Cronologia e história das séries de filmes do Godzilla

Com cerca de 38 filmes, a gente sabe que é meio difícil entender a cronologia e história da franquia Godzilla. Pensando nisso, a Macabra listou os filmes de acordo com cada uma de suas eras. Confira.

Você já deve ter percebido que existem algumas versões diferentes do Godzilla na história do cinema. O Godzilla de 1954 dificilmente pode ser considerado o mesmo Godzilla de Rei dos Monstros, de 2019.

Godzilla II: Rei dos Monstros, 2019

Além das óbvias mudanças de tecnologia que levaram o monstrão a deixar de ser uma fantasia em um cenário armado nos estúdios da Toho, há também o fato de que a franquia Godzilla pode ser dividida entre os filmes japoneses e os filmes norte-americanos. E, mesmo dentro dos filmes da franquia japonesa, há ainda uma divisão entre as eras do nosso kaiju favorito.

Vem que a Macabra te explica como funcionam essas divisões.

Como tudo começou

Godzilla, 1954

Não é exagero dizer que as produções midiáticas — livros, filmes etc — são produzidas dentro de um contexto histórico. Isso fica refletido de forma mais nítida em algumas do que outras. Godzilla, de 1954, por exemplo, foi um filme produzido dentro do contexto pós-Segunda Guerra Mundial, um tipo de alarme sobre as consequências das bombas que atingiram  Hiroshima e Nagasaki em agosto de 1945. 

A quantidade de pessoas mortas nesta ocasião foi aterradora. Na primeira bomba, em Hiroshima, cerca de 70 mil pessoas foram mortas instantaneamente, e Nagasaki, apenas três dias depois, matou outras 40 mil. Isso sem contabilizar as pessoas que morreram em consequência da radiação, que passam outros 70 mil.

Os acontecimentos de Hiroshima e Nagasaki se tornaram um trauma nacional japonês, um luto difícil de explicar para aqueles que são de fora do país. As consequências enfrentadas pela população também eram indizíveis. Uma das formas de expurgar, ao menos um pouco, esses demônios, e mostrar ao mundo o quanto esses poderes bélicos haviam ultrapassado há muito os limites da humanidade, surgiu a partir de Godzilla.

Godzilla, 1954

Como, você pode estar se perguntando. Pois bem, nem sempre as produções que tratam de contextos históricos específicos precisam ser dramas baseados em histórias reais. Às vezes, a alegoria faz um excelente trabalho quando precisamos pensar um pouco além. Há muito o terror (e a ficção científica, e as várias formas de ficção especulativa) se concentra nesse trabalho. De forma direta ou indireta, essas produções trazem elementos e características alegóricos para que possamos fazer ligações com a realidade.

Dirigido por Ishirô Honda, Godzilla — ou Gojira, no nome original em japonês —, fala sobre um enorme monstro japonês vindo dos oceanos. De acordo com a lenda contada no filme, Godzilla seria do período dos dinossauros, mas foi despertado pelos testes com as bombas de hidrogênio no Oceano Pacífico. Um dos dilemas ao longo do filme é: Godzilla precisa ser parado, mas foram os humanos, com sua crueldade, que o acordaram.

Ao longo da franquia, porém, algumas coisas mudaram na história do nosso kaiju favorito. 

A franquia japonesa

Os filmes japoneses de Godzilla foram separados em quatro eras, nomeadas de acordo com o imperador que estava no poder na época em que os filmes foram feitos. São elas: Shōwa era (1954–1975), Heisei era (1984–1995), Millennium era (1999–2004) e a era atual, a Reiwa era (2016–). Os filmes norte-americanos, posteriormente, que começaram a ser produzidos já em 1950, mas ganharam uma certa periodicidade a partir dos anos 1990, seguem uma lógica diferente.

O estúdio principal de Godzilla no Japão é a Toho, que tem sido responsável pelo nosso monstrão desde sua origem em 1954. Mas, em determinadas eras, houveram coproduções com outros estúdios, inclusive alguns norte-americanos no meio do caminho.

