Conheça as autoras do livro de body horror Em Carne Viva

No novo lançamento da Macabra em parceria com a DarkSide Books, o body horror ganha vida através de contos escritos por autoras habilidosas. Confira a bio de cada uma das mentes por trás de Em Carne Viva.

O body horror é um subgênero do terror e da ficção científica que ganhou espaço principalmente nos anos 1970 e 1980, com os filmes de David Cronenberg e alguns dos primeiros filmes de David Lynch, como Eraserhead. Filmes que apelam à destruição e desdobramento do corpo em outras formas e até mesmo com outros objetivos, com imagens bastante explícitas, logo se tornaram um sucesso. Mas, em seus primeiros anos, o body horror, assim como muitos outros espaços do terror, foi ocupado principalmente por homens.

Desde o final dos anos 1990, entretanto, muitas cineastas conseguiram contar histórias através do body horror no cinema. Marina de Van, Jen e Sylvia Soska e Julia Ducournau são algumas das mulheres que fizeram história nas últimas décadas.

Pensando em homenagear o body horror, mas subvertê-lo em sua origem, a escritora Joyce Carol Oates organizou Em Carne Viva, uma antologia poderosa de 15 contos escritos por grandes autoras, que exploram o subgênero com temas diversos: maldições, traumas, descontrole — cada conto do livro traz ao leitor percepções diferentes a respeito do body horror.

Para preparar o leitor para este lançamento Macabro, reunimos algumas informações sobre as autoras que compõem o livro. Entre autoras veteranas e autoras relativamente jovens no universo literário, podemos dizer que é impossível sair dessa leitura impassível.

Joyce Carol Oates

Nascida em junho de 1938 em Nova York, publicou seu primeiro livro, With Shuddering Fall, em 1964. De lá pra cá, tem escrito e publicado livros de ficção e não ficção, peças, contos e organizado coletâneas sobre os mais diversos assuntos. Oates ganhou uma série de prêmios, como o Bram Stoker Awards, em 1996, por seu livro Zombie; em 2011, na categoria de Melhor Coletânea de Ficção, com The Corn Maiden and Other Nightmares; e em 2012, também como Melhor Coletânea de Ficção, com o livro Black Dahlia and White Rose: Stories. Também foi finalista do Pulitzer cinco vezes, em 1970, 1993, 1995, 2001 e 2015. Além de Em Carne Viva, a autora também organizou o livro Damas Noir e escreveu o livro de contos Jardim das Bonecas, ambos publicados pela Macabra, em parceria com a DarkSide Books.

Ao longo de sua carreira, alguns de seus livros foram adaptados como curtas e longas-metragens, como é o caso de Zombie (2010), curta dirigido por Thomas Caruso; Foxfire – Confissões de Uma Gangue de Garotas (2012), dirigido por Laurent Cantet; Uma História de Vingança (2017), dirigido por Johnny Martin e protagonizado por Nicolas Cage, e, mais recentemente, Blonde (2022), dirigido por Andrew Dominik e protagonizado por Ana de Armas. 

No livro Em Carne Viva, Joyce Carol Oates é autora do conto “Cadeira da tranquilidade”, e nos presenteia com um relato triste e profundo, uma obra que, ao mesmo tempo em que é ficção, também representa a condição de mulheres tidas como histéricas no século XIX, cujos corpos não eram seus e sim da figura masculina mais próxima — pais, maridos, irmãos.

Margaret Atwood

Atwood nasceu em 1939 em Ontário, no Canadá. Seu primeiro trabalho, publicado de maneira independente, foi a coletânea de poesia Double Persephone, em 1961. Desde então, Atwood se dedicou à escrita de forma ampla, escrevendo livros de ficção e não ficção, poesia, contos, ensaios, além de ser professora, ativista ambiental e inventora — ela inventou o dispositivo LongPen, um dispositivo de assinatura, capaz de auxiliar a uma pessoa à distância a assinar documentos com a ajuda de uma mão robótica e um tablet ou computador.

Nos últimos anos, Atwood ganhou um reconhecimento ainda maior graças à nova adaptação de O Conto de Aia (2017–) — que já foi adaptado algumas vezes para o cinema e televisão antes, no teatro, no cinema e até no rádio —, mas outras obras da autora também foram adaptadas, como Alias Grace (2017), série dirigida por Mary Harron (diretora de Psicopata Americano). Entre os prêmios que ganhou, estão o Nebula Award e o Arthur C. Clarke Award por Melhor Ficção Científica, em 1987; o Booker Prize em 2000; e Los Angeles Times Book Prize de 2012.

