Sexta-Feira 13: curiosidades macabras do slasher mais icônico do cinema

Os acampamentos nunca mais foram os mesmos depois que Pamela Voorhees decidiu vingar seu filho. Confira algumas curiosidades sobre Sexta-Feira 13.

A fórmula para o sucesso dos filmes slashers dos anos 1980 é bem simples: um grupo de jovens, perseguidos por um assassino mascarado que é capaz de mover céus e terras para cumprir com seus objetivos, sejam eles vingança, justiça ou só tocar o terror em crianças desavisadas. Essa fórmula funcionou muito bem ao longo dos anos seguintes.

Abrindo alas logo no início da década de 1980, Sexta-Feira 13 foi um dos primeiros e grandes responsáveis por essa abordagem dos filmes slasher. O que começou como um filme que nem se sabia ao certo se veria a luz do dia, se tornou uma numerosa e lucrativa série com dez filmes e milhões de fãs espalhados pelo mundo.

Depois de Pamela, Jason e Crystal Lake, os filmes de terror não foram os mesmos. Em grande parte pela visão de seus criadores, Ron Kurz, Victor Miller e Sean S. Cunningham, que também dirigiu o longa, em parte pelos jovens e suas desventuras no acampamento de verão, e em parte pela excelente maquiagem de Tom Savini, que acrescentou um toque de ousadia na produção. A soma de todos esses fatores possibilitou que Sexta-Feira 13 fosse um dos grandes sucessos do período, sendo sequenciado, redescoberto e assistido pelos anos seguintes.

A história todos conhecemos: certo dia, em um acampamento de verão, um jovem morreu afogado. De acordo com sua mãe, o garoto sofreu pela falta de atenção dos conselheiros e tutores do local. Anos depois, o Acampamento Crystal Lake está pronto para abrir novamente as portas, mas algo espreita o local, assassinando  um a um os jovens que passam por ali. 

Um dos grandes responsáveis por conhecermos tão a fundo as histórias de bastidores dessa saga é o livro Sexta-Feira 13 – Arquivos de Crystal Lake, de David Grove. Nele, diversas memórias e entrevistas com o elenco e a equipe de produção são capazes de nos mostrar um pouco sobre a correria, as complicações, as dificuldades e também os momentos divertidos da criação de Sexta-Feira 13.

Para celebrar essa sexta-feira 13, selecionamos algumas curiosidades sobre o primeiro filme de uma das maiores séries de filmes de terror de todos os tempos. 

No início, não havia filme

Anúncio vinculado na revista Variety, de 1979

Alguns fatores foram importantes para a criação de Sexta-Feira 13. Cunningham estava se recuperando do baque de seus dois filmes anteriores, Here Come the Tigers e Manny’s Orphans, que não chegaram nem perto de ser um sucesso, e pensou que retornar ao terror, depois do grande sucesso de seu trabalho como produtor de Aniversário Macabro (1972, dir. Wes Craven), seria o melhor que poderia fazer. O lançamento de Halloween, de John Carpenter, em 1978, foi outro fator decisivo. Cunningham se reuniu com Wes Craven para conversar sobre as possibilidades de um projeto — que seria totalmente de Cunningham, mas os dois eram bons amigos e os conselhos de Craven vieram a calhar. 

Após as reuniões com Craven, Cunningham chamou Victor Miller para trabalhar com ele. Pediu que assistisse ao Halloween, de Carpenter, e o estudasse. Sexta-Feira 13 nasceu, afinal, entre os anos de 1978 e 1979, e se chamava A Long Night at Camp Blood, Uma Longa Noite no Acampamento Sangrento, até que Miller teve o insight para o nome oficial.