Showa era (1954–1975)

Godzilla Contra-Ataca, 1955

Primeira, mais longa e com a maior quantidade de filmes da franquia Godzilla, o período Showa foi marcado por uma sequência cronológica bem integrada a todos os filmes da série. Mesmo com essa cronologia, esse período pode ser dividido em três ciclos distintos dos filmes. 

No primeiro ciclo, estão os filmes Godzilla (1954) e Godzilla Contra-Ataca (1955, dir. Motoyoshi Oda e Ishirô Honda). Essa duologia levou a Toho a produzir vários outros filmes de kaijus, apresentando Mothra, Rodan e outros ao mundo, e colocando o próprio Godzilla em um hiato de sete anos. Mais tarde, porém, esses monstros acabaram participando da história de Godzilla.

O Filho de Godzilla, 1967

O segundo ciclo, intitulado “Revival”, se inicia em 1962, com o filme King Kong vs. Godzilla (dir. Ishirô Honda e Tom Montgomery), em uma das primeiras coproduções com os Estados Unidos — mas não a primeira —, no que se tornaria um dos enfrentamentos lendários dos dois grandes monstros do cinema naquele momento. É neste ciclo que Godzilla começa a deixar de ser o monstro destruidor e passa a ser um anti-herói mais carismático. Os outros filmes que compõem esse ciclo são Godzilla Contra a Ilha Sagrada (1964); Ghidrah, O Monstro Tricéfalo (1964); A Guerra dos Monstros (1965); Ebirah, Terror dos Abismos (1966); O Filho de Godzilla (1967) e O Despertar dos Monstros (1968). 

Monstrolândia, 1969

Este último, O Despertar dos Monstros, era para ser o último filme de Godzilla, mas a Toho ainda produziu outros seis filmes após ele. Inseridos dentro da programação de matinê infantil do estúdio chamada Toho Champion Festival, o historiador especializado nesses kaijus August Ragone chamou esses filmes, que compõem o terceiro ciclo da Showa era, de “série Champion”. Nestes filmes, Godzilla já está mais próximo do papel de herói que de vilão ou anti-herói. Tecnicamente, mesmo tendo sido lançados depois, os filmes cronologicamente são colocados depois de O Filho de Godzilla e depois de O Despertar dos Monstros. Os filmes são Monstrolândia (1969); Os Monstros Invadem a Terra (1971); Godzilla, O Rei dos Monstros (1972); Godzilla vs. Megalon (1973); A Odisséia dos Monstros (1974) e A Fúria dos Monstros (1975).

Heisei era (1984–1995)

O Retorno de Godzilla, 1984

Apesar de diversas tentativas de fazer um novo filme de Godzilla nas décadas de 1970 e 1980, foi somente em 1984 que a Toho conseguiu. Comemorando os 30 anos do filme original, a Toho lançou O Retorno de Godzilla, que era uma sequência do filme de 1954, e ignorava os outros filmes da Showa era. Apesar de ainda estar, tecnicamente, sob domínio do imperador Showa, o filme foi adicionado à era Heisei retroativamente, por estar diretamente ligado aos acontecimentos que se seguiram.

Essa era também ficou conhecida como “VS era”, pois todos os títulos originais dos filmes, com exceção de O Retorno de Godzilla, contam com o vs. Os filmes são Godzilla x Biollante (1989, Godzilla vs. Biollante); Godzilla Contra o Monstro do Mal (1991, Godzilla vs. King Ghidorah); Godzilla vs. Mothra (1992); Godzilla vs. Mechagodzilla II (1993); Godzilla vs. SpaceGodzilla (1994) e Godzilla vs. Destoroyah (1995).

Godzilla vs Mothra, 1992

Enquanto a Showa era passou a ser um grande entretenimento para todas as idades — e isso fica bastante nítido entre O Filho de Godzilla e a série Champion —, a Heisei era recupera o tom mais sério do filme original de 1954, com temas mais profundos e comentários sociais, como engenharia genética, corrupção e os problemas ligados ao meio ambiente; com as histórias dos outros kaijus, como a Mothra, dando destaque a essas questões. Além disso, a história da criação de Godzilla volta a ser um ponto importante.

