Caso Sylvia Likens: O crime que deu origem ao livro A Garota da Casa ao Lado

Tortura e assassinato da jovem na década de 1960 ainda é considerado o crime mais terrível do estado de Indiana.

Algumas histórias são tão desumanas que parecem pertencer ao campo da ficção. No entanto, há casos em que a realidade vira palco de crimes tão absurdos que provocam questionamentos sobre a nossa condição: afinal, o que leva alguém a tratar outro ser de tal forma? O caso da tortura e assassinato de Sylvia Likens é um deles.

Foto de Sylvia Likens

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A infância de Sylvia não foi das mais alegres e dignas de nostalgia, e seu desfecho foi absurdamente chocante. Terceira filha de um casal de artistas circenses, Betty e Lester Likens, ao todo, Sylvia tinha quatro irmãos — dois pares de gêmeos: um mais velho e outro mais novo que ela.

Além das mudanças constantes da família por causa da profissão dos pais, a relação de Betty e Lester nunca foi muito estável. Por causa da vida nômade, Sylvia muitas vezes foi obrigada a ficar na casa de parentes ou conhecidos enquanto seus pais estavam em turnê. Ela chegou a morar em 14 endereços diferentes, criando uma média de pouco mais de uma casa diferente por ano.

Em 1965, quando Sylvia tinha 16 anos, os pais dela estavam separados e ela estava morando com sua irmã mais nova e com a mãe. Em dado momento, a mãe foi presa por furto em uma loja e o pai estava para sair em turnê novamente. Ele então deixou as filhas aos cuidados de Gertrude Baniszewski, mãe de uma colega de escola das meninas chamada Paula.

Lester não parece ter despendido muito tempo verificando se esta seria uma boa ideia e se seria seguro deixar suas filhas com uma mulher praticamente desconhecida. Gertrude já tinha sete crianças e não tinha muito dinheiro, mas concordou em tomar conta das meninas Likens em troca de um pagamento semanal de US$ 20. O pai das garotas nem chegou a entrar na casa da mulher, mas encorajou Baniszewski a “endireitar suas filhas assim como fazia com as próprias crianças”. E isso foi o começo de tudo.

A aterrorizante vida com Gertrude Baniszewski

Foto de Gertrude Baniszewski

Sylvia estava saindo de um furacão para entrar em outro, ainda mais conturbado. Gertrude Baniszewski cuidava sozinha de seus sete filhos em meio a um histórico de relacionamentos abusivos desde os 16 anos, quando se casou com seu primeiro marido. Separada e com dificuldades financeiras, Gertrude fazia trabalhos para os vizinhos, como limpeza de casas, costura e, no caso de Sylvia e da irmã, cuidar das meninas em tempo integral na própria casa.

Gertrude Baniszewski tinha sérios problemas com sua saúde mental, decorrente dos anos de abuso e da situação precária em que vivia. Ela era desnutrida, fumante inveterada apesar de seus problemas com asma e sofria de depressão, agravada por um aborto espontâneo recente.

As primeiras semanas das garotas Likens na casa de Gertrude foram tranquilas: elas ficaram amigas das filhas de Baniszewski, ajudavam nas tarefas domésticas e frequentavam a catequese juntas. No entanto, os problemas começaram quando Lester deixou de pagar os US$ 20 semanais que eles haviam acordado.

Os primeiros castigos envolviam surras com diversos objetos, incluindo um remo, direcionadas às duas meninas Likens. Mas a raiva passou a se direcionar mais intensamente a Sylvia, possivelmente pela bela aparência da jovem e de seu potencial. Além de apanhar, a garota recebia quantidades significativamente menores de comida, o que a levou a se alimentar de sobras na casa. Os castigos e a humilhação também passaram a ser praticados pelos filhos de Gertrude e pelos amigos deles.