O logo de Sexta-Feira 13, com todos os detalhes 3D e do vidro se quebrando, foi feito a partir de uma fotografia de Richard Illy, a partir das ideias de Cunningham e de seu amigo Michael Morris, diretor de uma agência de propaganda na época, criaram. Depois de tudo pronto, dois anúncios foram feitos para chamarem a atenção de distribuidoras de filmes. Mas, em um ataque de coragem, Cunningham enviou um dos cartazes para a revista Variety, com os dizeres “Do produtor de Aniversário Macabro surge o filme mais assustador de todos os tempos”, com uma data de lançamento para novembro de 1979, afirmando que o filme estava sendo produzido. 

O que não era verdade. Nem o roteiro estava exatamente pronto — mesmo durante as gravações, o roteiro era alterado constantemente. A ideia de Cunningham era chamar a atenção para o projeto, o que ele conseguiu, de certa forma. Apesar de não ter propostas financeiras, outros membros da equipe, como atores e técnicos apareceram.

O outro motivo para lançar o logo era se assegurar que aquele título seria de seu filme, pois Cunningham tinha ouvido por aí que outro diretor queria Sexta-Feira 13 para sua produção. O outro filme, afinal, foi lançado como The Orphan, em 1979.

As gravações

O Acampamento Crystal Lake, na verdade, existe. É um acampamentozinho chamado No-Be-Bo-Sco, localizado em New Jersey. A equipe de filmagem não teve que fazer alterações no local, exceto levantar alguns banheiros. O acampamento ainda existe, e hoje em dia guarda alguns dos móveis e objetos da época das gravações para lembrar do passado glorioso de quando o filme estava sendo feito. A maioria da equipe se acomodou em hotéis enquanto rolavam as gravações, mas alguns membros permaneceram no acampamento, como Tom Savini e Taso N. Stavrakis.

Savini, inclusive, graças ao seu trabalho anterior com a maquiagem do filme Despertar dos Mortos (1978), foi um dos primeiros a embarcar na equipe de Sexta-Feira 13. Aliás, ele é um dos que afirmam com segurança de foi ele quem deu a ideia do final, quando o pequeno Jason emerge das águas e puxa Alice (Adrienne King) para o lago.

LEIA+: TOM SAVINI: O MESTRE DAS MAQUIAGENS DOS FILMES DE TERROR

Os papéis foram selecionados pela agência Theater Now, Inc (TNI), bastante consagrada na seleção de elencos para peças de teatros. Era a primeira vez que Cunningham trabalhava com direção de elenco, e era a primeira vez que a TNI trabalhava com um filme de terror. Para Cunningham, todos os atores poderiam ser completos desconhecidos, com exceção de Pamela Voorhees. Foi o papel de Alice que levou mais tempo para ser preenchido. Dentro os jovens que participaram de Sexta-Feira 13, foi Kevin Bacon quem teve a melhor carreira após o filme.

Apesar de estarem isolados do resto do mundo, no meio da floresta, longe de todos da cidade mais próxima, os atores e equipe tinham um vizinho muito especial. Lou Reed, que tinha uma fazenda na região, costumava aparecer às vezes no acampamento, fazer alguns shows particulares, esse tipo de coisa. Uma sorte!

ki ki ki, ma ma ma

Quando pensamos em Sexta-Feira 13, um dos elementos que nos vêm à mente é a trilha sonora especial composta pelas palavras quase ininteligíveis de “ki-ki-ki-ma-ma-ma”, que surgiram, na verdade, da frase “kill her, mommy” — “mate ela, mamãe” —, dita por Pamela Voorhees quase ao final do filme. 

O responsável pela trilha sonora foi Harry Manfredini, que já havia trabalhado com Cunningham em outros de seus filmes, Here Come the Tigers e Manny’s Orphans, ambos de 1978. Apesar disso, Manfredini era relativamente novo com os filmes de terror, e quando assistiu à exibição de Sexta-Feira 13, o filme já estava basicamente completo. Um dos produtores perguntou a ele se ele poderia deixar o filme mais assustador, ao que Manfredini respondeu que, para ele, o filme já era bastante assustador.