Millennium era (1999–2004)

Godzilla 2000, 1999

Tecnicamente, a Toho esperava manter um hiato de Godzilla até o ano de 2005. Mas, com o lançamento da TriStar de 1998 sendo um enorme fracasso, eles resolveram que era hora de tirar o kaiju de cinquenta metros de sua década sabática mais cedo. Apesar do filme de 1999 ainda ter sido lançado dentro do período em que o imperador Heisei estava no poder, a Toho decidiu chamar esses filmes de Millennium era por causa do novo milênio.

Os filmes que compõem essa era são Godzilla 2000 (1999); Godzilla Vs. Megaguirus (2000); Godzilla, Mothra and King Ghidorah: Giant Monsters All-Out Attack (2001); Godzilla Against Mechagodzilla (2002); Godzilla: Tokyo S.O.S. (2003) e Godzilla – Batalha Final (2004). Diferente das outras eras, a Millennium não segue uma ordem cronológica exata, com exceção dos filmes Godzilla Against Mechagodzilla e Godzilla: Tokyo S.O.S., que também se conectam ao filme Mothra, a Deusa Selvagem, de 1961 e são frequentemente chamados como “Kiryu series”.

Godzilla – Batalha Final, 2004

Depois de Godzilla – Batalha Final, a intenção da Toho era novamente entrar em hiato por outra década, até que o interesse no nosso kaiju do coração fosse renovado, só retornando à produção de Godzilla com Shin Godzilla, de 2016.

Reiwa era (2016–)

 

Shin Godzilla, 2016

A atual era de Godzilla se chama Reiwa — acompanhando, novamente, o período político japonês, que se iniciou em maio de 2019 depois do imperador Akihito ter abdicado e Naruhito ter assumido o papel. Contando com apenas cinco lançamentos até o momento, somente o mais novo filme da franquia, Godzilla Minus One, foi lançado realmente no período Reiwa. Os outros, assim como aconteceu na Heisei era, foram adicionados nesta série retroativamente. E, assim como a Millennium era, os filmes não apresentam uma continuidade.

O primeiro lançamento dessa era foi Shin Godzilla (2016). A Toho aproveitou o sucesso da criação do Monsterverso pela Legendary, com o filme de 2014, e resolveu despertar o Godzilla para novos rumos em sua série. Em seu período de hiato, contrataram  Hideaki Anno e Shinji Higuchi, ambos conhecidos por seu trabalho no anime Neon Genesis Evangelion, para comandarem o mais novo lançamento do monstrão.

Godzilla: Planeta dos Monstros, 2017

Depois de Shin Godzilla, que foi uma alegria aos fãs da franquia, a Toho planejou três filmes animados em conjunto com o estúdio Polygon. Godzilla: Planeta dos Monstros (2017), Godzilla: Cidade no Limiar da Batalha (2018) e Godzilla: O Devorador de Planetas (2018) também foram inseridos na Reiwa era. Lançados nos cinemas no Japão, foram comprados e lançados internacionalmente pela Netflix, recebendo diversos elogios.

Agora, o mais novo lançamento de Godzilla está prestes a fazer sua estreia nos cinemas ocidentais. Tendo estreado no Japão em 03 de novembro, Godzilla Minus One tem lançamento previsto nos Estados Unidos em 01 de dezembro e no Brasil dia 14 do mesmo mês. A pré-venda da premiere realizada pela Sato Company será aberta no dia 01 de dezembro. Confira o trailer abaixo.

A franquia norte-americana

Demorou alguns anos para que os Estados Unidos fizessem seu próprio Godzilla, apesar do aparente interesse. Apenas dois anos depois do lançamento do Godzilla original nos cinemas, em 1956, foi lançado Godzilla, O Monstro do Mar, uma versão levemente reeditada e mais americanizada do clássico japonês. O filme acabou sendo uma coprodução entre Japão e Estados Unidos.