No livro Em Carne Viva, Margaret Atwood é autora do conto “Metempsicose”, um verdadeiro exercício de se colocar no lugar do outro — literalmente. Na história, um ser diminuto e que nem sempre prestamos muita atenção é jogado no corpo de uma mulher adulta e precisa saber como lidar com a situação.

Tananarive Due

Nascida em janeiro de 1966 na Flórida, Tananarive Due é uma autora de ficção e não ficção, com contos e romances, e também professora e uma experiente historiadora do cinema e especialista em horror negro. Em um de seus cursos na UCLA, “The Sunken Place: Racism, Survival and the Black Horror Aesthetic” (O Lugar Submerso: Racismo, Sobrevivência e Estética do Horror Negro, em tradução literal), Due se aprofundou em Corra!, obra de Jordan Peele. Participou do documentário Horror Noire como especialista, e é uma presença constante em outros documentários do gênero, como na série History of Horror, de Eli Roth, e The 101 Scariest Horror Movie Moments of All Time, de Kurt Sayenga.

Seu primeiro livro, The Between, foi publicado em 1995, e desde então ficou reconhecida principalmente por suas histórias de terror, como The Good House e, mais recentemente, The Reformatory. Concorreu ao Bram Stoker Award por seus livros The Between e My Soul to Keep, e ganhou prêmios como o American Book Award por seu livro The Living Blood, e British Fantasy Award, pela coletânea Ghost Stories, entre outros. Due também escreveu um episódio da segunda temporada de Twilight Zone (2019–2020) ao lado de seu marido, Steven Barnes, intitulado “A Small Town”, e um dos segmentos do filme antológico Horror Noire.

No livro Em Carne Viva, Tananarive Due é autora do conto “Dançar”, uma história que parece inocente e um pouco absurda de início, mas que fala principalmente sobre traumas geracionais. 

Megan Abbott

Nascida em 1971 no Michigan, Megan Abbott se tornou reconhecida por seus livros de ficção policial e por suas análises sobre livros do gênero. Uma das principais características de sua escrita foi a subversão a partir do ponto de vista feminino nessas histórias. Além disso, é escritora e produtora de televisão.

Sua primeira obra publicada, The Street Was Mine: White Masculinity in Hardboiled fiction and Film Noir (As ruas eram minhas: masculinidade branca na ficção hardboiled e filmes noir, em tradução livre), em 2002, era uma não ficção sobre o gênero conhecido como “hardboiled”, um tipo de obra que utiliza alguns cenários e personagens típicos da ficção policial, no melhor estilo “durão”, Foi finalista de vários prêmios importantes do gênero nos Estados Unidos, como o Edgar em 2006 e 2010, vencendo o prêmio em 2008 por seu livro Queenpin. Também recebeu o prêmio Los Angeles Times Book Prize na categoria Mistério/Thriller em 2021, e entrou no top 10 da Booklist na seção Mistério e Thriller em 2022 por seu livro The Turnout.

No livro Em Carne Viva, Megan Abbott é autora do conto “Fitas vermelhas”, uma história envolvente sobre uma jovem garota que se sente desafiada a visitar uma estranha casa perto de onde mora, onde os boatos contam que ocorreram alguns assassinatos terríveis.

Raven Leilani

Nascida em Nova York em 1990, Raven Leilani é uma autora razoavelmente jovem, com seu primeiro livro tendo sido publicado em 2020. Mas, desde então, sua carreira se tornou atribulada. Seu livro de estreia, Luxúia, rendeu elogios de diversas personalidades literárias, como Carmen Maria Machado, e entrou em algumas listas de indicações de grandes meios de comunicação, como a revista Elle, The New York Times e os sites Buzzfeed e HuffPost. Também foi adotado como parte do clube do livro da revista Marie Claire.

No livro Em Carne Viva, Raven Leilani é autora do conto “Método de respiração”, um conto desafiador que apresenta uma faceta do “corpo em guerra consigo mesmo”, nas palavras de Oates, de uma mulher negra artista disposta a forçar limites de si mesma e da arte.

