Conexão Macabra: Videodrome e Guns Akimbo

Do papel da mídia às consequência do consumo de violência sem filtros e críticas, se você gostou de Videodrome vai gostar de Guns Akimbo.

Desde sua criação, o horror buscou trabalhar com temas que estavam em alta no momento de suas produções. Questionamentos sobre políticas e problemas sociais e culturais podem ser vistos em grande parte da produção do gênero.

Os anos 1950, por exemplo, produziram uma tendência forte de filmes que se preocupavam com as pesquisas nucleares e os desdobramentos disso, como é o caso de O Mundo em Perigo; e os anos 1980 pensou muito sobre famílias do subúrbio americano sendo ameaçadas por ameaças — sejam elas internas ou externas — como no caso de Poltergeist: O Fenômeno.

Os anos 1980 também foram responsáveis por um outro tipo de medo, que já vinha sendo pensado em outras estâncias mas tomou força no período: o medo da comunicação em massa, do que era veiculado nas televisões, da violência gratuita como entretenimento. O que aconteceria se as crianças fossem tão expostas a esses elementos? O que aconteceria com os adultos? Como lidar com um mundo cada vez mais violento? Como a mídia poderia afetar nossa vida?

Os debates foram vários, e ainda hoje o tema causa discussão. Apesar da questão da violência ligada ao consumo dos jogos ou televisão cair cada vez mais por terra, já que existem tantos outros fatores a serem considerados, o consumo ainda é um elemento a se prestar atenção.

É nesse ponto de consumo, na questão midiática, que os dois filmes de Conexão Macabra de hoje se unem.

Videodrome e Guns Akimbo

David Cronenberg sempre foi considerado um diretor visionário. As discussões que existem em seus filmes trouxeram à luz temas que, cada vez mais, seriam tratados na sociedade. Videodrome: A Síndrome do Vídeo, é um desses filmes. Lançado em 1983, conta a história de Max Renn (James Woods), dono de uma pequena emissora de TV a cabo, que capta o sinal de uma estranha rede, chamada Videodrome, em que passam várias imagens de pessoas mutiladas e mortas. Logo Max descobre a potência desse sinal, e quantas coisas horríveis podem acontecer a ele.

Com cenas aterrorizantes que deixam os estômagos um tanto embrulhados, Videodrome se tornou um dos grandes filmes de Cronenberg. Além de ser escrito e dirigido por ele, o filme conta também com efeitos de maquiagem de Rick Baker, e tem a estrela Debbie Harry no papel de Nicki Brand.

Cronenberg se utiliza de um assunto que estava em alta naquele momento para construir a base de seu filme: os filmes snuffs, filmes que eram vendidos como reais, que apresentavam mortes de pessoas e sofrimento de todo o tipo. Em 1980, muitos filmes surgiram com essa ideia, e Cronenberg discute as possibilidades e terrores desse tipo de filmes em sua obra.

Guns Akimbo é um filme de 2019, estrelado por Daniel Radcliffe e Samara Weaving e dirigido por Jason Lei Howden. No filme, acompanhamos Miles (Radcliffe), um jovem que trabalha numa desenvolvedora de jogos, com um chefe que pega em seu pé. Miles é um cara comum, que ainda é apaixonado por sua ex-namorada, que chega em casa e fica acessando sites na internet. Entretanto, um dia, Miles se mete com uma gangue que obriga pessoas a competirem até a morte em um tipo de reality show, acompanhado por milhares de pessoas. Ao criticar o tipo de conteúdo que estão mostrando para as pessoas, Miles acaba sendo encontrado pela gangue e ganha armas presas em suas mãos, e é colocado para disputar por sua vida contra Nix (Weaving), uma das melhores jogadoras do jogo.

Ambos os filmes se passam em momentos diferentes e têm preocupações diferentes, mas ambos se concentram em uma ideia bastante próxima: no que a mídia, as redes, a tecnologia, podem nos transformar? Em Guns Akimbo, nós temos uma sociedade violenta que acompanha um jogo violento por puro prazer, em que vidas são perdidas e utilizadas como forma de entretenimento, quase como filmes snuff, enquanto em Videodrome temos um homem com problemas causados a partir de uma rede pirata que utiliza de mutilações e masoquismo para entreter e transformar aqueles que a assistem.

Os tempos mudam, e as ferramentas também, mas a possibilidade de problemas causados por elas e pelos humanos que as usam permanece. O debate de ambos os filmes é: como utilizamos as ferramentas que são criadas para comunicação e entretenimento? Até onde ambas podem nos moldar e nos atingir?

Os filmes conectados

Videodrome: A Síndrome do Vídeo, 1983, David Cronenberg. Max Renn, dono de uma pequena emissora de TV a cabo, acaba captando imagens de pessoas mortas e mutiladas. Logo descobrirá que as imagens fazem parte de um experimento, e os terríveis danos que causam ao cérebro.

Guns Akimbo, 2019, Jason Lei Howden. Miles é um cara comum que vive uma vida pacata e sozinho quando, certo dia, se mete com as pessoas erradas. É colocado em um jogo terrível em que precisa lutar para sobreviver.

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.