Godzilla, O Monstro do Mar, 1956

Então, os produtores envolvidos neste filme — Harry Rybnick, Richard Kay, Edward Barison, Paul Schreibman e Edmund Goldman — compraram os direitos para a sequência do monstrão, Godzilla Contra-Ataca, e fizeram coisa pior. Não satisfeitos em localizar a linguagem para o inglês, a ideia era reeditar o filme, transformando em uma produção nova. Apesar da Toho ter aceito a proposta e até enviado o traje de Godzilla para filmagens adicionais, o filme, que até então era intitulado The Volcano Monsters, foi cancelado.

Já na década de 1980, outro filme de Godzilla feito pelos Estados Unidos chamou a atenção dos estúdios. Um projeto criado por Steve Miner, conhecido principalmente por seu trabalho em Sexta-Feira 13 – Parte 2 (1981) e A Casa do Espanto (1985), com storyboards feitos por William Stout, que é um artista e ilustrador famoso e especialista em arte paleontológica, e roteiro de Fred Dekker, roteirista de Deu a Louca nos Monstros (1987). O projeto era ambicioso, e prometia um enorme animatrônico da cabeça do Godzilla feito por Rick Baker. Apesar de muitos estúdios ficarem interessados, os custos do projeto assustaram todos eles, e o plano acabou engavetado.

Godzilla, 1998

Então, já no final dos anos 1990, a TriStar conseguiu o feito: levou o Godzilla aos Estados Unidos. Intitulado somente Godzilla, o filme de 1998 foi dirigido por Roland Emmerich e contou com Matthew Broderick e Jean Reno no elenco. Originalmente, estava programado para ser dirigido por Jan de Bont — conhecido por Velocidade Máxima (1994) e Twister (1995) —, mas o diretor abandonou o projeto depois de discussões sobre o orçamento do filme. Godzilla, quando lançado, fez quase três vezes o valor de seu orçamento nas bilheterias internacionais, mas foi considerado um fracasso mesmo assim. E, realmente, os fãs do kaiju não se lembram do filme com muito carinho.

Mas em 2014, em uma jogada que deu muito certo, a Legendary acabou assumindo os direitos do monstrão nos Estados Unidos, lançando o que daria início ao Monsterverso. Godzilla, dirigido por Gareth Edwards, contou com Aaron Taylor-Johnson e Elizabeth Olsen nos papéis principais. O filme conquistou não somente uma boa bilheteria, mas também abriu portas para nossas incursões na história de Godzilla.

Em seguida, em 2019, a sequência Godzilla II: Rei dos Monstros foi dirigida por Michael Dougherty, com Millie Bobby Brown e Vera Farmiga. Em seguida, foi a vez de Godzilla vs. Kong, em 2021, fazer seu sucesso. Reunindo novamente os dois monstros, acabou sendo um experimento de sucesso e abriu novas portas para futuros filmes. 

LEIA+: GODZILLA VS KONG: QUEM É QUEM NA BATALHA DE MONSTROS GIGANTES

Recentemente, em 17 de novembro, estreou na Apple+ a série Monarch: Legado de Monstros, série que acompanha os eventos de Godzilla (2014) e acompanha uma equipe da organização Monarch que tem passado a vida tentando encontrar outros “titãs” como Godzilla. A série estreou sem muito alarde, mas torcemos para que mantenha a qualidade com que a Legendary tem trabalhado até aqui. Abaixo você confere o trailer.

As últimas novidades que sabemos até o momento é que um novo encontro de titãs está previsto para 2024, intitulado Godzilla x Kong: The New Empire.

*

Seja na franquia japonesa ou na norte-americana, estamos curiosos para saber o que o futuro reserva para o nosso kaiju do coração. E você, quais filmes do Godzilla já assistiu? Qual o seu favorito? Qual o seu favorito? Comente com a Macabra no Twitter e Instagram.

Compartilhe:
pin it
Publicado por

Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.