Aimee Bender

Nascida na Califórnia em 1969, Aimee Bender começou a publicar suas obras nos anos 1990 e ficou reconhecida principalmente por suas narrativas curtas. Seu primeiro livro, The Girl in the Flammable Skirt, uma coletânea de contos de 1998, foi escolhido pelo New York Times como “livro notável” naquele ano e passou sete semanas como best seller do Los Angeles Times. Bender recebeu dois prêmios Pushcart Prizes, além de ter sido indicada ao James Tiptree Jr. Award (que mudou de nome em 2019, passando a se chamar Otherwise Award) e foi finalista do Shirley Jackson Award em 2009.

No livro Em Carne Viva, Aimee Bender é autora do conto “Frank Jones”, conto que abre o livro e narra a história de uma jovem bastante solitária no trabalho, que encontra companhia em uma criaturinha frankensteiniana que ela mesma produziu — a partir de partes “descartáveis” de seu corpo.

Cassandra Khaw

Nascide em agosto de 1984 na Malásia, Khaw ficou conhecide por seu trabalho no horror e na ficção científica, em narrativas curtas e longas, mas também já trabalhou como criadore de videogames e de RPGs, além de ter escrito sobre jogos enquanto era jornalista. Já publicou em revistas populares do gênero, como Tor.com, Clarkesworld e Uncanny Magazine. Seu primeiro livro publicado foi Rupert Wong, Cannibal Chef, de 2015, que faz parte da série Gods & Monsters: Rupert Wong. Desde 2017, recebe indicações constantes aos prêmios Locus, Shirley Jackson, British Fantasy e Bram Stoker, vencendo este último em 2023 na categoria Melhor Coleção de Ficção com o livro Breakable Things.

No livro Em Carne Viva, Cassandra Khaw é autore do conto “Focinho”, e nos deslumbra com um texto rápido e aterrorizante sobre uma maldição milenar, capaz de encantar e assombrar a todos os fãs de horror. 

Elizabeth Hand

Nascida em março de 1957 em Nova York, Elizabeth Hand é uma autora de ficção que se aproxima dos gêneros de ficção científica, terror e fantasia principalmente. Seu primeiro conto foi publicado na revista Twilight Zone, em 1988, intitulado “Prince of Flowers”. Seu primeiro livro, Winterlong, foi publicado em 1990. Ainda nos anos 1990, criou, ao lado de Paul Witcover, a super-heroína Anima, para a DC Comics. Hand também costuma escrever spin off de séries e filmes consagrados, como Star Wars e uma novelização de A Noiva de Frankenstein publicada pela Dark Horse. Também foi responsável pela novelização de Os Doze Macacos. Já ganhou os prêmios Horror Guild, Shirley Jackson e  World Fantasy.

No livro Em Carne Viva, Elizabeth Hand é autora do conto “A sétima noiva”, nos levando à um passeio pela “curiosidade feminina”, como em um reconto da fábula de Barba Azul, com uma personagem principal que se nega a ser vítima dessa história.

Valerie Martin

Nascida no Missouri em 1948, Valerie Martin é professora e autora prolífica. Trabalhou em diversas instituições de ensino nos Estados Unidos, como Universidade de Massachusetts Amherst, Universidade Loyola de Nova Orleans e, atualmente, é professora na Mount Holyoke College. Enquanto lecionava na Universidade do Alabama, morou a alguns quarteirões de Margaret Atwood, quando as duas ficaram amigas. Valerie Martin foi a primeira pessoa a ler o manuscrito completo de O Conto de Aia

Seu primeiro livro foi a coleção de contos Love: Short Stories, de 1977. No ano seguinte, publicou sua primeira ficção longa, Set in Motion. Ganhou o Kafka Prize em 1990, e foi nomeada aos prêmios World Fantasy e Nebula na categoria Melhor Novela por Mary Reilly. Mary Reilly, um reconto de O Médico e O Monstro, foi adaptado aos cinemas em 1996, dirigido por Stephen Frears, protagonizado por Julia Roberts e John Malkovich. No Brasil, o filme recebeu o nome de O Segredo de Mary Reilly.

No livro Em Carne Viva, Valerie Martin é autora do conto “Nêmesis”, um conto sobre as aparências e a beleza, e como essa busca incessante pode transformar as pessoas. Àqueles que sempre foram belos, o que resta quando isso se perde?