A violência se tornou cada vez pior, com episódios envolvendo chutes nos genitais, comer o próprio vômito e ser forçada a bater na própria irmã porque Gertrude as considerava promíscuas. Com o tempo os Baniszewski encontravam qualquer desculpa para machucar e humilhar as garotas Likens

Encorajados por Gertrude, os garotos da vizinhança também intensificaram a violência sobre as duas, usando-as como saco de pancada e queimando suas peles com pontas de cigarro. Em alguns casos, a mulher cobrava dos garotos da vizinhança cinco centavos para que eles vissem Sylvia nua.

As meninas estavam tão traumatizadas e assustadas que não tinham coragem de denunciar o abuso a seus familiares, com medo de sofrerem castigos ainda mais severos. Elas nunca contaram nada a seus pais em suas raras visitas e, em um episódio, relataram a violência a sua irmã mais velha, Dianna, que achou que as meninas estavam exagerando.

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Matéria de jornal do caso Sylvia Likens

Alguns vizinhos percebiam que algo errado acontecia naquela casa e um deles uma vez chegou a fazer uma denúncia anônima à escola de que uma menina na casa dos Baniszewski tinha machucados por todo o corpo. Como Sylvia estava proibida por Gertrude de ir às aulas, o colégio mandou uma enfermeira investigar a denúncia na residência, mas Gertrude apenas disse que Sylvia havia fugido de casa e que não sabia onde ela estava. A escola encerrou o caso.

Ao longo dos meses a violência e o abuso só pioraram, o que levou Sylvia a, gradualmente, ter incontinência urinária. Ela era proibida de usar o banheiro, e se via obrigada a urinar nas calças. Como castigo pela incontinência, Gertrude amarrou a adolescente no porão, geralmente sem roupas, sem muita comida e sem água.

Em suas últimas semanas, Sylvia sofreu ainda mais nas mãos de Gertrude e dos garotos da vizinhança. As torturas e humilhações finais envolveram uma tatuagem caseira, feita com agulha, na barriga da jovem, com as palavras “sou uma prostituta e tenho orgulho disso”, e mais queimaduras na sua pele. No dia seguinte à tatuagem, Gertrude forçou Sylvia a escrever uma carta para despistar os pais dela, dizendo que ela tinha fugido da casa de Baniszewski e que, nesta fuga, foi abusada e mutilada por um grupo anônimo de garotos da região. O plano da mulher era levar a jovem a uma região de mata e deixá-la lá para morrer.

Poucos dias depois disso, mais precisamente em 26 de outubro de 1965, Sylvia já estava tão fraca, desnutrida, desidratada e profundamente machucada que não conseguia formular palavras ou se movimentar com o mínimo de precisão. Ela passara a madrugada anterior berrando e batendo as paredes do porão, em uma tentativa desesperada de chamar a atenção dos vizinhos.

Sylvia estava incapaz de comer devido ao seu estado crítico. Como se isso não fosse o suficiente, os filhos de Baniszewski passaram a tarde atormentando-a, inclusive “dando um banho” nela com uma mangueira de jardim. Isso fez com que a garota utilizasse seus últimos esforços para tentar fugir dali, o que foi respondido com um golpe em sua cabeça por Gertrude. Stephanie, filha de Gertrude, decidiu que daria um banho na jovem, mas antes mesmo que ela fosse retirada do porão já não estava mais respirando.

Stephanie foi a primeira a perceber isso e ainda tentou ressuscitar a garota por meio de respiração boca-a-boca, enquanto sua mãe gritava que a jovem estava fingindo a própria morte e a agredia com um livro.

Prisão e julgamento de Gertrude Baniszewski

Gertrude Baniszewski a caminho de seu julgamento

Ao final do dia, convencida de que Sylvia estava morta, Gertrude pediu que um dos garotos da vizinhança chamasse a polícia. Inicialmente ela negou qualquer envolvimento no assassinato da jovem e, inclusive, apresentou a eles a carta que ela havia forjado na escrita da garota, sobre ter sido agredida por um grupo de jovens não identificados. Como se isso não fosse suficiente, ainda alegou que estava cuidando das feridas de Sylvia em uma tentativa desesperada de primeiros-socorros.