Inegavelmente, entretanto, a trilha sonora de Manfredini e o toque especial de “ki-ki-ki-ma-ma-ma” tornaram tudo ainda melhor. 

O carinho dos críticos

Críticos nunca foram muito agradáveis com os filmes de terror. Não de hoje temos histórias de críticos de cinema que falaram tão mal de certos filmes que se tornaram quase patronos das produções, no melhor estilo “fale bem, fale mal, mas falem de mim” — encontrar uma crítica negativa desses caras poderia garantir a audiência da juventude rebelde. Outros, entretanto, ia longe demais. 

O crítico Gene Siskel ficou particularmente raivoso quando assistiu ao primeiro Sexta-Feira 13, e ficou tão insultado pela existência do filme que decidiu expor o endereço de Betsy Palmer, nossa querida Pamela Voorhees, para todos os seus leitores no jornal. 

O tiro saiu pela culatra. Apesar de ter certeza que Palmer vivia em sua cidade natal em Connecticut e, na verdade, apesar de morar em Connecticut, Palmer era natural de uma cidade em Indiana. No livro de David Grove, Palmer afirma que nunca recebeu uma carta sequer, e só soube desses ataques muitos anos depois.

Após o filme

Na verdade, o filme deveria ter sido encerrado em seu próprio final. A maioria da equipe considerava que não havia um motivo para fazer uma sequência, ou os outros filmes depois desse. Mas, por obra do destino — e de Philip Scuderi, um dos produtores do filme, e uma figura complicada na vida de Sean Cunningham —, uma sequência foi feita. Steve Miner se reuniu com alguns outros membros da equipe de Sexta-Feira 13 e resolveram colocar a mão na massa.

Cunningham esteve envolvido em diferentes níveis nas sequências de Sexta-Feira 13, e não somente por ter sido o criador da história original, mas principalmente porque sua esposa foi editora do segundo filme. Ele não tinha interesse na direção, e ficava um pouco preocupado com a ideia de Jason ter tanto foco assim, mas tudo acabou correndo conforme a ideia de Scuderi — que percebeu desde o início que Jason era um personagem extremamente vendável.

Ao longo dos anos 1980, quase anualmente havia um filme de Jason nos cinemas: Sexta-Feira 13 (1980), Sexta-Feira 13, Parte 2 (1981), Sexta-Feira 13, Parte 3 (1982), Sexta-Feira 13, Parte 4: O Capítulo Final (1984), Sexta-Feira 13, Parte 5: Um Novo Começo (1985), Sexta-Feira 13, Parte 6: Jason Vive (1986), Sexta-Feira 13, Parte 7: A Matança Continua (1988), Sexta-Feira 13, Parte 8: Jason Ataca Nova York (1989), Jason vai para o Inferno: A Última Sexta-Feira (1993) e Jason X (2001), encerrando a franquia original. Em 2003 foi lançado Freddy x Jason, em uma jogada para reunir dois dos grandes pesadelos originais dos anos 1980. Em 2009, é lançado um remake intitulado Sexta-Feira 13.

Por enquanto, não sabemos quando Jason será visto novamente, mas há o interesse de algumas pessoas que esse projeto possa acontecer, só há uma pedra no meio do caminho: um enorme e complicado processo entre Sean Cunningham e Victor Miller pelos direitos sobre Jason. Aparentemente, de acordo com a lei de direitos autorais dos Estados Unidos, depois de 35 anos o autor responsável pode pedir a devolução de seus direitos e reverter a venda. A lei foi criada em 1976. A batalha judicial ainda está acontecendo, e não sabemos até quando ela pode continuar. 

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Acordo cedo todos os dias para passar o café e regar minhas plantas na fazenda. Aprecio o lado obscuro da arte e renovo meus pactos diariamente ao assistir filmes de terror. MACABRA™ - FEAR IS NATURAL.