báthory também estava sob investigação de canibalismo.

Em dezembro de 1610 o próprio Thurzó foi resolver a questão. Enquanto era mantida presa, aguardando as testemunhas, Thurzó se reuniu com um dos filhos da condessa e outros dois genros para decidir o que seria feito. Um julgamento convencional e uma possível execução seria um escândalo público, e os Báthory eram muito respeitados. Nádasdy havia falecido em 1604, então o destino da condessa estava na mão daqueles homens. 

Cópia de um retrato de 1585, perdido em 1990

Elizabeth foi presa em um quarto com tijolos, confinada em seu castelo. Apesar de todas as acusações, nenhuma testemunha realmente viu qualquer coisa estranha da condessa, somente ouviu de outras pessoas. Seus criados foram interrogados sob tortura o que, hoje em dia, não seria aceito como prova. Nenhum documento ou prova física foi encontrado sobre os crimes de Elizabeth, que foi encontrada morta em seu quarto no dia 21 de agosto de 1614. 

A história da Condessa Sangrenta foi inspiração para uma quantidade gigantesca de filmes, livros, séries, personagens e, por incrível que pareça, até músicas. De acordo com Tori Telfer em seu livro Lady Killers — que traz o perfil de catorze assassinas em série, entre elas Báthory —, há oito bandas de black metal que levam o nome ou uma menção de Elizabeth Báthory. Filmes como A Condessa, dirigido, escrito e protagonizado por Julie Delpy, tentam contar um pouco de sua história.

Julie Delpy como Elizabeth Báthory no filme A Condessa, 2009
Ingrid Pitt como Elizabeth Báthory no filme Condessa Drácula, de 1971
Delphine Seyrig como Elizabeth Báthory no filme Escravas do Desejo, de 1971
Lady Gaga como A Condessa na quinta temporada de American Horror Story, Hotel, 2015

A falta de provas e documentos, além de todas as lendas sobre sua crueldade que se espalharam pelo mundo acabam dificultando o conhecimento de quem foi essa personagem tão complexa, encarados por muitos como a primeira assassina em série da história. Sua condenação tinha bases reais ou era um jogo de poder? Uma pergunta cuja resposta nunca teremos.

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Gostou do texto? Saiba mais sobre outras mulheres assassinas no livro Lady Killers, de Tori Telfer. Leia também Burke e Hare: os vendedores de cadáveres do século XIX e Mentiras, bruxaria e traição: Macbeth, de William Shakespeare. Comente com a Macabra no Twitter e Instagram.

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.