Ela e os filhos estavam alinhados na mesma narrativa e tentaram aliciar Jenny, a irmã de Sylvia, para corroborar com a história, prometendo tratá-la “como um dos filhos de Baniszewski” se ela fizesse isso. No começo ela fez tudo exatamente como a família de assassinos havia instruído, mas depois sussurrou aos policiais: “Me tirem daqui que eu conto tudo”.

Foi o depoimento formal de Jenny que levou à prisão de Gertrude e de seus filhos Paula, Stephanie e John Jr., além de dois garotos da vizinhança: Coy Hubbard e Richard Hobbs, como suspeitos do assassinato de Sylvia. Outras cinco crianças da região foram indiciadas por agressão física e abuso da garota.

A autópsia de Sylvia identificou pelo menos 150 feridas diferentes em todo o seu corpo, que variavam de tipo, intensidade e etapa de cura, confirmando que as agressões ocorriam há bastante tempo. A causa oficial da morte foi estabelecida como um hematoma subdural, uma hemorragia no crânio causada por uma pancada forte na cabeça. O choque causado pelas agressões severas e prolongadas em sua pele e a má nutrição foram listados como fatores que contribuíram com a sua morte.

Gertrude Baniszewski em seu julgamento

Stephanie foi liberada antes do julgamento por não haver provas suficientes de seu envolvimento no assassinato. Gertrude, seus filhos Paula e John Jr. e os vizinhos Richard Hobbs e Coy Hubbard foram a julgamento juntos em abril de 1966, seis meses após o assassinato. Em seu testemunho no tribunal, Gertrude negou qualquer envolvimento na morte de Sylvia, passando a responsabilidade para os filhos e os garotos da vizinhança.

O julgamento durou 17 dias e culminou com a sentença de prisão perpétua para Gertrude e Paula Baniszewski. John Jr. e os dois vizinhos receberam sentenças mais brandas, que variaram de 2 a 21 anos no reformatório de Indiana. O caso voltou a ser analisado em 1971, a pedido dos advogados de defesa. Paula se declarou culpada e reduziu sua sentença para um período de 2 a 20 anos. Gertrude foi novamente sentenciada à prisão perpétua.

Em 1985, por bom comportamento, Gertrude recebeu liberdade condicional, passados 20 anos do crime. A notícia foi recebida com revolta pelos familiares de Likens e moradores locais, mas ainda assim Gertrude saiu da prisão, mudou-se para o estado de Iowa e continuou negando qualquer envolvimento na morte de Sylvia. Ela faleceu em 1990 de câncer de pulmão, aos 60 anos – 44 a mais do que Sylvia Likens teve a chance de viver.

A trágica história da tortura e morte de Sylvia Marie Likens inspirou livros e filmes. Um deles é o thriller A Garota da Casa ao Lado, de Jack Ketchum, que, de maneira direta e brutal, revela as camadas da maldade humana. O autor, elogiado por Stephen King, Neil Gaiman, Chuck Palahniuk e outros criadores, se viu assombrado pelo caso desde o primeiro momento em que o ouviu. A Garota da Casa ao Lado foi publicado originalmente em 1989 e chega aos leitores brasileiros pela DarkSide Books através do selo Macabra.

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A pré-venda de A Garota da Casa ao Lado está rolando na Loja Oficial DarkSide Books até 12 de novembro e vem acompanhada de postais exclusivos. Se você curtiu a novidade macabra, compartilhe com seus amigos no Twitter Instagram.

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Renunciei à vida mundana para me dedicar às artes da trevas. No meu cálice nunca falta vinho ungido e protejo minha casa com gatos que afastam os espíritos traiçoeiros. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.