Sheila Kohler

Sheila Kohler nasceu na África do Sul, em 1941. Autora de dez livros até o momento e três coleções de contos, seu trabalho já apareceu em algumas revistas como The New York Times e O Magazine. A trágica morte de sua irmã, há mais de trinta anos, durante o Apartheid na África, fez com que sua ficção se baseasse principalmente na violência, principalmente em relações íntimas. Seu primeiro livro, The Perfect Place, foi publicado em 1989. Kohler ganhou duas vezes o prêmio O. Henry. 

No livro Em Carne Viva, Sheila Kohler é autora do conto “Sydney”, que encerra a coletânea, e apresenta um casamento entre uma jovem inocente e que vivia tranquilamente em sua fazenda, com um homem mais velho e que guarda um segredo muito sombrio.

Joanna Margaret

Outra autora relativamente nova, Joanna Margaret é historiadora norte-americana, especializada na aristocracia do século XVI, com foco em Florença e França. Joyce Carol Oates foi sua orientadora de doutorado. Seu primeiro livro foi lançado em 2022, intitulado The Bequest.

No livro Em Carne Viva, Joanna Margaret é autora do conto “Malena”, a história de uma jovem estudante de Artes que descobre uma parte de si mesma que nunca havia tomado conhecimento.

Lisa Tuttle

Nascida no Texas de 1952, Lisa Tuttle é uma autora de fantasia, terror e ficção científica. Esteve em um relacionamento com George R. R. Martin em 1980, com quem escreveu seu primeiro livro, Windhaven, publicado em 1981 — livro que foi indicado ao prêmio Locus. Teve alguns de seus contos adaptados para séries de TV, como O Carona (1983–1991) e Monsters (1988–1990). Foi a primeira e única pessoa a recusar um prêmio Nebula, porque não achou correta a atitude de seu colega que concorria na mesma categoria,  George Guthridge, de enviar sua história aos membros do comitê avaliador. Ao longo dos últimos anos, as histórias de Tuttle têm sido redescobertas e relembradas na comunidade literária internacional.

No livro Em Carne Viva, Lisa Tuttle é autora do conto “Porte Oculto”, que explora a fascinação do povo norte-americano por armas, colocando esses objetos na vida de uma jovem de uma forma bastante desconfortável (para dizer o mínimo).

Aimee LaBrie

Uma autora também razoavelmente nova e da qual temos poucas informações, Labrie teve contos publicados em jornais como Minnesota Review, Iron Horse Literary Review, StoryQuarterly, e outras publicações. Em 2007, sua coleção de contos Wonderful Girl recebeu o prêmio Katherine Anne Porter de ficção curta. Seus contos foram indicados três vezes para o prêmio Pushcart. Hoje, trabalha também como coordenadora sênior de programas e instrutora na Writers House da Universidade Rutgers.

No livro Em Carne Viva, Aimee LaBrie é autora do conto “Anatomia macroscópica”, o único a ter um personagem masculino como protagonista e com certeza é um dos mais wtf da antologia. 

Lisa Lim

Lisa Lim, nascida em Nova York, é autora de quadrinhos, com um estilo extremamente único. Seu trabalho já foi publicado em revistas e jornais como Guernica, PANK, The Rumpus, PEN America e Mutha Magazine, e está disponível também online, na página The Comics of Lisa Lim

No livro Em Carne Viva, Lisa Lim é autora do conto “Dançando com espelhos”, uma história ilustrada sobre a relação tóxica entre uma mãe e uma filha e suas imagens, e como esses traumas podem ser passados de geração em geração.

Yumi Dineen Shiroma

Yumi Shiroma é aluna de PhD em inglês da Universidade Rutgers e estuda teorias e literaturas queer e pós-coloniais. Sua poesia já saiu nas revistas BOMB, Hyperallergic, entre outras. Mora na Filadélfifia com sua gatinha, a Signora Neroni. 

No livro Em Carne Viva, Yume Dineen Shiroma é autora do conto “O coração pode falhar”, um texto que utiliza as personagens Mina e Lucy em um novo cenário, amas enfrentando uma ameaça e um triângulo amoroso.

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Em Carne Viva, livro organizado por Joyce Carol Oates que reúne contos de body horror de autoria feminina, está disponível em pré-venda no Site Oficial da DarkSide Books. Qual conto você está mais ansioso para ler? Comente com a Macabra no Twitter e Instagram.

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.